mestrado história

A dissertação “Agora a batucada já vai começando: samba, carnaval e raça em Assis Valente” foi defendida no dia 4 de maio, na UFJF. (foto: Hemeroteca digital [needs research], “Revista da Semana”, n. 19/1939, p. 35, Rio de Janeiro, Brasil.)

O compositor baiano Assis Valente foi um grande expoente da música brasileira nos anos 30, mas poucos têm conhecimento sobre ele e sua importância no cenário. Como o interesse inicial de Tadeu Dulci Reis em sua dissertação de mestrado em História sempre foi a música brasileira, ele e seu orientador decidiram pelo estudo da obra de Valente. O objetivo era se aprofundar nas músicas do compositor para apreender as possibilidades que sua obra apresentaria, tentando, com isso, evitar dois pontos muito comuns na bibliografia: os recortes temáticos e as biografias ou estudos de trajetória.

O nome de José de Assis Valente é frequentemente associado ao de Carmem Miranda, tendo composto diversas músicas para a artista e para outros nomes, como Noel Rosa e Ary Barroso. Sua relevância, porém, vai além dessa parceria. Assis, por si só, precisou enfrentar desde o início sua condição de sujeito periférico negro. Separado dos pais quando criança, carregava consigo marcas da exclusão e desigualdade.

“Assis foi uma figura interessante”, analisa o orientador da dissertação Fernando Perlatto. “Embora não deixasse de ser um homem do seu tempo, que precisava lutar contra o racismo e o impacto da indústria cultural no meio musical, ele não deixava de expor em suas letras o quanto apostava no povo brasileiro, reverenciando o samba e exaltando suas potencialidades”, acrescenta o professor.

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Desenho do compositor Assis valente (Por André Koehne – My work, with:http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Bass-und-primgitarre.jpg, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1687383)

Sobre a metodologia da pesquisa, Tadeu Dulci diz que o maior desafio foi usar a música como fonte. “Este é um objeto de pesquisa muito específico. Muitas vezes, faltam abordagens e métodos para dar suporte à pesquisa. Quando se fala em sambas e marchas das décadas de 1920, 30 e 40 o problema se agrava. Como a qualidade das gravações era muito precária, minha preocupação maior foi evitar não afirmar nada que não estivesse dentro das músicas, afinal, eu queria compreender o discurso de Assis, não deturpá-lo.” Neste sentido, o acadêmico explica, ainda, que a música foi utilizada “para dar base ao argumento. Toda a pesquisa foi baseada nas descobertas que fiz ao longo daquelas audições. Dito de outra forma, me aprofundei na obra do compositor no intuito de trazer à tona os temas que apareciam com mais frequência e de que maneira eles apareciam.”

A dissertação discorre também sobre a reapropriação das músicas de Assis Valente anos mais tarde, como Brasil Pandeiro, composta inicialmente para Carmen Miranda, mas recusada pela mesma. Foi gravada, então, pelos Anjos do Inferno em 1941, mas ganhou amplo reconhecimento com os Novos Baianos, nos anos 70.

Tadeu Dulci revela que o compositor, em vários momentos, usa da sátira, ironia e, do próprio cotidiano, para fazer uma leitura do Brasil em que vivia. “Na maioria das vezes, de um jeito bastante crítico. Sua capacidade de apreender sua realidade e transportá-la para suas músicas, em um viés bastante positivo para o povo, é o ponto de maior destaque de sua obra.”

Contatos:
Tadeu Dulci Reis (mestrando) –
tadeudreis@hotmail.com

Fernando Perlatto (orientador – UFJF) –
fperlatto@yahoo.com.br

Banca examinadora:

Prof. Dr. Fernando Perlatto Bom Jardim (UFJF)
Prof. Dr. Jorge Chaloub (UFJF)
Prof. Dr. Diogo Tourino de Sousa (UFV)

Outras informações: (32) 2102-3182  – Programa de Pós-graduação em História –  ppghisufjf@gmail.com