Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Política
Data: 01/07/2017
Título: GDI Mata faz balanço de um ano de atividades
O saldo do primeiro ano de atividades do Grupo de Trabalho Desenvolvimento e Inovação na Mata Mineira (GDI Mata) é considerado positivo, mas há dilemas a serem superados, como a ampliação do alcance da atuação do grupo. Esta é uma das constatações do relatório de um ano do GDI Mata, apresentado durante a terceira reunião geral do grupo realizada nesta sexta-feira (29). Nele, foram mapeados 22 atendimentos em andamento, sete eventos realizados, oito reuniões gerais de trabalho, quatro visitas técnicas e uma proposta de trabalho para parceiros externos no balanço de atividades.
O encontro marcou a adesão do Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Fopemimpe), da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (Seedif), ao grupo. O secretário Wadson Ribeiro destaca que o Fopemimpe é importante ferramenta para a construção de políticas públicas voltadas para o fortalecimento de micro e pequenos negócios no estado.
Entre as novidades para o segundo semestre, está a realização da 1ª Conferência de Inovação e Desenvolvimento para a Zona da Mata Mineira, que tem o objetivo de convergir diversas visões sobre o desenvolvimento econômico e social, promovendo o debate acerca da aplicabilidade na realidade regional. A coordenação geral do GDI é composta por Prefeitura, UFJF, Embrapa, IF Sudeste e Sebrae e, com a incorporação da Fopemimpe, passam a ser 24 as entidades parceiras.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Política
Data: 01/07/2017
Título: Greve geral fecha vias centrais por cerca de duas horas
Juiz de Fora voltou a figurar no mapa de cidades que sediaram manifestações contrárias ao Governo do presidente Michel Temer nesta sexta-feira (30). Chamada de greve geral, a mobilização foi convocada por centrais sindicais e pelo Fórum Sindical e Popular de Juiz de Fora e durou cerca cinco horas. Entre a manhã e o início da tarde, o ato chegou a paralisar concomitantemente o fluxo de veículos particulares e coletivos nas avenidas Rio Branco e Getúlio Vargas, duas das principais vias juiz-foranas, por cerca de 40 minutos, comprometendo o trânsito na região central, com reflexos em outros pontos da cidade. Ao final do evento, representantes do Fórum Sindical estimaram a presença de até dez mil pessoas no protesto que também pediu o fim das discussões das reformas trabalhista e da Previdência que vêm sendo debatidas pelo Congresso Nacional e a realização de novas eleições gerais pela via direta. Como nos últimos protestos, a Polícia Militar não avaliou o número de presentes.
Ainda com concentração tímida na Praça da Estação, a mobilização teve início às 9h. Uma hora depois, quando o número dos presentes já se tornara mais significativo, representantes das mais de 50 entidades, entre sindicatos, movimentos estudantis e sociais, iniciaram suas falas e se revezaram no microfone de um dos dois trios elétricos posicionados no local. Por volta das 11h, o grupo seguiu em marcha pela Avenida Francisco Bernardino. Em seguida, a passeata percorreu a Rua São Sebastião e chegou à Avenida Getúlio Vargas meia hora após o início da caminhada. No local, as falas foram retomadas. Durante os discursos, a organização anunciou no caminhão de som a notícia de que o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia derrubado o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB) das funções parlamentares. A decisão do ministro causou indignação e mudou o roteiro da passeata, que, inicialmente, seguiria pela Getúlio Vargas, passaria pela Rua Halfeld e retornaria à Praça da Estação.
Após deliberações, os presentes resolveram seguir pela Avenida Rio Branco, que já tinha suas três vias fechadas por um grupo que havia se separado da manifestação. Assim, os caminhões de som seguiram para a principal via da cidade e trafegaram pela pista dos ônibus até o cruzamento com a Rua Halfeld, onde a ação foi encerrada por volta das 13h20. Ao todo, a marcha durou pouco mais de duas horas, e o trânsito na Avenida Francisco Bernardino ficou fechado por manifestantes por cerca de 30 minutos; na Getúlio Vargas, por aproximadamente uma hora; e nas três faixas da Avenida Rio Branco por 40 minutos, seguidos por mais 40 minutos de fluxo comprometido na pista central e na pista sentido Centro/Bom Pastor.
Ônibus circularam normalmente
Ao contrário do que ocorreu na última greve geral, no dia 28 de abril, motoristas e cobradores do transporte coletivo urbano da cidade não aderiram ao movimento. Assim, os ônibus circularam na manhã desta sexta-feira. O fluxo de veículos, no entanto, não pode ser considerado normal em alguns momentos, por conta do fechamento de vias centrais, o que gerou uma grande fila de coletivos na Rio Branco, por exemplo. Segundo a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (Settra), para evitar maiores reflexos, foram feitas mudanças pontuais nos trajetos de quase todas as linhas durante o período em que o trânsito permaneceu comprometido.
De acordo com os organizadores, entre as categorias que cruzaram os braços parcial ou integralmente durante o dia estão professores das redes estadual, municipal e particular, servidores públicos municipais, bancários, policiais civis, docentes e técnico-administrativos da UFJF e profissionais dos Correios.
Balanço
Ao final, quando a marcha já havia chegado ao Parque Halfeld, representantes de centrais sindicais fizeram um balanço da mobilização. Pela CUT, Aparecida de Oliveira Pinto convocou os manifestantes a se manterem permanentemente mobilizados e considerou que direitos históricos dos trabalhadores estão ameaçados desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “A intenção (do impeachment) não era só a de tirar um governo. A intenção era de retirar direitos dos trabalhadores”.
Pela Central de Sindicatos Brasileiros (CSB), Cosme Nogueira enalteceu a amplitude de segmentos representados no ato, citando a presença de José Luiz Guedes, ex-deputado federal e ex-líder sindical nos anos 1960, quando foi perseguido pela ditadura militar, e da juventude.
Cosme também deu tom local ao ato com críticas à gestão do prefeito Bruno Siqueira (PMDB) relacionadas a questões como a atual negociação salarial mantida pelos servidores e problemas relacionados à frota de caminhões do Demlurb.
BR-267 fechada
Antes do ato na Praça da Estação e nas vias centrais de Juiz de Fora, um grupo de manifestantes fez uma ação na BR-267, no Bairro Igrejinha, Zona Norte de Juiz de Fora. De acordo com informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), por volta das 5h30 desta sexta (30), manifestantes fecharam a via, e o congestionamento chegou ao entroncamento com a BR-040. Policiais tentaram negociar a liberação da via, o que ocorreu por volta das 8h30.
Em Minas Gerais, outras rodovias foram interditadas na manhã desta sexta, durante a agenda nacional de ações contra o Governo federal. Entre elas, a BR-265, entre São João del-Rei e Lavras, e a BR-135, que foi fechada pelo MST próximo a Bocaiuva e Diamantina. A MG-050 também chegou a ficar fechada durante a madrugada, na altura de Divinópolis.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Esportes
Data: 01/07/2017
Título: Uberabinha/UFJF segue na briga pela classificação no Campeonato Mineiro
Faltando apenas uma rodada para o encerramento da primeira fase do Campeonato Mineiro – categorias sub-15 e sub-17 -, o Uberabinha/UFJF segue na briga pela classificação nas duas competições. No sub-15, os locais ocupam a quarta colocação do grupo C, com 10 pontos. No entanto, para se classificar, terão que vencer o Atlético-MG, no sábado, às 9h, em Belo Horizonte, além de torcerem por uma derrota do segundo colocado da chave, o A.M.D.H, que enfrentará o Dínamo em Araxá.
Já a equipe sub-17 do Uberabinha/UFJF soma 15 pontos, apenas um ponto a menos que o segundo colocado, A.M.D.H. Por isso, também precisará vencer o Galo sábado, às 11h, na Vila Olímpica, e torcer por um tropeço do seu adversário direto pela classificação. Por conta do somatório de pontos das duas equipes, os locais não correm risco de rebaixamento no estadual.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 02/07/2017
Título: JF expande serviços de transplantes e ganha destaque no Sudeste
Juiz de Fora está expandindo seus serviços de transplantes, fortalecendo sua posição de destaque como um dos principais centros transplantadores de órgãos e medula óssea na região Sudeste. Entre as seis Centrais de Notificação de Captação e Doação de Órgãos e Tecidos (CNCDOs) do MG Transplantes, programa que coordena a captação de órgãos no estado, a unidade de Juiz de Fora, localizada na Santa Casa de Misericórdia, realiza cerca de 75 a 80 transplantes de córnea e rim por ano. Em breve, o serviço vai oferecer também transplantes de fígado e pâncreas. O município conta também com a estrutura do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para a realização de transplantes de medula óssea, onde mais de 300 procedimentos já foram realizados neste ano. Apesar da expansão, as baixas taxas de doação de órgãos ainda são o principal entrave para a realização de mais procedimentos, aumentando listas de espera.
Os centros transplantadores de Minas Gerais estão habilitados para captar e transplantar córneas, coração, pulmão, rim, fígado e pâncreas. Em Juiz de Fora são realizados transplantes de rins e córneas, além da captação dos outros órgãos quando há logística para transporte dos mesmos para outros centros do país. Somente neste ano, 30 transplantes foram realizados até abril segundo o Sistema DataSUS do Ministério da Saúde, sendo que sete deles eram de córnea. O número já é maior que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 19 transplantes de rins e três de córneas foram realizados, somando 22 procedimentos no primeiro quadrimestre. No ano todo, 76 procedimentos foram realizados no total.
Lista de espera
De acordo com levantamento do MG Transplantes, até maio, a lista de espera para transplante em Juiz de Fora chegava a 258 pessoas. Destas, 237 aguardavam a captação de um rim e 21 precisavam de um transplante de córnea. O tempo na lista de espera depende de fatores como a urgência do procedimento, compatibilidade de grupo sanguíneo entre doador e receptor, compatibilidade anatômica e genética, entre outros, mas o principal fator é a disponibilidade de um órgão doado, o que pode ser um complicador, já que a negativa de doação ainda é alta na região.
O caminhoneiro aposentado Francisco Teixeira Monsores, 74 anos, morador de Vassouras (RJ), no entanto, não teve que esperar muito. Após um ano e meio fazendo diálise peritoneal quatro vezes por dia, os médicos constataram a necessidade de um transplante por conta de uma insuficiência renal. O procedimento foi realizado no dia 10 de junho em Juiz de Fora. Ele ficou dois meses na fila de espera por um rim. “Estou muito feliz com a cirurgia. Foi o início de uma vida nova”, comemora.
A filha do aposentado conta que, em vista dos obstáculos enfrentados pela saúde no país, de forma geral, e até mesmo da dificuldade de encontrar um doador compatível com o tipo sanguíneo do pai, cujo RH é negativo, foi uma surpresa obter o transplante após dois meses de espera. “Quando ele entrou para a lista, o médico nos avisou que, quando houvesse um doador compatível, receberíamos uma ligação. Ter acontecido tão rápido foi uma bênção de Deus. No caso do meu pai, o paciente doador teve morte encefálica, e a família resolveu doar os órgãos. Sou muito grata a essa família, pois meu pai nasceu de novo”, afirma Eliane Monsores.
Desconhecimento impede aumento na doação de órgãos
Mesmo com o aparato tecnológico e a disponibilização de equipes aptas para a captação de órgãos, os procedimentos esbarram em dificuldades para concluí-la, desde contra-indicações médicas até a negativa da doação pela família. Há dois tipos de doadores de órgãos: o doador cadáver e o doador vivo. É possível doar um dos rins, medula óssea e parte do fígado, do pulmão ou do pâncreas em vida. Já no caso do doador cadáver, a doação de todos os órgãos só é possível quando há morte encefálica, caracterizada pela perda das funções cerebrais, e só pode ser autorizada por um parente de até segundo grau. Apesar de os órgãos continuarem funcionando até cerca de 72 horas após o diagnóstico de morte encefálica, o quadro é irreversível.
No MG Transplantes, a principal dificuldade é a desinformação, conforme Joseph Frederic Whitaker, coordenador da unidade de Juiz de Fora. “O paciente com diagnóstico de possível morte encefálica não é aquele que teve uma doença e foi piorando. Geralmente, ele é vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) ou um trauma. Esse quadro dificulta a absorção da morte pela família, apesar de ser comprovadamente irreversível. Outro problema é a contra-indicação médica, quando os órgãos estão muito comprometidos. Para se ter uma ideia, nesses últimos meses, foram abertos 11 processos de investigação de morte encefálica, mas apenas cinco foram concluídos com captação, por motivos diversos.”
Conscientização
Para a enfermeira da comissão intra-hospitalar de doação de órgãos e tecidos para transplantes da Santa Casa, Eliene Ribas, é preciso conscientizar a população sobre o que significa a morte encefálica para que haja mais doações. “Quando há o entendimento sobre o que causou a morte do paciente, a doação acontece de forma mais simplificada. Nossa equipe acompanha a família durante todo o processo, criando um laço para ajudá-la a passar por aquele momento. A doação de órgãos é muito mistificada, as pessoas têm medo de tráfico de órgãos, por exemplo. Por isso, quando a família está em dúvida sobre a doação, é nosso trabalho esclarecer todo o processo.” A comissão é formada por médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos.
Diversas campanhas são realizadas com o objetivo de estimular a doação de órgãos. O essencial para aumentar o número de doações, segundo o coordenador do serviço de transplantes, é que as pessoas manifestem, em vida, o desejo de doar. “Se você é doador, avise sua família. É fundamental que os familiares saibam quando uma pessoa tem esse desejo. Para os familiares que não têm certeza sobre a vontade do paciente que morreu, o caminho é se questionar se ele não gostaria de ajudar alguém”, afirma Joseph Frederic Whitaker.
Monte Sinai e Santa Casa vão oferecer transplante de fígado
O Hospital Monte Sinai e a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora foram habilitados pelo Ministério da Saúde para realizar transplantes de fígado. As instituições devem começar os procedimentos ainda este ano, assim que uma lista de espera for oficializada. Atualmente, de acordo com levantamento realizado pela equipe do Serviço de Transplante Hepático do Monte Sinai, cerca de 200 seriam candidatos ao procedimento somente em Juiz de Fora. A lista de espera, no entanto, é única para o país, e tem como prioridade moradores de toda a região.
De acordo com Rodrigo Peixoto, cirurgião do aparelho digestivo e membro da equipe do Monte Sinai, a expectativa é que sejam realizados entre 12 a 25 transplantes por ano, inteiramente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). “Fomos credenciados em abril do ano passado e, nesse último ano, viemos qualificando e estruturando o hospital. Hoje, são mais de três mil pacientes atendidos no Centro de Referência em Hepatologia do Hospital Universitário da UFJF, com mais de 3.500 consultas por ano. Desses, 600 são cirróticos, e cerca de 30% são candidatos ao transplante hepático. Nosso contrato de aprovação está em vias finais de aprovação e já temos uma lista de espera elaborada, aguardando para ser oficializada.” O início das atividades está previsto para este mês de julho.
Para o responsável pelo serviço de transplante de fígado da Santa Casa, Gláucio Souza, bons resultados já estão sendo colhidos. Ele conta que havia casos em que a captação para os rins e as córneas era realizado, mas, como ainda não havia estrutura, fígados saudáveis eram perdidos. “A Santa Casa foi habilitada para realizar transplante de fígado a partir de fevereiro, e, desde então, estamos trabalhando. Na região era possível aproveitar cerca de 20% dos fígados quando havia a doação de órgãos, mas com nosso trabalho já conseguimos aumentar esse índice para 70% de aproveitamento. Em 2015 tivemos três fígados aproveitados no ano inteiro, e, só nesse ano, já aproveitamos sete. Houve uma mudança significativa desde o momento em que começamos a atuar nesse cenário.”
Sobre os benefícios de duas instituições darem início a esse tipo de transplante, Souza comemora: “Não tenho dúvida de que a criação do programa de transplante de fígado por duas instituições respeitadas vai causar uma sinergia no programa de doação de órgãos da cidade. Teremos duas instituições trabalhando em prol dos transplantes na cidade e temos certeza que, a partir do momento em que houver um trabalho efetivo, o número de doações de órgãos pode aumentar de 20 a 30%.”
Pâncreas
A Santa Casa também está habilitada para realizar transplantes de pâncreas, e o ambulatório destinado a atender diabéticos já está em funcionamento. No entanto, ainda não foi realizado nenhum transplante desse órgão. “Também temos o credenciamento para pâncreas. O serviço está pronto para começar, e estamos em fase de finalização de protocolos. Ele é indicado para o paciente diabético que está em hemodiálise, geralmente sendo um transplante duplo: esse paciente recebe um rim e também o pâncreas, para controlar a glicemia”, explica o responsável pelo serviço, Gláucio Souza.
Hospital Universitário supera marca de 300 transplantes
Juiz de Fora é a única cidade do interior de Minas Gerais que oferece transplante de medula óssea pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento é feito no Hospital Universitário (HU) da UFJF, que iniciou o trabalho em 2004. Em maio, a equipe médica, hoje comandada pelo hematologista Abrahão Elias Hallack Neto, alcançou a marca de 306 transplantes feitos na unidade, sendo 279 autólogos (quando o próprio paciente fornece as células para o tratamento), e outros 27 alogênicos aparentados (quando o doador é um familiar, geralmente irmão). Estes números mostram que o hospital da Universidade deixou de ter abrangência local e regional, passando a ser referência, inclusive, em outros estados, sobretudo o Rio de Janeiro.
Procedimentos complexos, como os transplantes, mostram a importância da cidade na medicina nacional. Conforme Hallack, o fato de o município manter um programa público e continuado de medula óssea é algo a ser enaltecido e comemorado. “É uma grande vitória. Impressionante o fato de o programa conseguir se manter, mostrando que não foi um voo de galinha, e sim algo que se sustentou. Infelizmente, fatos como este são raros na rede pública de saúde”, afirmou, dizendo que, em média, são feitos dois transplantes por mês, com a possibilidade de ampliar para três.
Ainda segundo o médico, das 306 cirurgias feitas, 250 são de pacientes de diversas cidades de Minas Gerais. Uma demanda que tem crescido, no entanto, é a de pessoas do Estado do Rio de Janeiro, em razão da crise financeira enfrentada no estado. “É contato. Sabem da importância do nosso trabalho e encaminham quem precisa do transplante. Importante dizer, no entanto, que isso só é possível no SUS por causa da Fundação Ricardo Moysés, que acolhe pessoas que não têm condições de se manter na cidade. Atualmente estou com uma paciente muito carente que, se não fosse esta assistência, não teria como se alimentar.”
O pioneirismo do HU já resulta em frutos, também, na rede privada. Prova disso é que o Hospital Monte Sinai acaba de expandir sua capacidade de atendimento para transplantes autólogos, ampliando de um para três o número de pacientes que podem ser atendidos simultaneamente. O próximo passo, conforme o médico hematologista Ângelo Atalla, que fez parte da primeira equipe do HU, é o credenciamento junto ao Ministério da Saúde para o transplante alogênico, o que pode acontecer a qualquer momento. “É uma demanda da região, pois hoje a saúde suplementar encaminha seus pacientes para São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba (PR) ou Belo Horizonte, o que gera um prejuízo enorme para as operadoras.” Apesar do atendimento privado, a expectativa é que o tratamento no hospital reduza a demanda do HU, que hoje chega a atender pacientes com planos de saúde por não haver opções na rede credenciada.
Paciente do HU conta história de luta para vencer o câncer
Se o HU tem se transformado em referência para fora do estado, ele é a salvação de pacientes juiz-foranos, que podem fazer todo o tratamento sem ter que buscar outra cidade. Este foi o caso de Jéssica Machado, 25 anos, que enfrentou a doença três vezes nos últimos oito anos. O primeiro diagnóstico de linfoma surgiu quando ela tinha 17 anos, com tratamento de quimioterapia e radioterapia feito na Ascomcer. “Foi um susto. De repente, perdi o apetite e desenvolvi uma forte anemia. Emagreci quase 30kg. Na época, fui a vários médicos e tive os mais diferentes diagnósticos, como depressão e anemia. Quando fui encaminhado ao doutor Hallack, ele identificou os nódulos e já solicitou minha internação. Fiquei em pânico, apesar de ter demorado a entender que a minha doença era câncer”, contou.
Jéssica fez oito meses de tratamento até receber alta médica. Conforme os exames, ela estava curada. Mas com quase 20 anos de idade, durante avaliações de rotina, foi constatado que a doença havia voltado. “Foi uma fase difícil. Um pouco antes havia perdido meu pai e minha mãe, em um intervalo de 28 dias. Como a quimioterapia não tinha surtido efeito, o médico informou que o transplante autólogo era necessário.” De acordo com Hallack, o tratamento consiste em uma quimioterapia em alta dose, quando são extraídas células saudáveis do corpo para, em seguida, implantá-las e aguardar a pega da medula. “Chegava na Ascomcer às 8h e recebia a quimioterapia por 12 horas, durante três dias consecutivos. Fiz quatro ciclos destes até ser declarada curada pela segunda vez.”
No entanto, após três anos, o linfoma voltou a se manifestar, exigindo o transplante alogênico, também feito pelo HU da UFJF. Dos três irmãos de Jéssica, um apresentou compatibilidade para ser o doador. Mas ainda assim, outras dificuldades foram enfrentadas, pois, ao descobrir o câncer pela terceira vez, ela contraiu dengue e chegou a ficar uma semana em coma. “Tive que ter muita fé em Deus, boa esperança e boa vontade. Vi muitos amigos perdendo a esperança e morrendo. Eu nunca me deixei abater, estava sempre sorrindo e brincando. Por mais que não seja fácil, o meu foco foi sempre pela cura. Hoje eu sou uma pessoa mais forte, muito amadurecida. Posso dizer que, depois da tempestade, não é qualquer chuvinha que me molha”, afirmou a jovem que passou pelo segundo transplante faz oito meses e, há um, recebeu alta médica.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 02/07/2017
Título: Sensação térmica chega a 2 graus em dia mais frio do ano em Juiz de Fora
Seguindo as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fim de semana em Juiz de Fora foi de temperaturas bem baixas. Na manhã desta segunda-feira (3), segundo o termômetro do Inmet, instalado no campus da UFJF, a mínima chegou a 9,7 graus, sendo assim, o dia mais frio do ano. A sensação térmica foi de 2 graus, devido às rajadas de vento, que chegaram a 22,3 quilômetros por hora.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cultura
Data: 02/07/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/noticias/cultura/03-07-2017/ora-ideias-ora-cameras.html
Título: Ora ideias, ora câmeras
Não fosse a força da interpretação, “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” se resumiria a tratado do improviso. Não fosse o poder da contextualização, a frase dita pelo cineasta Glauber Rocha na década de 1950 indicaria a popularização das câmeras justamente num tempo em que elas eram artigos de luxo. Não fosse a potência das metáforas, a ideia transmitida pelo Cinema Novo se limitaria a perceber a sétima arte como gesto impulsivo, desprovido de aperfeiçoamentos. Ledo engano, o próprio autor da máxima guardava em casa – num armário recheado de cartas, manuscritos e jornais – três distintas versões de seu clássico “Deus e o Diabo na terra do sol”, lançado em 1964.
O cinema carrega consigo a complexidade, não apenas linguística. É um complexo sistema artístico. Dificilmente câmera e ideia, apenas, fazem filme. “Cinema não é para covardes”, observa o cineasta local Luciano de Azevedo, tomando para si uma afirmação recente do veterano Ruy Guerra, que diz da coragem inerente ao sujeito que se presta a pegar numa câmera para dar forma e movimento às suas ideias.
Expoente de uma geração corajosa, Luciano é autor da trilogia “Cabrito”, cujo primeiro curta-metragem, homônimo, foi realizado com R$ 1.500, “de um pagamento atrasado de um freela”. Nos 28 festivais nacionais e internacionais que a produção já foi exibida desde 2015, abocanhou dez prêmios. Único representante brasileiro na 49ª edição do Sitges – Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, considerado o mais importante do gênero, “Cabrito” recebeu o apoio da Ancine para participar da mostra.
Para despertar reconhecimento, foi preciso que o trabalho de Luciano comprovasse merecimento, como tem acontecido não apenas com a cena nacional, mas também local. E justamente num momento de produção superlativa, com visibilidade externa à cidade igualmente grande, produtores mostram a conta, reivindicando revisões urgentes no setor.
Tomando apenas o resultado de 2016 da Lei Murilo Mendes (ver quadro), quando houve significativa retração do mecanismo de incentivo municipal, torna-se visível o menor prestígio da expressão diante das demais. Enquanto produções cinematográficas ocupam uma fatia de pouco mais de 4% dos projetos aprovados e 7% (R$ 52.921,00) da verba disponibilizada, propostas de lançamento de discos e DVDs musicais são mais de um quarto do total dos aprovados, mobilizando 41,5% (R$ 311.756,45) de todo o montante da lei.
A ausência de proporcionalidade se manteve nas últimas cinco edições da lei de fomento, que aprovaram um total de 23 filmes (apenas um longa), sendo que dez títulos ainda não foram finalizados, o que demonstra um gargalo justificado por outra desigualdade: produtos grandiosos em linguagem e técnica trabalham com orçamentos enxutos ou sequer possuem verbas. A cinco dias da reunião do Conselho Municipal de Cultura, que deverá discutir propostas de reformulações na ferramenta de incentivo municipal, produtores debatem um cenário com muito mais ideias que câmeras.
‘Poderíamos só fazer com amor, mas já somos profissionais’
Para rodar “Firma”, seu primeiro curta-metragem, Mariana Musse não contou com fartos recursos. Tudo saiu do próprio bolso. Premiado no Festival Primeiro Plano, o filme ofereceu-lhe a oportunidade de fazer “Dulia”. Para seu terceiro trabalho, “Jonathan”, ela recebeu recursos da Lei Murilo Mendes. Em sua quarta produção, que a cineasta está filmando essa semana em Juiz de Fora, também lança mão do incentivo municipal. Na filmografia de menos de uma década, estão presentes dois sujeitos fundamentais na cinematografia juiz-forana: o festival e a lei de fomento.
“Cinema tem um custo alto de equipamentos e profissionais. Uma ficção, por exemplo, requer gastos com figurino, maquiagem, cenário. Às vezes, um teto de R$ 28 mil pode ser muito apertado. Os valores de cinema estão na casa dos milhares e milhões, mas temos que pensar em nossa realidade, e R$ 28 mil é melhor que nada”, comenta Mariana. “Poderíamos só fazer com amor, mas já somos profissionais”, alerta. “Então, precisamos de uma remuneração, mas quando paramos para pagar todos de forma justa, fica difícil. Fazemos por termos parceiros, e em Juiz de Fora existe uma rede de trabalho movida a amor.”
Amor, contudo, não cria mercado. Para Felipe Saleme – diretor de “Entre parênteses” (em parceria com Diego Zanotti) e “Aqueles cinco segundos”, exibido em Cannes e premiado em Gramado -, “nunca vai haver dinheiro o bastante, porque sempre se pode somar algo à produção caso haja possibilidade. É claro que o fato de ter mais dinheiro não garante um produto final melhor, mas é bom poder pagar um profissional que vive desse ofício e sair com um filme bem cuidado, no qual você sabe que as escolhas humanas e técnicas que fez foram fundamentais para obter um resultado melhor”.
Ainda que os R$ 28 mil propostos pela Lei Murilo Mendes sejam um valor possível para a produção de documentários em curta-metragem, como aponta Francisco Franco, do Inhamis Studio, podem ser insuficientes para outras demandas, como a ficção, cada vez mais presente na cena local e, até, os longas-metragens, que injetam fôlego num cenário. “No momento, acho que poderíamos manter esse teto, mas aprovar o dobro de projetos. Se aprovarem mais projetos, teremos mais pessoas fazendo filmes e aprendendo a fazer filmes com baixos orçamentos”, defende Franco, autor de “Jorge Sardas”, ainda em produção, um dos dois únicos filmes incentivados pelo edital de 2016 da Murilo Mendes, ao lado de “Para sempre, amor”, de Mariana Musse.
‘Através da arte vamos ser lembrados’
O mercado é embrionário. A produção, contudo, tem ganhado maturidade e densidade numa velocidade muito maior. “Durante esses anos, houve um grande avanço na cidade em termos de pensar o cinema como forma de expressão. Surgiram vários realizadores e grupos envolvidos com a produção, seja de ficção ou documentário”, pontua o professor da Faculdade de Comunicação da UFJF Nilson Alvarenga.
“A realização em cinema, entendida como produção criativa de pensamento e arte, não deve ser reduzida a uma questão técnica. Porque tecnicamente é possível, sim, produzir coisas interessantes, desde que o roteiro – ou proposta – esteja adequado aos poucos recursos. Mas não se deve pensar no recurso investido como sendo de produção material apenas. Trata-se de investir na prática criativa, no papel do realizador dentro de um contexto cultural mais amplo”, completa ele, autor de “Casamento”, único trabalho incentivado pela edição de 2013 da Murilo Mendes, dentre oito propostas aprovadas, que ainda está em fase de finalização.
Ao passo que hoje investimento é o grande entrave da cena local, há alguns anos a formação era a questão essencial, logo sanada com a criação do bacharelado em cinema e audiovisual, que forma sua primeira turma neste primeiro semestre da UFJF. A produção acadêmica difundida em festivais mundo afora tem se tornado tão vultosa na cidade que deu sentido à formação da 1ª Mostra de Filmes realizada para TCC, promovida pelo Cineclube Movimento, na última semana, reunindo 14 obras, dentre elas o delicado “A menina que colecionava estrelas”, de Ana Claudia Ferreira. Produzido com incentivo municipal e apresentado como exercício final de sua graduação em jornalismo, o filme preocupa-se com o discurso e com a técnica sem se mostrar pretensioso.
“Cada quadro tem uma história (longa) para ser contada, uma referência teórica (conceitual), visual ou afetiva, ou seja, as três bases que resumem o processo de realização do curta, e que utilizei para escrever o Memorial Acadêmico exigido para a conclusão de curso com o trabalho prático”, conta Ana Cláudia.
Premiada na última edição do Festival Primeiro Plano como melhor conteúdo regional e selecionada para representar a Região Sudeste na disputa pela melhor produção cinematográfica universitária do país, a obra representa a potência da academia, ainda que esta não seja o bastante, como afirmam os próprios produtores.
“Uma arte como o cinema ultrapassa, e muito, as formações convencionais, as escolas e os diplomas. Acho que o fato de o curso de cinema ter chegado a Juiz de Fora tem uma importância social muito grande, principalmente por servir como ponte para que os vários jovens que ingressam no curso tenham acesso a certas oportunidades.
Mas acho que a linguagem e a estética a gente segue amadurecendo a partir da vida real, da observação dos acontecimentos, da vida fora dos portões da universidade, através de um treinamento do olhar, que é bem maior que a técnica”, reflete Analu Pitta, co-diretora de “Véspera”, com Rodrigo Souza, lançado em 2015 e seis vezes premiado. Em finalização, o curta documental “Dores” é a próxima aposta da cineasta, para 2017 ainda.
“Já fiz faculdade de publicidade e design. Não conclui nenhuma delas. Saí porque um amigo ofereceu um emprego em uma produtora, e isso foi a minha formação. Estudo até hoje, quase todos dias, aprendendo uma coisa nova. Acho que você nunca se forma cineasta. É sempre uma evolução. Estudar cinema é olhar ao redor e absorver tudo”, sintetiza Luciano de Azevedo, certo de um papel do cinema para além das visualidades. “A responsabilidade de quem faz arte é enorme.
É através dela que vamos ser lembrados daqui a alguns anos. É ela que vai contar a nossa história. Ela é esse espelho do que te cerca”, pontua Felipe Saleme. “Por isso eu defendo muito o cinema autoral, que não vem para alimentar uma cadeia comercial que já se apossou do cinema. O cinema autoral tem como objetivo somente o ‘contar aquela história’.”
‘O processo não acaba quando o filme fica pronto’
Lançado em janeiro deste ano, “Maria Cachoeira”, curta-metragem de Pedro Carcereri, já passou por seis festivais em seis meses de vida. Considerando uma média de público de 200 pessoas numa pequena sala de cinema, onde normalmente são sediados festivais que exibem curtas-metragens, o único filme financiado pelo município nos dois últimos anos que já teve lançamento – os seis demais estão entre produção e finalização – já foi exibido para cerca de 1.200 espectadores. E suas expectativas são bem maiores para os próximos meses, já que o presente dispõe de diferentes ferramentas de exibição, como afirma Daniel Couto, diretor de “Barbante”, licenciado para exibição no Canal Brasil.
“Há muitas formas de avaliarmos o desempenho de um filme. A principal delas é a quantidade de pessoas que ele atinge. Tratando-se de filmes independentes, que não estão ligados a um distribuidor ou a uma exibidora, a presença em festivais permite que as pessoas entrem em contato com o filme. Hoje em dia também há plataformas de streaming, como a IndieFlix. Com a lei da TV paga, algumas emissoras precisam cumprir cotas e colocar conteúdos nacionais de produtores independentes, o que abre uma janela para a produção”, explica o diretor, um dos maiores agitadores da cena na cidade.
“O processo não acaba quando o filme fica pronto. Aí começa a distribuição, que é caríssima e gera um problema muito grande, já que vários festivais cobram inscrições, e isso pode não ter entrado na planilha do incentivo”, alerta Mariana Musse, apontando, ainda, para a imprevisibilidade das curadorias, muito mais comprometidas com uma leitura geral do que com a individualidade de cada obra. “Não faço um filme pensando em mercado. Quando faço meus filmes, estou dando vazão às minhas curiosidades, aos meus pensamentos. Osfilmes que fiz falam do que vivi, do que me angustia, do que acho que vale ser falado”, comenta ela.
‘O tempo todo somos silenciadas’
Reflexo do vivido, os filmes de Juiz de Fora exaltam questões diversas e, em sua maioria, defendem a diversidade. Seja o pintinho, ao qual é permitido ser percebido como cavalo marinho em “Sansão”. Seja a realidade das ruas em “Habita-me se em ti transito”. Seja pelo viés da sexualidade e das vivências das drag queens, em “Feminino”. Seja pela família excêntrica de Sarandira, uma Minas profunda narrada em “Resguardo”. Na mesma subjetividade, firmar-se como cineasta exige a crueza e a crueldade da objetividade animal.
“Ainda é bem difícil, para não dizer impossível, se manter como cineasta no Brasil. Sobretudo quando se é mulher”, pontua Analu Pitta. “O tempo todo somos questionadas, silenciadas, temos que nos explicar, provar que nosso trabalho é consistente e que somos capazes. Há mais homens que mulheres em festivais, nas cabeças de equipes, e, principalmente, há mais homens diretores. Isso diz algo sobre nossa sociedade machista”, faz coro Ana Claudia Ferreira.
Difícil também por só poder encarar a sétima arte no tempo que é resto. Produzido com R$ 250 como projeto de conclusão do curso de jornalismo, o curta ficcional “A ratoeira” foi exibido em oito festivais, licenciado para o Canal Brasil e estimulou seu diretor, Diego Casanovas, a encarar outro trabalho. Em produção, o documentário sobre o grupo Vinil é Arte impôs desafios complexos ao cineasta, principalmente o de ter que driblar a dupla jornada da maioria da equipe. “Fazer cinema sem grana é muito bom e muito complicado ao mesmo tempo. Bom porque geralmente você vai trabalhar com amigos, e vai se esforçar muito para criar uma forma de produção que não demande gastos altos, isso nos faz ficar mais espertos. E complicado, porque chega um ponto em que ficamos limitados”, reflete Diego.
Para Pedro Carcereri, considerando a ainda baixa competitividade do interior nos editais nacionais e estaduais, o fomento municipal torna-se fundamental, principalmente em tempos de encolhimento do setor privado. Citando as pesquisas da esposa e sócia na produtora Old Man Filme, Isabela Abreu, Pedro avalia que o cenário ideal de produção na cidade seria a realização de três a quatro curtas-metragens por ano, o que geraria um capital suficiente para que os produtores sobrevivessem da arte que fazem.
‘Acredito em uma rede local’
“O orçamento está enxuto. Então, o que vamos fazer?”, questiona Daniel Couto, que mesmo com uma verba de R$ 28 mil convenceu a global Laura Cardoso e o elogiado inícius de Oliveira (de “Central do Brasil”) a contracenarem em “Barbante”. “Vamos pensar em redistribuir o orçamento? Vamos incentivar a iniciativa privada a investir nos filmes? Acredito na formação de uma rede local”, aposta o diretor, sócio na produtora Impulso.Hub, sugerindo a criação de uma comissão capaz de reunir parceiros.
Rede como a que se formou no cinema de Juiz de Fora: Luciano que chama Pedro para o roteiro. Pedro que convida para a direção de elenco o ator de Diego. Diego que faz a fotografia de David. David que é produtor de Analu. Analu que tem o mesmo diretor de fotografia de Ana Claudia. Ana Claudia que chama Daniel para montar. Daniel que tem o mesmo produtor que Felipe. Felipe que tem o mesmo diretor de fotografia de Mariana. Mariana que convida Francisco para montar. Francisco que tem na fotografia Luciano.
“A ideia é reunir hotéis, restaurantes, locações de equipamentos e espaços e outros negócios importantes para o cinema. Se organizássemos um sistema assim em Juiz de Fora, facilitaria bastante, até para o empresariado reconhecer na cultura um lugar que gera retorno”, comenta Daniel Couto, citando, ainda, a possibilidade de a própria cidade ter um portal na internet para a exibição das produções locais, eximindo os projetos da Lei Murilo Mendes de terem que prensar DVDs, mídia pouco a pouco colocada em desuso.
Aqui do lado, Cataguases com seu Polo Audiovisual da Zona da Mata é um bom exemplo, segundo o cineasta e ator Felipe Saleme, que este ano foi à cidade para participar de um projeto. “Tudo lá flui tão naturalmente que isso me chamou a atenção e me fez questionar se seria possível criar o mesmo cenário em Juiz de Fora. Essa política de trazer e facilitar as produções em um determinado lugar faz com que ali seja gerada uma troca muito rica, com muita frequência, criando um movimento que só tende a se aprimorar, uma vez que onde se tem troca, tem crescimento”, pontua ele, cheio de ideias na cabeça e rodeado por câmeras nas mãos.
Ex-integrante do grupo Ponto de Partida, Felipe hoje está envolvido em seis projetos cinematográficos, entre curtas e longas, já iniciados, e outros só no campo do desejo. “Não é só fomento, não é só formação. É iniciativa e replicação. Quanto mais fizermos, mais expandimos a cultura audiovisual. Quanto mais expandimos, mais demandas vão aparecer, criando mais formação e, consequentemente, mais fomento. Tudo começa com o movimento.”
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Veículo: G1 Zona da Mata
Editoria: Notícias
Data: 03/07/2017
Título: UFJF inaugura Centro de Ciências: ‘Será a menina dos olhos da Universidade’, diz diretor
O Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) será inaugurado nesta segunda-feira (3). Após a solenidade, as pessoas poderão conhecer algumas áreas que já estão em funcionamento. A instituição investiu em equipamentos e em tecnologia para ter o complexo de divulgação científica mais completo do país, como destacou o diretor Eloi Teixeira.
Questionada pelo G1, a Universidade informou que ainda não concluiu o levantamento do investimento necessário para construir e equipar o Centro de Ciências.
Capacidade ampliada de divulgar conhecimento
De acordo com Eloi Teixeira, a nova estrutura é o desdobramento do trabalho realizado desde 2006, iniciado em um prédio anexo do Colégio João XXIII, que contabilizou 130 mil visitantes.
“Estes dez anos no João XXIII foram um sucesso muito grande e nos trouxeram a este novo empreendimento. Fez a própria universidade investir neste processo, ao mostrar que era importante para os professores e alunos e para a sociedade, ao ampliar a instalação e a capacidade do que podemos levar para nossos visitantes”, analisou.
Com três mil metros quadrados distribuídos em quatro andares, o Centro oferecerá diversas atividades para os visitantes. Uma das novidades é o Observatório astronômico, com um telescópio fixo de 20 polegadas, além de dez telescópios móveis, incluindo um específico para observação do Sol. A previsão é de que fique pronto em agosto.
O Centro também possui três auditórios, quatro laboratórios de ciências, dois salões de exposições, sala de informática, oficina, a exposição da Tabela Periódica Interativa, Espaço Interativo do Museu de Malacologia e parte do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana, que estará na Sala de Arqueoastronomia.
Nos salões, estarão disponíveis, já a partir da inauguração, as exposições “Energia Nuclear” e “Aprenda Brincando”, sendo esta última composta por 22 experimentos de física que permitem a participação direta do visitante na investigação dos conceitos envolvidos.
O Centro de Ciências irá funcionar de terça a domingo. No mês de julho, o atendimento será voltado para a demanda espontânea. Há um limite de 100 visitantes simultâneos no espaço e é obrigatório guardar os pertences em armários ao entrar no local.
A partir de 1º de agosto, começa o agendamento das visitas guiadas pelos telefones (32) 2102-6914 e (32) 2102-6913. As visitas serão realizadas entre terça e sexta-feira, para a partir do dia 7 do mesmo mês.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Esportes
Data: 03/07/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/noticias/esportes/03-07-2017/univolei-vence-taca-matias.html
Título: Univôlei vence Taça Matias por 2 sets a 1
A equipe juiz-forana do Univôlei foi a vencedora da Taça Matias de Voleibol, disputada no último domingo (2). Os campeões venceram o torneio amador na Associação Atlética Matiense, em Matias Barbosa, município vizinho de Juiz de Fora, após vitória por 2 sets a 1 na final contra o Voleibol ZN, equipe da Zona Norte de Juiz de Fora. O primeiro lugar veio em campanha invicta, com três vitórias sem parciais perdidos até a decisão, contra República EVB e Medicina UFJF, na fase classificatória, e Matias, na semifinal.
Além das equipes citadas, completou a participação do evento masculino o time da Suprema. O grupo que voltou para casa com a medalha de ouro no peito foi integrado por ex-atletas e profissionais do JF Vôlei, casos do central Filipe Cipriani – o Sequela -, além de Eugênio Gomes e André Silva, com passagens recentes pela comissão técnica do representante profissional da modalidade em Juiz de Fora.
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Veículo: G1 Zona da Mata
Editoria: Notícias
Data: 03/07/2017
Título: Direito é para quem vai decorar leis, sofrer com o Exame de Ordem e encarar mercado disputado? Veja mitos e verdades
Os jovens podem ter uma visão da carreira de direito apenas com base no que é retratado nas séries de TV ou nos filmes. No entanto, é importante esclarecer que há uma série de mitos cercando a profissão. O G1 ouviu os professores Thiago Bottino, da Fundação Getúlio Vargas (RJ), e Fernando Jaime, da Faculdade de Direito da UFMG, para explicar as principais características da profissão.
O direito é uma das 10 carreiras mais procuradas do Sisu, ocupando a terceira colocação no total absoluto de inscritos na disputa de uma vaga.
Veja abaixo o que é mito e o que é verdade na profissão:
É recomendado fazer estágio desde o início da graduação?
De acordo com os professores ouvidos pelo G1, não. Thiago Bottino, coordenador geral da graduação da FGV Direito Rio, afirma que começar a trabalhar no começo do curso pode atrapalhar o comprometimento e a dedicação aos estudos.
“O ideal é ficar encubado durante um período só na universidade, para que, quando entrar no mercado de estágio, já tenha autonomia e domínio de certas habilidades”, afirma. Ele recomenda que o estudante inicie o trabalho a partir do quarto ano da graduação. Antes disso, somente tarefas burocráticas poderão ser executadas, sem ligação com o exercício do direito.
O advogado Fernando Jayme, diretor da Faculdade de Direito da UFMG, também define o quarto ano como o ideal para realizar o estágio.
É necessário memorizar as leis?
Não. A habilidade exigida não é memorizar a legislação, e sim saber interpretá-la corretamente. “O importante é ler e entender o que está sendo exposto, mesmo sem nunca ter visto aquela lei. Em vez de encher o HD de informações, preferimos que o estudante saiba buscar o dado e entender o sentido dele”, afirma Bottino.
“Memorizar não tem o menor cabimento. Quem decora só sabe reproduzir e isso não resolve nada”, reforça Jayme.
O próprio curso prioriza uma grade curricular interdisciplinar, que forme alunos com a capacidade de debater e articular conhecimentos de diferentes áreas. Este tipo de tendência substitui as tradicionais aulas expositivas, em que há apenas a transmissão de informações.
Sempre surgem áreas novas do direito?
Sim, há novos ramos de atuação surgindo. Além das grandes áreas, como Direito Penal, Civil e Trabalhista, por exemplo, nascem sub-áreas constantemente. O coordenador Thiago Bottino cita, por exemplo, o campo da moda e do esporte.
“Existe também a área de propriedade intelectual. O direito domina a sociedade, não tem nada que não esbarre em questões jurídicas. Até grandes eventos, como Olimpíada, exigem um profissional desta área”, explica. “É preciso fazer contratos específicos para aquele empreendimento, além de dominar os direitos do atleta e do clube ou a propriedade intelectual envolvida, como direito de imagem nas exibições dos jogos.”
O professor Fernando Jayme cita outras áreas promissoras, como Direito Ambiental, Minerário (principalmente em Minas Gerais, onde se localiza a UFMG) e Direito da Energia (petróleo ou distribuição de energia elétrica).
Bottino afirma que a pessoa formada em direito não necessariamente será um juiz, um advogado ou um promotor. Existe a possibilidade de trabalhar em empresas de consultoria ou de abrir o próprio negócio.
O curso de direito tem muita teoria?
Sim. “O fundamento teórico vai instrumentalizar o aluno para atuar nas áreas jurídicas. A tendência maior é ter uma formação teórica grande para depois trabalhar a prática”, afirma Fernando Jayme.
Os alunos costumam se surpreender com a carga de teoria. Gabriella Leriam, de 20 anos, estuda no Mackenzie, universidade privada de São Paulo. Ela conta que quase desistiu da graduação no início. “Foi muito difícil. Não em termos de complexidade da matéria, mas de aguentar ir às aulas. O primeiro semestre tem disciplinas introdutórias e teóricas”, diz. No momento, ela está no terceiro semestre. “Agora está ficando bem melhor”, conta.
Daniel Marcos estuda direito na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e concorda com Gabriella. “Achei que fosse ter menos teoria do que teve. Pensei que a parte prática, que estuda os trâmites dos processos, fosse maior. Mas a verdade é que o curso precisa formar também quer ser professor da área”, diz.
A carga de leitura é alta? Precisa ser bom de oratória?
Durante toda a graduação, a carga de leitura é pesada. Os alunos ouvidos pelo G1 reforçam a importância de gostar de ler para escolher essa profissão. Eles também mencionam que habilidades como a oratória e a fluência na escrita podem melhorar o desempenho do universitário, já que há muitas apresentações em grupo e trabalhos que exigem clareza na linguagem.
O coordenador da FGV explica que essas habilidades continuam sendo exigidas no exercício da profissão. “O direito, no modo geral, necessita de um profissional que tenha raciocínio analítico e que saiba e expressar de forma concisa e objetiva, sem perder a densidade do conteúdo exposto”, afirma.
O Exame de Ordem da OAB define a carreira?
Em muitos casos sim. Ser aprovado no exame é requisito fundamental para que o profissional possa exercer a advocacia. Sem o registro na OAB, ele fica impedido de atuar como advogado.
De acordo com levantamento da organizadora da prova, entre os exames de número II e XVII, foram registradas 1,91 milhão de inscrições e 639 mil candidatos fizeram as provas. Desse contingente, 56% (equivalente a 360 mil) foram aprovados. Para 40% das pessoas (143 mil pessoas), a aprovação foi obtida já na primeira oportunidade.
Advogado ganha bem?
A remuneração dos profissionais formados no curso de direito varia muito. “A média salarial depende do tempo de carreira e da função exercida. Um dado interessante é que o mercado costuma ter oportunidades para o profissional competente, que se destaca”, diz Fernando Jayme. Em um mesmo ramo, há salários diferentes. “Existem advogados criminalistas que cobram mil reais e outros que cobram um milhão”, exemplifica Thiago Bottino.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo estipula valores mínimos de honorários. Veja alguns exemplos:
- Testamentos: mínimo de R$ 2.126,85
- Separação judicial com bens para partilhar: mínimo de R$ 4.253,68
- Adoção: mínimo de R$ 3.097,34
- Ação penal: mínimo de R$ 4253,68
Um estudo da empresa de consultoria Robert Half estima a remuneração de advogados que trabalham em escritórios em 2017. Veja abaixo as remunerações daqueles que trabalham na área do direito trabalhista contencioso:
Trabalhista Contencioso
Advogado júnior (de 0 a 3 anos de experiência)
- Empresa de pequeno porte – de R$ 3.000 a R$ 4.500
- Empresa de médio porte – R$ 3.500 a R$ 5.000
- Empresa de grande porte – R$ 3.600 a R$ 5.000
Advogado pleno (de 4 a 7 anos de experiência)
- Empresa de pequeno porte – de R$ 4.000 a R$ 5.200
- Empresa de médio porte – R$ 4.200 a R$ 6.500
- Empresa de grande porte – R$ 5.000 a R$ 9.500
Advogado sênior (mais de 8 anos de experiência)
- Empresa de pequeno porte – de R$ 5.300 a R$ 10.500
- Empresa de médio porte – R$ 7.500 a R$ 12.000
- Empresa de grande porte – R$ 7.500 a R$ 13.500
É importante lembrar que o direito não abrange só o trabalho em escritórios – existe a possibilidade também de empreender. “Temos muitos alunos que abriram o próprio negócio”, diz Bottino. Os salários, nesse caso, também variam de acordo com o porte da empresa e sua localização.
Sobre os concursos públicos, há diferentes possibilidades de cargo. A defensoria pública, por exemplo, é uma área em que o advogado concursado defende pessoas que não têm condições de pagar pelo processo. Para se ter um exemplo da remuneração, foi aberto um concurso público para selecionar 25 profissionais como defensores públicos federais, em junho de 2017, e o salário oferecido foi de R$ 22.197,67.
Existem também concursos para magistratura e Ministério Público – que exigem no mínimo três anos de exercício da profissão. Outros cargos são de procurador da república, juiz federal, advogado da União, promotor e delegado de polícia, por exemplo.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, o salário bruto de um analista judiciário pode variar de R$ 13 mil a R$ 32 mil. No Ministério Público Federal, a remuneração básica de um analista gira em torno de R$ 15 mil.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, de acordo com o Portal da Transparência, um delegado de polícia tem salário inicial de R$ 17.658,41. Um assessor jurídico no RS tem remuneração mensal de R$ 1526,45.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cultura
Data: 03/07/2017
Título: Outras ideias com Mateus Guimarães Borges
Além Paraíba tinha um cinema nos anos 1990. Na década seguinte, a única sala permaneceu fechada por oito anos e reabriu para os anos 2010. Novamente voltou a cerrar as portas em 2015 e regressou no ano passado. No presente segue aberta. Mas agora, justo agora, Mateus já partiu e segue ocupando outras salas, na vizinha Juiz de Fora. “Não tive o hábito. Além Paraíba é muito instável em relação a cinema, tem épocas que as salas existem, em outras, não. Na minha adolescência, por exemplo, não existia. Ao chegar a Juiz de Fora, comecei a ir muito, todas as segundas e terças, quando havia promoções. Assistia a uma média de três filmes por semana”, conta o jovem de 25 anos, aluno do Instituto de Artes e Design da UFJF desde os anos 2010, quando ingressou no bacharelado interdisciplinar com o intuito de seguir pelo caminho das artes gráficas. Tinha 17 anos e uma oferta de 14 salas para a sétima arte. “Consumia cinema de uma forma diferente. Não era um hobby simples. Eu ia religiosamente e assistia a todas as produções que entravam em cartaz.”
O rapaz, de sobrenome Guimarães Borges, filho de um pedreiro e uma professora aposentada, que se mudou de cidade para dividir a casa com o único irmão, dois anos mais velho, via na tela grande o que se tornava tema de estudo. “As aulas complementavam o que eu assistia, chamando minha atenção para bastidores, técnica e direção. Aquilo começou a me despertar um olhar, mesmo que leigo, de espectador, sem qualquer interesse profissional. Até que fiz uma disciplina e, no final, tive que fazer um curta-metragem. Essa foi a minha primeira experiência aprofundada no ato de fazer cinema, mais do que ler. Nisso percebi que gostava, mas não entendia, então decidi fazer uma maratona e assistir a 365 filmes em 2012, ao longo do ano”, recorda-se ele, que também se propôs a escrever sobre todos os títulos vistos. “A maratona auxiliava no gargalo de conhecimento. Tanto que busquei ver filmes de todos os países, vários gêneros e diretores.”
Happy feet
O primeiro filme, conta, foi “Happy feet”, uma animação protagonizada por pinguins. Era dia 1º de janeiro de 2012. “Não tinha a obrigação de ser um filme por dia, para não ser mecânico. Havia semanas que não via nada e fins de semana que assistia a quatro filmes seguidos. Foi natural, não tinha a pretensão de criar um projeto. Do meio para frente, percebi que meu interesse era mais que um hobby”, lembra ele, que assistidas as 365 produções, no dia 31 de dezembro daquele ano, impôs-lhe um novo desafio. Em 2013 Mateus saiu do Brasil para fazer intercâmbio. Era preciso escolher entre cinema e design. Optou por estudar a sétima arte na Universidade da Beira Interior, em Covilhã, região central de Portugal. “Nunca tive renda suficiente para isso”, diz ele, que conquistou uma bolsa para a temporada, o que se tornou o ponto alto do filme de sua vida. “Durante a viagem, tive a oportunidade de conhecer 19 países. Agora fui para o Chile, o 20º. No intercâmbio descobri a paixão por viajar. Tenho o perfil de ser explorador, ser curioso e interessado em culturas diferentes. Para quem faz cinema, a experiência se faz ainda mais rica, porque cinema é história, e para contar histórias é preciso ter uma bagagem cultural e visual muito grande”, comenta. Ao retornar, o jovem de cabelos cacheados juntou-se a outros cinco amigos, e deram início à formatação de um portal com uma loja virtual. “De lá para cá, o projeto cresceu e começou a se autossustentar, com redes sociais, rotina e corpo de empresa.” Em 2015, o “365 filmes” entrou no ar, e, no ano seguinte, Mateus viu a saída dos cinco sócios para a entrada da estudante de jornalismo Bruna Luz. Das camisetas com temas cinematográficos, ampliou para bolsas, ecobags, almofadas, cadernos de anotação e quadros, tudo comercializado pela rede, por um café local e também em feiras na cidade. Mas “consumir cinema não é só ver filmes”, adverte ele. “É também ler sobre.” Por isso a potência informativa do blog e redes sociais, com ênfase da página no Facebook, com cerca de meio milhão de seguidores. De olho nesse público, o ator e cineasta Selton Mello fez um vídeo exclusivo para divulgar, no 365, seu novo longa, “O filme da minha vida”.
Deus e o diabo
O último filme, conta, foi “Deus e o diabo na terra do sol”, clássico do Cinema Novo de Glauber Rocha. “Se pegar a linha do tempo, você consegue ver uma evolução, não em termos de cinema maior ou menor, mas em termos de complexidade. No início da maratona, eu assistia a filmes aleatórios e, depois, naturalmente, fui me aprofundando. Se hoje o 365 Filmes tem uma relação horizontal com o público é porque eu cresci com eles, e eles cresceram comigo. Não cheguei como o formador de opinião, o ser superior, que fala e não escuta. Aprendi com os leitores”, reflete o jovem, prestes a se formar em cinema. “Antes de falar que era fã de um Woody Allen da vida, senti que precisava saber se não existia alguém igual ou melhor. Ele mesmo foi um diretor com o qual me identifiquei muito, porque ele faz um cinema conciliando entretenimento e reflexão. A sessão não acaba com o filme. Vários blockbusters, como ‘Batman’ e ‘Cisne negro’, me impactaram e me provocaram a buscar mais. Independentemente do mérito de ser bom ou ruim, é válido o filme provocar a buscar mais. Fellini também é uma referência inicial, um cinema diferente, que me fez ver outras formas de fazer, com histórias cotidianas que tomam uma proporção reflexiva”, aponta o estudante que, sem sair de casa, lida com as problemáticas entre entretenimento e reflexão. “A gente faz o que gosta. Não tenho perfil de empresário. Retirada nunca fiz. Salário não tenho. O 365 Filmes não começou como negócio. Enxergo como um grande projeto de vida. Se ganhar dinheiro fosse meu objetivo, eu já teria largado há muito tempo. O dinheiro entra, lógico, mas estamos engatinhando. Apesar de ter dois anos, todo o processo é lento e complexo. Todo dinheiro que entra a gente investe. Hoje escolhemos e necessitamos fazer isso, até que a entrada dê conta de investir na própria empresa e pagar os dois sócios”, conta ele, pontuando preferir renovar estampas, produtos e dar conta da própria empresa a satisfazer desejos pessoais. “Isso não é poético, mas reflete nosso pouco conhecimento logístico e empresarial”, ri. Sua ambição, além de ter tempo para assistir a mais filmes, é ter a maior loja com produtos de cinema do Brasil. “Não acordo pensando nisso, não é uma fixação. É natural em mim.” Como um filme bom.
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