Você já parou para pensar no funcionamento da sua visão? Ou na incrível capacidade que o sistema nervoso humano tem para distinguir cores, texturas e contraste? Na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o professor do departamento de anatomia e doutor em neurociência, André Gustavo Oliveira vem pesquisando desde 2002 o desenvolvimento visual de bebês prematuros e “a termo”, expressão usada para caracterizar crianças que nasceram após a gestação completa. Tais estudos deram origem ao livro “Desenvolvimento Visual: Funções de acuidade e sensibilidade ao contraste em bebês”.
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No Brasil, cerca de 340 mil bebês nascem prematuramente, o equivalente a mais de 12% dos partos realizados com menos de 37 semanas de gestação. A pesquisa se propôs a comparar a visão dos bebês e a analisar os dados através de um aparelho semelhante à um eletroencefalograma, exame que monitora a atividade elétrica do cérebro por meio de eletrodos fixados no couro cabeludo. O resultado demonstrou que não existe diferença no desenvolvimento visual entre um bebê prematuro e um gestado em tempo normal. Segundo Oliveira, o prematuro recebe estímulos visuais mais cedo, o que significa uma evolução mais rápida da visão empobrecida, mas, logo no primeiro mês de vida, o bebê que nasce com nove meses de gestação alcança o mesmo nível de desenvolvimento visual, então, os dois passam a avançar juntos. “A prematuridade não traz nenhum benefício em função do maior tempo de estimulo visual e nenhum prejuízo em razão da falta de nutrição pela perda do período final da gestação”, completa o pesquisador.
Apesar de os estudos terem concluído que a prematuridade não influencia no desenvolvimento visual do bebê, é fundamental frisar que os estímulos que a criança recebe na infância, desde o seu nascimento, são fundamentais para o desenvolvimento da visão e de todos os outros atributos do sistema nervoso. Tudo depende das provocações do ambiente para ser potencializado. Por exemplo, um bebê confinado grande parte do tempo dentro de casa, com pouco estímulo de cores, contraste e brilho, inclina-se a ter uma visão menos desenvolvida do que aqueles acostumados a passear todos os dias em lugares diferentes, expostos aos mais variados estímulos do meio. Por isso, os primeiros dias, meses e anos de uma criança precisam ser acompanhados de perto. “O que fazemos vai além do ensino em sala de aula, investimos muito em pesquisa e na extensão, reforçando a importância social do trabalho. Focamos em gerar conhecimento e transferi-lo a outras pessoas,” finaliza Oliveira.
Assinam a publicação também Marcelo Fernandes Costa, doutor em neurociência e comportamento pela Universidade de São Paulo (USP) e Dora Selma Fix Ventura, doutora em psicologia experimental na Columbia University.