Na semana em que eventos por todo o país marcaram o Dia Mundial de Combate à Aids – lembrado em 1º de dezembro – um dado preocupa e leva especialistas a alertarem: 35% dos novos casos de Aids em 2016 correspondem a jovens entre 15 e 24 anos. Esse número foi corroborado pelo médico infectologista e professor da Universidade Federal do do Rio de Janeiro (UFRJ), Sérgio Henrique de Oliveira Botti, que participou, na quinta-feira, dia 30, de evento promovido pelo Departamento de Turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O evento – “DSTs & Aids – a UFJF vai falar sobre isso!” – foi pensado para construir um debate aberto e esclarecedor para os jovens, que são maioria entre os alunos, e inserir a Aids como pauta na instituição. A palestra “Desmistificando preconceitos, informando realidades” abriu o evento com dados de pesquisa referentes a 2016 apontando que os jovens se configuram como um grupo com grande índice de infecção, sendo que das 4.500 novas infecções por HIV em adultos, em 2016, 35% ocorreram em pessoas na faixa entre 15 a 24 anos. Botti apresentou, fundamentalmente, informações sobre contágio, diagnóstico e tratamento da Aids e destacou a importância da informação e da prevenção. “A gente tem que pensar que a universidade é formadora e multiplicadora de opinião. E ela é universal no sentido de ter várias fontes e maneiras de transmitir esses pensamentos, então, considero fundamental democratizar informações e fomentar discussões, tornando este assunto bem esclarecido.”
O médico ainda esclareceu as dúvidas de quem participou do evento e enfatizou a importância da realização de exames para diagnóstico e tratamento de maneira mais rápida. Um exemplo disso são as mulheres grávidas que, atualmente, de acordo com Botti, quase todas fazem o exame na fase pré-natal, o que possibilitou que a transmissão vertical (de mãe para filho) caísse ao longo dos últimos anos. Além disso, para facilitar o diagnóstico, existem hoje testes rápidos que, segundo ele, têm a mesma validade do teste tradicional.
Outro ponto abordado diz respeito à importância da condução correta do tratamento. O infectologista acredita que muitas pessoas não procuram tratamento por falta de informação ou por vergonha. Uma das metas brasileiras para 2015 em relação à Aids era de que 90% das pessoas portadoras de HIV fazendo o tratamento antirretroviral tivessem a supressão do vírus, ou seja, que o vírus fosse indetectável. A meta foi atingida graças ao uso da medicação. A supressão não significa cura, mas indica que os riscos para transmissão da doença são menores.
O professor do Departamento de Turismo e um dos organizadores do evento, Marcelo do Carmo, que orienta o projeto de extensão “Miss Brasil Gay – Interfaces com a UFJF e a comunidade”, ressalta que esse é um movimento de resistência e que tem por objetivo construir uma política pública da instituição. “Talvez esse seja o pontapé inicial para que a gente efetivamente consiga inserir o debate sobre Aids e DST na agenda da Universidade.”
No evento, foram discutidos, ainda, o preconceito e a falta de informação que dificultam o diagnóstico de muitas pessoas, uma vez que a disseminação de ideias pré-concebidas sobre o tema as impede de procurar um profissional. Nesse sentido, Botti acredita que é fundamental estimular o conhecimento e os debates sobre a Aids nos mais diversos tipos de ambiente. “O preconceito mata muito mais que o HIV”, concluiu.