A bióloga, jurista e educadora Bertha Lutz (1894 – 1976) foi uma das pioneiras na luta pelos direitos das mulheres no Brasil. Formada em Paris (especializando-se na pesquisa de anfíbios), Bertha retornou ao país em 1919, quando passou a compor o grupo de pesquisadores do Museu Nacional, tornando-se a segunda servidora pública brasileira da história.
Inspirada pelos movimentos feministas europeus, a cientista contribuiu para a criação da Liga para Emancipação Intelectual da Mulher e da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, após ter representado o Brasil como vice-presidente da Sociedade Pan-Americana, durante a assembléia geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada em 1922.
Em 1936, assumiu o mandato de deputada federal como suplente, quando passou a trabalhar em defesa do desenvolvimento científico nacional, da conservação ambiental, da saúde pública e da formação de leis trabalhistas. Já nessa época, levantava bandeiras como o direito à licença maternidade e a equiparação de salários e direitos entre mulheres e homens no mercado de trabalho.
Para a professora Sônia Maria Clareto – da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) -, o interesse pelo trabalho acadêmico nasceu junto com o interesse por comunidades culturais marginais. “Meu foco de interesse se localizava nessas comunidades e em suas produções de mundo. Especialmente, seus modos de organizar, representar e dar sentido à materialidade do mundo natural e social.”
Atuando como docente, desde a década de 1980 – primeiro como professora de Matemática para o ensino básico -, Sônia aprofundou-se no campo de pesquisa (chamados na área da Educação Matemática de Etnomatemática) em 2000, durante seu doutorado. “A pesquisa foi marcada por essas ocupações com comunidades que se encontravam mais à margem. Nela, investiguei modos de vida e de representação espacial de adolescentes em Laranjal de Jari (Amapá).”
Posteriormente, como professora do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da UFJF (trabalhando na formação de docentes) e como coordenadora grupo de pesquisa Travessia, Sônia voltou sua atenção para outro tipo de comunidade. “Começo a direcionar minhas pesquisas a uma certa comunidade – também, de algum modo, mais à margem – que impactava bastante meu trabalho cotidiano: a comunidade escolar. A partir daí, passo a investigar a sala de aula como espaço-tempo da diferença, dedicando-me a pensar que outras matemáticas são produzidas numa sala de aula de matemática.”
“Como educadora, pesquisadora, professora e tantas outras que me habitam, acredito que estar mulher nestes lugares acadêmicos e de vida – igualmente mais à margem – marca modos de produzir um mundo: um mundo com essas marcas, com esses lugares que nos colocam (e que nos colocamos) como mulheres. Mas também, lugares que subvertemos sendo mulheres, pesquisadoras, educadoras, mães, com duplas e triplas jornadas, com lugares marcadamente femininos a serem subvertidos, torcidos. Cada pesquisa, cada orientação, cada lugar ocupado e a ocupar rasga e torce aquilo que já era colocado para mim como ‘coisa de mulher’, ou ‘lugar de mulher.’”
No mês da Mulher, a UFJF desenvolveu uma campanha com mulheres que fizeram e continuam a fazer parte do desenvolvimento científico, social e tecnológico. Exemplos fortes de como a mulher, mesmo com possibilidades limitadas por sociedades opressoras, foram fundamentais para evolução da humanidade. Nesta campanha, lembramos algumas das mulheres que fizeram história – com seus feitos na Ciência e com suas próprias trajetórias – e homenageamos aquelas que, na UFJF, continuam a fazer. Esta é a quarta e última matéria desta série especial; confira aqui a primeira, a segunda e a terceira.