As vivências acadêmicas de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Intersexos (LGBTTI) e os desafios enfrentados por essa comunidade dentro e fora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foram tema da mesa “A Universidade no armário? Trajetórias e experiências”, nesta quarta-feira, 3.
A atividade marcou a abertura do evento ‘Combate à LGBTTIfobia: construindo resistências em tempos de conservadorismos’, organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed), vinculado à Faculdade de Educação. O evento se estenderá por todo o mês de maio, sempre às quartas-feiras, às 19h, na Faculdade de Educação da UFJF, exceto o último encontro, no dia 31, que será realizado no Centro de Formação do Professor, na Avenida Getúlio Vargas, 200 – Centro.
“A Universidade no armário? Trajetórias e experiências”
Na roda de conversa “A Universidade no armário? Trajetórias e experiências”, um grupo diversificado apresentou suas visões sobre a UFJF, sempre com o aspecto central do tratamento dispensado ao público LGBTTI na instituição. A pluralidade de visões, que englobaram, por exemplo, de professores a alunos e participantes do movimento negro, foi um dos destaques apresentados pelo organizador do evento, Roney Polato: “Acho que a mesa cumpriu o objetivo que tínhamos que era tanto trazer uma representatividade dos segmentos da Universidade, quanto a técnico-administrativos, estudantes e docentes, tanto ao que concerne à interseccionalidade, pensar em pessoas trans, mulheres, homens. Enfim, tentar pensar por diferentes pautas.”
Dentro das exposições, as mais variadas temáticas envolvendo a comunidade LGBTTI foram tratadas. Perpassando desde temas mais amplos, como a queda da representatividade em eventos em Juiz de Fora, cidade que já foi considerada a “São Francisco brasileira”, uma alusão ao município californiano considerado por muitos anos a “capital do mundo gay”, às dificuldades encontradas pela comunidade no âmbito acadêmico da pesquisa e o reconhecimento neste espaço. Outro tema relevante foi o dos soropositivos para o vírus HIV, número que vem crescendo entre a população mais jovem, um assunto que ainda é cercado de estigmas.
Um dos expoentes na mesa foi o aluno do décimo período do curso de Geografia da UFJF, Diego Dhemani, que abordou as experiências cotidianas na UFJF e ressalta “Não tem como negarmos a experiência de quem falou, porque sabemos por sentir, e sabemos que ao mesmo tempo, quem tem estas atitudes preconceituosas nega que elas existam. Acho que, mesmo que a gente não escute sempre, é algo que está posto.” O chamado “não visto”, ações que passam por despercebidas pela maioria, mas que causam importantes impactos, inclusive a evasão acadêmica como exposto pelos participantes na mesa, é uma das principais questões levantadas pela comunidade. Após as experiências e opiniões compartilhadas pelos convidados à mesa, os presentes tiveram espaço para expor suas visões e fazer perguntas aos expositores.
Outro aspecto relevante para o público LGBTTI, bastante citado durante o encontro, foi a adoção na UFJF do nome social, o que até então, segundo os presentes, era motivo de intenso desconforto. Na visão do organizador Roney Polato, o público presente é um indício para boas expectativas quanto à continuidade das discussões: “Já tivemos um público grande, fizemos uma divulgação ampla também. Percebemos que são pessoas que vêm de diversos segmentos, não só da Universidade, então acredito que daqui para frente nós vamos conseguir fazer um debate mais sistemático.”
A visão positiva foi compartilhada por Diego Dhermani, que valorizou o espaço aberto às discussões da comunidade: “Esses espaços são cada vez mais necessários, principalmente dentro da Faculdade de Educação, o que de uma maneira ou de outra, forma quem estará na sala de aula nas escolas públicas. Foi uma atividade importante e achei bem interessante”.
O grupo de estudos e pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (GESED), vinculado à Faculdade de Educação da UFJF, promove durante maio eventos com o intuito de combater a LGBTTIfobia. A escolha do mês se dá pelo fato de 17 de maio ser o Dia Internacional de Combate à LGBTTIfobia, por conta da decisão da Organização Mundial da Saúde de nesta data, em 1992, retirar a homossexualidade de sua lista de doenças. Na próxima quarta-feira, 10, haverá a exibição do documentário “De gravata e unha vermelha”, junto a um debate com o professor da Universidade Federal de Lavras, Ailton Melo, às 19h. A entrada é gratuita e o comparecimento em ao menos quatro dos cinco eventos confere certificado.
Além dos Pórticos Norte-Sul
Durante a fala de Diego Dhemani, uma de suas principais preocupações foi a de que os debates ali presentes tivessem repercussão além do “Portão Norte e do Portão Sul da UFJF”. A preocupação com que as discussões da mesa fossem para além dos domínios da instituição, vista tradicionalmente como liberal, foi transmitida em boa parte das exposições. No entanto, a conversa também contou com algumas desmistificações sobre o ambiente, como as de que determinados institutos seriam extremamente progressistas. Segundo os expositores, esta não é uma verdade absoluta, já que é possível identificar preconceitos e discriminações em todos os espaços.
Na visão de Roney Polato, aumentar a abrangência das discussões para além do ambiente da UFJF é muito importante: “O nosso alcance ainda é muito limitado. A gente faz esta reflexão, gostaríamos de expandir muito mais, mas temos ‘perna curta’. Não conseguimos ainda abarcar a discussão mais ampla e em Juiz de Fora como um todo. Fizemos todo o possível para a divulgação e para trazer as pessoas para cá, mas sabemos que o alcance ainda é muito limitado e que devemos expandir mais.”