“A história da Ciência vem ressaltar o fazer científico como uma atividade humana. Ao enxergar o cientista como um sujeito de seu tempo, é possível criar um diálogo muito mais crítico sobre os conteúdos em sala de aula”, explica a professora Maria Helena Roxo Beltran, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), responsável pela primeira palestra da VI Jornada de História da Ciência e Ensino.
Realizado pela primeira vez fora de São Paulo, o evento bienal — criado pelo Programa de Estudos Pós Graduados em História da Ciência da PUC-SP — começou nesta quinta-feira, 28, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tratando de métodos e interfaces para a inclusão da perspectiva histórica nos conteúdos e na prática docente trabalhados, tanto na formação de professores, quanto nas salas de aula da Rede Básica.
Maria Helena, no entanto, começa sua apresentação desconstruindo o conceito de “docente”. Relatando sua própria história nesse campo, a professora — que começou sua carreira de pesquisa em Química, sem querer lecionar — questiona a separação entre universidade e escola. “Professores universitários não se consideram professores, com várias e valorosas exceções. Se consideram ‘docentes’. Na década de 1980, quando eu comecei a lecionar, esse distanciamento era ainda mais acentuado.”
Buscando aproximar essa relação, Maria Helena coordena, na PUC, um projeto de formação continuada de professores em História da Ciência, que propõe a ampliação do diálogo entre educadores e historiadores da ciência, com a produção de materiais instrucionais para serem utilizados na Rede Básica. Conforme a palestrante, a história da ciência serve como instrumento para a análise crítica dos conteúdos, e deve ser introduzida como parte integrante do currículo de ensino.
“Existem vários exemplos dessa aplicação. Os próprios professores desenvolverem sequências didáticas em suas salas de aula, porque cada sala de aula é diferente da outra. Não adianta chegar com uma coisa pronta, o professor — dentro da sua formação, da sua competência — vai usar esse conhecimento, com ajuda e com diálogo. O professor é fundamental, sempre, nesse processo. Não existe uma fórmula de aplicação; a fórmula é a construção desse conhecimento.”
A palestrante encerrou sua apresentação com uma crítica ao atual cenário da educação no Brasil. “Estamos vivendo um momento em que programas de valorização do magistério estão sendo desativados por cortes no orçamento. Ao mesmo tempo, temos essa reforma na Educação, que apresenta a ideia de ‘notório saber’ como uma cortina de fumaça para coisas muito piores, como a aniquilação da autonomia do professor. Tudo isso vem acompanhado, mais recentemente, desse corte perverso nos órgãos de fomento a pesquisa, com a clara intenção de cortar bolsas. Mas não é o momento de perder as esperanças, é o momento de lutar.”
A mesma preocupação esteve presente na Mesa de Honra que antecedeu a fala de Maria Helena, composta pela vice-reitora da UFJF, Girlene Alves da Silva; pelo diretor do Instituto de Ciências Exatas da UFJF, Wilhelm Freire; pelo presidente do Conselho Regional de Química de Minas Gerais, Wagner José Pederzoli; pela coordenadora da Superintendência Regional de Ensino de Juiz de Fora, Fernanda Moura, e pela professora do Departamento de Química da UFJF e uma das organizadoras do evento, Ivoní de Freitas Reis. Em meio ao cenário de restrições orçamentárias, Ivoní agradeceu a presença dos participantes e dos palestrantes convidados. A vice-reitora, por sua vez, ressaltou a importância de eventos como este, em que a UFJF realiza seu papel de aproximação com a sociedade.