Interdisciplinar: essa é a característica que melhor define o curso de Engenharia Computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em um formato pioneiro, a grade curricular do curso garante uma formação que, além da área computacional, também une campos como os de matemática, física, química, programação e mecânica. Seu currículo singular foi descrito em um artigo destinado à International Conference on Computational Science (ICCS), que aconteceu na China, entre os dias 11 e 13 de junho. Durante o evento, o trabalho foi eleito como o melhor artigo do “Workshop on teaching computational science”.
Reunidos para uma entrevista, quatro pesquisadores vinculados ao curso discorreram sobre a importância do reconhecimento internacional e as razões que tornam única a graduação oferecida pela Engenharia Computacional, criada e estabelecida há dez anos na UFJF. “É uma proposta inovadora e ousada, que reflete o que é realizado nos centros mais avançados do mundo neste ramo”, aponta Elson Toleto. A premiação de melhor artigo é uma mostra de consonância do projeto com as tendências que têm se estabelecido mundialmente — e com destaque. “A ICCS é a mais importante conferência da nossa área”, pontua Marcelo Lobosco.
O trabalho disciplinar não é refletido apenas na variedade de temas abordados ao longo do curso, mas também em disciplinas que guiam os estudantes por todas as etapas necessárias para a elaboração e a concretização de um projeto. “Isso permite que os alunos apliquem o conhecimento adquirido no curso, o que se torna um dos nossos diferenciais. O estudante propõe uma solução e o professor o auxilia no processo de viabilização. O estudante, então, faz tudo do ciclo de modelagem: observação, experimentação, descrição de fenômenos físicos, implementação computacional, simulação e comparação”, explica Lobosco.
Base reconhecida
Engenheiros computacionais são profissionais que, uma vez formados, atuam na pesquisa, modelagem e simulação de fenômenos físicos. Dependendo da área com a qual mais sentir afinidade, esses profissionais podem apresentar soluções — ao identificar, formular, modelar e desenvolver modelos matemáticos — para problemas em campos diversos da engenharia, como elétrica, agrícola, petrolífera, eletrônica, telecomunicações, mecânica, naval, civil, entre outras. As possibilidades são muitas — e até extrapolam as ciências exatas, alcançando a biomedicina, por exemplo.
De acordo com os professores, presentes desde a criação do curso, já no início existia o foco para diferenciar e fortalecer o currículo, devido às deficiências que eles, como profissionais e pesquisadores, observaram no mercado e na área científica. “Nos propomos a dar uma base forte desde o início. Em demais cursos, o estudante pode ver só engenharia, ou só matemática, ou só computação — mas, aqui, você vai aprendendo tudo desde o início, além de como misturar e utilizar essas ferramentas”, ressalta Bernardo Rocha.
Forte vínculo com a pesquisa
A criação do curso de Engenharia Computacional foi inspirada nos moldes do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional da UFJF, por meio de uma proposta conjunta da Engenharia e do Instituto de Ciências Exatas (ICE). O professor Rodrigo Weber enfatiza que, já na graduação, os estudantes têm a oportunidade de aproximarem da iniciação científica, dos projetos de mestrado e doutorado da área. “É uma interação que estimula o contato dos graduandos com os pesquisadores. Muitos, posteriormente, ingressam na pós-graduação.”
Destaque em plenária
Weber também foi o responsável por apresentar o artigo premiado na China, durante a ICCS. Ele relembra que, por ser considerado o melhor artigo do workshop no qual estava inscrito, o trabalho ganhou um destaque durante uma das plenárias do evento, tendo direito a um tempo maior de apresentação. “O que os participantes mais ficaram impressionados foi justamente essa base que fornecemos aos estudantes; fizeram várias perguntas sobre isso.”
“Realmente, é um curso pesado, no sentido de cobrir várias disciplinas de forma não superficial, mas sim de maneira profunda. Nosso aluno sai, realmente, como um excelente cientista da computação, um excelente matemático e um excelente engenheiro — e com a capacidade de combinar tudo isso”, arremata.