De onde sai o leite que você consome? Iogurte, queijos, coalhadas, pães e o próprio pasteurizado de caixinha são derivados do gado leiteiro criado em grandes e pequenas propriedades. Várias técnicas são utilizadas na criação e manutenção das vacas — no entanto, o que é novo por aqui é o trabalho da pesquisadora Dionéia Evangelista César, professora do departamento de Biologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Diferentemente dos métodos tradicionais de criação, com o gado solto ou em baias, o “compost barn”, desenvolvido através dessa pesquisa, otimiza os excrementos dos animais e testa um método mais limpo e confortável para as vacas nos currais.
Com funciona?
Titulado “Microbiota da cama do sistema de criação de vacas leiteiras do tipo compost barn”, o trabalho é traduzido por Dionéia como um estudo dos microrganismos, ou simplesmente “microbiotas”, que fazem o trabalho de compostagem (processo biológico de valorização da matéria orgânica) no “barracão” das vacas leiteiras — que, na verdade, é uma grande cama de serragem que acumula os restos de ração, fezes e urina dos animais. A ação desses microrganismos torna esse composto um adubo muito fértil, podendo ser utilizado em hortas e plantações, destacando-se como um método de reutilização de um material que, até então, é jogado fora.
Os resultados obtidos através do projeto descrevem um cenário que é muito esperado por fazendeiros e pesquisadores em todo Brasil. “Nós somos um dos primeiros a caracterizar o funcionamento desse tipo de sistema em uma região tropical, o que é uma grande novidade no projeto também”, ressalta Dionéia.
Impactos práticos para a comunidade
“O objetivo do compost barn é ser disseminado. Esse tipo de trabalho serve de base e, indiretamente, ajuda na implantação de um sistema que faz bem pro produtor, para as empresas e, principalmente, para os animais”, explica o estudante Thiago Castro, que participa da pesquisa e foi o responsável pela apresentação sobre a mesma, premiada no XXIII Seminário de Iniciação Científica (Semic).
A pesquisa é feita em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) e com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IFSudeste). O trabalho, iniciado em novembro de 2014, em Itamonte, no sul de Minas, também atua na cidade de Cruzília.
O sistema de ponta já é realidade em alguns países como Canadá, Estados Unidos, Índia e alguns lugares da Europa. No Brasil, a prática ainda é iniciante, mas já mostra bons resultados para a criação nas fazendas escolhidas no sul de Minas. Além de incentivar a iniciação científica de vários estudantes da UFJF, o projeto também abarca a participação de alunos do IFSudeste, que entram em contato com a busca por resultados, coleta e análise dos materiais.
Dionéia avalia a pesquisa positivamente também para os proprietários e trabalhadores das fazendas. “Temos uma importância para a comunidade externa, que tem expectativa sobre os resultados e questionamentos do tipo, ‘vale mesmo a pena?’, ‘o que eu posso fazer depois com essa cama?’. Tudo isso vai mexer com a rotina dos sitiantes e dos fazendeiros.”
Outras informações:
(32) 2102-3204 (Departamento de Biologia da UFJF)