O campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou nesta terça-feira, 20, mais uma banca de defesa do Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular (PMBqBM). Kênia de Assis Boy foi aprovada com conceito “A” ao abordar em sua dissertação de mestrado os fatores genéticos que interferem no tratamento de portadores de doenças falciformes.
A dissertação
A escolha do tema veio da experiência profissional de Kênia, que é enfermeira hospitalar. Ela observou as dificuldades dos pacientes em lidar com a doença, que é causada pela presença de uma hemoglobina anormal nos glóbulos vermelhos. A hemoglobina é a proteína responsável pelo transporte de oxigênio aos tecidos do corpo.
“Ela gera muitas transformações, que são físicas, causam crises de dor, causam sintomas clínicos, e isso limita muito o dia a dia da pessoa, impede que ela tenha um trabalho normal. Ela tem muitas internações, muitas infecções. É uma doença muito limitante e incapacitante”, explicou a mestranda.
Soma-se isso o fato de existir apenas um medicamento para o tratamento, a hidroxiureia, que é utilizado de forma padronizada nos portadores da doença. O objetivo da pesquisa era avaliar as informações genéticas que interferem na resposta do paciente a esse remédio e, com base nos resultados, propor o uso da hidroxiureia de forma individualizada, considerando as características de cada indivíduo.
Pioneirismo do estudo
Para o trabalho, Kênia acompanhou, durante um ano, 185 pacientes do Hemocentro Regional de Governador Valadares, todos portadores de doença falciforme. Apenas 95 deles utilizavam a hidroxiureia. Foram analisados os prontuários e coletadas amostras de sangue que, em seguida, eram submetidas a exame no laboratório da UFJF.
Foi a primeira vez que um estudo desse tipo foi realizado na população de Governador Valadares. A pesquisa é muito importante, considerando o elevado índice de casos na região. Segundo os números apresentados por Kênia, no Leste e Nordeste de Minas Gerais a cada 680 nascimentos, um deles possui doença falciforme. Esses números se aproximam dos apresentados na Bahia. O estado possui um caso para cada 650 nascimentos, e é o primeiro no ranking de incidência da patologia no Brasil.
O objetivo agora é disponibilizar os dados genéticos coletados no prontuário de cada uma das pessoas pesquisadas. “É uma forma de, pelo menos os pacientes que a gente pesquisou, já terem uma medicina personalizada”, afirma Kênia. A expectativa dela é que, futuramente, outros portadores da doença falciforme também sejam beneficiados por seu estudo.
Título da dissertação: Avaliação farmacogenética de resposta ao uso da hidroxiureia em pacientes com doença falciforme atendidos no Hemocentro Regional de Governador Valadares
Autora: Kênia de Assis Boy
Orientadora: Pâmela Souza Almeida Silva Gerheim
Membros da banca: Cibele Velloso Rodrigues (interna) e Vanessa de Almeida Belo (externa)