Os impactos econômicos da taxa de cesáreas sem necessidade no Brasil pautaram a tese de doutorado do acadêmico Mateus Clóvis de Souza Costa. A pesquisa foi apresentada no Programa de Pós-graduação em Economia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A tese se baseia em três estudos independentes que avaliam o contexto econômico-financeiro das cesáreas dispensáveis, com o intuito de calcular os custos e apresentar propostas de redução do procedimento no país. “A ideia é abordar o tema sob a ótica da economia de saúde, discutindo tanto a indução de cesáreas quanto a motivação desse comportamento vindo por fatores econômicos e financeiros”, diz Costa.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a taxa de partos realizados com cesariana fique entre 10% e 15%, já que a cirurgia é considerada mais perigosa do que o parto normal, tanto para a mulher quanto para o bebê. No Brasil, mais da metade dos nascimentos acontecem através de cesariana e, portanto, o doutorando defende que o assunto deve ser tratado como uma questão de saúde pública e, também, uma preocupação dos economistas visto que onera o sistema de saúde.
“É óbvio que se a gente tem um excesso de procedimento cirúrgico feito de forma desnecessária, isso também leva a um gasto desnecessário”, afirma o pesquisador. A estimativa, calculada com base nos dados da pesquisa ‘Nascer no Brasil, DATASUS, SIGTAP, UNIDAS, é de que o setor público gasta no mínimo R$ 10,5 milhões e o setor privado R$ 17,6 milhões com cesáreas sem necessidade. De acordo com Costa, esse valor está alocado de forma ineficiente visto que poderia ser aplicado em outras áreas da saúde.
O pesquisador analisou os dados sobre partos realizados no Hospital Sofia Feldman, maior maternidade filantrópica do Brasil, e constatou que ocorre – em todos os horários – mais partos normais do que por cesariana. Em média, no Brasil, o número de cesáreas supera o de partos normais, exceto durante a madrugada. “Essa comparação leva a gente a suspeitar da hipótese de que há indução por demanda de cesariana no Brasil”, conclui Costa.
O estudo visa entender, ainda, a influência do atual modelo obstétrico do Brasil na quantidade de cesáreas realizadas no país e propor possíveis soluções. As sugestões são implantar sistema de remuneração fixa e não colocar valor por procedimento; jornada de trabalho de plantão que permita que o médico organize a agenda e a aplicação de punição do Conselho Federal de Medicina pela parte anti-ética.
A professora orientadora da tese, Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli, afirma que, apesar da existência da área de Economia da Saúde, o tema pesquisado nesta tese ainda não tinha sido abordado no PPG de Economia da UFJF. “Em um país que é um dos campeões da taxa de cesariana no mundo, é muito importante ter um estudo que mostra o custo das cesáreas sem necessidade.”
Contatos:
Mateus Clóvis de Souza Costa (doutorando)
mateus.costa.ufjf@gmail.com
Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli (orientadora – UFJF)
fernandafinotti.perobelli@ufjf.edu.br
Banca examinadora:
Profª. Drª. Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli (orientadora – UFJF)
Profª. Drª. Suzana Quinet de Andrade Bastos (UFJF)
Profª. Drª. Flaviane Souza Santiago (UFJF)
Profª. Drª. Silvana Granado Nogueira da Gama (Fundação Getúlio Vargas – FGV)
Prof. Dr. Giácomo Balbinotto Netto (UFRGS)
Outras informações: (32) 2102 – 3543 – Programa de Pós-Graduação em Economia