Novembro é um marco importante no rol de campanhas de cuidados especiais com a saúde. Neste mês, o objetivo é conscientizar o público masculino a respeito do câncer de próstata. O Novembro Azul é uma iniciativa internacional que surgiu em 2003, na Austrália e ganhou o mundo. Para saber mais sobre a relevância do diagnóstico precoce da doença, o Portal da UFJF entrevistou o médico urologista e professor da Faculdade de Medicina, André Avarese de Figueiredo.
– Portal UFJF – Explique-nos em linhas gerais as principais funções da próstata.
– André Avarese de Figueiredo – A próstata é uma glândula e tem importância na parte sexual. É responsável pela secreção de 25% do líquido espermático liberado na ejaculação, e está localizada numa região como se fosse a junção entre as partes urinária e do espermatozóide. O indivíduo que opera de próstata não tem mais ejaculação e não tem mais chances de ter filhos biológicos.
– Quais as causas do câncer de próstata?
– Só se sabe que existem duas condições para um indivíduo ter câncer de próstata: a idade e a testosterona, hormônio masculino. Todos os homens estão sujeitos à doença. Alguns, como os homens que têm histórico familiar da doença e os homens negros apresentam ainda maior predisposição ao câncer de próstata. Existe uma noção, não apenas para o câncer de próstata, que uma vida mais saudável com alimentação balanceada e atividade física, protegeria o indivíduo.
– O diagnóstico precoce é fundamental para a cura da doença?
– Hoje, são diagnosticados quadros tão precoces que você pode até acompanhar, ou seja, não operar imediatamente. Incentivamos o diagnóstico precoce, ou seja, a realização dos exames Antígeno Prostático Específico (PSA) e de toque retal, porque o câncer de próstata não apresenta sintomas específicos necessariamente. Se o paciente depender só do que ele sente para procurar o diagnóstico vai demorar. Então, fazemos o contrário, ao procurarmos o câncer através dos exames mencionados.
– Todos os homens devem realizar os exames de prevenção ao câncer de próstata?
– O Ministério da Saúde recomenda que todo homem, a partir dos 50 anos de idade, faça o exame da próstata anualmente. Se o paciente já tiver histórico familiar de câncer de próstata – o pai ou o irmão -, ou se for da raça negra, o procedimento deve ser adotado a partir dos 45 anos de idade. Em resumo, a partir dos 50 anos todos os homens. A partir dos 45, aqueles que têm mais chances de ter a doença.
– O câncer de próstata atinge quantos homens no Brasil anualmente?
– É muito incidente: estima-se que um a cada cinco homens pode ter câncer de próstata durante a vida inteira. Hoje buscamos diagnosticar os casos precocemente para termos mais opções de tratamento.
– Quais as principais modalidades de tratamento para o câncer de próstata?
– Quando se faz o diagnóstico do câncer de próstata, geralmente se classifica a doença em três grupos. O primeiro grupo é quando a doença está localizada, restrita à próstata. O segundo é quando a doença não é mais restrita à próstata, já expande além da próstata, mas é local, invadindo os tecidos ao redor da próstata, permanecendo na região pélvica. O terceiro grupo que é a doença metastática, ou seja, o câncer já se espalhou para outros órgãos. O mais comum é que vá para os ossos (câncer ósseo).
Quando você tem uma doença localizada na próstata, ela é passível de tratamento curativo. Nesse caso, tem-se, geralmente, as opções de cirurgia e radioterapia. Quando a doença não está restrita à próstata, ou seja, quando já está localmente avançada na região pélvica, geralmente terão de ser associadas modalidades de tratamento, como cirurgia mais radioterapia; em alguns casos hormonioterapia. Nesse segundo grupo, geralmente a chance de cura diminui bastante. No caso do terceiro grupo, da doença metastática, você não tem mais como fazer o tratamento local porque a doença já se espalhou. Usa-se a hormonioterapia que, na prática, reduz a testosterona do homem e outras opções de quimioterapia. São tratamentos paliativos, controlam a doença mas não a curam, ou seja, com o tempo a doença progride. O que almejamos é diagnosticar a doença quando ainda está restrita à próstata, porque isso aumenta as chances de cura.
– Existe uma barreira cultural ao exame de toque retal. O que o senhor, que pesquisa a temática do câncer de próstata, tem a dizer aos homens sobre o assunto?
– O exame mais adequado para o diagnóstico do câncer de próstata, até mesmo mais do que o PSA, é o toque retal. Esse exame permite identificar alterações sutis, como uma região mais espessa ou um nódulo pequeno, por exemplo. O exame de toque retal é muito importante. É um exame simples, rápido e indolor. Existe essa mística sempre que se fala em Urologia, mas é um exame, repito: simples, rápido e indolor. O toque retal, literalmente, pode salvar a vida do indivíduo que tem um câncer de próstata inicial e que às vezes se baseia apenas no PSA para avaliar. Muitas vezes o PSA está normal ou pouco alterado, não ao ponto de indicar uma biópsia, e o exame de toque indica. Existem casos até de tumores de próstata agressivos com PSA normal. Então, a minha mensagem é façam os dois exames: toque retal e PSA. Não se pode excluir nenhum deles. É muito barulho por pouca coisa. Hoje em dia não tem muito sentido esse medo do exame de toque retal. É muito simples.
– Em sua avaliação, qual a importância de campanhas como o Novembro Azul?
– Antigamente, antes de se fazer essas atividades de incentivo ao diagnóstico precoce, o câncer de próstata era uma doença altamente letal. Quando você diagnosticava o câncer de próstata, já era em estágio avançado. Às vezes, já avançado localmente, com o paciente não conseguindo urinar, com sangramento, e já com metástase. Então, quando começou a se fazer os exames do PSA e de toque retal, ou seja, quando se começou a procurar o diagnóstico antes dos sintomas, esse quadro foi alterado. PSA é uma proteína que a próstata produz e que tem um nível baixo no sangue. Quando essa proteína aumenta no sangue é um indício de problema na próstata.O PSA e o exame de toque alterados indicam a necessidade de realização de biópsia, para verificação de um possível câncer. O novembro azul se volta para a informação; para saber que o câncer de próstata existe; que não tem sintomas e que os exames devem ser feitos. Esperar o câncer de próstata se manifestar, não é uma boa opção. Existem várias formas de tratamento, uma vez que a medicina avançou muito. O importante é a informação.
Outras informações: (32) 4009-5393 – Hospital Universitário ouandreavaresef@gmail.com