A análise do desenvolvimento de algumas noções elaboradas pelo psicanalista francês Pierre Marty guiou a dissertação de mestrado da acadêmica Dagmar Almeida Silva de Mello. O estudo foi desenvolvido para discutir em que medida o autor acompanhou ou avançou em relação às premissas de Sigmund Freud sobre a compreensão dos processos mentais e suas interfaces com o funcionamento orgânico. A pesquisa, intitulada “Funcionamento Psíquico e Psicossomática: um estudo das relações entre o psíquico e o somático a partir das concepções psicanalíticas de Freud e Marty”, foi apresentada no Programa de Pós-graduação em Psicologia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Sobre os vínculos entre o psíquico e o somático, a partir das concepções psicanalíticas de Freud e Marty, Dagmar relaciona que Freud pôde desenvolver uma teoria sobre o funcionamento psíquico e que lançou alguns pressupostos sobre a forte relação entre o psíquico e o corporal. Isso porque quando Freud começou a desenvolver a teoria psicanalítica a partir de pacientes histéricos, ele verificou que estes tinham manifestações corporais não acusadas em exames, sem justificativa neurológica. A partir destes resultados, chegou a conclusão de que os histéricos estavam representando o sofrimento, ou seja, o que eles não podiam elaborar era manifestado no corpo.
De acordo com a mestranda, baseado nas ideias de Freud, Marty afirma que o funcionamento psíquico promove o equilíbrio orgânico e que um desequilíbrio favorece o surgimento de doenças corporais, as psicossomáticas. A partir disso, ele desenvolve noções conceituais para justificar como a relação entre psiquismo e corpo se opera. Dentre esses conceitos, a pesquisa destacou três: depressão essencial, pensamento operatório e mentalização. Dagmar explica que a noção de depressão essencial seria uma forma de depressão que Marty atribuiu aos pacientes psicossomáticos, este tipo de depressão não estaria ligada a uma perda. Marty elaborou essa teoria baseada na escuta clínica e observou que os pacientes não tinham referencial em uma perda objetal, que seria a perda de entes queridos, emprego, saúde, entre outras.
O pensamento operatório estaria ligado ao pensamento desprovido de elaborações. Neste caso, o paciente psicossomático não consegue fazer associações, ele se limita, em situação de terapia, por exemplo, a contar relatos e casos de forma prática, mas sem associá-los a algo de sua vida. Ao acompanhar o decorrer do estudo de Marty, Dagmar observou que o autor substitui o conceito de pensamento operatório pelo conceito de mentalização. Nessa concepção, são definidos pacientes que têm uma boa, uma má ou uma incerta mentalização. Essas classificações estão relacionadas aos adoecimentos psíquicos. Pacientes com uma boa mentalização podem apresentar quadros psicossomáticos de regressão rápida; já os de má mentalização têm a tendência a desenvolver doenças mais graves; e os de mentalização incerta, dependem do momento em que se encontram, pois oscilam entre a boa e a má.
A professora orientadora Fátima Siqueira Caropreso ressalta em que o estudo tem grande relevância social. “A pesquisa explicita a causalidade psíquica de certos distúrbios orgânicos apontando a importância do reconhecimento dessa causalidade e do tratamento psicológico das pessoas acometidas por doenças psicossomáticas.” A docente aponta também que a pesquisa traz uma compreensão das bases epistemológicas do pensamento de Pierre Marty sobre psicossomática e para a compreensão da relação entre o mental e corporal em geral. A professora Fátima considera, ainda, que o trabalho “enfatiza a relevância, para a compreensão da relação entre o mental e o corporal, das concepções de um teórico pouco estudado no Brasil.”
Contatos:
Dagmar Almeida Silva de Mello (mestranda)
dagmar.almeida.silva@gmail.com
Fátima Siqueira Caropreso (orientadora – UFJF)
fatimacaropreso@uol.com.br
Banca examinadora:
Profa. Dra. Fátima Siqueira Caropreso (orientadora – UFJF)
Prof. Dr. Rodrigo Sanches Peres (UFU)
Profa. Dra. Maria Stella Filgueiras (UFJF)
Profa. Dra. Maria Isabel de Andrade Fortes (PUC-RJ)
Outras informações: (32) 2102-3117 – Programa de Pós-graduação em Psicologia