Abrir espaço para que estudantes surdos possam ter acesso a um ensino que valorize as suas potencialidades e compreenda os seus limites. Essa foi a ideia do professor de Química do Colégio de Aplicação João XXIII e diretor do Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Eloi Teixeira César, quando ele criou o projeto de extensão “O ensino de química para alunos surdos: construindo novas possibilidades”, ainda em 2012. A iniciativa será agora objeto de dissertação de mestrado do Programa de Pós-graduação em Química da UFJF.
A pesquisa “Investigando os processos de imersão e modificação de sinais durante a apropriação da sinalização científica por surdos ao abordar os saberes químicos, matéria e energia”, foi realizada por Vinícius da Silva Carvalho e mergulha no universo de aprendizagem e ensino experimentado por meio do projeto. A defesa do trabalho acontece na sexta-feira, 11.
“Esta ideia surgiu através da demanda de uma estudante surda, que esteve visitando a exposição ‘Cadê a química’, exposta no Centro de Ciências em 2011. Ela percebeu como tinha maior facilidade de aprender os conceitos de química através da interatividade com os equipamentos desta exposição”, conta Eloi, que além de idealizar o projeto, trabalhou como co-orientador da dissertação, ao lado da professora Ivoni de Freitas Reis, do Departamento de Química da UFJF.
Carvalho também possui uma ligação direta com o objeto de estudo. Ele foi voluntário no projeto desde a sua criação e contribuiu, diretamente, no processo de construção da linguagem que foi utilizada durante as aulas. “Inicialmente, nossos objetivos eram de tornar acessível o ensino da ciência química para alunos surdos, porém, não conhecíamos ainda os instrumentos necessários para esse trabalho, apenas tínhamos em mente os recursos em potencial que o espaço do centro de ciências tinha a oferecer”, comenta.
Educação inclusiva
O projeto de extensão atendeu entre 2012 e 2016 alunos de escolas públicas de Juiz de Fora e região, numa faixa etária que varia entre os 15 e os 28 anos. Segundo o mestrando, a principal estratégia dos coordenadores se baseia em métodos de ensino que contemplem o campo visual e sinestésico do estudante surdo como o uso de imagens, GIFs, vídeos, animações, teatro, experimentação, jogos de interação, RPG e fotografia. “Testamos todas essas metodologias e identificamos como importantíssimas para o processo de aprendizado dos alunos surdos”.
Para a pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, a iniciativa sintetiza o conceito de extensão universitária. “Este projeto é a materialização dos objetivos da extensão, de oferecer para a comunidade externa a aplicabilidade do conhecimento produzido aqui, porém em diálogo com a comunidade que recebe essas ações. O conhecimento é produzido coletivamente e ele tem, portanto, a função social de transformar a situação de vida das pessoas”, argumenta.
Além de ter gerado a dissertação de mestrado, os resultados positivos alcançados pelo Centro de Ciências serviram de inspiração para o campus de Juiz de Fora do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. Desde 2013, o Instituto tem oferecido aulas de física a partir dos mesmos princípios adotados no projeto de extensão.“Esta é uma experiência que, em nosso entendimento, compreende as três faces da Universidade, pois um projeto de extensão culminou na realização de uma pesquisa que irá contribuir muito para a área da educação inclusiva”, finaliza Eloi.
Outras informações:
(32) 2102-6913 / (32) 2102-6914– – Centro de Ciências da UFJF