Reconhecida pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, como a segunda língua oficial do Brasil, a língua brasileira de sinais (Libras) é amplamente usada por pessoas surdas nos centros urbanos do país, não sendo uma simples gestualização da língua portuguesa, e sim uma língua à parte, com níveis gramaticais e regras estruturais próprias. Dada sua importância para a plena comunicação em sociedade nos dias atuais, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) oferece à comunidade em geral dois cursos de extensão focados na disseminação dessa prática: um na Faculdade de Educação (Faced) e outro na Faculdade de Letras (Fale).
O coordenador do primeiro curso, professor Rodrigo Mendes, explica que a iniciativa surgiu em 2017, fruto de uma demanda que, posteriormente à criação do curso, se mostrou ainda maior do que a inicialmente prevista. “Embora as aulas aconteçam à noite, recebemos muitos pedidos de abertura de turmas no turno da manhã. A avaliação de quem conseguiu uma vaga também foi muito positiva, o que levou à criação de um segundo módulo, realizado no segundo semestre. Isso aconteceu porque temos conseguido absorver pessoas preocupadas em ampliar a qualidade de sua atuação profissional junto a pessoas surdas, visando a um aperfeiçoamento que as permita até mesmo atuar como intérpretes”, afirma.
Para este ano, o curso foi pensado de forma diferente, visando a promover uma imersão ainda maior nesse tipo de comunicação. “Convidei outro professor surdo, pois é fundamental buscarmos o convívio social com essas pessoas. Nesse contexto, somos levados a aprimorar nosso vocabulário em relação à língua e adaptar nosso olhar para entender uma cultura diferente da sociedade ouvinte. Aprendemos diferenças de comportamentos, a razão por trás delas e as barreiras que os surdos enfrentam”, enfatiza Mendes.
Já o curso realizado na Fale – “Bate-Papo em Libras” -, é coordenado pela professora e vice-coordenadora do curso de Letras Libras, Rosani Garcia. Segundo a docente, a proposta é estabelecer um aprendizado prático e próximo da aplicação da Libras no dia a dia da comunidade. “Esse tipo de iniciativa é de grande importância, dentro e fora da instituição, pois muitas pessoas ainda não têm conhecimento do que é a língua brasileira de sinais e, em alguns casos, sequer sabem identificar um indivíduo surdo”, diz.
Realidades em diálogo
De acordo com ambos os professores, há diferenças expressivas na comunicação entre ouvintes e surdos. Enquanto para Rodrigo Mendes ela é sonora, para o Rosani Garcia a diferença é visual. Para uma pessoa surda, há barulho mesmo quando há silêncio para os ouvintes. E é essa característica que os alunos conseguem vivenciar ao participarem de um curso, conforme pontua Mendes. “Muitas pessoas têm medo de lidar com o surdo, seja pelo silêncio ou por não conhecer a língua de sinais, mas não sabem que gestos simples, como apontar e usar o polegar para cima ou para baixo, por exemplo, são percebidos da mesma forma, pois são elementos de linguagem comuns, utilizados para mensagens mais diretas”.
Porém, ainda de acordo com o coordenador do curso da Faced, vale lembrar que a língua brasileira de sinais possui níveis gramaticais próprios, então não se pode considerá-la apenas como uma variação do português ou do inglês. As frases, na libras, seguem uma regra estrutural diferente, sendo organizadas de forma imagética. Sendo assim, se tentamos construir uma frase utilizando a mesma norma do português, a pessoa surda pode entender de forma equivocada a mensagem que está se está tentando transmitir. No “Bate-Papo em Libras”, dois alunos da licenciatura em Letras Libras da UFJF têm a oportunidade de aprender esse modelo na prática, ministrando as aulas do curso, sob a orientação da professora Rosani.
Aluna do curso realizado na Faced, a pedagoga Jaciara dos Reis, que está em seu terceiro ano no aprendizado de Libras, relata sua experiência com a língua que começou com o desafio de se comunicar com pais surdos de um de seus alunos. “É interessante notar como parece ser mais fácil exigir que uma pessoa surda se adeque ao nosso método de comunicação, do que procurar uma forma de interagir com ele e sair da minha zona de conforto. Porém, à medida em que fui aprendendo a língua de sinais, percebi que estou fazendo com que essa pessoa se sinta parte de um todo”.
Descobertas e inclusão
A pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, afirma que essas iniciativas são desdobramentos da política afirmativas da UFJF como um espaço que deve ser, por essência, democrático e inclusivo. “Os surdos têm direito a uma comunicação representativa e, por isso, cabe à universidade fortalecer o uso da língua brasileira de sinais, provendo as condições necessárias para que essas pessoas acessem o ambiente acadêmico. Nesse sentido, a Extensão, que orienta a relação de todas as instâncias da instituição com a comunidade externa, procura realizar esse trabalho por meio de programas e projetos”, pontua.
Para a estudante do 7º período diurno de Pedagogia, Sara Rodrigues, a oferta de Libras pela Universidade vem sendo um processo de descoberta. “Nunca tive contato com a língua de sinais antes e estou gostando bastante. Além de aprendermos a língua de sinais, entendemos como é a convivência com essas pessoas.”
Sara ressalta que aprender Libras, como toda língua, é difícil e exige exercícios. “É como os professores explicam: praticar, praticar e praticar. É como se estivéssemos aprendendo novamente a falar. Nesse sentido, o contato com o surdo é muito importante, pois é uma imersão nessa língua. Acolhendo a todos, a sociedade se torna mais inclusiva e justa. Por isso quero estar preparada para ser uma boa educadora e para garantir que meus alunos aprendam. É uma oportunidade para a vida”, conclui.
As atividades do “Bate-Papo em Libras” acontecem duas vezes por semana: às terças-feiras, de 14h às 17h; e aos sábados de 8h às 12h. Já o primeiro módulo do curso realizado pela Faced acontece às segundas e quartas-feiras, das 19h às 20h40, próximo à Biblioteca. Em ambos os casos, após a conclusão das atividades, será conferido aos participantes um certificado da Pró-reitoria de Extensão.
Outras informações: (32) 2102-3971 (Pró-reitoria de Extensão)
rodrigo.mendes@ufjf.edu.br (Prof. Rodrigo Mendes – Faced)
rosani.garcia@ufjf.edu.br (Prof.ª Rosani Garcia – Fale)