Poucos juizforanos encarnam tão bem a história da segunda metade do último século na cidade como Geraldo Magela, homenageado no documentário “História do Magela”, de autoria do professor da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Flávio Lins. Se tivesse atuado somente como jogador de futebol, Magela poderia ser chamado de “polivalente”. Mas tendo perpassado por áreas que além do esporte vão do Carnaval ao jornalismo de Juiz de Fora, é mais complicado definir o ícone da cidade. Histórias desta intensa vida são contadas pelo próprio Magela no filme que estreou na noite desta quinta-feira, no auditório Museu de Artes Murilo Mendes (Mamm).
Os muitos conhecidos de Magela presentes puderam se divertir e relembrar importantes momentos com o juizforano de estilo extrovertido e “sem papas na língua” durante os 60 minutos de exibição. O documentário começa relembrando a carreira de atleta de Magela, encerrada precocemente por conta de uma lesão no joelho, a qual o mesmo minimiza: “chutava uma bolinha”. Já como treinador, Magela levou o Tupi a uma de suas maiores glórias, quando em 1966 o clube venceu os três grandes da capital (América, Atlético e Cruzeiro), em Belo Horizonte, marco que rendeu ao Galo Carijó o apelido “Fantasma do Mineirão”, ressaltado até hoje pela torcida.
No âmbito pessoal, o filme relembra as origens humildes de Magela na cidade de Rio Novo, a vinda de sua família para Juiz de Fora e como conheceu sua esposa, Neli Magela. Em relação à política, o comunicador recorda sua relação com Itamar Franco, em especial nas campanhas para a Prefeitura de Juiz de Fora e o Senado, em que Magela participou ativamente. Já sobre o ex-prefeito Alberto Bejani, de quem Magela chegou a ser próximo, o comunicador indica que se desiludiu com o mesmo, e ressalta que nunca obteve vantagem por meio da política.
Na comunicação, Magela participou de momentos emblemáticos na cidade. Na rádio e TV Industrial, o radialista participou da cobertura do Golpe de 1964, no qual Juiz de Fora teve grande destaque. O comunicador fez diversos trabalhos, hora participando de maneira mais descontraída, como quando comentava no Camisa 10, hora com seriedade, como quando apresentava o programa Mesa de Debates, em mais um exemplo de suas multifaces. Magela ainda teve importante participação no Carnaval de Juiz de Fora, no qual ajudou de diversas formas, inclusive compondo um samba enredo, apresentado no documentário.
Geraldo Magela Tavares faleceu em 8 de maio de 2015, aos 87 anos.
Agradecimentos e elogios
Ao final da exibição do documentário, familiares de Geraldo Magela subiram ao palco para agradecer o trabalho realizado por Flávio Lins e relembrar passagens com o parente ilustre. Um destes foi o neto Rodrigo Magela, que fez um discurso emocionado sobre o avô, e que acredita que o filme conseguiu contemplar a ideia do ícone junto a do familiar: “Falar do envolvimento dele (Magela) com o Carnaval, com política, com o futebol mostra bem o quão ativo ele sempre foi na vida pública e profissional, então acho que já dá uma boa ideia do que ele foi mesmo.”
Para Lins, os agradecimentos e elogios ao final da exibição foram uma maneira de expressar que o trabalho foi bem feito: “É uma sensação muito boa a de dever cumprido e saber que as pessoas gostaram. Foram muitos anos de trabalho, foi muita expectativa, não foi fácil chegar até aqui. É um filme feito com uma câmera caseira, microfone de mão, sem iluminação e muito carinho e muito tesão pela informação”.
Lins, que realizou todo o trabalho com recursos próprios e atuou como entrevistador, pesquisador e editor do projeto, tem uma relação especial com a história Magela. Assim como o ícone juizforano, seu avô, “Zazá”, também teve a carreira interrompida no futebol precocemente por conta de uma lesão no joelho.
Mais Magela
As 60 horas de entrevistas que deram origem ao documentário “Histórias do Magela”, ainda renderão um livro e um site. Segundo Lins, muitas histórias ainda serão contadas sobre o juizforano: “Eu tenho, por exemplo, o Magela contando a história de Brasil x Uruguai, na decisão da Copa de 1950, em que ele estava no Maracanã. E ele narrando cada momento do jogo, isso é ouro, não tem valor.” O diretor indica que irá se dedicar a outras funções, mas seguirá relembrando Magela: “Agora eu vou colocar no papel estes projetos. Gostaria de alguém me ajudando, para darmos conta primeiro do livro e depois do site.”
O documentário, de 60 minutos de duração, é fruto de uma edição de Lins, que entrevistou Magela entre setembro de 2012 e fevereiro de 2013, acumulando aproximadamente 60 horas de material. Em uma versão inicial, o filme tinha 4h50, transformadas na uma hora final, o que para o diretor deixou ainda muito a ser lembrado sobre Magela: “Eu tenho uma média de duas horas por semana com Magela, o que é muita coisa.”
Sobre o diretor
Flávio Lins é doutor em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pela Università degli Studi di Roma “La Sapienza”. Graduado em Comunicação e em Direito, tem experiência de mais de 20 anos em produção audiovisual, a maior parte do tempo como editor e diretor de arte, em diferentes emissoras de televisão. Além disso, dirigiu o documentário “Cariocas do Brejo entrando no Ar”, premiado no Festival Internacional de Cinema de Arquivo – Recine, realizado pelo Arquivo Nacional, em 2012.