Marcus David: “Nós vamos continuar resistindo com a convicção de que são as universidades federais o grande caminho que o Brasil tem para superar todas as dificuldade sociais e econômicas” (Foto: Twin Alvarenga)
Uma viagem ao tempo da construção da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), do decreto de Juscelino Kubitschek, no dia 23 de dezembro de 1960, passando pela construção do campus, aos momentos atuais. A descrição, que poderia ser encontrada facilmente em livros de história, resume a solenidade de entrega da Medalha Juscelino Kubitschek, na noite de segunda-feira, dia 18, no Museu de Artes Murilo Mendes (Mamm).
As paredes de um museu muitas vezes nos contam histórias, seja por meio de quadros, objetos ou tijolos, principalmente no momento de sua construção. Cada tijolo assentado é considerado um marco durante uma obra pelo significado e importância que o ato traz ao final da empreitada. Na vida acadêmica não é diferente. Como forma de agraciar as contribuições de pessoas da comunidade acadêmica é que a UFJF criou a honraria como forma de homenagear e reconhecer “cada tijolo” no trabalho de diversas pessoas para que contribuíram para a consolidação da instituição e o desenvolvimento de suas pesquisas, seu ensino e extensão.
O evento de entrega contou com a participação dos atuais membros do Conselho Superior (Consu) e ex-reitores da UFJF, como Júlio Chebli, Margarida Salomão e Renê Matos. O ex-diretor do Colégio de Aplicação João XXIII e ex-ministro da Educação do governo Itamar Franco, Murilio de Avelar Hingel, e o vice-prefeito Antônio Almas também estiveram presentes.
No início do cerimônia, os homenageados assistiram ao vídeo com a íntegra do discurso de Juscelino Kubitschek, transmitido pela antiga e extinta Rádio Industrial, e a uma linha do tempo em vídeo que mostram o crescimento e desenvolvimento da Universidade ao longo dos anos. Em seguida, foi entregue a 26 homenageados uma medalha e certificado. Entre o olhar atento de cada homenageado, lembranças de momentos históricos vivenciados durante toda a trajetória na Universidade.
Imersa nas memórias de seu marido, ex-professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) Hélio Novak, a viúva Sônia Novak aproveitou o momento para rememorar a história construída por Hélio na UFJF, homenageado em memória por indicação da FAU. “Ele sempre foi muito vaidoso, brigava e exigia dos alunos. Ele lutou muito para que a Arquitetura virasse uma faculdade independente da Engenharia, mas infelizmente não conseguiu ver isso em vida. Tenho certeza que ele deve estar muito feliz com essa homenagem onde quer que ele esteja.”
O menino Vinícius Clemente Gotardelo representou seu avô Augusto Gotardelo Junior, indicado pela Faculdade de Educação Física e Desportos (Foto: Twin Alvarenga)
Dentre os homenageados, um garoto chamou atenção do público, em meio a inúmeras cadeiras ocupadas por pessoas com grande história com a UFJF. Vinícius Clemente Gotardelo representou seu avô Augusto Gotardelo Junior, indicado pela Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) para receber a condecoração. “Só sei que ele deu aula de vôlei”, afirmou o garoto que carrega uma grande bagagem história por ser bisneto de Augusto Gotardelo, padeiro, confeiteiro, balconista até os 20 anos e professor de Letras com vários livros publicados.
Reconhecimento
A professora aposentada do Departamento de História, Vanda Arantes do Vale, destacou que a homenagem é um ato marcante na carreira, principalmente por ter sido indicada por seus colegas do Instituto de Ciências Humanas (ICH). “Receber essa homenagem depois de 36 anos de trabalho me deixa muito alegre, valoriza o testemunho que eu tenho dessa Universidade. Isso me alegrou muito, um reconhecimento muito válido.”
Com uma vasta história na instituição, iniciada ainda na década de 70, Vanda afirma ter vivido vários momentos da Universidade, desde o estágio no qual o pensamento crítico emergia aos tempos de globalização, na década de 90. Diante da pergunta sobre a melhor fase, a professora afirma que prefere a Universidade de hoje, no sentido amplo da palavra, com pesquisa, ensino e extensão.
Luta por uma universidade pública
Em sua fala de encerramento, o reitor da UFJF, Marcus Vinicius David, ressaltou a imensa satisfação de estar concedendo esse reconhecimento às pessoas que durante a sua vida, dentro da trajetória profissional construíram para o crescimento da instituição. “O sonho só se realizaria se tivéssemos personagem que com sua dedicação e trajetória conseguissem torná-lo real. Quando a Universidade concede a Medalha, ela reconhece as pessoas que nos possibilitaram alcançar esse sonho. A Universidade se orgulha em ser uma grande instituição, que se consolida a cada dia na pós-graduação com qualidade instalada na nossa Universidade.”
David aproveitou a oportunidade para reafirmar o discurso de defesa da manutenção das universidades públicas. Ele frisou que os ataques a essas instituições não se limitam ao contingenciamento de recursos do Governo federal, mas envolvem as atividades de autoridades públicas, como o ocorrido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“As universidades não vão se curvar a essas pressões. Nós vamos continuar resistindo com a convicção de que são as universidades federais o grande caminho que o Brasil tem para superar todas as dificuldade sociais e econômicas. O Brasil não pode abrir mão do patrimônio das universidades federais. É por isso que a nossa luta vale a pena.”
A medalha
Criada em 2003, por meio de decisão do (Consu), a Medalha Juscelino Kubitschek é um reconhecimento da relevância do trabalho de quem esteve ou ainda está contribuindo para a Universidade. A menção a JK se deve ao fato de o presidente ter assinado, em 1960, o ato que concedeu o status de Universidade à instituição, que teve início com a Faculdade de Direito em 1923.
Com uma história de quase 15 anos, a homenagem passou por mudanças nos últimos anos, recuperando sua proposta original de homenagear membros da comunidade acadêmica da UFJF. A indicação dos agraciados para receberem a medalha é feita pelas 19 unidades acadêmicas da UFJF, incluindo o Colégio de Aplicação João XXIII, e pela Administração Superior.
