“O Brasil ainda tem uma longa estrada a percorrer para garantir a prática efetiva da educação inclusiva em todas as escolas.” A afirmação é do intérprete de libras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Gabriel Martins, organizador, junto com Ana Paula Xavier, do livro “Imersões Cotidianas na Educação Inclusiva: múltiplos olhares, múltiplos saberes”. A obra será lançada nesta quinta-feira, dia 9, às 19h, na sala de demonstração da Faculdade de Educação (Faced) da UFJF.
O livro reúne artigos de diferentes autores que discorrem sobre educação inclusiva a partir de diferentes percepções, como, por exemplo, o multiculturalismo, o gênero, a deficiência intelectual, o autismo e a surdez. Sobre esta última, Martins afirma que “é preciso enxergá-la não como uma deficiência no sentido de déficit, mas no sentido de perceber potencialidades de um sujeito com outra língua.”
Realizar a educação inclusiva significa dar oportunidades às pessoas. Trabalhar nesta perspectiva é oferecer equidade para todos os alunos, garantindo a eles o acesso e a permanência de qualidade no espaço escolar. “Não é tratar todos da mesma maneira, porque ninguém é igual a ninguém. É sobre tratá-los de acordo com suas especificidades”, explica.
Para o intérprete, a única forma de se alcançar a educação inclusiva é discutir e trabalhar isso desde a formação dos professores, pois é dos centros universitários que saem os professores da educação básica. Educação inclusiva não diz respeito somente às pessoas com deficiência, destaca Martins. “Abrange, também, sujeitos em vulnerabilidade social e econômica, e aqui figura um dos problemas da educação inclusiva: só os alunos com deficiência têm políticas públicas que os respaldam. Os em estado de vulnerabilidade não têm essa proteção dentro da escola. Bem, se todos fazem parte desta escola, temos que garantir os direitos de acesso e permanência deste ‘todos’.”
A rede pública municipal, apesar dos problemas, é a que mais oferece capitais humano e material para trabalhar com estas crianças. Segundo Martins, lá, a estrutura já está pronta. “O que é preciso mudar é o olhar do professor para este trabalho. Devemos trabalhar na sua formação para que criem uma consciência sobre a diversidade que existe dentro da escola, bem como discutir com as crianças sobre a educação inclusiva, criando, então, uma consciência coletiva sobre o tema e seus desdobramentos.”
Mudanças sociais
Hoje em dia, vivemos sob o paradigma da inclusão, não mais o da integração: é a sociedade quem precisa se adaptar às pessoas com deficiência, e não o contrário. “Quando um cego não consegue chegar aqui por falta de piso tátil ou rampa, o deficiente é a universidade. Quando a necessidade de um aluno surdo ter uma aula em língua de sinais não é suprida, a deficiência está na universidade, é ela quem tem que prover a educação bilíngue. Os papeis se inverteram, mas ainda hoje é difícil assimilarmos essa ideia”, conclui.
Outras informações: (32) 2102-3653 (Faculdade de Educação-UFJF)