Poucos elementos podem ser tão marcantes quanto o samba, quando pensamos naquilo que compõe nossa identidade nacional. O ritmo é tão brasileiro que tornou-se capaz de recontar parte da história do país em meio aos seus personagens e composições. Foi inspirado nessa narrativa, encaixada entre acordes e versos, que o professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Dmitri Fernandes, escreveu o livro “Sentinelas da Tradição: a constituição da autenticidade no samba e no choro”. A obra será lançada nesta quarta-feira, 22 de agosto, a partir das 19h, no bar Arteria, e é uma das atrações do evento Ciência ao Bar que comemora um ano. Com o tema: “Não deixe o samba morrer”, o evento terá a participação do, também professor da UFJF, Carlos Fernando Cunha.
O livro traz uma visão pouco explorada a respeito desses gêneros musicais. O objetivo foi manter o debate sobre a música vinculado aos estudos sobre política e as transformações socioeconômicas no Brasil. A partir de pesquisas com diversos materiais históricos, o autor levantou dados entre o fim do século XIX e o início do século XXI que permitiram revelar como se deram as relações sociais que estruturam o samba e o choro, norteadas por disputas em torno da autenticidade e a consequente qualidade das canções.
Segundo o autor, uma das principais propostas do livro é evidenciar as relações entre as divisões internas dos gêneros musicais e as estruturas sociais. “Durante o período histórico que analisei, ficou clara a disputa constante envolvendo a autenticidade e a inautenticidade musical – ou seja, o que era considerado uma música boa e uma música ruim. Foi através dessa disputa que o ritmo foi capaz de abrigar personagens tão distintos”, pontua o pesquisador.
Estudo reconhecido
A obra é baseada na tese de doutorado do pesquisador, reconhecida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) como a melhor tese de doutorado de 2011 na área de sociologia. Além do prêmio, o estudo se destacou por abordar as construções em torno do samba, choro e pagode, a partir de pesquisas históricas, etnomusicológicas – estudo da música em seu contexto cultural – e sociológicas.
Essa abordagem construída com base em diferentes áreas de conhecimento permitiu a Fernandes descobrir como um só ritmo foi capaz de abrigar personagens tão diferentes. Cronistas, jornalistas, produtores, empresários, intérpretes, músicos e intelectuais – todos eles, sendo célebres ou ignorados, no ponto de vista do acadêmico, possuía uma história singular, mas com um ponto comum em suas vidas: a música popular brasileira.
Matéria editada em 12h56 do dia 22/08/2018