Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cultura

Data: 28/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/28-12-2017/campanha-de-popularizacao-do-teatro-de-juiz-de-fora-e-adiada.html

Título: Campanha de Popularização do Teatro de Juiz de Fora é adiada

Em sua primeira edição em Juiz de Fora, em 2002, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança trazia na bagagem 27 anos da experiência de Belo Horizonte, o que permitiu a exibição de 18 espetáculos – 12 adultos, cinco infantis e um de dança -, em quatro espaços diferentes (Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, Forum da Cultura, Pró-Música e Sesc), com ingressos a R$ 4 (adulto) e R$ 3 (criança). Passados 15 anos, em sua 16ª edição, a Campanha dobrou o preço, cobrando entre R$ 8 e R$ 12.

Dobrou também o número de locais: Teatro Solar, CEU da Zona Norte, Diversão & Arte, Casa de Cultura da UFJF, Teatro Clara Nunes – Sesc, Sociedade Filarmônica, OAndarDeBaixo e Fábrica dos Sonhos. Aumentou em quase 40% o número de espetáculos, passando a 25, sendo seis infantis e o restante adulto. Perdeu, no entanto, o que sempre serviu de nome e meta: a popularidade. E a crescente perda de público nos últimos anos justifica a parada. Anunciado na tarde desta quinta (28), o adiamento da 17ª edição do projeto aponta problemas relativos ao modelo adotado desde sua implementação na cidade e, também, a urgência de reflexão não só do evento mas de toda a classe.

“Foi uma decisão tomada ao longo deste ano. Desde a avaliação da Campanha de 2017 colocamos todas as questões e agendamos um seminário, em setembro, com a Sinparc, a Funalfa, produtores e artistas da cidade. Queremos propor algo novo para a Campanha do ano que vem. Adiamos esse anúncio o quanto pudemos porque existia a possibilidade de o Teatro Paschoal Carlos Magno ser inaugurado, o Pró-Música voltar a funcionar, e isso acabaria injetando fôlego. Como nada aconteceu, esse tornou-se um momento para repensarmos o evento de 15 anos”, observa Cristiano Rodrigues, presidente da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Juiz de Fora (Apac-JF), entidade criada justamente para organizar e promover o projeto na cidade, com apoio do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc).

De acordo com Cristiano, a falta de espaços (já que o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas e o Centro Cultural Pró-Música permanecem sem uso, o primeiro por indicação do Corpo de Bombeiros e o segundo por reformas) contribuiu bastante para o adiamento. “Existem espaços alternativos, mas eles não são suficientes para atender a demanda de um evento como a Campanha.” Acrescido a esse quadro, o desgaste do próprio evento – “Algumas produções ainda tinham público cativo, lotavam teatro, mas isso tem mudado nos últimos anos”, diz Cristiano -, a associação aposta na realização em junho. “É sempre um risco interromper, mas entre fazer a Campanha como foi esse ano – cujos resultados não atenderam as expectativas nem dos produtores, nem do público – e deixar passar, optamos pela segunda opção.”

‘O teatro não cresceu’

Envolvido com a Campanha desde a primeira edição, quando apresentou “Mineiros on the beach”, o ator, diretor e dramaturgo Gueminho Bernardes, ex-presidente da Apac, concorda com a necessidade de mudança do formato do evento, mas aponta conflitos mais complexos e profundos. “Os motivos internos são que o teatro não cresceu e não amadureceu na cidade, não conseguiu se fortalecer. Então, não se renovou e esgotou a expectativa do público. Isso tem uma responsabilidade dos grupos e também da Funalfa, que nunca assumiu a Campanha como uma ação importante”, critica, apontando o sucesso do projeto na capital, onde já reuniu mais de 300 mil espectadores em edições passadas.

“Em função dessa importância que ela já teve é que decidimos refletir sobre o que fazer para que não ficasse mais desgastada”, comenta Cristiano Fernandes, lamentando o cenário de desarticulação da classe e em seus espaços. “Juiz de Fora tem uma infraestrutura de teatro muito precária, porque a maioria das casas não apresenta equipamentos de som e luz, encarecendo muito as produções”, acrescenta o presidente da Apac, garantindo ter uma verba, ainda que “tímida”, para realizar a Campanha no meio do ano.

Para o superintendente da Funalfa Rômulo Veiga, a nova proposta de data, prejudicada sobremaneira em 2018 com a proximidade do carnaval, pode injetar fôlego novo no evento. “Um dos objetivos da campanha é a formação de público, e com o evento em janeiro a adesão da população é menor, por ser época de férias. Durante o período letivo é mais fácil estimular as escolas a levarem turmas, por exemplo”, defende, destacando a relevância da reorganização, descentralização (incluindo praças de bairros como palcos) e renovação das peças.

Em 2017, justamente no primeiro ano em que o Teatro de Quintal (TQ) não participou, Gueminho Bernardes com seus solos chegou a ter prejuízo na Campanha. Fato inédito na carreira do artista que ostentou, por anos, as maiores plateias do evento. Por isso, Gueminho defende uma reflexão mais perene. “Minha proposta no seminário foi não fazer e só voltar quando for corrigido o que está errado. A mesma coisa sentimos com o carnaval, porque mudou a data mas o erro continuou sendo cometido”, exemplifica, para logo ampliar a lente: “Hoje vemos uma sucessão de fracassos, e nada indica que haverá melhora.”

— —

Veículo: G1 Zona da Mata

Editoria: Notícias

Data: 28/12/2017

Link:

Título: Após decisão judicial, Prefeitura de Juiz de Fora notifica Abraão Fernandes sobre afastamento do cargo

Abraão Fernandes foi notificado pela Prefeitura de Juiz de Fora de que está afastado da função de conselheiro tutelar a pedido da Justiça. O comunicado, com data de 22 de dezembro, assinado pela secretária de Administração e Recursos Humanos (SARH) da Prefeitura, Andréia Goreske, informou ao conselheiro que a Vara de Infância e Juventude concedeu uma decisão liminar determinando a medida, como parte do andamento da ação civil pública por improbidade administrativa contra ele.

O G1 entrou em contato com Fernandes por telefone na manhã desta quinta, mas as ligações não foram atendidas até a publicação dessa matéria.

O comunicado informou que ele está afastado a partir da data da decisão, 15 de dezembro deste ano. E conforme a notificação, Abraão continuará recebendo salários, como previsto na lei federal 8.429 de 1992.

“Art. 20. a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual”, diz o texto.

O juiz considerou as alegações da Promotoria de que Fernandes “se utilizou de sua função como conselheiro tutelar para divulgar ideias e ideologias próprias, em nome dos demais conselheiros”, como informou o pedido apresentado pelo Ministério Público (MP).

A solicitação de medida liminar do MP aponta ainda que a decisão de protocolar um ofício junto ao Ministério Público Federal (MPF) solicitando que fossem tomadas providências em desfavor do Colégio de Aplicação João XXIII, por conta de um vídeo publicado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em que as crianças participam junto com uma drag queen deveria ter sido submetida ao colegiado, como determina o regimento interno do Conselho Tutelar. No entanto, Fernandes agiu sozinho.

Abraão Fernandes foi afastado do cargo de forma cautelar no dia 20 de outubro, por decisão do Executivo, que atende à sugestão da Comissão do Processo Administrativo Disciplinar, órgão que apura as denúncias.

A decisão do prefeito Bruno Siqueira (PMDB), prorrogou o afastamento por mais 30 dias, em publicação no Atos do Governo no dia 22 de novembro.

De acordo com a assessoria da SARH, os processos administrativos disciplinares que apuram possíveis infringências a deveres funcionais pelo conselheiro tutelar Abraão Fernandes estão em andamento na fase de instrução para colheita de provas e depoimentos. A SARH reiterou que a suspensão ocorre sem prejuízo do pagamento. “Considerando que a questão se encontra submetida à apreciação do poder judiciário, o Município de Juiz de Fora formalizará questionamento neste sentido”, diz a nota enviada ao G1. A assessoria informou também que não tem prazo para conclusão da apuração.

Desde o início do período de afastamento do conselheiro, o suplente José Maria Pires está trabalhando no lugar dele, mantendo assim o quadro completo do Conselho Tutelar da cidade. Se o processo administrativo decidir pela exoneração de Fernandes, o suplente assume o cargo de forma efetiva.

Outros processos

Além dos procedimentos administrativos, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), através da 7ª Promotoria de Justiça de Juiz de Fora, ofereceu denúncia pedindo a condenação do conselheiro tutelar por injúria racial. O pedido foi protocolado pelo promotor Cleverson Raymundo Guedes na 4ª Vara Criminal da comarca.

No mesmo dia em que protocolou o documento no MPF, Fernandes foi denunciado pela estudante por injúria racial. Desde então, o caso teve uma série de desdobramentos.

O inquérito envolvendo o conselheiro tutelar foi concluído pela Polícia Civil no dia 31 de outubro e encaminhado à Justiça. O caso foi investigado pelo delegado Luciano Vidal, que apurou a denúncia feita por uma estudante que divulgou imagens de mensagens em redes sociais em que o conselheiro se refere a ela e ao cabelo dela de forma pejorativa.

O crime de injúria racial está previsto no Artigo 140, Parágrafo 3º, do Código Penal. Se condenado, o réu pode cumprir pena de um a três anos de reclusão e multa.

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Coluna Cesar Romero

Data: 28/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/colunas/cesar-romero/28-12-2017/244122.html

Título: Rumo ao Pará

Após concluir o curso de geografia pela UFJF, Daniel Pinto realiza o sonho de voltar à terra natal, com seu Fusca, que comprou em 2014, no início da faculdade. Ao lado dos colegas de turma, Alberto Milles de Souza e Elver Lonie Nunes Rodrigues, ele vai percorrer, até domingo, os 3.500 km que separam Juiz de Fora de Belterra (PA).

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Coluna Painel

Data: 29/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/colunas/painel/29-12-2017/cientistas-politicos-acreditam-que-eleicoes-2018-devem-promover-maior-renovacao-no-legislativo.html

Título: Renovação no Legislativo

As eleições de 2018 devem promover a maior renovação do Parlamento desde a redemocratização. A observação é do cientista político Jairo Nicolau, publicada na coluna de Ancelmo Gois, de “O Globo”, quarta-feira, quando apontou, entre as causas, o excesso de candidatos, possíveis instabilidades ao curso da campanha, período curto para convencer o eleitor e falta de recursos. O também cientista político Paulo Roberto Figueira, da UFJF, acrescenta que há outros fatores que reforçam essa conclusão, como a má avaliação da política em geral. “O sentimento de inconformidade costuma gerar votos de protesto, apoio a outsiders, vontade de mudança. Todas essas sensações estão presentes agora em largas parcelas do eleitorado, o que sugere vantagens competitivas para quem se apresentar como algo novo e diferente”, destacou.

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Esportes

Data: 30/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/noticias/esportes/30-12-2017/corredores-juiz-foranos-querem-lavar-alma-na-sao-silvestre.html

Título: Corredores juiz-foranos querem lavar a alma na São Silvestre

Tradição quase centenária entre as provas de rua no Brasil, a Corrida de São Silvestre tem entre seus vencedores nomes que fizeram história, como os do tcheco Emil Zátopek; o belga Gaston Roelants; o colombiano Victor Mora; o equatoriano Rolando Vera; os portugueses Carlos Lopes e Rosa Mota; o brasileiro José João da Silva; e os quenianos Paul Tergat e Lydia Cheromei. Mas, para muitos, o que faz a prova realizada em São Paulo desde 1925 no dia 31 de dezembro tão especial são os milhares de anônimos que, entre profissionais, amadores, estão ali pelo prazer da corrida, de encerrar o ano de forma especial, e também mostrar que o esporte pode mudar de forma radical – e para melhor – a vida do indivíduo.

Este é o caso da juiz-forana Sueli de Paula Andrade Nascimento, 39 anos, que disputa a sua segunda São Silvestre. Ela, que trabalha como analista contábil e madruga para treinar, seguiria na noite desta sexta-feira (29) até a capital paulista numa excursão organizada pela ASCORJF (Associação dos Corredores de Rua e Maratonistas de Juiz de Fora) que levaria 46 corredores locais em um ônibus fretado. Ao todo, entre outras excursões da cidade, serão cerca de cem locais na capital paulista. Tudo para, como ela mesma disse, “repetir 2016, em que a São Silvestre deu aquela lavada na alma para fechar o ano com chave de ouro. Nem pensei no tempo que faria, o que desejava era completar o percurso.”

Da caminhada às corridas

O retorno à prova paulistana, em que dividirá as ruas da maior cidade do Brasil com outros 30 mil competidores, serve para reforçar a certeza de quem percebeu, há quatro anos, que precisava fazer algo para não se entregar de vez à obesidade. O resultado (32kg a menos na balança) veio por meio de muito esforço, e nisso a vontade de mudar e a chegada da corrida na sua vida foram fundamentais.

“Sentia que precisava emagrecer. No início apenas caminhava na UFJF, às vezes fazia um trote de cerca de 200 metros, mas me cansava logo. Comecei então a frequentar uma academia, e me perguntaram se não queria participar da Corrida do Batom; falei que era loucura, afinal não aguentava nem 200m”

Mas ela topou o desafio e, após dois meses de treinos, participou da sua primeira corrida de rua em março de 2015, completando 6km.”Mas foi muito difícil. Deu vontade de desistir ao ver os morros, mas nós corredores sempre nos apoiamos, sempre havia alguém falando para não desistir. Esse incentivo impede a gente de parar. O resultado foi uma sensação de missão cumprida, algo que sinto em todas as provas.”

Objetivos ainda maiores

E Sueli não parou mais. Continuou treinando e malhando, mudou os hábitos alimentares (“Cortei o refrigerante de vez, raramente como doces; fico até meio chata com a família, falando que isso e aquilo não pode”), ganhou em qualidade de vida. Foi tamanha a determinação que três meses depois, em junho de 2015, completou os 21km da Meia-Maratona de Juiz de Fora, além de outras provas válidas para o Ranking de Corridas de Rua da cidade.

O primeiro troféu de Sueli foi obtido em 2016, na Corrida Contra as Drogas, e este ano ela ficou em quinto lugar no Ranking de Corridas de Rua de Juiz de Fora dentro de sua faixa etária (35 a 39 anos). “Há quem tenha como objetivo principal a vitória, mas para o amador o mais importante é a vitória individual, alcançar as metas que planejou, completar as provas”, afirma.

E são essas metas que ela tem buscado – e conseguido. Ainda em 2016, ela voltou a disputar a Meia-Maratona de Juiz de Fora (algo repetido em 2017) e fez sua primeira participação na Meia-Maratona do Rio. Em busca de novos desafios, ela participou este ano da Maratona do Rio, completando os 42km em cerca de 4h30. “Foi dificílimo, mas este ano quero mais. Meu plano é correr a Meia-Maratona do Rio no sábado (2 de junho) e a Maratona no dia seguinte (3 de junho), completando mais de 60km”, anuncia.

Depois de um ano em que precisou lidar com problemas como a doença de sua mãe, Sueli volta à São Silvestre com os amigos de corrida para celebrar o fim de 2017. “O clima entre nós é muito bom, essas excursões ajudam a criar um clima de família. Só quem disputa uma maratona ou São Silvestre sabe como é bom, ainda mais com os amigos. E sempre digo que o asfalto é o meu divã. Com ele não preciso de psicólogo, ali esqueço meus problemas e volto para casa renovada.”

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cultura

Data: 31/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/31-12-2017/o-que-os-juiz-foranos-podem-esperar-para-cultura-em-2018.html

Título: O que os juiz-foranos podem esperar para a cultura em 2018

A expectativa é que, ao menos, o próximo ano não seja continuação da atual realidade. Entre a página em branco e o risco ilegível, 2017 chega ao fim como a imagem de um ano sem grande legado. Para 2018, o que se projeta é de pouca esperança. Principal financiador da produção cultural em Juiz de Fora, o Poder Público adota tom contido após meses de contingenciamentos. Com alguns eventos ausentes no cronograma ou bem mais enxutos do que em edições anteriores, a Funalfa enfrenta o futuro com previsão pouco alterada. “O orçamento para 2018 está enxuto em algumas áreas, como na questão do carnaval. Temos um gasto muito alto no final de ano e uma maior dificuldade do fechamento das contas públicas. No início do ano, o município se recupera, com uma injeção financeira com IPTU e outros impostos, mas o carnaval deste ano é muito antecipado. O carnaval de desfiles seria no início de fevereiro, e o sistema financeiro da Prefeitura abre no dia 20 de janeiro. Então, o tempo de execução ia ficar muito esmagado. Com exceção disso, temos um planejamento orçamentário muito próximo do que foi o de 2017. Dentro do Plano Plurianual, fizemos estimativas próximas da que foi feita no ano que passou”, lamenta o superintendente Rômulo Veiga, confirmando a realização do Corredor da Folia e da Lei Murilo Mendes, que, cancelada no ano passado, está programada para o primeiro semestre, ainda com valor indefinido.

“A questão não é ter ou não dinheiro, mas a maneira como encaixamos a receita nos gastos previstos”, comenta o gestor, publicitário responsável pela última campanha política do prefeito Bruno Siqueira. Questionado sobre sua possível saída para acompanhar o prefeito numa especulada candidatura ao Congresso federal, Senado ou Câmara dos Deputados, Rômulo afirmou manter-se no cargo. “Trabalho na perspectiva de ficar os próximos anos. Não penso no imediatismo, não gosto de nada só por agora. Tudo o que tenho feito é a médio e longo prazo, o que significa meu entendimento de que minha estadia dura, pelo menos, os próximos três anos.”

Há mais de um ano com os patrocínios culturais suspensos, os Correios permanecem atuando apenas com a cessão de seus espaços, o que reduziu, significativamente, a reconhecida sofisticação de suas produções. Para o próximo ano, o endereço recebe as exposições aprovadas no edital de 2016 “Visões de um futuro”, de Ivan Domingues (em janeiro) e “Williamsburg: Paisagem em transformação”, do carioca Caíque Cunha (em fevereiro). Canceladas pelos proponentes, “Passageiro do tempo presente”, do paulista Marcos Amaro, e “Formas livres do lápis sobre o papel”, de Rodolpho Rodrigues, não chegam ao espaço, deixando a agenda indefinida a partir de março. De acordo com a responsável pelo Espaço Cultural dos Correios em Juiz de Fora, Ana Lúcia Magalhães, alguns projetos estão em análise, e existe a expectativa de que a instituição lance edital de ocupação no próximo semestre.

Prestes a divulgar o resultado final da ocupação do Cine-Theatro Central e seu projeto Luz da Terra, para artistas locais, a Pró-reitoria de Cultura da UFJF, que gerencia o espaço, espera lançar, nos próximos meses, um inédito programa de bolsas de iniciação artística, o Pibiart, além de abrir a Escola de Artes Pró-Música. “Apesar das dificuldades do cenário político-econômico atual, que repercutem negativamente nos investimentos em projetos culturais, a Pró-reitoria de Cultura fechou o ano com resultados positivos em seus vários órgãos. Temos conseguido realizar alguns de nossos principais compromissos e assim pretendemos prosseguir em 2018. A saída tem sido trabalhar dentro das possibilidades, adequando as ações aos recursos disponíveis, mas preservando a qualidade e o conceito das propostas”, afirma a pró-reitora Valéria Faria.

Sujeito à história

Se por um lado 2017 acresceu apenas um imóvel a sua lista com 186 bens tombados desde 1983, o ano tornou-se um marco na questão patrimonial pela amplitude dos debates, que ganharam vulto após 140 proprietários serem notificados no processo de tombamento de 50 casas no Bairro Poço Rico. Assunto em rodas triviais de conversa e também em audiência na Câmara Municipal, o tombamento provisório dos imóveis ganhou popularidade na cidade e deve, segundo o presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac) e superintendente da Funalfa, Rômulo Veiga, sofrer alterações no próximo ano. “A ideia é avançar na questão da Área de Diretrizes Especiais, criando esse mecanismo seja pelo Plano Diretor, seja por lei específica. É um instrumento de preservação menos restritivo. Precisamos ver se é possível substituir um processo de tombamento por um de ADE, com termos legais e validade jurídica. Os proponentes, todos (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, ONG Permear, Instituto de Arquitetos do Brasil, Centro de Conservação da Memória da UFJF), concordaram que o mecanismo da ADE é melhor que o de tombamento nesse caso. Isso já pacifica a questão, já que o requerente dá anuência para essa troca”, observa o gestor. O conselho se reúne apenas em fevereiro, mas alguns conselheiros, segundo Rômulo, já sinalizaram o aceite da mudança no processo.

Não ultrapasse a faixa

O complexo que carrega no nome o maior incentivador do teatro amador no Brasil, o teatrólogo carioca Paschoal Carlos Magno, ainda não tem data de abertura definida. Composto por um teatro com 400 lugares, galeria de arte, anfiteatro, espaço para reuniões e ensaios e café, situado logo atrás da Igreja São Sebastião, no Centro, ele precisa, contudo, vencer uma das etapas mais caras à produção cultural recente na cidade: a vistoria do Corpo de Bombeiros, que sugeriu a limitação de uso de outros dois gigantes na área em Juiz de Fora: o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) e o Cine-Theatro Central. “O Paschoal foi construído de acordo com as últimas normativas do Corpo de Bombeiros, então, terminada a obra, entraremos com o pedido de vistoria”, pontua Rômulo Veiga.

Utilizado para o JF Foto 17 e para o Ato (evento em substituição ao festival de teatro), o CCBM passou todo o ano de 2017 com seu segundo andar fechado. Já o Central não teve lotação no segundo e terceiro andares. “O que gerou nenhum tipo de legado esse ano foi esse processo de adequação do CCBM às políticas de combate à incêndio e pânico. Não temos resposta do Corpo de Bombeiros, cobramos, mas continua em análise”, lamenta Rômulo. “Falamos de um bem público e que suas restrições comprometem a atividade cultural da cidade. É um bem centenário, com uma relevância para a história da cidade, não só cultural, mas histórica e econômica, afinal, foi, durante muito tempo, a maior fábrica de tecelagem da região, que desenvolveu Juiz de Fora. É um marco para a cidade”, reclama, demarcando o potencial simbólico do lugar.

Com obras agendadas para 2018, o Cine-Theatro Central espera reabrir seus segundo e terceiro andares – balcão nobre, camarotes e galeria – até o final de 2018, após passar por obras de adequação e reforma. De acordo com a pró-reitora de Cultura da UFJF Valéria Faria, o Teatro Pró-Música também deve ter sua reforma concluída em 2018, assim como está garantida a próxima edição do festival. “Podemos assegurar ainda a realização da 29ª edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, em julho”, afirma a gestora.

Som Aberto e repensado

Num ano de agendas mais tímidas, eventos se consolidaram, como o Som Aberto, que tomou o campus por sete edições. “Infelizmente, dada a violência registrada em suas últimas edições, apesar do esquema de segurança mobilizado, vamos repensar o projeto para que ele retorne em 2018 em formato que preserve não só sua proposta democrática mas também a paz e a tranquilidade de público, artistas, produtores e expositores”, observa Valéria Faria, pró-reitora da Cultura da UFJF, referindo-se às sequências de assaltos notificados no lugar. Por outro lado, trabalhos como o do Coral da UFJF, que apresentou o concerto “Gerais & Milton” nesse dezembro devem ser aperfeiçoados, e uma turnê do grupo está prevista para 2018.

Afetado com os cortes de gastos, o Museu de Arte Murilo Mendes perdeu seu protagonismo na cena cultural mas, ainda assim, alcançou um público de 12 mil espectadores, segundo informações da pró-reitoria de Cultura da UFJF, em mostras como a irretocável “Contemplação de Ouro Preto”, ainda em cartaz no museu, e sem dúvida uma das mais bem produzidas que a cidade viu em 2017, ao lado de “Embate ao fascismo – 80 anos de Guernica”, exposta no Espaço Reitoria, uma das mais inventivas e completas. Considerada a maior mostra de fotografia da região, o JF Foto 18 teve seu projeto inscrito na Lei Rouanet e está apto a captar cerca de R$ 290 mil com a iniciativa privada. Aposta da nova gestão da Funalfa, as propostas de incentivo fiscal esperam dar fôlego às atividades municipais.

Potência e resistência da iniciativa privada

Quando as contas públicas se fizeram justas demais para honrar com o direito à cultura, a iniciativa privada encontrou espaço bastante para atuar, ainda que também refém de uma economia em incontornável crise. Parceiro e promotor de importantes ações na cultura em Juiz de Fora, o Sesc comportou-se, em 2017, como o relevante ator que é nas capitais do Sudeste brasileiro. E para 2018, segundo informações da assessoria de imprensa da entidade em Minas Gerais, manterá as sessões, todas as quartas-feiras, às 19h, do Cine Sesc, reservando junho para a Mostra Sesc de Cinema, com a produção estadual e, meses depois, a Mostra Nacional. Após ter completado duas décadas de existência em 2017, o programa Palco Giratório volta a aportar na cidade, com espetáculos teatrais entre os dias 17 e 19 de junho. Além de cursos, exposições e rodas de conversa, a instituição também planeja duas intervenções artístico-visuais em suas instalações durante 2018.

Palco do teatro, da música, de oficinas artísticas e até mesmo das artes visuais com sua pequena galeria, O Andar de Baixo, com o espaço Arteria, resistiu a um ano de reconhecido enfraquecimento na cultura. Produziu e sediou, acreditando numa cultura forjada a gana e alma. “Em 2017 trabalhamos com uma agenda semestral. Criamos um pouco e abrimos as portas para eventos. Agora temos um plano para 2018”, comenta Carú Rezende, uma das quatro coordenadoras do espaço, entre a esperança e o enfrentamento da realidade em 2018.

“Queremos abrigar outros artistas. Essa experiência foi incrível. As pessoas que passaram pel’O Andar de Baixo trouxeram trabalhos muito sensíveis, e isso nos ajudou a nos reconhecermos. O espaço uniu muito a galera que deseja crescer junto”, pontua a gestora e artista. “Ainda queremos permanecer um espaço acessível. E quanto mais ações fazemos, mais resposta temos. A constância dos eventos trazem sustentabilidade para o espaço. Para 2018, queremos dar um passo além, alcançando a sustentabilidade para o grupo”, acrescenta ela, integrante do Corpo Coletivo.

À espera do teatro

Aguardado em 1981, 1982, 1983 e assim por diante, o Teatro Paschoal Carlos Magno conclui 2017 finalmente pronto. Sua entrega, no entanto, fica para março, segundo as previsões da Funalfa, garantindo sua inclusão no planejamento orçamentário da pasta para o próximo ano. “Ele tem previsão orçamentária, tanto de organograma, quanto de custeio, mas vamos trabalhar com a perspectiva de sustentabilidade. Hoje temos uma dimensão do custo completo e avaliamos o quanto é possível arrecadar com espaços que serão licitados, como o café que deve ter ali. Com isso, vamos definir o modelo”, comenta o superintendente Rômulo Veiga, pontuando que o formato de ocupação ainda será definido com o Conselho Municipal de Cultura.

“O que a classe artística reivindica, com razão, é um percentual para a atividade cultural local, que o teatro não seja todo ocupado com atividades externas e grupos e espetáculos de fora. O Paschoal Carlos Magno vai ter uma destinação de percentual de datas possíveis para a cidade. Vamos definir esse regramento para escolher um modelo, se por Organização Social (OS), direto ou parceria, sempre buscando sustentabilidade. O que perseguimos agora é o custo por tíquete médio, quanto custa cada cadeira pelo número de dias que ele estará disponível. Ele não é para gerar lucro, mas para equilibrar sua despesa”, assinala Rômulo.

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cidade

Data: 31/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/31-12-2017/direito-de-sonhar.html

Título: Direito de sonhar

Sonho é coisa séria! Não se ignora o sonho de ninguém, quanto mais de uma criança! Quando um menino diz que quer ser jogador de futebol e uma menina diz que quer ser médica é preciso botar fé! Sonho e fé. As duas coisas que mais me chamaram a atenção quando estive no Instituto Dom Orione para fazer uma reportagem sobre os projetos sociais realizados pela instituição em parceria com a UFJF. Lá, encontrei crianças e adolescentes, entre 7 e 16 anos, que, apesar dos nãos recebidos ao longo da vida, mantinham um brilho no olhar, um sorriso aberto, seus sonhos e sua fé. Com eles a gente percebe que é possível superar adversidades e que “a vida, é bonita, e é bonita”, como canta Gonzaguinha.

Ao me verem junto com o parceiro e fotógrafo Felipe Couri, as crianças queriam saber se iriam passar na televisão. “Filma eu, tio!”, era um pedido constante durante o tempo em que estivemos com eles. A cada solicitação, eu tinha que explicar que a reportagem não era para TV, mas que iria sair na internet.

“Tio, eu já saí no Face. Você viu o vídeo das crianças tomando banho no chafariz do Monte Sinai? Uma delas era eu”, contou um dos meninos, ressaltando que a bica que dera lugar ao prédio onde tem um chafariz era usada para a diversão de toda a comunidade onde vive.

A vontade daquelas crianças de aparecer na televisão pode ser entendida também como um desejo de quebrar a invisibilidade. De mostrar que estão ali, aqui ou em qualquer lugar. Como jornalista, que há muito tempo cobre as questões de segurança pública, estar entre esses meninos e meninas me fez confirmar o quanto o jornalismo é importante e pode ser usado para fazer com que uma parcela da sociedade, muitas vezes ignorada por outra, passe a ser vista sob um novo olhar.

Agora, vou contar qual é um dos meus sonhos: viver numa sociedade transformada, mais igualitária e onde todas as crianças tenham asseguradas, de fato, educação, saúde, família, lar, e que nada e ninguém lhes roubem a possibilidade de sonhar. Minha fé é na nossa humanidade!!!

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cidade

Data: 31/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/31-12-2017/precisamos-falar-sobre-politica.html

Título: Precisamos falar sobre política

Quando digo para as pessoas que trabalho como repórter na editoria de política, a maioria torce o nariz. Ou melhor, reflete um misto de dó e incredulidade. Sim, sou repórter de política e aprendi a gostar disto e a valorizar o ofício. Ainda mais em um momento de tanta polarização de ideias, ideologias e radicalismos. Quanto mais estivermos decepcionados com nossa representatividade nas três esferas de poder, mais precisamos falar de política. Nos últimos anos, creio que levar este universo de forma acessível aos juiz-foranos é o meu desafio nas páginas diárias da Tribuna.

Confesso: não é fácil. Conseguir equilibrar diferentes visões sobre um mesmo tema de forma a dar informações mais próximas da realidade é um estímulo diário que nem sempre é bem recebido pelas partes envolvidas nos debates abordados. Sobre um mesmo tema, há sempre insinuações mútuas de que uma voz obteve mais ou menos espaço que a outra.

Em 2017, foi assim em discussões relevantes e polêmicas como a votação do Plano Municipal de Educação; as discussões de projetos, como os recentes embates acerca do programa intitulado “Infância sem Pornografia”; os debates sobre moções de repúdio ao João XIII e à UFJF e ao governador Fernando Pimentel (PT); ou na cobertura de protestos contra os governantes ou o aumento da passagem de ônibus. Em todas ocasiões, representantes de lados opostos da disputa política chegaram a sugerir que a cobertura tendia para o lado adversário, o que, de certa forma, apenas reforça o viés de imparcialidade que pauta nossas matérias.

É motivo de orgulho saber que, uma vez mais, os juiz-foranos foram informados das ações e gastos de nossos vereadores pelo meu teclado. É uma honra imaginar que meu trabalho é uma ferramenta para que a cidade se informe sobre os caminhos tomados pela Administração municipal e pelos governos estadual e federal. Principalmente, em um momento que dificuldades financeiras afetam a minha, a sua, a nossa vida.

É satisfatório saber que, de certa forma, nós, da Tribuna, nos esforçamos para desnudar os bastidores da política local de forma a ajudar nosso leitor a valer-se da razão para definir seu voto no próximo mês de outubro. em 2018 e sempre, precisamos falar sobre política.

— —

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Esportes

Data: 31/12/2017

Link: http://tribunademinas.com.br/noticias/esportes/31-12-2017/atleta-transgenero-juiz-forana-disputa-competicao-universitaria-e-rompe-barreiras.html

Título: Atleta transgênero juiz-forana disputa competicão universitária e rompe barreiras

Maria Cysneiros da Costa Reis tem apenas 24 aos de idade, mas é muitas mulheres em um só corpo. Ela é a estudante de Arquitetura do Centro de Ensino Superior (CES), onde cursa o sexto período, é gamer, professora de dança, pratica poledance como modalidade esportiva e também joga vôlei representando sua instituição de ensino. E foi graças a essa última atividade que – mesmo sem ter noção da importância do seu ato – ela rompeu mais uma das barreiras da integração na sociedade ao se tornar a primeira atleta mulher transgênero a participar de uma competição universitária no país, ao entrar em quadra para disputar a Universitarius. A competição realizada em Juiz de Fora teve início em maio e reuniu 23 instituições e mais de 1.400 atletas, e o ineditismo da sua participação ainda rendeu um artigo acadêmico que foi apresentado em outubro durante o JUBs (Jogos Universitários Brasileiros).

Se o ineditismo do ato chamou a atenção de tantos, para Maria Cysneiros era apenas mais uma atividade da sua vida atribulada, como todas as outras que faz regularmente desde que decidiu assumir sua condição de mulher trans. “Achava que iria apenas participar e ir embora”, confessa. “Não imaginava que iriam me procurar para entrevistas, ter tanta visibilidade, haver preocupação a respeito da exposição da minha pessoa, que iria me tornar a ‘Maria jogadora de vôlei’. É apenas um hobby como o cosplay, o (game) ‘League of Legends’. Era o equivalente à pelada de quarta-feira à noite dos homens.”

De acordo com o COI

A participação no evento, porém, precisou atender a uma série de exigências. Segundo a diretora operacional do Universitarius, Eduarda Alana de Gouvêa Tavares, 22 anos, eles foram avisados pelo CES, ainda no período de inscrições, que Maria era trans. “Para nós foi uma surpresa positiva. Nós temos a questão da inclusão como um dos princípios do Universitarius, mas nunca havia aparecido uma ou um atleta transgênero. Como temos a chancela da Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), procuramos saber como proceder para não haver nenhum problema durante ou depois da competição”, relembra.

“Eles deram todo apoio e explicaram que ela deveria estar de acordo com as exigências do COI (Comitê Olímpico Internacional), entre elas se tomava hormônios. A Maria fez uma declaração garantindo que cumpria as exigências, e não tivemos problemas”, acrescenta. Como resultado, Maria ajudou a equipe feminina de vôlei do CES a chegar às semifinais e conquistar a quarta colocação, numa competição que envolveu 18 equipes.

“Nossa intenção é trazer mais gente para participar, tanto que em 2018 teremos faculdades de outras cidades. Apoiamos o esporte de participação, mesmo sabendo que o de competição é legal. E é legal ter pessoas como a Maria, que não deixam de fazer o que querem por causa da opinião alheia. Qualquer pessoa com a situação parecida com a dela pode nos procurar para saber como participar, que terá nosso apoio e carinho”, ressalta Alana.

Artigo acadêmico foca luta pelo reconhecimento

A participação inédita no Universitarius rendeu frutos não apenas nas quadras. Ciente da importância do fato, Eduarda Alana – que está no 7º período do curso de Direito na UFJF – desenvolveu um trabalho acadêmico a partir da história de Maria Cysneiros. O artigo foi inscrito e aprovado para participar dos JUBs (Jogos Universitários Brasileiros), realizados em outubro em Goiânia (GO). Única estudante de Minas Gerais a participar na modalidade trabalhos acadêmicos, ela ficou em sétimo lugar entre 21 participantes.

“Há uma teoria no direito, a luta pelo reconhecimento, que diz que todos nós passamos por isso em algum momento. Para a Maria pode ser natural jogar vôlei, mas para muita gente, não”, comenta. “E o esporte é uma esfera autônoma de reconhecimento, e foi por aí que norteamos o artigo.”

Com o título “O esporte como esfera de luta pelo reconhecimento: Maria, a primeira trans do Universitarius”, o artigo foi desenvolvido em pouco mais de um mês a tempo de ser inscrito no JUBs. “A repercussão foi maravilhosa. O pessoal da banca ficou surpreso e feliz por apresentarmos um tema atual, que pela primeira vez foi abordado no JUBs. Tivemos muitos comentários positivos de professores e alunos que também querem escrever sobre temas parecidos.”

Por outro lado, Maria não sabia que havia virado tema de um artigo, visto que ele foi elaborado a partir de entrevistas para outras mídias e dados da competição. “Eu achei normal, legal. Ajuda a abrir a mente das pessoas, que não sabem o que é identidade de gênero, transgênero, opção sexual. Para nós que já vivemos isso é normal.”

Em busca do seu lugar no mundo

O vôlei já esteve presente na vida de Maria Cysneiros durante parte da adolescência, mas voltou ao seu cotidiano na faculdade, quando ela passou a praticar o esporte como passatempo com amigos e amigas. Foram eles que decidiram participar do Universitarius, e, sem ter ideia do efeito da sua presença em quadra, a estudante de arquitetura topou participar. Bem diferente da situação de anos atrás, quando jogou pelo time masculino do Colégio Academia durante a sexta e sétima séries. “Cheguei a ganhar o prêmio de Mérito Esportivo na sétima série, mas parei porque os colegas de equipe cresceram, e eu não. Não sabia o que estava fazendo ali no time masculino”, relata.

Esse sentimento de não estar no lugar certo já estava com Maria desde os primeiros anos de vida. “Desde pequena sempre me via mulher, mas não entendia porque vestiam minha irmã como menina, e eu não. Passava esmalte nos dedos e falavam que era coisa de menina, e eu dizia ‘e daí?’”, lembra. “Na creche só andava com as meninas, me identificava com elas.” Maria conta ainda ter sofrido bullying na época da escola, da dificuldade de usar as roupas que a sociedade definia como “as certas”. “Só me vestia com bermuda e camiseta para não andar pelada na rua, não me sentia à vontade.”

Enfim, a mudança

O conflito entre a pessoa que todos viam e a Maria que trazia dentro de si ficou ainda mais difícil em 2015, a ponto da jovem repetir dois períodos na faculdade. Foi o momento de dar o rumo que desejava à sua vida: passou a tomar hormônios e falou com a coordenação do curso que queria ser chamada, a partir daquele momento, de Maria, além de usar roupas femininas e usar o banheiro das mulheres.

A transição teve, entretanto, seus problemas. “Quando comecei a transformação vi o quanto o machismo ainda existe, assim como o preconceito e a transfobia, além do fetiche por ser uma pessoa trans. Existe toda uma ignorância, ainda, a respeito de identidade de gênero, orientação sexual; entender essa diferença é compreender o que rola em nossa volta”, acredita.

O desejo de ser para o mundo de acordo com o que havia dentro de si superou as adversidades. Segundo ela, os professores observaram que seu rendimento melhorou desde a mudança, e sempre pôde contar com o apoio da família. “Meu avô, Mário Cysneiros, tem 95 anos e era militar, mas paga minha faculdade e me respeita, assim como a minha família.” Mas ninguém tem sido mais importante que sua mãe, Mariléa. “Ela é super coruja, minha melhor amiga. Paga meus hormônios, meus luxos… Só posso agradecer a Deus por ser aceita pela minha família, pelos amigos. Vejo tantas pessoas trans sendo expulsas, não aceitas pelas famílias, e isso me dói.”

Sonhos e metas

Para o futuro, Maria Cysneiros continua a ser várias em uma só. Além de garantir que vai participar do próximo Universitarius (“estamos procurando novas meninas para o time”), ela tem vários planos. “Vou começar a trabalhar em uma empresa júnior de arquitetura, e o que mais quero é me formar na faculdade, trabalhar no meio, fazer mestrado. Quero aprender outras línguas também (ela já domina o inglês), mas, principalmente, viver.”

— —