A jornalista e especialista em divulgação científica da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Léa Medeiros, veio à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no início do mês de abril para participar do I Fórum de Comunicação da UFJF. O evento foi promovido pela Diretoria de Imagem Institucional com o objetivo de estreitar o diálogo com jornalistas, assessores, outros profissionais de comunicação e, principalmente, usuários dos serviços do setor, promovendo a troca de experiências e conhecimento entre eles.
Em entrevista ao Portal da UFJF, a jornalista da UFV defende a posição de que os pesquisadores têm a obrigação de divulgar à sociedade os resultados das pesquisas que desenvolvem, uma vez que são financiados por recurso público. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista com Léa Medeiros.
– Portal da UFJF: Como você explica a divulgação científica para aqueles que não estão inseridos em um contexto acadêmico?
– Léa Medeiros: A divulgação científica é a missão de mostrar que a ciência está no cotidiano das pessoas e permeia a vida de todos. Ela está em tudo, desde a química usada nos cabelos e nos esmaltes até as vacinas que previnem doenças. O objetivo da divulgação científica é sensibilizar as pessoas, mostrando, de maneira acessível, que a ciência está presente no seu dia a dia.
– Como você foi ingressou na área de divulgação científica?
– Sempre gostei de ciência e sempre tive muita vontade de aprender, embora tenha tido uma formação muito pobre nesse campo. Quando comecei a trabalhar em Viçosa, uma cidade com fama de boas pesquisas, logo pensei que aquela fama precisava sair dos meios acadêmicos e fazer a sociedade compreender que aquilo que a universidade fazia era importante. Eu vejo a divulgação científica como uma militância, porque realmente acredito que se a sociedade não compreende para que serve a pesquisa e o tanto que ela contribui para o desenvolvimento de todas as ciências e, com a falência do Estado que assistimos hoje, nós corremos o risco de dar mais passos para trás. Cada vez que vou apurar uma matéria vibro e me encanto com a ciência daquela pesquisa. Não adianta fazer por fazer: tem que gostar. Caso contrário, o jornalista vai reproduzir exatamente o que o pesquisador fez no trabalho. Se você não se encanta com a ciência, não é aconselhável fazer jornalismo científico.
– Para você, quais os desafios da divulgação científica na comunicação institucional?
– O principal é melhorar o relacionamento entre os pesquisadores e os jornalistas, tanto os da universidade como os de fora dela. Precisamos mostrar que eles devem, sim, fazer a divulgação dos seus trabalhos como forma de dar um retorno à sociedade que os patrocina, e que eles podem confiar nesta divulgação. Vejo isso como um desafio de confiança porque, além de acharem que não precisam fazer, alguns ainda não se sentem confortáveis em falar com a imprensa.
– Em sua contribuição ao I Fórum de Comunicação, foi dito que pesquisadores estão em uma “bolha” que não os fazem perceber que uma linguagem mais simples é mais eficaz para a compreensão do público, do que a linguagem usada nas pesquisas. Por que existe um desinteresse por parte dos pesquisadores em divulgar suas pesquisas?
– Eles não estão acostumados a usar uma linguagem de popularização. Acham que as pesquisas têm que circular apenas entre seus pares. Esse desinteresse pode surgir, também, depois de passarem por jornalistas que deturparam o que eles falaram, criando, assim, um trauma advindo de experiências desastrosas. Por isso, destaco o papel fundamental da assessoria de imprensa da instituição, que tem mais habilidade em auxiliar no processo de divulgação científica quando ela é acionada. Ajudando nessa mediação capacitada, ela pode minimizar os riscos de deturpação e danos causados pela falta de consonância entre pesquisador e jornalista.
– O que as redes sociais representam, hoje, no trabalho da divulgação científica?
– São outro grande desafio. Como levar a divulgação científica para as redes sociais? Como transformar uma pesquisa que demorou anos para ser feita em um texto de 25 linhas? Os pesquisadores veem isso como uma simplificação que deturpa a ciência, mas não é uma mera simplificação, é uma outra linguagem. Levamos a linguagem da ciência para a da comunicação e, agora, temos o desafio de levar especificamente para as mídias sociais. Não basta colocar um link em uma publicação no Twitter que leva até a matéria no site. Se não fizermos uma chamada interessante e criativa, ninguém vai abrir o link. Temos que chamar a atenção do público. Alguns vlogueiros e youtubers estão conseguindo incorporar a linguagem da mídia digital na pesquisa melhor que jornalistas, que ainda precisam encontrar maneiras próprias de promover a cultura científica nas redes sociais.
Outras informações: (32) 2102-3967 – Diretoria de Imagem Institucional