O Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu nesta segunda-feira, 20, o II Encontro do Fórum Permanente de Ensino de Instrumentos e de Escolas Especializadas de Música. O evento ocorre pela primeira em Juiz de Fora e conta com palestras, debates e apresentações musicais até esta terça-feira, 21.
Com o objetivo de promover um diálogo som diversos atores do ensino de música, o encontro contou com a participação do professor da USP Antônio Carrasqueira, com a palestra-recital do livro “Divertimentos-descobertas: estudos criativos para o desenvolvimento musical – sopros e cordas friccionadas”. A obra é resultado da sua tese de doutorado e quase meio século de música. “Tem muita experiência nessa história que eu gostaria de compartilhar. Pensar a educação musical é muito importante nesse momento complicado que a música está vivendo, com vários conservatórios fechando e pouco incentivo. Temos que estar juntos, nos fortalecendo. E é isso que o encontro promove”, observa.
O livro apresenta um olhar crítico sob a metodologia empregada nas escolas, os problemas e as dificuldades do ensino de música no país. Por meio do estudo, o professor expõe uma abordagem baseada na criatividade. “O objetivo é fugir dessa ideia mecanicista, usando uma metodologia que estimula a criatividade, propõe o amplo entendimento da linguagem musical, o maior contato com a música brasileira e o desenvolvimento da consciência harmônica. O diferencial é a incorporação dos elementos da linguagem musical de forma lúdica e prazerosa, fruto de observação e experimentação”, afirma. O professor ainda sugere o uso de mandalas e gráficos circulares que favorecem a concentração e ilustram determinadas estruturas musicais.
Também no primeiro dia de encontro, a professora da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Carla Reis, apresentou o projeto “Piano Pérolas: desvelando o repertório didático brasileiro”. Em prática desde 2014, o projeto realiza gravações com qualidade artística de peças didáticas, direcionadas para os níveis elementar e intermediário, divulgando o conteúdo em plataformas digitais. “Os alunos não têm o referencial de bons músicos tocando peças didáticas”, observa Carla. “Com a internet ocupando um lugar central na formação dos alunos, esses vídeos têm um papel importante de tornar esses conteúdos acessíveis.”
Em relação ao encontro, Carla acredita que ele favorece o pensamento em rede. “Existem várias iniciativas que estão sendo feitas, mas não dialogam entre si, são esparsas, pontuais. É um momento importante para que existam parcerias e que a gente entre em contato com esses trabalhos”, completa.
Sobre o fórum
Promovido em parceria com a Pró-Reitoria de Cultura e o Centro Cultural Pró-Música, o fórum foi idealizado pela Associação Brasileira de Educação Musical (Abem), presidida pelo professor do curso de Música da UFJF, Marcus Medeiros. “É uma responsabilidade muito grande assumir esse cargo, porque a Abem congrega todos os educadores musicais do país e tem um peso muito grande na atuação. Meu objetivo é representar esse grupo para solidificar e valorizar o ensino de música, seja por meio de pesquisas acadêmicas, concertos, debates ou por meio de encontros, como esse fórum”, salienta.
Segundo Medeiros, o evento é uma ação central dentro das práticas de educação musical. “É uma forma de incentivar o diálogo, promovendo o intercâmbio entre os músicos e afinando políticas de cooperação. É fundamental para a cidade, para a formação dos músicos e para a atuação desses profissionais na área de ensino.”
Além disso, Medeiros afirma que é a primeira vez que conservatórios, escolas, músicos independentes e a universidade estão reunidos no mesmo ambiente para pensar nesse processo. “Se todos nós promovemos um trabalho parecido envolvendo a música, por que não pensarmos juntos?”
A ideia já está dando certo na avaliação da professora de canto lírico do Conservatório Estadual de Música Haidée França Americano, Carla Rosa. Ela se apresentou na abertura do evento com o “Nosso Canto, Nossa Gente”, projeto do conservatório extensivo a professores, alunos e à comunidade. “O Fórum atua como uma semente. Por meio do contato com outras realidades, podemos encontrar soluções para problemas enfrentados aqui. Além disso, é uma forma de valorizar os integrantes do grupo e uma música menos comercial”, afirma.
Janice Vallo, professora de educação musical para crianças, concorda. “O evento é uma forma de enriquecer o trabalho musical na cidade, permitindo a troca de experiências e vivências. Isso é muito importante porque nos permite conhecer novas oportunidades e metodologias que podem ser colocadas em prática aqui”, observa.
Na programação prevista para amanhã, 21, os debates abordarão a formação profissional do músico para além da música, discutindo questões como o gerenciamento da carreira e a participação em projetos de leis de incentivo.
Confira a programação no site da ABEM.