As atividades do I Seminário de Qualidade na Formação de Comunicadoras e Comunicadores, idealizado pelo Diretório Acadêmico Vladimir Herzog (Davh), da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), começaram nesta segunda-feira, 16, com mesa de abertura formada pela professora da Faculdade de Educação (Faced), Lorene Figueiredo; pelos professores da Facom, Paulo Roberto Leal e Cícero Villela e pela graduada em Filosofia e doutora Honoris Causa pela UFJF, Adenilde Petrina. O objetivo do Seminário é repensar e discutir o tipo de educação oferecido pela Faculdade de Comunicação, propondo diálogo entre alunos e professores.
Doutora em Políticas Públicas, Lorene Figueiredo apresentou um panorama da conjuntura político-social do Brasil, com um recorte para a educação. A professora explicou que, a partir de 2012, ao mesmo tempo em que foram feitos cortes expressivos nos investimentos na educação, houve o processo de expansão das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), o que acarretou a intensificação do trabalho dos professores e dos servidores.
“Toda a expansão do ensino no Brasil ocorreu com base no rebaixamento da massa salarial dos trabalhadores em educação. Qual é o impacto disso na educação? Se tivemos momento de expansão, estamos agora no momento de contração, com redução das vagas, cortes nas verbas, retirada de bolsas. E assim vamos precarizando a educação superior pública”, analisa.
Lorene apontou que há um lado menos pessimista que não deve ser invisibilizado. “A boa notícia é que nada é só uma coisa, a realidade é dialética. Marx escreveu sobre o trabalho alienado na sociedade de classes, dizendo que, apesar de ele alienar, dialeticamente, também carrega as contradições que podem nos fazer enxergar os limites e as possibilidades desse momento da sociabilidade em que nos encontramos.
Sobre a qualidade do ensino
Uma reflexão inicial sobre qual é o sentido que atribuímos à “qualidade” foi proposta pelo professor Paulo Roberto Leal. De acordo com ele, fazemos uma equivocada atribuição de sentido a essa palavra, sendo ela um termo relativo. Trazendo para a temática do seminário, segundo Leal, a educação de qualidade é aquela capaz de autonomizar o sujeito, garantindo as ferramentas para crítica e compreensão do mundo, e não a pura repetição de conceitos acumulados.
“O papel da universidade é oferecer espaços de dialogia que possam formar adultos habilitados para fazerem escolhas e capacitá-los para discernir a partir do contraditório. A universidade precisa formar profissionais que olhem para os fenômenos e consigam desnaturalizá-los, fazendo uso das diferentes lentes que a formação acadêmica deve disponibilizar.”
Leal aponta que a formação acadêmica do comunicador tem um déficit na experiência humanística, ressaltando ser impossível entender os fenômenos do Brasil sem recorrer à história e à outras ciências humanas, como a sociologia e a antropologia. “É uma falácia achar que, sem o espaço da grande reflexão, só o aparato técnico oferecido pelas universidades será capaz de formar profissionais aptos para interpretação e intervenção social, política e histórica de determinado lugar.”
Tecnicismo acadêmico
Sobre os pontos técnicos do ensino, o professor da Facom, Cícero Villela, fez algumas considerações a respeito dos currículos. A pergunta que guiou a discussão foi qual é o ponto do profissional de comunicação na reprodução de ideologias de mercado que tanto os assolam. A resposta é o ponto do tecnicismo. De acordo com Villela, a proposta curricular atual da Facom é menos tecnicista, com um pouco mais oferta de disciplinas de formação humana.
“Precisamos refletir sobre nós mesmos, sobre o que é ser um jornalista hoje. Se pensamos em uma comunicação alternativa e na mudança da resposta sobre o que é ser um jornalista, também precisamos mover e apoiar os projetos dessa ‘nova comunicação’. Pensar a formação e a inserção no mercado e pensar que podemos fazer diferente, demanda, também, que comecemos a fazer, efetivamente.”
Comunicação como ferramenta de transformação
Uma das principais referências do movimento negro, do hip hop e da militância pela democratização da comunicação na cidade, Adenilde Petrina enfatizou a importância da comunicação popular na amplificação das vozes daqueles que, historicamente, são ignorados.
“A mídia corrupta acaba com os ruídos, tornando difícil para o povo discernir o ruído e perceber de onde ele vem. Ela cumpre bem seu papel de alienar e acabar com a capacidade de pensar das pessoas que moram na periferia, por isso precisamos buscar outras formas de comunicação e estratégias para transformar nossa realidade.”
Sobre a comunicação, Adenilde defende que é preciso criar estratégias para educar nossos ouvidos e nosso olhar. “A comunicação deve ensinar às pessoas a ouvir, e não só a falar. Precisamos de uma comunicação que se dirija ao povo, que o faça pensar e questionar.”
Acompanhando Adenilde, o secundarista, poeta e comunicador popular, Mohammed Silva, contou um pouco de sua história no Coletivo Vozes da Rua e no Slam da Perifa, ressaltando a importância da comunicação popular em bairros periféricos. “A periferia, como quarto de despejos da cidade, aprendeu a usar as tralhas que colocaram nela. Assim, deixamos de ser coadjuvantes e passamos a ser os protagonistas da nossa história.”
O I Seminário de Qualidade continua sua programação nesta terça-feira, 17, com a oficina “Comunicação visual como forma de resistência”, que será realizada às 15h30, no Diretório Acadêmico da Facom.
Outras informações:
dadafacom@gmail.com (Diretório Acadêmico Vladimir Herzog)
I Seminário de Qualidade na Formação de Comunicadoras e Comunicadores