Estudantes participam de atividade de identificação humana. (Foto: Sebastião Junior)

Estudantes participam de atividade de identificação humana. (Foto: Sebastião Junior)

Reunidos ao redor de uma mesa, estudantes analisam um crânio humano em busca de informações que possam ajudar a identificá-lo. A cena – que em diversos momentos lembra as séries americanas de investigação criminal – fez parte da programação do Simpósio de Ciências Forenses, realizado na última sexta-feira, 8.

A atividade foi uma oportunidade para apresentar aos discentes um pouco sobre o trabalho do odontolegista, como afirma uma das organizadoras do evento, a professora do Departamento de Odontologia do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV), Francielle Verner. “O aluno ouve falar, conversa com o colega, mas só vai conhecer e entender o que é Odontologia Legal quando ele está quase se graduando. Esse evento foi pensado e realizado no intuito de despertar o interesse, principalmente dos alunos que estão mais no começo da faculdade, para que tenham a oportunidade de desenvolver, fazer trabalhos de pesquisa, de extensão, montar algum tipo de projeto voltado para essa área, e não ficar só para o final da faculdade”.

Mas o que faz um odontolegista? O tema foi abordado no simpósio pelas especialistas em Odontologia Legal Laís Araújo e Maisa Diniz. Embora o profissional possa realizar perícias na área cível – como no caso de processos envolvendo acidentes de trabalho e automobilísticos, por exemplo – o seu principal campo de atuação ainda é a identificação humana. Os motivos são o baixo custo e a precisão deste tipo de procedimento.

O papel do odontolegista na identificação humana foi o tema da palestra de Lais Araújo. (Foto: Sebastião Junior)

O papel do odontolegista na identificação humana foi o tema da palestra de Lais Araújo. (Foto: Sebastião Junior)

“Tem o método da datiloscopia, da odontologia e do DNA. Mas a odontologia é um método fácil de fazer, que não resta dúvidas. Encontrou um corpo esqueletizado, um corpo em decomposição, a medicina não consegue fazer a identificação, o reconhecimento é impreciso, é difícil e acontecem muitos erros de reconhecimento. Aí a odontologia entra para fazer a avaliação”, explica Laís.

Segundo Maisa, em várias situações a identificação somente é possível com o trabalho do odontolegista, como em acidentes aéreos. “Os corpos são carbonizados, mas os dentes resistem, em média, a 800 graus. Então, muitas vezes, você tem só o crânio e a dentição”. 

Ela citou também o caso de um trabalhador rural que pleiteava a aposentadoria. Como não possuía registro civil ou qualquer outro documento, não conseguia provar a sua idade. A Justiça, então, o encaminhou para o setor de radiologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. “A gente foi pesquisar que outros métodos podia utilizar, já que ele não tinha dentes. Fizemos através do ângulo mandibular. A gente conseguiu mensurar mais ou menos a idade, associada às características físicas do próprio indivíduo”, relembra Maisa. Após os exames, ficou constatado que ele não possuía a idade mínima para conseguir o benefício.

Atividade tem potencial de crescimento
O tema Odontologia Legal parece ter chamado a atenção dos estudantes de Odontologia da UFJF-GV, seja quem ingressou há pouco no curso como também aqueles discentes que já estão quase se formando. Para a maioria deles foi o primeiro contato prático com a disciplina.

Para Francielle Verner, a profissão de odontolegista tem potencial de crescimento. (Foto: Sebastião Junior)

Para Francielle Verner, a profissão de odontolegista tem potencial de crescimento. (Foto: Sebastião Junior)

“Quando eu entrei na faculdade, era uma das áreas que eu tinha bastante interesse, e fiquei bastante animada quando vi que tinha alguma coisa a respeito. Até então, eu não sabia como a área era tão abrangente como vi hoje”, afirma Letícia Lima, 19, aluna do 4º período.

“Essa disciplina específica é só no nono período, e não tem atividade prática, somente teórica. Então acho importante o que eles trouxeram pra gente ter um contato melhor e até para saber um pouco mais sobre o que é a especialidade”, explica o discente do 8º período, Cesar Taycer, 22.

Francielle vê com otimismo o interesse dos alunos pela Odontologia Legal e acredita no potencial de crescimento da atividade. “Os alunos estão vendo que a identificação humana pelos dentes, pelas características das arcadas mandibulares e maxiliares são fundamentais para identificação, e muitas vezes são considerados métodos primários, fecham-se muitos casos só com a identificação pelos dentes. A tendência agora é o odontolegista ganhar espaço”.

Maisa Reis abordou as responsabilidades do profisssional de Odontologia. (Foto: Sebastião Junior)

Maisa Reis abordou as responsabilidades do profisssional de Odontologia. (Foto: Sebastião Junior)

A responsabilidade profissional

Em outra palestra do simpósio, Maisa Reis abordou a responsabilidade do odontólogo nas esferas cíveis e criminais, bem como no campo administrativo, por meio de processos éticos. O armazenamento e a propriedade de documentos relacionados a pacientes é imprescindível para o profissional se resguardar em casos de demandas. “Hoje em dia, com o aumento do número de processos, é o que a gente tem para se defender. É relatar em prontuário, segunda via de atestados, de receituários. Então ele tem que provas que não agiu com culpa”.