Ameaça quase secular à segurança, as drogas são muitas vezes esquecidas como problema de saúde pública, especialmente nas Américas, onde as consequências de seu mercado ilegal (e do combate armado a este) são sentidas. Buscando auxiliar os gestores a lidar com estas questões, a Organização dos Estados Americanos (OAS) desenvolveu um guia de estratégias comunitárias e de tratamento para a prevenção do uso de drogas. Coordenado pelo professor Telmo Ronzani, o Centro de Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e outras Drogas (Crepeia), ofereceu todo o suporte técnico e teórico do documento.
“A maioria dos guias desse tema era desenvolvida por pesquisadores norte-americanos ou europeus. Então a OAS nos procurou, com a intenção de observar a realidade latino-americana: como esses países lidam com as drogas, e como essas questões interagem com suas culturas”, contou o professor. O guia, publicado pela Comissão Inter-Americana para o Controle do Abuso de Drogas (Cicad, órgão da OAS dedicado ao combate às drogas) foi produzido ao longo de três anos, durante os quais os pesquisadores revisaram a literatura a respeito do tema, visitaram diversos países latino-americanos e entrevistaram gestores e profissionais de saúde.
“No documento, nós destacamos principalmente quatro países. O México, que realizou uma expansão muito promissora nos serviços com base comunitária para jovens e adolescentes; a Argentina e Chile, que vem desenvolvendo uma parceria interessante entre o Governo Central e os municípios, também com base comunitária; e o Brasil, que se destaca pela capacitação de profissionais para o atendimento.” Entre essas experiências bem-sucedidas de prevenção ao uso de drogas nas Américas, surgiu para os pesquisadores um denominador comum: a ação comunitária.
“No caso do México, por exemplo, eles realizam diversos serviços nos bairros. Não especificamente sobre drogas, mas trabalhos e atividades comunitárias variadas. Nesse contexto, os agentes comunitários inserem o tema de álcool e outras drogas nas ações com os jovens e adolescentes, mas sem o peso moral que costuma acompanhar o tema. Ao invés disso, tentam inserir esses jovens na sociedade, oferecer oportunidades e cultura. Não apenas reclusão ou tratamento.”
Além de identificar serviços de prevenção e ações de base comunitária, o guia oferece suporte para o desenvolvimento ou aprimoramento de práticas locais, levando em consideração as realidades culturais e sociais específicas de cada comunidade. “Nós entendemos que já havia muito material técnico a respeito desse tema, então buscamos desenvolver um documento de caráter mais prático, voltado para a implementação, que considerasse as condições particulares (estruturais e culturais) com que esses gestores deverão trabalhar. Hoje, o grande desafio nesse campo é fazer funcionar localmente uma estratégia pensada internacionalmente”, conclui Ronzani.