O aumento acentuado do número de encarceramentos da população feminina envolvida com o tráfico e plantio de substâncias ilícitas entre os anos de 2000 e 2016 despertou o interesse de pesquisa da acadêmica Joyce Keli do Nascimento Silva. Com esta temática, ela desenvolveu sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O estudo foi realizado a partir de dados referentes a sete cidades que integram a região conhecida como “Polígono da Maconha”: Orocó, Cabrobó, Belém do São Francisco, Santa Maria da Boa Vista e Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro e Curaçá, na Bahia.
Joyce revela que o interesse pelo tema surgiu no desenvolvimento de sua dissertação de mestrado, quando decidiu estudar a influência das questões de gênero na configuração dos mercados ilícitos de drogas, o plantio e o tráfico, especialmente em cidades do interior do nordeste brasileiro. “O objetivo da minha pesquisa foi compreender a dinâmica da participação de mulheres no comércio de drogas e no plantio da cannabis em municípios do Pernambuco e da Bahia, além de identificar as motivações individuais e elementos estruturais relacionados à inserção e às trajetórias das mulheres nessas práticas.”
O trabalho foi realizado a partir de um importante intercâmbio de informações e conhecimentos entre pesquisadores da UFJF e da UNIVASF (Universidade Federal do Vale do São Francisco). Em sua pesquisa, Joyce empregou metodologias qualitativas variadas, destacando-se uma entrevista que buscou traçar as trajetórias biográficas das mulheres-sujeito da pesquisa e analisar o conteúdo de documentos inseridos em processos criminais para compreender o tratamento recebido por elas nas instituições policiais e judiciárias. “Foram entrevistadas mulheres que tiveram envolvimento em plantios ilícitos em sete cidades que ocupam posição de destaque na produção e escoamento da cannabis da região do Polígono da Maconha, agricultores que trabalharam na atividade e um agente da polícia federal em Salgueiro, Pernambuco. Além disso, foram ouvidas mulheres que cumpriam pena por tráfico de drogas nos estabelecimentos prisionais femininos nos municípios de Juazeiro na Bahia e Petrolina em Pernambuco, que recebem mulheres presas e processadas em cidades da região.”
Entre os resultados obtidos pela tese, a pesquisadora destaca a predominância de mulheres jovens, com baixa escolaridade, negras e de vulnerabilidade socioeconômica. Além disso, Joyce concluiu que a participação das mulheres nos plantios ilícitos é menor do que a no tráfico de drogas, devido à forma como estas atividades se estruturam. A acadêmica observou, ainda, que as ex-plantadoras de cannabis atuam em tarefas específicas que exigem mais atenção e cuidado, proporcionando maior proteção contra os riscos da atividade, enquanto as presas por tráfico, em geral, atuam em funções subalternas que lhes tornam mais visíveis e sujeitas à repressão policial e aprisionamento. “Pude perceber que o ingresso das mulheres nos mercados ilícitos de drogas ainda é predominantemente mediado por figuras masculinas, embora haja autonomia de muitas mulheres e que apenas as ex-plantadoras relataram ter obtido melhoria das condições de vida com os recursos obtidos nos plantios.”
A pesquisadora ressalta que o trabalho adquire grande importância por tratar de sujeito e local de pesquisa específicos, até o momento, pouco privilegiados pela academia. Além disso, na opinião dela, o estudo possibilita diferenciar os resultados da atuação e a visibilidade da mulher que está inserida no tráfico e da que está no plantio. “Partimos da hipótese de que a dinâmica do plantio deixa as mulheres menos expostas à atuação do aparelho repressivo do Estado do que a dinâmica da venda no varejo do tráfico de drogas. O que nos levou à formulação da tese de que há uma gestão diferencial dos ilegalismos relacionados às drogas, que envolve a política criminal, a configuração dos mercados ilícitos e as questões de gênero.”
O professor orientador Paulo Cesar Pontes Fraga defende que a tese de Joyce é relevante por abordar o tratamento diferenciado sobre a mulher que está envolvida no tráfico e no plantio de drogas. “As mulheres que se encontram nesse contexto são tratadas de modo diferenciado. Enquanto no tráfico a mulher se encontra mais exposta à situações de risco e à prisão, no plantio isso não se dá principalmente porque há uma certa proteção dos homens quando está envolvendo a agricultura familiar e todos os membros da família estão comprometidos.”
Contatos:
Joyce Keli do Nascimento Silva (doutoranda):
joycekelinascimento@gmail.com
Paulo Cesar Pontes Fraga (orientador- UFJF)
paulo.fraga@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Paulo Cesar Pontes Fraga (Orientador- UFJF)
Profa. Dra. Rogéria Campos de Almeida Dutra (UFJF)
Prof. Dr. Raul Francisco Magalhães (UFJF)
Profa. Dra. Luzania Barreto Rodrigues (UNIVASF)
Prof. Dr. Marcelo da Silveira Campos (UFGD)
Outras informações: (32) 2102-3113- Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais