Bernardo pesquisou publicações históricas do Diário da Assembléia (foto: arquivo pessoal)

A investigação do estabelecimento e da consolidação do golpe de 1964, sob o aspecto pouco explorado da influência dos partidos políticos e das elites regionais de Minas Gerais fundamentou a pesquisa de mestrado de Bernardo Rocha Carvalho. Na dissertação, ele avaliou a documentação da 5ª Legislatura da Assembleia do Estado e o comportamento das três principais bancadas do parlamento, no período de 1963 a 1967. O estudo foi desenvolvido e apresentado no Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).     

A partir da análise dos registros encontrados nos Diários da Assembleia, que estão arquivados em periódicos oficiais do Estado, o pesquisador examinou os pronunciamentos, votações, projetos de leis propostos e, até mesmo, as discussões dos parlamentares mineiros durante as reuniões. Com esse material organizado, Bernardo focalizou no estudo dos partidos regionais de maior destaque da época: União Democrática Nacional (UDN), Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Como base de fundamentação teórica para a investigação, o mestrando se respaldou na literatura sobre o período, além da história política de Minas Gerais. Dessa forma, aplicou este conhecimento à avaliação prática, observando a adesão e, por vezes, a participação ativa dos partidos políticos no golpe. Nesse contexto, o acadêmico explica que a mudança subsequente para a ditadura foi inesperada: “é importante dizer também que o golpe não pressupunha a ditadura e a extinção dos partidos, ocorrida com o Ato Institucional nº 2, em 1965, foi uma surpresa para a maioria dos agentes partidários, que passaram a ter seu papel na política paulatinamente reduzido e controlado pelo regime.”

Bernardo destaca que, com a pesquisa pretende “contribuir para o esclarecimento do papel que diferentes agentes exerceram no desfecho crítico de 1964, quando muitos deles – partidos políticos – optaram com facilidade por uma solução autoritária contra um governo nacional.”

Resultados

As conclusões do estudo indicam que o papel dos agentes políticos do estado de Minas no desfecho do golpe de 1964 tem mais importância do que geralmente lhe é atribuído. Além disso, Bernardo pontua que uma parte indispensável dos resultados, diz respeito à fragilidade do republicanismo, no horizonte partidário, e à relevância do caráter de classe das mudanças ocorridas em setores estratégicos, como a agricultura.

“É importante para os resultados a análise da supressão da democracia e da ordem constitucional que foi conduzida para que se garantisse a acumulação de capital de setores que historicamente ocuparam a maior parte das cadeiras da política, como os grandes produtores rurais, por exemplo; basta notar que a ditadura organizou o agronegócio no Brasil, como permanece ainda hoje. Mas, é importante reiterar que os militares procederam a uma centralização sufocante da vida política nacional, e muitos agentes que aderiram ao golpe se viram arrependidos poucos meses depois, na medida em que o regime se endureceu e estes perdiam sua margem de atuação na administração pública”, ressalta o pesquisador.

O professor orientador, Ignácio José Godinho Delgado, afirma que há um ineditismo no estudo de Bernardo, à medida que avalia um aspecto pouco explorado dentro da história política do período. O orientador enfatiza, principalmente, a relevância para as pesquisas subsequentes, por oferecer um conhecimento sobre Minas Gerais, importante para este fato histórico. “O trabalho deixa muitas pistas para estudos posteriores, por exemplo, na análise do discurso dos atores políticos em Minas que se agruparam em torno do golpe. A idéia de Minas Gerais como Estado da moderação, da preservação do equilíbrio e da ordem foi muito utilizada no combate a uma suposta radicalização que existia na sociedade brasileira. Tem muitos estudos sobre a mineiridade, mas a importância que esse discurso tem no golpe de 1964 ainda era relativamente inédito.”

Contatos:
Bernardo Rocha Carvalho (mestrando)
bernardorcarvalho@hotmail.com

Ignácio José Godinho Delgado (orientador – UFJF)
ignacio.delgado@ufjf.edu.br

Banca examinadora:
Prof. Dr. Ignácio José Godinho Delgado (orientador – UFJF)
Prof. Dr. Fernando Perlatto (UFJF)
Prof. Dr. Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG)

Outras informações: (32) 2102-3129 – Programa de Pós-Graduação em História