“As tramas da política industrial nos governos FHC e Lula: um olhar a partir do IEDI e da CUT” foi o tema escolhido por Juanito Alexandre Vieira para sua tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Primeiramente, levando em consideração o período do Governo FHC, a pesquisa observou que o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) se comportaram contrários à atuação de um Estado favorável ao setor produtivo- hegemônico. Depois, o estudo apontou para a capacidade que esses dois atores possuíam de influenciar as políticas públicas para o setor na administração do presidente Lula.
Juanito Vieira, que é professor de História no Colégio de Aplicação João XXIII, explica que a política neoliberal adotada pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, foi a responsável por mudanças até mesmo no conceito de indústria nacional, contribuindo para o aumento do desemprego e da desigualdade social. “A instabilidade econômica, em decorrência do descontrole inflacionário, constituiu-se como justificativa para a criação de medidas de austeridade macroeconômica baseadas nos altos juros, na sobrevalorização do câmbio e na ampliação da abertura do mercado interno como promoção da competitividade. O sucesso em controlar a inflação foi utilizado como instrumento político pelo governo Fernando Henrique para forjar apoio de setores industriais a um modelo mais restritivo ao setor produtivo.”
Ele observa que, nesse momento, o IEDI e a CUT, apesar de manterem posicionamentos distintos com relação ao governo, “assumem posição de resistência ao movimento hegemônico no período”. Era fundamental para as duas entidades, que o Estado tomasse a frente e assumisse a coordenação da política industrial para promover o desenvolvimento no país. O acadêmico explica, ainda, que os empresários do IEDI constituíam uma fração do bloco no poder, atuando de maneira secundária dentro do governo, e a CUT era oposição ao governo federal, defendendo um campo democrático e popular de enfrentamento ao neoliberalismo.
A mudança só veio a partir de 2002, já no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a retomada de medidas que promovessem o desenvolvimento. “A indicação de mudança na trajetória político-econômica favorece a movimentação dos principais atores sociais, tanto dentro do bloco no poder como nas classes ausentes da estrutura de governo. O deslocamento desses setores beneficia a formação de uma nova coalizão comprometida com o fortalecimento da indústria doméstica e com a retomada do crescimento”, observa o pesquisador.
Para retomar o crescimento econômico, conforme Juanito relatou em sua pesquisa, o governo Lula utilizou a “estratégia do mercado de massas, o acréscimo das exportações via elevação da competitividade e o aumento dos investimentos públicos para o setor produtivo”. Dessa forma, estimulou-se o desenvolvimento sustentado e, consequentemente, ganhos de produtividade nas empresas e melhor distribuição de renda.
O trabalho possibilitou ao professor verificar que a atuação de forma complementar das duas instituições analisadas “foi decisiva para a modificação das orientações político-econômicas a partir de 2002. Essa nova coalizão garantiu sustentabilidade ao governo Lula para conduzir ações em benefício do crescimento industrial e das políticas de inclusão social.”
A importância da abordagem histórica
O orientador da tese, professor Ignacio José Godinho Delgado, detalhou o estudo. “Foi um trabalho minucioso de pesquisa, tanto das políticas industriais dos governos FHC e Lula, quanto das posições das duas importantes entidades que são IEDI e CUT. Elas são importantes porque, primeiramente, o IEDI reúne tanto segmentos da academia quanto empresas de capital nacional que resistiram às políticas da década de 1990, de caráter mais liberal. Esse nicho apostou em uma política desenvolvimentista e, no governo FHC ficou um pouco a margem, e no governo Lula, teve grande relevância. Já a CUT é a maior representação sindical do Brasil e, como entidade sindical, não possui caráter industrial. Foi uma pesquisa exaustiva, com a busca de inúmeros documentos”, conta.
O grande destaque do estudo, relatado pelo orientador, é que ele fez uma abordagem histórica muito importante daquele período. “Identificou-se uma possibilidade de convergência naquele período. Empresas de capital nacional e trabalhadores buscaram essa convergência, com um projeto nacional de inovação, distribuição de renda e defesa da empresa nacional. Podemos afirmar que não existe país desenvolvido, médio ou grande, sem a presença de empresas nacionais inovadoras. Esse estudo serviu para nos mostrar que há espaço para debater outro projeto de desenvolvimento no Brasil o que, infelizmente, se perdeu”, conclui.
Contatos:
Juanito Alexandre Vieira
juanitovieira@gmail.com
Ignácio José Godinho Delgado
ignacio.delgado@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Ignacio José Godinho Delgado (orientador – UFJF)
Prof. Dr. Eduardo Antonio Salomão Condé (UFJF)
Profa. Dra. Valéria Marques Lobo (UFJF)
Profa. Dra. Ana Célia Castro (UFRJ)
Prof. Dr. Jackson De Toni (ABDI)
Outras informações: (32) 2102-3129 – Programa de Pós-Graduação em História