Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 22/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/lentidao-no-transito-revela-estrangulamento-na-cidade-alta/
Título: Lentidão no trânsito revela estrangulamento na Cidade Alta
Quem se locomove mais rápido, o veículo ou o pedestre? A resposta parece óbvia, mas não é. Na Cidade Alta de Juiz de Fora, o automóvel é o meio mais lento, pelo menos em horários considerados de pico, nas duas principais vias do Bairro São Pedro: a Rua José Lourenço Kelmer e a Avenida Presidente Costa e Silva, ambas caminhos para se chegar ao Pórtico Norte da UFJF. Para esta conclusão, a Tribuna fez o experimento nas duas primeiras quartas-feiras de abril, em horários considerados de pico, para ambas as vias, baseando-se em informações de plataformas como Google Maps e Waze. Na José Lourenço Kelmer, o repórter venceu um percurso de aproximadamente 850 metros, até a Universidade, às 18h, em 7 minutos e 10 segundos, enquanto o carro da reportagem levou quase o dobro do tempo, com 13 minutos e 58 segundos. Já na Costa e Silva, às 13h, a diferença foi menor, de 2 minutos e 29 segundos, mas ainda assim emblemática, já que o pedestre também foi o mais rápido ao percorrer 450 metros até o pórtico. Para comerciantes e especialistas ouvidos pelo jornal, um binário pode ser a solução. Há relatos de motoristas que ficam até 25 minutos em momentos de pico pela manhã e no horário do almoço presos em congestionamentos na José Lourenço Kelmer.
A situação retratada permite concluir aquilo que todos aqueles que dependem das vias da Cidade Alta já sabem, ou seja, a estrutura viária está estagnada. Se há cerca de 40 anos a região era pouco adensada e habitada por poucas pessoas, hoje ela é, claramente, uma das que mais cresce na cidade. Prova disso são os recém-lançamentos imobiliários no entorno do Bairro São Pedro e o seu constante e acelerado processo de verticalização, recebendo empreendimentos com condomínios de centenas de apartamentos. Tudo isso é somado ao trânsito de passagem, pois o anel viário da UFJF também é utilizado como ligação entre regiões da cidade, como moradores das regiões Norte e Nordeste que querem chegar à Zona Sul sem passar pelo Centro.
Região cresce
Dados do Censo feito em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Bairro São Pedro e o seu entorno, como Martelos, Aeroporto, Novo Horizonte e Nova Califórnia, abrigavam, naquele ano, população estimada em 25 mil pessoas. Desde então, a estimativa é que a população de Juiz de Fora tenha crescido 8,4% até 2016. Não é possível saber se a Cidade Alta aumentou nesta mesma proporção, mas a fim de comparação, caso positivo, ela abrigaria hoje mais de 27 mil pessoas, embora se saiba que somente três novos condomínios no São Pedro tenham atraído cerca de 900 novas famílias para a região. Outro, em construção, tem previsão de mais de 250 novas propriedades. Além disso, a UFJF, que também teve expansão nos últimos dez anos, tem um público aproximado de 21 mil pessoas, entre alunos, servidores e docentes, além de outras pessoas atraídas por serviços e outras demandas fornecidas pela instituição de ensino.
Os trechos experimentados pelo jornal não foram escolhidos por acaso. A definição se deu na observação de que existe uma via subutilizada paralelamente às ruas José Lourenço Kelmer e Costa e Silva. Trata-se do segmento de duas faixas de circulação existente ao lado do trecho da BR440, cujas obras estão paradas. Embora com pavimento irregular, a Avenida Pedro Henrique Krambeck já é a preferência de muitos usuários para fugir dos gargalos de quem trafega do Centro em direção aos bairros da região.
Comércio prejudicado com o trânsito
Luiz Carlos Rezende, 53 anos, é proprietário de uma loja de material elétrico na Avenida Presidente Costa e Silva há mais de uma década. Nos últimos anos, ele vive um dilema, afinal o seu comércio está em uma área considerada privilegiada, com grande fluxo de veículos e pedestres, mas isso não é razão para comemorar. Segundo ele, desde as adequações viárias feitas na região do Bairro São Pedro, a mobilidade na Cidade Alta piorou muito. Em frente ao seu estabelecimento, por exemplo, era possível estacionar até nove carros, com vagas demarcadas a 45 graus. Hoje cabem quatro. “Isso prejudica muito, porque o cliente não aceita mais parar longe e vir andando até a loja. Ele prefere comprar em outro lugar. Pior de tudo é o horário de pico, como no fim da tarde e pela manhã, pois a via fica totalmente parada, e isso também prejudica o comércio”, disse.
Proprietário de uma drogaria na Costa e Silva, Rodolfo Toledo, 25, lamentou, ainda, que a falta de vagas suficientes para o comércio em expansão gera abusos por parte dos condutores. “Aqui em frente tem uma placa de parada permitida por dez minutos, mas muitos motoristas estacionam o veículo o dia todo. A verdade é que a UFJF cresceu muito, assim como toda esta região, e este trânsito não comporta mais. Esta conta não fecha, e algo precisa ser feito porque está ficando horroroso.”
Alternativas
Sair do gargalo é a busca de muitos moradores e estudantes que dependem do trânsito do São Pedro. Quem chega ao bairro, subindo da Estrada Engenheiro Gentil Forn em direção à UFJF, pode usar, por exemplo, a Avenida Pedro Henrique Krambeck, paralela à BR440. O pavimento é irregular, mas a baixa adesão pela via já é atrativo para muitos. O problema está no retorno para a Rua José Lourenço Kelmer, pouco antes do Pórtico Norte da Universidade. Isso é feito pela Rua Adolfo Kirchmaier, onde há um posto de gasolina na esquina. Neste local, o cruzamento de veículos tira a paciência de muitos, e pequenos acidentes são constantes. Quem confirma as batidas é a também comerciante Deyse Macedo, proprietária de uma loja agropecuária nas proximidades. “Os clientes reclamam muito deste tumulto”, disse.
Na direção contrária, da Cidade Alta para a Zona Sul, muitos já dão a volta em direção ao Estádio Municipal, passando pelo Dom Orione. Mesmo com maior quilometragem, a possibilidade de cair em retenções é menor.
Especialista tem projeto pronto para binário
Faz cerca de dez anos que o professor da UFJF José Alberto Castañon doou para a Prefeitura um projeto de circulação urbana para a Cidade Alta de Juiz de Fora. Segundo ele, a ideia tinha dois objetivos principais, que era otimizar o tráfego nas ruas e avenidas da região e, ao mesmo tempo, reduzir o fluxo de passagem dentro do anel viário do campus. Castañon, que é doutor em engenharia de transportes e especialista em ergonomia, estuda e faz pesquisas sobre este trânsito há mais de uma década, sendo, inclusive, o responsável pela única grande reforma feita no anel, ainda na gestão da então reitora Margarida Salomão, hoje deputada federal. Na época, a circulação interna foi transformada em mão única, com a criação de faixas elevadas de travessia. “Se isso não tivesse sido feito naquela época, hoje estaríamos, de fato, vivenciando o caos.”
Conforme o professor, o projeto entregue para a Settra, quando o prefeito ainda era Custódio Mattos (PSDB), constituía na criação do binário entre as ruas Costa e Silva e José Lourenço Kelmer, além da Avenida Pedro Henrique Krambeck, criação de faixas exclusivas para o transporte público, ciclovias, alargamento dos pórticos e impeditivos ao fluxo de passagem dentro da instituição. A circulação viária seria alterada, segundo ele, a partir da região próxima ao trevo de acesso ao Morro do Imperador, prosseguindo em direção à UFJF. No Pórtico Sul, o contorno viário também seria implantado, com adequações em vias próximas ao Estádio Municipal até chegar à Avenida Presidente Costa e Silva. A ideia era que os condutores fizessem um percurso até maior, mas com mais velocidade e sem retenções. “Queria dificultar o tráfego interno, inclusive com cancelas para identificar os veículos que estariam circulando por aqui. Não tem mistério, e é, inclusive, praticamente o esquema implantado no vestibular.”
Em 2010, segundo ele, quando uma grande contagem volumétrica foi feita na região, ele e sua equipe descobriram que 40% do trânsito interno não tinham a Universidade como destino. “E estes 40% não se justificariam pelos condomínios da região, e foi quando descobrimos que este trânsito vem, também, da Zona Norte, sendo alternativas daquela população para chegar no Centro e Zona Sul.”
‘Vai morrer gente’
Castañon não tem dúvidas com relação ao futuro da Cidade Alta, se nada for feito. “Vai morrer gente, e não será de acidente de trânsito. Vai morrer porque vai chegar o momento de um condutor sair do carro e dar tiro em outro. A situação está muito complexa”, avaliou. Por esta razão, o professor é taxativo ao dizer que o binário é a melhor solução para o momento. O especialista explicou que, no planejamento viário, as vias urbanas vão evoluindo conforme a necessidade de mobilidade e segurança. “O caminho natural da capacidade de uma via é mão dupla, depois mão única, binário até chegar à necessidade de obras. Quer um exemplo? A Rua Doutor João Pinheiro (Morro da Glória) não suporta mais mão dupla, e por muito pouco não temos acidentes graves constantes naquele lugar.” incentivo do tráfego local, problemas poderiam ocorrer em outras vias de circulação, como a Avenida Olegário Maciel. “Não existe solução pontual. O que se faz é ir dando alternativas pontuais até que se chegue ao extremo, ou seja, proibir a circulação de carros.”
Solução da Settra depende da BR440
O secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, reconhece que a circulação viária na Cidade Alta está longe da ideal e que adequações devem ser feitas. Segundo ele, o binário é, de fato, um dos dispositivos a ser implantados, mas o imbróglio da construção da BR440 impede qualquer ação momentânea. “É um problema sério, e temos soluções encaminhadas, mas elas passam pela rodovia. Todo este atraso na retomada das obras gera este tipo de reflexo, pois só com o trecho pronto conseguimos implantar as melhorias necessárias.
Enquanto isso, ficamos de mãos atadas, porque uma mudança, mesmo que provisória, exigiria investimentos.” Tortoriello adiantou que a ideia é fazer uma operação semelhante ao que é usado, atualmente, durante as provas de vestibular, transformando todo o entorno do Pórtico Norte em uma grande rotatória, com as devidas adequações em algumas ruas, pois atualmente elas não suportariam tráfego pesado. “É muito prejudicial para a nossa cidade ter uma via inacabada como aquela, e a interrupção, onde foi feita, impede o uso. Temos hoje aquele espaço que não pode ser regulamentado para o trânsito.”
Outro impeditivo para uma medida paliativa, de acordo com Tortoriello, está na possibilidade de as obras da BR440 serem retomadas a qualquer momento. “Ficamos neste compasso de espera, porque aquela obra em andamento também vai exigir algumas adequações pontuais. Meu desejo é que este problema se resolva o quanto antes para organizarmos aquele trânsito de forma definitiva, e não fazendo remendos.”
Obra paralisada
A rodovia BR440 é uma obra do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) planejada na década de 1990 com objetivo de interligar a rodovia BR040 à BR267, na Avenida Brasil, altura do Bairro Mariano Procópio. Em 2012, a construção foi paralisada porque o Tribunal de Contas da União (TCU) questionou o seu custo e o fato de as intervenções estarem sendo feitas sem processo licitatório. Este trâmite burocrático já foi vencido, e a empreiteira, coincidentemente a mesma contratada sem licitação, definida para a retomada. No entanto, um processo movido pela Justiça Federal exigia garantias ambientais para o reinício da construção.
Desde setembro, a Superintendência Regional de Meio Ambiente Zona da Mata (Supram) avalia o processo para licença de instalação corretiva referente a esta obra. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Semad), as informações
complementares solicitadas pelo órgão ambiental foram protocoladas pelo empreendedor na semana passada e ainda serão analisadas pela equipe técnica responsável por dar um parecer. Ainda não há previsões para esta fase ser concluída.
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Veículo: Estadão
Editoria: Blog Estado da Arte
Data: 22/04/2017
Link: http://cultura.estadao.com.br/blogs/estado-da-arte/multiculturalismo-alem-do-cosmetico/
Título: Multiculturalismo: além do cosmético
Por Fabrício Tavares de Moraes
É certo que na maioria das vezes em que as pessoas tratam ociosamente acerca do multiculturalismo, elas, em geral, ilustram os benefícios decorrentes dele com as iguarias típicas de outras culturas e os restaurantes mais exóticos que encontramos em todas as metrópoles atualmente.
Todavia, talvez as pessoas, fazendo do ventre seu deus, se esqueçam do ensino do Cristo, que nos ensina “que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso”. Por outras palavras: reduzir a cultura aos seus aspectos mais superficiais, para não dizer perecíveis, revela não somente ignorância dos costumes e modos alheios, mas também filisteísmo, o qual, segundo Nabokov, “pressupõe um certo estágio avançado de civilização, no qual, ao longo das eras, certas tradições acumularam-se num monturo e já começaram a tresandar”.
Novas leis de imigração e atentados terroristas logo antes de eleições presidenciais em países que, visível e reconhecidamente, sofrem com questões migratórias, fornecem o cenário, quando não os protagonistas e antagonistas, para as narrativas da reação. O reacionarismo – que jamais se confunde com o conservadorismo – nasce, nas palavras de Mark Lilla, do casamento, talvez não muito natural, entre as profecias de um apocalipse e os contos de uma era de ouro. Porém, o objeto ao qual se reage, conforme pode-se imaginar, é precisamente o multiculturalismo.
É claro, rechaçamos, de antemão, a ideia aberrante de que todos os problemas no Ocidente, hoje, no tocante à imigração, têm origem somente na crença de que todas as culturas inerentemente são compatíveis entre si, ou que a liberdade, igualdade e fraternidade são não apenas valores já dados, mas também universais e em marcha irrefreável.
Curiosamente, o multiculturalismo, ainda mais em periferias intelectuais como o Brasil, guarda pouca relação com a questão da imigração em massa que se dá em grande parte da Europa. Contudo, para não permanecermos alheios ou à deriva das discussões acadêmicas que grassam nos grandes centros, falseamos, ou antropofagizamos, o conceito, para adequá-lo à nossa realidade. Afinal, é sempre possível deslocar a discussão da coexistência de diversas culturas para a “problemática” da valoração ou hierarquia cultural, dissolvendo as fronteiras entre os distintos estratos culturais e execrando a simples designação de “alta cultura”.
Deixando de lado, porém, a especificidade do caso brasileiro e focando na generalidade da questão, talvez chegaremos às indagações mais pertinentes acerca do multiculturalismo – por exemplo, que substrato é esse que abrigará as mais distintas culturas em harmonia?
Afinal, se a natureza aborrece o vácuo, também as dimensões humanas, não desenvolvendo raízes no abismo, demandam, para sua subsistência e desenvolvimento, um solo ou fundamento. Dito de outro modo, a própria estrutura social e institucional que supostamente comportará esse mosaico de culturas implica e pressupõe uma capacidade não só de contenção, mas também de manutenção das relações que entre elas se estabelece.
Poucos percebem o perigo que espreita sob esse posicionamento, pois, afinal, essa força que supervisiona, retém e amaina as possíveis eclosões e atritos entre essas culturas, deve, necessariamente, regê-las todas, ditando os limites do que, naquele corpo social, é aceitável. Desse modo, o Estado, como invariavelmente se dá nas políticas progressistas, recebe a legitimidade, ao menos moral, como o guardião da cultura. E assim, invertendo-se a ordem lógica e cronológica, a cultura de um povo torna-se consequência da política.
Não é preciso dizer que o multiculturalismo é, em síntese, a simples transposição das ideias desconstrucionistas para o âmbito cultural e social, isto é, parte-se do pressuposto de que, em toda a extensão da realidade, só há diferenças, jamais identidade, especialmente numa sociedade.
De modo paradoxal, aqueles que advogam o multiculturalismo não raro apregoam também a incomunicabilidade intransponível entre as culturas e a inexistência de qualquer valor universal que, sendo-lhes um denominador comum, possibilitar vínculos ou relações.
Todavia, o ponto cego do multiculturalista é sua interpretação da cultura como sendo algo cosmético, e não basilar, à determinada comunidade. Para ele, a cultura é uma simples irradiação ou aura perfeitamente amoldável às circunstâncias mais fortuitas. Se, como Russell Kirk dizia, toda cultura provém embrionariamente de um cultus, uma estrutura ritual que concede sentido às mais diversas ações e momentos da vida de uma comunidade, incluindo aqui a possibilidade mesma de uma ordem social, então é certo que grande parte do tratamento atual das questões culturais é, no mínimo, leviano.
Tomemos um caso concreto: na concepção de um humanista ocidental, todas as obras exibidas numa National Gallery, em Londres, ou no Louvre, em Paris, constituem o ápice da concepção e habilidade estéticas de artistas os mais variados (de neerlandeses a nipônicos); representam, em suma, na definição de Matthew Arnold, em seu Cultura e Anarquia, “uma busca por nossa perfeição total, cujos meios consistem em esforçar-se por conhecer… o melhor já pensado e escrito no mundo”.
Todavia, sabemos que, no mundo muçulmano, toda representação pictográfica ou icônica é proibida por lei, visto que amiúde conduz à idolatria. Há aqui um conflito de visões irreconciliáveis, ambas oriundas da cultura ou mundividência de comunidades distintas: ou estamos perante os valiosos artefatos que sobreviveram ao naufrágio do tempo, ou estamos perante um repertório de ofensas e transgressões – ou, como dizem, haraam.
Isto não implica, evidentemente, que culturas corânicas são inerentemente odiosas à arte ou que agem sempre com o barbarismo de um Estado Islâmico com sua destruição de monumentos budistas ou cristãos – longe disso. O que, porém, torna-se visível é que toda cultura traz em seu bojo seu projeto inato de ordem social. E é aqui que o multiculturalismo deve ao menos pressupor alguns ideais ocidentais para sua própria subsistência (respeito à propriedade privada, liberdade de reunião, de religião, etc.).
Retomando a metáfora bíblica inicial, é o que sai de dentro do homem que o contamina – ainda que sejam as considerações internas, quando não intestinas, de sua cultura.
Fabrício Tavares de Moraes é tradutor e doutorando em Literatura (UFJF/Queen Mary University London)
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Arte e vida
Data: 22/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/por-uma-pasargada-literaria/
Título: Por uma Pasárgada literária
“Ler é emancipatório.” O que afirma Éric Meireles de Andrade defendia o educador Paulo Freire, para quem “a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo”. Ler, portanto, é ato político. Quando Éric, um bacharel em história e graduando em administração pública, aos 43 anos, volta todas as suas forças para o movimento literário, abandonando cargos políticos, diz de uma militância que também se faz pelas letras. Há cerca de cinco anos vivendo em Juiz de Fora, onde passou a infância, o mineiro de Caratinga é uma das engrenagens de uma instigante batalha de poetas, o Slam Poético da Ágora, que desde fevereiro ocupa a Escola Municipal de Santa Cândida. “Começamos a fazer com que a força centrípeta, de a periferia vir para o Centro, seja substituída pela força centrífuga, de levar o centro da cidade para a periferia. O maior absurdo é a gente acreditar que a literatura é só Belmiro Braga, Murilo Mendes, Pedro Nava ou Affonso Romano de Sant’Anna. Esses são fenômenos que nasceram e viveram um processo quando a periferia também escrevia, mas não sabemos quem foram esses autores das margens. Nosso evento quer mostrar que a arte periférica tem que ter mais espaço nas políticas públicas”, comenta o homem de cabelos e barbas grisalhas, frutos dos anos que juntaram certezas e um tanto de utopias. Aonde quer chegar? “Tenho um sonho, que é transformar Juiz de Fora numa cidade leitora. É para onde oriento minha vida. Profissionalmente, é importante para mim, mas também porque quero transformar a minha Pasárgada numa Pasárgada literária.”
Bandeira
Na quinta série, o pequeno Éric leu cem livros. Na série seguinte, com 11 apenas, leu 120 títulos. “Tinha vontade de conhecer e era muito crítico com o que via. Fui ganho pela sensação e dali fui descobrir minha consciência política. Sempre quis colocar a mão na massa, mudar meu presente”, recorda-se.
Em 1988, aos 14, passando pelo Calçadão, resolveu parar. “Minha militância começou ali, onde era o Banco do Brasil e tinha um murinho e o lote de terra. Ali era o centro da democracia de Juiz de Fora. Lembro que quando vi que haveria uma manifestação a favor do voto aos 16 anos, em defesa da redução da jornada de trabalho para os jovens e pelo serviço militar opcional, fui e peguei o microfone. Defendi aquelas ideias”, conta ele, que se tornou integrante do Grêmio Estudantil do Estadual (Sebastião Patrus de Sousa, escola no Santa Terezinha) e, no mesmo ano, mudou-se para João Monlevade – “Fui organizar o movimento do passe livre, nos anos 1980″. Dali foi morar em Santa Luzia, para atuar na direção estadual da União da Juventude Socialista (UJS). Aos 15, voltou para Juiz de Fora, onde veio morar com 1 ano, apenas. Na cidade participou das manifestações locais do “Fora Collor” e, então, transferiu-se para São Bernardo do Campo para ser torneiro mecânico. Em 1995, mudou-se para São Paulo, trabalhou na União Estadual dos Estudantes, foi presidente e diretor nacional da UJS e também atuou na Secretaria Municipal de Esportes da prefeitura da maior cidade do país. Em 2004, foi convidado a integrar o Ministério da Cultura, sob a gestão de Gilberto Gil, na área de políticas públicas para jovens. Dois anos depois, Éric transferiu-se para a Secretaria Nacional da Juventude, e quatro anos mais tarde tornou-se chefe de gabinete da Secretaria de Juventude da Prefeitura de Marília. Há cinco anos retornou às raízes. “Vou trabalhar com os jovens durante minha vida inteira, mas não sou mais jovem. Há uma diferença circunstancial, e é preciso respeitá-la e aceitá-la para dar protagonismo à juventude”, diz. “Sou solteiro, me casei cinco vezes, não tenho filhos e tenho um sonho: viver de poesia. Sei que só trabalhar com isso é complicado, mas tenho pensado nas políticas públicas, com outras ações, minhas ou dos outros, também produzindo cultura. A vida financeira é complicada, passo muitas dificuldades, mas é parte do processo de tentar fincar propostas”, completa. “Olhe para o lado. Não tem ninguém lendo. Então, essa cidade é feita por literatos, mas não tem leitores.”
Punho cerrado
Logo que entrou na Escola Estadual Antônio Carlos, no Mariano Procópio, aos 7, Éric descobriu o que era um jogral e começou a declamar poemas. Desde então escreveu. Há 12 anos, preside a Confraria dos Poetas, um grupo nacional que desde 2012 persegue voos mais altos. “Queremos organizar antologias nacionais de poesias, com o objetivo de fazer um diálogo da diversidade estética contemporânea. A poesia contemporânea é variada em idade, região e outras questões. Estudamos em estética que devemos buscar a unidade da beleza, e hoje ela está interligada à diversidade. Temos desde estilos poéticos centenários, como as trovas e os sonetos, como os estilos novos, tais quais o rap e os versos livres. Em nossos 12 anos fizemos quatro antologias. Também queremos dar movimento ao poeta, porque grande parte das vezes quem mexe com criação vive no caos criativo, se doando, sofrendo, por transformar o racional em sensitivo. O movimento modernista tentou dar movimento aos criadores e liberdade às criaturas, e ainda falta muito. Seguimos o princípio do Fernando Brant, de que todo artista tem que ir aonde o povo está. Desenvolvemos o conceito de que temos que ter lado nas lutas sociais. Nosso terceiro objetivo é discutir essa poesia contemporânea”, enumera o escritor, cujo projeto para esse ano é lançar a quinta antologia, com poetas locais. Ao lado do confrário (confrade revolucionário) Antônio Carlos, professor de história da Escola Municipal da Candinha, Éric deu início a um núcleo de intervenções chamado Ágora. Com o Coletivo Vozes da Rua, também do Candinha, o poeta importou um formato de batalha poética iniciado pela atriz e MC Roberta Estrela D’Alva, que criou o Zona Autônoma da Palavra, o primeiro slam do Brasil, hoje já replicado mais de 50 vezes. O slam juizforano serve, então, para formatar um critério para a inserção na próxima antologia. “O livro tem tudo a ver com o debate literário da cidade, porque os escritores conhecidos são do Centro, e parece que a produção artística é só central.”
Grito de guerra
Autor de “Fragmentos da poesia marginal” (Editora Libra Três), Éric organizou as quatro antologias da Confraria e um título sobre políticas públicas na área de lazer e recreação, estudando o assunto na cidade de São Paulo com assistidos pelos projetos Bolsa-Trabalho e Começar de Novo. De sua experiência no executivo, ele compreendeu a força revolucionária da cultura. E sua inspiração está nesses artistas que constroem suas revoluções silenciosas, ou ao som dos versos. “Trouxemos o Del Chaves, do Slam Resistência, de São Paulo, para ensinar o processo e as regras das batalhas. Hoje eles juntam 700 pessoas na Praça Roosevelt”, pontua Éric, explicando que cada batalha poética reúne de oito a 20 artistas, que levam até três textos e são avaliados por um júri após declamarem por três minutos, utilizando apenas a voz e o corpo. Dali saem cinco e, em seguida, três finalistas para chegar ao campeão. O Coletivo Vozes da Rua organiza as apresentações de hip-hop que dão o tom do evento, cuja próxima edição ocorre em maio, depois junho, agosto e setembro, com o lançamento do livro. Outra parceira é a academia, com os alunos da Faculdade de Comunicação da UFJF, que contribuem na divulgação e organização do evento. “A academia tem muito a dar UFJF para a gente, e nós temos muito a dar para a academia. A batalha é uma comunhão, uma referência, uma troca. Vemos rimas fabulosas, figuras de linguagem maravilhosas. Além disso, é um momento de reflexão sobre a sociedade em que estamos”, comenta. “No ano passado, fizemos um projeto chamado ‘Poesia rima com escola’, para lançar livros nas escolas. Se esses estudantes não vão aos lançamentos, vamos até eles”, conta o poeta, que fez lançamentos em dezenas de escolas públicas da cidade. Verdadeiramente, o que move Éric é a certeza de que sua terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, tem Gonçalves Dias, Murilo Mendes e também Laura Conceição, a voz que venceu a segunda batalha declamando: “Insisto no papo, porque precisa, e é foda pra ‘nóis’ viver na defensiva. Escuta, eu te falo. Porque não me calo. Não pisa no calo.”
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 22/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/cartao-responde-por-ate-40-da-inadimplencia-em-jf/
Título: Cartão responde por até 40% da inadimplência em JF
Juiz de Fora possui hoje cerca de 140 mil CPFs negativados. Deste total, entre 30% e 40% são por motivos relacionados a cartão de crédito. A estimativa, divulgada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), segue um cenário nacional. Conforme a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o cartão tem hoje a maior inadimplência entre todas as modalidade de crédito, atingindo cerca de 40% do que é emprestado. As mudanças nas regras do pagamento do rotativo, que já estão em vigor, aparecem como alternativa para diminuir o valor da dívida, sem esconder o risco de estimular o crédito não consciente. Caso o parcelamento não seja acompanhado por uma reeducação
financeira, a ciranda pode não acabar, apenas mudar de modalidade financeira. Substituir o rotativo pelo parcelamento, reduz a taxa de juros mas, no final das contas, pode manter o endividamento.
Ao contrário do que acontecia até o mês passado, quando o cliente podia realizar o acerto da parcela mínima da fatura (equivalente a 15% do débito) várias vezes, “empurrando” o restante do saldo devedor para as faturas seguintes, a partir de agora ninguém poderá passar mais de 30 dias no rotativo. Depois desse prazo, o consumidor terá que optar por um parcelamento, com a promessa de juros mais baixos, caso não consiga quitar o valor integral na fatura seguinte.
Conforme a professora da Faculdade de Economia da UFJF, Fernanda Finotti, na prática, as taxas oferecidas pelos bancos nas modalidades ‘cartão rotativo’ e ‘cartão parcelado’ variam muito. Por isso, se o cliente pesquisar e negociar com o seu banco ou com outro interessado em assumir a dívida (via portabilidade de crédito), avalia, “há inegáveis vantagens para o consumidor em termos de redução no valor da parcela”.
A pedido da Tribuna, a economista levantou as taxas cobradas pelos cinco principais bancos brasileiros, tanto no rotativo quanto no parcelamento e fez uma simulação das condições de pagamento de uma dívida na antiga e na nova condição (ver quadro). A vantagem, avalia, é poder negociar o débito com mais flexibilidade (usando outra modalidade de financiamento ou até mesmo outro credor, via portabilidade). “A desvantagem, no meu ponto de vista, seria o estímulo ao crédito menos consciente. É certo que a economia se beneficia da redução do endividamento das famílias obtida via redução das taxas de juros (básica e por modalidade de financiamento). Entretanto, não é saudável estimular o crédito não consciente, pois a ciranda financeira pode recomeçar em outro ponto mais adiante no processo.”
Na hora da escolha pela melhor linha de financiamento, a economista alerta que o Banco Central (www.bcb.gov.br) reúne todos os bancos e as modalidades disponíveis de financiamento, com as respectivas taxas médias de juros cobradas. “É muito importante informar ao consumidor que, atualmente, ele pode migrar de banco (e de credor) automaticamente. Basta achar um outro banco/credor que o queira como cliente, sem a obrigatoriedade de perder os benefícios do banco antigo.” A portabilidade de crédito, destaca, é um direito de todo cidadão.
Uso saudável e seguro
Para a especialista, o uso do cartão para parcelamento da compra, sem incidência de juros, é uma prática interessante, já que, enquanto não quita a dívida, o consumidor pode deixar o dinheiro aplicado. O problema, avalia, é o ‘refinanciamento’ da dívida contratada (via rotativo ou parcelamento do cartão). “É aí que começa a ciranda financeira que leva muitas famílias à inadimplência.” Fernanda alerta que, em uma aplicação financeira sem risco, o dinheiro rende cerca de 0,8% ao mês ou 10% ao ano. “Não raro, 5% de desconto sobre o valor anunciado para pagamentos à vista é a praxe, o que tornaria o pagamento à vista vantajoso frente ao parcelamento em três vezes, já que os juros recebidos na aplicação seriam de 2,4% ao período.” A opção de parcelamento em seis vezes sem juros, cujo rendimento seria de 4,9% no período, também é considerada vantajosa. “Em 12 vezes, por exemplo, os juros recebidos na aplicação seriam iguais a 10% e mais que compensariam o desconto oferecido.”
Idec pede mudanças nas novas regras do rotativo
Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) falta clareza na norma. Em carta encaminhada ao Banco Central, foram solicitados esclarecimentos sobre o funcionamento da Resolução 4.549/17, que define mudanças nas regras para pagamento da fatura. Para o Idec, as regras não detalham de que forma se dará o gerenciamento dos saldos e as possibilidades de parcelamentos. A flexibilidade para que cada banco crie suas próprias condições é vista com preocupação pela entidade, exigindo medidas claras que disciplinem o mercado de maneira uniforme. O entendimento é que, apesar de a iniciativa ser considerada positiva, precisa ser aprimorada.
Ao transferir para as instituições financeiras a definição sobre as regras para parcelamento da fatura, avalia o instituto, o consumidor pode ser exposto a condições de interesse exclusivo do setor financeiro, em detrimento da manifestação da capacidade de pagamento do cliente.
“Diferentemente do que ocorre hoje, em que as regras para utilização dos cartões são unificadas e reguladas pelo Conselho Monetário Nacional, a partir de agora, cada banco poderá definir as regras para uso do rotativo, o que pode trazer dificuldades de acompanhamento das dívidas pelo consumidor”, adverte Ione Amorim, economista do Idec.
A carta cita que alguns bancos estão divulgando que farão o parcelamento automático, caso o consumidor não se manifeste até o vencimento da fatura. O Idec alerta que a adoção de mecanismos de parcelamento automático pode induzir os consumidores a parcelar a fatura em vez de quitá-la, sem avaliar as taxas de juros que melhor atenderiam à sua necessidade de crédito. “A praticidade de parcelar o saldo dentro da própria fatura desburocratiza o processo, mas não é garantia de taxas de juros mais competitivas. Muitas vezes, as taxas de juros do crédito pessoal no mesmo banco são inferiores às taxas de juros para o parcelamento do cartão”, ressalta Ione. “Na falta de educação financeira, substituir o rotativo pelo parcelamento reduz a taxa de juros mas mantém o endividamento”, conclui.
Mais dinamismo à economia
Para o economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio MG), Guilherme Almeida, a expectativa é de que a mudança proporcione mais dinamismo à economia, principalmente com a redução da inadimplência. De acordo com o economista, a atual taxa de juros cobrada no rotativo do cartão está entre 15% e 16% ao mês, a maior do mercado. “É tão alta que, em seis meses, o débito pode dobrar, se o consumidor pagar apenas o mínimo, que representa 15% do total. A queda da dívida ocorre em ritmo muito lento e, em muitos casos, o valor se junta a outros gastos, elevando os índices de inadimplência.”
Já os novos financiamentos que serão oferecidos pelos bancos para que o cliente liquide o saldo devedor devem ter juros entre 2% e 10%. “É uma redução muito positiva. Com a inadimplência alta, as pessoas comprometem muito a renda e não conseguem consumir, especialmente bens que exigem crédito.” Almeida reforça, no entanto, que a principal medida para um efetivo controle financeiro precisa partir do consumidor, mudando seus hábitos e elaborando o orçamento doméstico, principalmente porque a dívida poderá ser parcelada em até dois anos.
“Este é o tipo de medida que acaba sendo boa para todo o mundo”, avalia o diretor da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira. Segundo ele, o consumidor é beneficiado porque contará com o parcelamento automático oferecido pelo banco. “Na condição anterior, ficava pagando o mínimo, mas a dívida sempre continuava, por conta dos juros embutidos extremamente elevados.” Para Miguel, existe a troca de uma dívida cara (a do rotativo) por outra mais barata (a do parcelamento do cartão). “Esta medida acaba sendo boa para as instituições financeiras, uma vez que, mesmo os bancos ganhando menos – já que terão que cobrar juros menores , a qualidade do crédito passa a ser melhor, o que deve reduzir o risco de inadimplência.”
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marcos Casarim, na prática, as mudanças podem reduzir a inadimplência, já que o uso constante do rotativo compromete as finanças dos consumidores. Segundo ele, a inadimplência em Juiz de Fora está estabilizando, com tendência de queda, em função do volume de consumidores negativados e da cautela na hora das compras, por conta da recessão no mercado de trabalho.
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Veículo: Correio Braziliense
Editoria: Notícia
Data: 23/04/2017
Título: A hashtag #Meu Professor Racista revela realidade preconceituosa em escolas
O racismo ainda é forte no Brasil e faz parte da trajetória de praticamente toda pessoa negra. Lamentavelmente, além das chacotas feitas pelos colegas, desde os primeiros passos da vida escolar até chegar à universidade, a população negra também é discriminada por quem menos se espera: o professor. No começo do mês de abril, as redes sociais foram inundadas com diversos relatos de pessoas que sofreram racismo, direta ou indiretamente, por profissionais da educação. Elas usaram a hashtag #MeuProfessorRacista, criado pelo coletivo Ocupação Preta depois que uma professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) abordou questões raciais com teor de deboche.
O problema, porém, não é exclusivo das universidades. Muitos dos relatos contavam episódios ocorridos na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio. A lei nº 10.639, de 2003, obriga instituições de ensino públicas e privadas a ensinarem história e cultura afro-brasileira e africana. Posteriormente, a lei 11.645/2008 incluiu também história indígena. Na prática, porém, reclama-se de que os assuntos são superficialmente abordados — em muitos casos, só em 20 de novembro, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra. Para a professora universitária Eliane Cavalleiro, o silêncio sobre o racismo, o preconceito e a discriminação racial nas diversas instituições educacionais contribui para que as diferenças de fenótipo entre negros e brancos sejam entendidas como desigualdades naturais.
O estudo Aprendizagem em Foco, do Instituto Unibanco, divulgado em fevereiro deste ano, usou dados do IBGE e do Ministério da Educação para identificar os grupos com maior risco de evasão escolar. “São jovens de baixa renda, em sua maioria, negros, que trocam com frequência os estudos por um trabalho precário ou que ficam grávidas já na adolescência”, diz o texto, que acrescenta: “Entender o perfil do jovem que evade da escola e identificar os momentos em que esse movimento é mais provável são ações importantes a serem realizadas pelos gestores de escolas e dos sistemas educacionais.”
Embora esteja claro que são grupos que precisam de mais atenção no ambiente escolar para se manterem motivados, o que ocorre é o oposto. “Ao contrário de ser um espaço de promoção, de democratização do acesso aos lugares de reconhecimento social e de inclusão, a escola é um dos espaços da sociedade em que as representações negativas dos negros são difundidas”, afirma João Batista, especialista em gestão e planejamento de educação. Segundo ele, o estereótipo de que os estudantes negros não terminam seus estudos faz com que sejam deixados em segundo plano no processo de aprendizagem.
Do maternal à faculdade
Guilherme Neves, 34 anos, professor de inglês e intérprete, é um dos que aderiram à campanha #MeuProfessorRacista. O ímpeto de participar e relatar algumas situações veio, principalmente, do fato de que a sobrinha dele, de 15 anos, também sofreu racismo recentemente na escola em que estudava. O caso chegou à Justiça. “Com isso, dá pra ver que não é algo que acontecia só antigamente, na minha geração, quando se tinha menos informação. Ainda hoje, o racismo dentro das escolas é recorrente”, garante.
Segundo o professor, quem perpetra racismo tende a dizer que a ofensa não passou de brincadeira. “Dizem que é vitimismo, como se aquilo não fosse uma forma de violência grave”, lamenta. Para ele, que já estudou tanto em escolas particulares quanto públicas, não faz diferença. “Ambas estão baseadas em padrões tradicionais que precisam mudar, mas há muita resistência para que essa mudança ocorra”, analisa.
A primeira vez que Guilherme lembra de ter passado por uma situação de racismo foi aos 6 anos. Na época, ele morava em Santa Maria, Rio Grande do Sul. A professora pediu que todas as crianças se sentassem e ficassem em silêncio. Mas dois meninos brancos começaram a brigar e ele foi separar: quem ficou de castigo foi ele. “Existe o estereótipo de que o negro é mais violento, então, esse tipo de coisa acontece muito”, reclama.
O Guilherme de 6 anos não percebeu que estava sendo vítima de racismo, mas foi uma lembrança triste que o acompanhou por toda a vida. Mais velho, percebeu a gravidade daquilo e constatou que outras agressões ocorriam sistematicamente. Algumas vezes, colegas colocaram objetos em seu estojo para que parecesse que ele os roubou. Ele era exposto e humilhado e, quando tinha sorte, alguém admitia “a brincadeira”. Sem falar nas “zoações” em relação ao cabelo.
No Ensino Médio, com vontade de mudar o visual, Guilherme deixou o cabelo crescer. Queria um black power poderoso. Outros adolescentes também tinham cabelo grande, como os que gostavam de heavy metal. Nenhum deles, porém, foi chamado pelo orientador para perguntar se estava “acontecendo alguma coisa”. “Eu já estava esperto em relação à forma diferente como era tratado, então, disse que estava tudo bem e questionei o motivo da preocupação até que ele admitisse: achava que eu estava usando drogas. Só por causa do meu cabelo”, relata.
Guilherme entrou na faculdade justamente quando as discussões a respeito das cotas raciais começaram a fervilhar, em 2002. “Eu me lembro que quem era contra dizia que a qualidade cairia, que a média de desempenho dos estudantes reduziria”, conta. E ele não entrou em qualquer universidade, mas justamente na UnB, a primeira federal a instituir o sistema de cotas, em 2004. Mesmo assim, casos de professores que se referem a negros como “crioulada” e que, segundo Guilherme, ignoram o continente africano como um berço de conhecimento foram e ainda são frequentes. Ele sente falta da efervescência dessa época. “A poeira estava levantada. A questão racial era muito mais discutida. Agora, parece que a poeira abaixou e práticas ruins se cristalizaram. E não se vê nenhum esforço para mostrar que as profecias de quem era contra as cotas não se cumpriram”, aponta.
É relativamente pequena a quantidade de professores negros nas universidades. Atento a esse déficit, o Departamento de Ações Afirmativas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) fez um protesto em novembro do ano passado. Foram espalhados banners pelos campi da cidade com a frase: “Quantos professores negros você tem?”. Além disso, foi divulgada a hashtag #nãoécoincidência. Mesmo na pioneira Universidade de Brasília, essa característica se confirma: menos de 2% dos professores dos quatro campi são negros.
Pedras no caminho
Os negros são 54% da população do Brasil, segundo o IBGE (dados de 2015). O predomínio na composição demográfica, no entanto, não constrange os racistas. A jornalista Luana Ibelli, 28 anos, fez o seguinte relato: “#MeuProfessorRacista disse que meus cabelos não eram adequados para a TV; que, se um dia eu quisesse ser repórter, eles deveriam ser alisados. E que, inclusive, os cabelos cacheados e crespos na TV eram uma proibição nos manuais de jornalismo de todas as grandes emissoras, pois desviam a atenção que deveria ir para a notícia”.
Ela conta que piadas sobre suas características físicas eram frequentes nos tempos de escola. O cabelo era o alvo principal. Os colegas comparavam com palha de aço, e os professores pouco faziam para cessar a zombaria. “Eles (os alunos) passavam a mão na minha cabeça e diziam que “estavam sangrando”. Um ou outro professor retrucava, mas, no geral, não havia ações efetivas para combater as piadas”, relata Luana.
Para ela, a hashtag serve para expôr o problema. “Sempre acredito na importância de levantar o debate. O tipo de coisa que ouvi é falado, pensado e difundido normalmente na sociedade. Agora, rotular o indivíduo de monstro afasta as pessoas do objetivo, que é entender que a sociedade é racista e, portanto, todos nós podemos atuar dentro desse papel — o do racista”, pondera.
A professora Francisca Cordélia Oliveira da Silva, do Instituto de Letras da UnB, diz que o racismo afeta diretamente a segurança emocional das pessoas e muitas carregam o fardo da baixa autoestima logo na educação básica. Para ela, é preciso proporcionar segurança desde o início, criando um espaço para conversar sobre esse assunto. “É preciso que a criança tenha confiança para dizer se está sofrendo racismo pelos colegas da escola ou pelos professores. Para que ela não silencie diante dos fatos”, alerta, Francisca.
Hoje, Luana, por ironia do destino, trabalha como repórter em uma emissora de televisão. Ela disse que a situação relatada pela hashtag #MeuProfessorRacista apenas foi uma entre várias situações que abalaram sua autoimagem. No início da carreira, sentiu muito medo de ser exposta. Porém, sob influência de uma colega de trabalho, passou a refletir sobre a falta de negros nos telejornais brasileiros. “Devo muito da autoestima que tenho hoje às mulheres negras que encontrei ao longo da vida e no meu contexto de trabalho. Elas me ensinaram a ser resiliente e a ocupar os espaços de cabeça erguida”, reconhece.
A professora Francisca Cordélia lamenta que exista racismo justamente no ambiente de ensino. “Os relatos estão colocando isso em evidência. Desde a educação de base até a universidade, o ambiente deveria abrir mentes e contribuir para a formação das pessoas, mas, o que acontece, em certos casos, é o contrário. Revela falta de preparo dos profissionais da educação”, comenta. “O professor de ensino superior tem que entender que a universidade, infelizmente, ainda é um local da elite branca”, afirma.
A melhor aluna, sempre só
Kelly Quirino, 36 anos, jornalista e bancária, conta que passou a vida sofrendo racismo dentro e fora da escola, mas só começou a perceber quando já era adulta. “Eu não sabia que era racismo, mas já me machucava. E os professores não intervinham”, conta. Ao 6 anos, as ofensas raciais na escola eram frequentes e uma das coisas mais marcantes era o coro que faziam da música Nega do cabelo duro, do Luiz Caldas. Tudo isso a levara a um isolamento social. Ela era a única negra na escola pública em que estudava, em São Paulo, e tinha apenas um amigo. “Até hoje, isso me dói”, admite.
Tal situação teve efeito direto na alfabetização de Kelly, que entrou na 1ª série sem saber ler. Não era a única que não estava alfabetizada nem a única negra. Ela, porém, começou a se destacar pela inteligência e passou a ser um pouco mais acolhida. Tornar-se a melhor aluna da turma foi quase um instinto de sobrevivência. “Eu sou uma exceção, porque tive facilidade de aprender. Virei nerd, mas aí ficava isolada. Acredita-se mais no potencial da criança branca. O problema de aprendizado do negro é negligenciado”, opina.
O espaço escolar, para ela, é onde se sofre racismo pela primeira vez. Quase não teve professores negros. Agora, já no doutorado na UnB, conta que um dos desafios da pós-graduação é encontrar professores que estudam a questão racial. “A maioria acha que não é relevante ou nos acusam de estarmos fazendo ativismo e não pesquisa”, conta. Para ela, o espaço educacional é racista, e o sistema de ensino precisa ser repensado, da pré-escola à pós-graduação.
Empoderar para superar
Valdene Rocha, 37 anos, professora de história, sempre estudou em escolas públicas e tem orgulho da Ceilândia, onde passou a maior parte da vida e mora até hoje. Ela saiu das carteiras de sala de aula e chegou ao quadro-negro. A mudança de posição social fez com que carregasse consigo a vontade de fazer diferente. Como professora de história, não chama os africanos obrigados a uma diáspora em direção ao Brasil de “escravo”, mas de “pessoas escravizadas”. Também fala muito sobre movimentos de resistência cultural e política, em especial, os quilombos. “Meus alunos saem sabendo que a África não é só estereótipos. Já eu, fui descobrir que o Egito não era branco muito depois”, conta.
Pelo caminho, Valdene encontra muitos profissionais menos alinhados a essas ideias e até mesmo racistas, que reproduzem discursos discriminatórios. Uma de suas maiores críticas é ao fato de que as escolas se limitam a abordar a história afro-brasileira e africana apenas na Semana da Consciência Negra, em novembro. “Mesmo assim, em muito casos, isso é feito de forma estereotipada”, lamenta. Ela percebe que o racismo faz parte do nosso cotidiano escolar até hoje. Nota que, no Ensino Médio, as escolas “embranquecem”.
Quando criança, foram muitos os casos que presenciou e um dos mais marcantes foi quando tinha 8 anos. Uma outra menina, que se destacava por ter o tom de pele bem preto e ser muito pobre, muitas vezes, ia à escola sem material. A professora lhe arrumava lápis e papel, mas não sem antes lhe dar uma bronca. Um dia, ela se recusou a ceder material para ela e proibiu todos os colegas de emprestarem. A menina chorava.
Quando a professora saiu da sala, Valdene decidiu ajudar a colega. “Nisso, a professora chegou e disse que todos podiam ir embora menos eu. Me levou para a direção e, no caminho, disse que iam fechar a escola e que eu ia ficar lá sozinha. Fiquei lá na direção depois do término da aula até minha mãe chegar, sem nenhum motivo”, relata. A mesma professora obrigou Valdene a trocar de lugar — disse que ela teria de ficar no fundo da sala porque se sentava “com as pernas abertas”.
Anos depois, uma professora de português de quem Valdene gostava muito duvidou que ela fosse autora de um poema, porque estava “bom demais”. “Passei a noite toda escrevendo, descrevendo a noite. Ficou muito bom, me superei. Pensei: tenho que fazer algo muito bom, afinal ela merecia”, relata. A professora lhe deu uma nota baixa. Ela era uma excelente aluna, mas não recebia o devido reconhecimento. “Essas histórias todas serviram para eu decidir o tipo de professora que eu seria”, afirma.
Em sua tentativa de criar consciência nas crianças e adolescentes a quem dá aula, ela montou um salão de beleza com as meninas. “A ideia era trabalhar a autoestima de todas elas, mas, principalmente, das negras. Mostrar a elas que são bonitas e valorizar a estética negra”, conta. Valdene tem certeza de que só de estar ali, em sala de aula, com seu cabelo natural, já empodera as alunas. “O problema é que são poucos professores e professoras negros.”
Professora reclama do cheiro da aluna
No ano passado, nos Estados Unidos, uma mãe recebeu um bilhete assinado pela professora de sua filha: “Eu entendo a necessidade do uso de óleo de coco no cabelo de Amia, mas, por favor, não use tanto assim. As crianças estão reclamando que o cabelo dela fede. Se você tem que usar isso diariamente, por favor, faça-o suavemente, para que as crianças não a provoquem”.
A mãe de Amia, de 6 anos, não ficou nada feliz com o recado e expôs a situação nas redes sociais. A criança supostamente estava sofrendo bullying e, para ela, eram as outras crianças que precisavam mudar o comportamento e receber bilhetes. Além disso, a reclamação tinha forte cunho racista. Posteriormente, a mãe ainda descobriu que as crianças nunca se incomodaram com o cheiro do cabelo da menina. Quem não gostava era a própria professora.
Cabelos lisos para o Natal
Para uma comemoração de Natal, uma professora de uma escola da cidade de São Paulo mandou um comunicado para os familiares das crianças de quatro anos de idade, pedindo que fossem de “cabelos liso e soltos” para a apresentação que aconteceria. O caso ocorreu em dezembro de 2015 e causou revolta nas redes sociais. O bilhete dizia: “Para que a nossa apresentação fique ainda mais bonita, conto com sua colaboração, enviando o seu(sua) filho(a) no dia da nossa apresentação de natal 03/12 com o seguinte penteado”. Uma imagem de uma atriz mirim foi colocada como exemplo. O colégio postou uma nota de esclarecimento, classificando a atitude como “equivocada”.
“Corte ou trance os cabelos dos meninos”
No Rio de Janeiro, a mãe Débora Figueiredo também recebeu um recado racista da professora de seus filhos gêmeos. A mensagem dizia: “Olá! Mamãe Débora, peço-lhe, se possível, aparar ou trançar o cabelinho dos meninos. Eles são lindos, mas eu ficaria mais feliz com os cabelos deles mais baixos ou presos. Beijos, Fran”. Débora resolveu expor a situação nas redes sociais. Depois da repercussão do caso, Débora foi procurada pela diretora, que negou haver racismo no conteúdo do bilhete e disse que a orientação foi dada só porque a escola estava passando por um surto de piolho. Tal fato, porém, não foi explicitado na mensagem da professora.
Em plena Universidade de Brasília
Em 2006, durante uma aula de teoria e política moderna do programa de pós-graduação em ciência política da Universidade de Brasília (UnB), um professor do Instituto de Ciência Política pronunciou a expressão “crioulada”. A palavra foi usada quando ele explicava as políticas assistencialistas implantadas para os negros nos Estados Unidos durante a década de 1960. A observação gerou uma discussão entre o professor e alguns alunos, que decidiram relatar o caso ao reitor da universidade. O docente se defendeu, dizendo que fez o uso da palavra para chamar a turma à reflexão. Uma gravação da aula circulou pela Internet e contém o instante em que ele chama um estudante de “racista negro” e “Ku-Klux-Klan às avessas”. O referido professor foi condenado administrativamente a 30 dias de suspensão, mas a pena foi convertida no pagamento de multa de 50% do seu salário.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 24/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/camara-municipal-concede-medalha-de-merito-legislativo/
Título: Câmara Municipal concede medalha de Mérito Legislativo
Dezenove personalidades e uma empresa recebem, na noite da próxima quinta-feira (27), a medalha do Mérito Legislativo de Juiz de Fora, maior honraria da Câmara Municipal, criada através da Resolução nº 1138, de 26 de março de 2001. A solenidade, que faz parte das comemorações dos 164 anos da Casa, tem início às 19h30, no plenário do Legislativo.
A Medalha enaltece pessoas físicas ou jurídicas que, por relevantes serviços prestados em suas áreas de atuação, tenham merecido especial reconhecimento do Poder Legislativo. A honraria foi criada pelo professor Newton Barbosa de Castro, heraldista e ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora. Confira a lista dos homenageados:
1 – Anderson Abrantes Lamas – Indústria
Atualmente é responsável pela parte comercial e de produção da fábrica de malhas Magic, fundada por seus pais em 1978
2 – Antônio Carlos Duarte – Cultura
Atual diretor do Museu Mariano Procópio, onde já atuou como gestor entre 1997 e 2004
3 – Alexandre Nocelli – Segurança Pública
Comandante da 4ª Região de Polícia Militar
4 – Célia Barbosa Rodrigues – Filantropia e Assistência Social
Atualmente, exerce as funções de administradora e diretora da Creche Comunitária Antônio e Maria Geny Barbosa, fundada por seus pais no Bairro Santa Cruz
5 – Euler de Carvalho Duarte Filho – Transporte
Nascido em Belo Horizonte, graduado em Administração pela Universidade Católica de Minas, destacou-se no ramo do transporte coletivo, ajudando a estruturar o Grupo Duarte
6 – Érica Salazar – Comunicação
Érica Salazar se destaca no cenário do telejornalismo da Zona da Mata
7 – Gilberto Alves – Esporte
É funcionário da Imbel há 30 anos. Há 20, faz parte da diretoria da Associação Beneficente Cultural e Recreativa (ABCR) onde apoia várias práticas esportivas
8 – Ilma de Castro Barros e Salgado – Educação
Ilma de Castro graduou-se em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora e em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior. Pós-graduada em Inglês pela UFMG, mestre pelo CES e doutora pela UERJ
9 – Ione Maria Moreira Dias Barbosa – Mérito Excepcional
Delegada de Trânsito da 7ª Delegacia Regional de Juiz de Fora, Ione é formada em Direito, pós-graduada em Direito Subjetivo, mestranda em Ciências Sociais pela UFJF. Nesta instituição, desenvolve pesquisas sobre o fenômeno da violência contra as mulheres e o papel da Lei Maria da Penha na defesa e proteção dos direitos fundamentais das mulheres
10 – Kênia Juliane Demerval – Meio Ambiente
Dentista e ambientalista
11 – Luciano da Silva Fontainha – Direitos Humanos
Luciano Fontainha é capitão da Polícia Militar de Minas Gerais
12 – Odilon de Rezende Barbosa Filho – Agropecuária
Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal Rural e produtor rural desde 1984
13 – Patrus Ananias de Souza – Política
Advogado, especializado em Poder Legislativo, e mestre em Direito Processual. Foi vereador e prefeito da cidade de Belo Horizonte. Em 2004, foi Ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, responsável pela implementação do projeto Bolsa Família
14 – Paulo Tristão Machado Júnior – Justiça
Formado em direito pela UFJF no ano de 1989, em 1991 ingressou no Ministério Público do Estado de Minas Gerais, onde atuou como Promotor de Justiça. Iniciou sua carreira na Magistratura no ano de 1993, como Juiz de Direito no Estado de Minas Gerais
15 – Paulo Sérgio Duque Delgado – Mérito Excepcional
Empreendedor de sucesso de terraplanagem e comércio de materiais de construção. Exerceu as atividades de cobrador de ônibus, caminhoneiro e empreiteiro de obras
16 – Ricardo Campello da Conceição – Saúde
Formado em Medicina pela Fundação Educacional Serra dos Órgãos, de Teresópolis, Ricardo Campello é diretor/fundador de importantes instituições de Juiz de Fora: a Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (Suprema), o Hospital Monte Sinai e o Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus
17 – Rafael Gomes de Oliveira – Mérito Excepcional
Rafael Gomes é delegado da Policia Civil de Minas Gerais desde 2003
18 – Sebastião Gonçalves Barbosa – Mérito Excepcional
Sebastião Gonçalves ingressou na PMMG no ano de 1942, na graduação de soldado, e passou para o quadro de reserva da PMMG promovido a 1° Sargento
19 – TCR Diagnóstico por Imagem – Comércio e Serviços
A TCR é uma empresa do ramo radiológico, criada no ano de 1994, pioneira em Juiz de Fora
20 – William Cleber Domingues Silva – Turismo
William é formado em Turismo pela Fundação Educacional São José. Especialista em Administração Hoteleira pela UFJF/Senac. Mestre em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro Universitário UNA, de Belo Horizonte Publicidade
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Veículo: Jornal WebDigital
Editoria: Últimas
Data: 24/04/2017
Link: http://jornalwebdigital.blogspot.com.br/2017/04/centro-de-inovacao-prorroga-inscricoes.html
Título: Centro de inovação prorroga inscrições para o programa Summer Job
O CESAR, centro de inovação sediado em Recife, está com processo seletivo aberto para uma nova turma do programa Summer Job, que tem como objetivo desenvolver jovens talentos, além de proporcionar aos estudantes uma vivência prática e real dentro de um dos principais institutos de tecnologia do país. As inscrições ficarão abertas até o dia 30 de abril e o programa tem como foco estudantes dos cursos de graduação em Ciência da Computação, Engenharia, Administração, Economia, Design e afins. São requisitos inglês fluente e que estejam cursando a partir do 4° período.
“O Summer Job é ideal para os estudantes que desejam se aprimorar profissionalmente e ter uma vivência real de mercado. Durante todo o programa, os participantes serão envolvidos em projetos no CESAR, junto com uma equipe técnica altamente qualificada”, explicou Eduardo Peixoto, Executivo Chefe de Negócios do CESAR. “Um dos grandes diferenciais é que temos no programa empresas patrocinadoras que trarão diversos desafios nos quais os estudantes deverão trabalhar, bem como direcionamentos reais de mercado”, reforçou Peixoto. Além disso, para esta edição, o CESAR irá criar um grupo misto com estudantes estrangeiros e brasileiros, o que favorece o compartilhamento de conhecimento e troca de experiências.
O executivo também reforçou que as vantagens do programa vão além da capacitação dos estudantes. “As empresas patrocinadoras do Summer Job também se beneficiam, já que os protótipos gerados durante as atividades poderão ser implementados e virarem produtos inovadores”, explicou.
O curso será ministrado em inglês, por isso a fluência na língua é imprescindível. O programa oferece uma ajuda de custo no valor de R$ 2.000,00. Desde o ano de 2010 o CESAR vem realizando edições do Summer Job, que já contaram com a participação de alunos do ITA, UFPE, Insper (SP), USP (SP), PUC-Rio (RJ), UEA (AM), UFJF (MG), UPE, Universidade Católica de Pernambuco e UFPB, entre outras. Algumas das empresas patrocinadoras das últimas edições foram: Deca, Gerdau, Verify Brasil, Motorola, Sky e Insper.
Para inscrição e mais informações, acesse: http://summerjob.cesar.org.br
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 24/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/greve-geral-ganha-adesao-de-motoristas-e-cobradores/
Título: Greve geral ganha adesão de motoristas e cobradores
Representantes das entidades que integram o Fórum Sindical e Popular de Juiz de Fora se reuniram no fim da tarde desta segunda-feira (24) para deliberarem sobre ato agendado para a próxima sextafeira, 28 de abril, na mobilização chamada de greve geral. A manifestação está marcada para às 9h da manhã na Praça da Estação, no Centro, e reforçará o posicionamento de várias categorias contrário aos projetos de reformas da Previdência e trabalhista propostos pelo Governo do presidente Michel Temer (PMDB). As paralisações devem afetar diversos setores, com o comprometimento do funcionamento de escolas, órgãos públicos, agências bancárias, indústrias e do transporte coletivo urbano da cidade, uma vez que o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte e Trânsito (Sinttro) confirmou à reportagem que está convocando a categoria a cruzar os braços entre a meia-noite de quinta-feira e 10h de sexta. Segundo o presidente do Sinttro, Vagner Evangelista, não foi deliberada a manutenção de um percentual mínimo durante o período em que a categoria pode paralisar as atividades. “Vamos parar a partir de meia-noite e retomar as atividades pela manhã. A adesão foi definida em assembleia na semana passada, e já estamos conversando com a categoria.” Além da representação dos rodoviários, outras categorias já confirmaram participação na greve geral, segundo representantes do Fórum Sindical e Popular.
As aulas em todas as esferas devem ser comprometidas. Isto porque os sindicatos que representam a rede privada e a rede municipal (Sindicato dos Professores – Sinpro); estadual
(Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação – SindUTE) e federal (Associação dos Professores de Ensino Superior – Apes) já confirmaram adesão à paralisação. Aliás, no caso das instituições federais de ensino, também devem cruzar os braços os técnico administrativos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o que pode afetar UFJF serviços como biblioteca e transporte coletivo internos.
Na esfera municipal, também cruzam os braços as diversas categorias do funcionalismo público representadas pelo Sindicato dos Servidores Públicos de Juiz de Fora (Sinserpu). Assim, vários serviços da Administração poderão ser afetados, incluindo o funcionamento de creches, unidades de saúde e atividades como pavimentação e obras. Como ocorrido em outras mobilizações, deverão ser respeitadas exigências legais, como, por exemplo, manutenção de percentual mínimo de 30% dos servidores em unidades de urgência e emergência. De acordo com o presidente do Sinserpu, Amarildo Romanazzi, a expectativa do Fórum Sindical é de aumentar a participação de manifestantes no ato da próxima sexta-feira em relação a manifestações similares que teriam reunido cerca de 20 mil pessoas em cada um dos atos realizados nos últimos dias 15 e 31 de março.
Outras categorias do setor privado também podem engrossar o movimento. O Sindicato dos
Metalúrgicos de Juiz de Fora e Região deve fazer encontros com os diversos núcleos que integram a categoria para mobilizar os profissionais. O mesmo acontece com os bancários. No ato passado, do último dia 31, o Sindicato do Bancários Zona da Mata e Sul de Minas (Sintraf/JF) estimou que a paralisação poderia atingir mais de 40 estabelecimentos e 700 trabalhadores, previsão que se repete para a próxima sexta feira. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicação Postal, Telegráfica e Similares de Juiz de Fora e Região (Sintect/JFA), os profissionais dos Correios, também confirmou participação no movimento.
Uma plenária, na quarta-feira, deve acertar os últimos detalhes da mobilização. Há expectativa de que os manifestantes voltem a caminhar pelas ruas centrais de Juiz de Fora, como ocorreu nos dois atos do mês passado. Até lá, os trabalhos de mobilização serão constantes. Entre eles, devem ser mantidas ações como panfletagens, que têm sido realizadas em vários pontos da cidade há alguns dias.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 24/04/2017
Título: Ciclista de 16 anos morre atropelado por ônibus no trevo do Jardim Glória
Um adolescente de 16 anos, morador do Bairro Vila Ideal, morreu em um acidente, por volta de 16h30 desta segunda-feira (24), na rotatória do Bairro Jardim Glória. Segundo a Polícia Militar, Jorge Gabriel Ribeiro da Silva descia de bicicleta a Estrada Engenheiro Gentil Forn quando foi atingido pela roda traseira do ônibus da linha 539, do Bairro Santos Dumont, que seguia sentido Centro. Ele morreu na hora. O motorista do coletivo alegou que o jovem seguia atrás do veículo, não sendo possível enxergá-lo.
Jorge Gabriel estava acompanhado de mais três amigos, com idades entre 13 e 15 anos. Um deles informou aos policiais que a bicicleta da vítima estaria sem freio na roda de trás. A perícia compareceu ao local, e o corpo foi removido para o IML.
A rotatória do Jardim Glória permaneceu interditada por quase três horas, causando lentidão no trânsito. O congestionamento na Rua João Pinheiro comprometeu a Avenida dos Andradas, Barão de Cataguases, chegando até o Mergulhão da Avenida Rio Branco. Veículos também encontraram dificuldades para transitar pelos bairros Santa Helena, Santa Catarina e Morro da Glória, além da Cidade Alta. Estudantes da UFJF relataram espera de até uma hora e meia nos pontos de ônibus do Campus.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Arte e vida
Data: 24/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/central-divulga-lista-final-das-ocupacoes-em-2017/
Título: Central divulga lista final das ocupações em 2017
Vinte e nove projetos foram selecionados, de forma definitiva, para ocuparem o Cine-Theatro Central no período entre 15 de maio e 31 de outubro deste ano. O resultado final do Edital 2017 de Ocupação Artística foi divulgado na última sexta (21) pela UFJF. Confira aqui a lista das atrações. Ao todo, 39 projetos se inscreveram para os 30 agendamentos possíveis no período, dentre eles, 29 foram selecionados e três classificados como suplentes. A suplência é destinada a propostas que pleitearam datas coincidentes com outras, mas que obtiveram nota menor que a selecionada. Em caso de desistência ou impedimento, o suplente ocupará a data. Na primeira fase de seleção, houve oito indeferimentos, desses, quatro recursos foram apresentados e três foram acatados.
Segundo a UFJF, todos os projetos inscritos foram avaliados pelo Conselho Diretor do Cine-Theatro Central, que utilizou como meio de seleção quatro critérios: mérito (originalidade, criatividade e inovação nos conceitos e/ou execução); exequibilidade; relevância cultural (reconhecimento de valores culturais importantes advindos da proposta); e diversidade (abrangência de áreas diversas no projeto). Desde a última sexta, o Cine-Theatro
Central está com as inscrições abertas para a demanda espontânea para as vagas remanescentes na agenda do teatro para o mesmo período. As vagas que não foram preenchidas na chamada pública passaram automaticamente para a demanda espontânea, somando agora 26 datas reservadas para produtores que solicitarem a ocupação do teatro, desde que com antecedência mínima de 30 dias do evento.
Os interessados devem ir pessoalmente ao escritório do Cine-Theatro Central ou enviar as propostas via Sedex, juntamente com cópia de um documento de identidade do responsável pela proposta; cópia do comprovante de residência; e declaração que ateste a representação do artista/grupo/instituição principal envolvido na proposta e que o artista/grupo/instituição está ciente da data sugerida para o evento. Em breve, o Central vai divulgar o edital de ocupação de 15 vagas para o projeto Luz da Terra.
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Veículo: TV Globo
Editoria: Programa Bem-Estar
Data: 24/04/2017
Link: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/infartei-aos-30-anos-e-larguei-tudo-para-ser-medico.ghtml
Título: ‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
Naquela manhã de sábado, em dezembro de 2012, João Paulo Mauler acordou com uma dor que nunca havia sentido. Relembrando o episódio que mudaria sua vida, ele leva as mãos ao centro do peito, como a “esmagar” algo.
“Era um aperto muito forte, uma dor que foi se agravando. No hospital, o médico do plantão queria me liberar, dizendo que era algo à toa, que ninguém na minha idade tinha ‘essas coisas'”, recorda o estudante de 36 anos, de Juiz de Fora (MG).
João só fez todos os exames porque a mãe insistiu com a equipe médica, citando o histórico de problemas cardíacos do pai do estudante.
“Saí do exame e soube o que acontecera comigo da pior forma possível. Estava no CTI e chegou um médico com uma turma de alunos de Medicina. Ele viu a papelada na minha cama, disse ‘esse aí infartou’ e saiu andando. Fiquei desesperado.”
Ou seja, João, à época com 30 anos, teve, sim, “essas coisas”: um infarto, mesmo sem se enquadrar em fatores de risco como tabagismo e pressão alta. Três artérias estavam entupidas.
Passado o susto do diagnóstico, o estudante fez uma cirurgia para desobstruir o coração e teve uma recuperação tranquila. Mas algo tinha mudado.
À época do infarto, João tinha diploma de Comunicação Social e atuava em um cargo administrativo numa fundação do Estado.
“Não estava infeliz, mas também não estava realizado. Não tinha coragem de abandonar o trabalho e nem sabia o que seguir. Mas fui sentindo um senso de urgência e de não esperar para realizar meus sonhos e objetivos.”
‘Por que não?’
Ao final do tratamento, após ter lido muito e questionado os médicos sobre cada etapa, ele confessou à irmã: “Tenho a maior vontade de fazer Medicina”.
E ouviu: “Por que não faz?”. Era o estímulo que precisava.
“Por um lado pensava que estava velho para outra graduação, mas o que passei me dizia que devia sair da zona de conforto. Não fiquei mais deixando a vida acontecer.”
Dito e feito. Em 2013, João começou a conciliar o trabalho com o pré-vestibular – decidiu que faria Medicina. E passou em primeiro lugar para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Nunca imaginei que ficaria em primeiro. Acho que foi porque estava mais tranquilo. Ter passado pelo infarto me tornou uma pessoa mais leve, menos estressada”, avalia ele, que deverá se formar em 2020.
Visão crítica
O estudante diz que sua experiência como paciente também pesou na decisão de ser médico.
“Fui influenciado pelos bons e maus exemplos, dos médicos imprudentes que revelaram meu diagnóstico e fizeram ‘vista grossa’ (ao infarto) a profissionais impecáveis no tratamento”, afirma.
Hoje em dia, o universitário diz defender um exercício mais sensível e humano da profissão.
“Já chamei a atenção de professor que discute caso bem na frente do paciente. Sempre digo: ‘Vamos lá fora, para um canto’. Ainda há ainda muita negligência e frieza, de tratar o paciente como uma estatística, um boneco.”
Comum ou não?
O infarto é a principal causa de mortes no Brasil, com cerca de 100 mil óbitos por ano, segundo a base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em jovens, a incidência é mais comum do que se imagina, afirma Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (Hcor) de São Paulo.
Em 2014, segundo a base de dados do SUS, 2.546 pessoas de 20 a 39 anos morreram de infarto no Brasil – 2,9% do total de mortes por essa causa.
Como principais fatores de risco, independentemente da idade, o cardiologista do Hcor cita hipertensão, sedentarismo, histórico familiar, estresse, uso de drogas e tabagismo.
E, de fato, afirma Piegas, o infarto em jovens adultos tende a ser mais agressivo.
“Quanto mais vive, mais a pessoa desenvolve sua circulação lateral. Então se uma artéria de um idoso ‘entope’, o sangue tem outras vias por onde circular, e o infarto tende a ser mais ameno ou nem acontecer. Os jovens ainda não desenvolveram este tipo de circulação, por isso os infartos tendem a ser mais agressivos e, muitas vezes, fatais.”
Quando o foco são pessoas com menos de 40 anos, há diferenças de risco entre homens e mulheres, diz o especialista.
“A mulher tem a proteção hormonal do estrogênio, que confere certa proteção às coronárias, dificultando entupimentos. Depois da menopausa, as chances são praticamente iguais de se enquadrar em grupos de risco.”
Precisão e rapidez
Quanto mais cedo e mais preciso for o diagnóstico do infarto, maior a chance de sobrevida e recuperação, sobretudo em jovens.
No caso do analista ambiental Fabiano Augusto dos Santos, de 31 anos, que estava no trabalho quando uma dor forte no ombro se espalhou ao braço esquerdo, a atuação da equipe hospitalar foi fundamental.
“Uma checagem de pressão no ambulatório da empresa não deu nada. No táxi para casa, piorei tanto que pedi para ir ao pronto-socorro. Chegando lá nem ficava em pé. Logo um enfermeiro me socorreu e fiz exames que apontaram obstrução”, conta Fabiano, que tinha 28 anos na ocasião e vive em Botucatu (SP).
A estudante Olivia Lauar, de 34 anos, de Belo Horizonte (MG), teve que insistir até obter um diagnóstico correto – e o tratamento adequado.
Ela sofreu um infarto no ano passado, e procurou um hospital após sentir cansaço extremo e dores muito intensas no braço, cabeça, pescoço e peito.
“Já vinha sentindo tudo isso – e negligenciando – havia mais de um ano, mas naquele dia foi muito forte. No hospital, deram-me remédio para cefaleia. Voltei para casa e a dor ficou insuportável”, afirma.
“Joguei os sintomas no Google e vi que poderia estar infartando. Voltei ao hospital e disse que só sairia após todos os exames – e um eletrocardiograma indicou o infarto”, diz ela, que colocou um stent coronário e hoje toma cinco remédios para controle.
Mudança de hábitos
Para Suzanne Steinbaum, cardiologista da Associação Americana do Coração, a principal maneira de evitar um infarto, independentemente da idade, é mudando hábitos e estilo de vida.
“Em 80% de todos os casos, mesmo com histórico familiar, é possível evitá-lo com atividades físicas, mudanças na alimentação e controle do estresse. Fazendo isso, mesmo os fatores de risco são controláveis”, afirma.
No caso de Olivia Lauar, largar o cigarro imediatamente foi a mudança mais significativa.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria começado a fumar. Passei por uma fase muito ruim, depressiva, tranquei a faculdade, não saía de casa, tinha muito medo de infartar de novo. Hoje estou muito melhor”, diz.
Já Fabiano Augusto se transformou ao cuidar mais da saúde mental.
“Eu era muito estressado, impaciente e preocupado. Os médicos acreditam que isso tenha influenciado. Hoje faço terapia e levo uma vida bem mais leve.”
Além da futura nova profissão, João Paulo Mauler levou da experiência um novo olhar sobre a vida.
“Talvez em outra época não tivesse a serenidade de saber que a vida pode mudar do nada. Em um dia estava malhando, em outro infartei. Apesar de isso ter me dado mais urgência em realizar as coisas, também me deu maturidade, saber que uma prova ou um problema não são o fim do mundo. E acho essa leveza essencial a um médico.”
— —
Veículo: BBC Brasil
Editoria: Saúde
Data: 24/04/2017
Link: http://www.bbc.com/portuguese/geral-39635654
Título: ‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
Naquela manhã de sábado, em dezembro de 2012, João Paulo Mauler acordou com uma dor que nunca havia sentido. Relembrando o episódio que mudaria sua vida, ele leva as mãos ao centro do peito, como a “esmagar” algo.
“Era um aperto muito forte, uma dor que foi se agravando. No hospital, o médico do plantão queria me liberar, dizendo que era algo à toa, que ninguém na minha idade tinha ‘essas coisas'”, recorda o estudante de 36 anos, de Juiz de Fora (MG).
João só fez todos os exames porque a mãe insistiu com a equipe médica, citando o histórico de problemas cardíacos do pai do estudante.
“Saí do exame e soube o que acontecera comigo da pior forma possível. Estava no CTI e chegou um médico com uma turma de alunos de Medicina. Ele viu a papelada na minha cama, disse ‘esse aí infartou’ e saiu andando. Fiquei desesperado.”
Ou seja, João, à época com 30 anos, teve, sim, “essas coisas”: um infarto, mesmo sem se enquadrar em fatores de risco como tabagismo e pressão alta. Três artérias estavam entupidas.
Passado o susto do diagnóstico, o estudante fez uma cirurgia para desobstruir o coração e teve uma recuperação tranquila. Mas algo tinha mudado.
À época do infarto, João tinha diploma de Comunicação Social e atuava em um cargo administrativo numa fundação do Estado.
“Não estava infeliz, mas também não estava realizado. Não tinha coragem de abandonar o trabalho e nem sabia o que seguir. Mas fui sentindo um senso de urgência e de não esperar para realizar meus sonhos e objetivos.”
‘Por que não?’
Ao final do tratamento, após ter lido muito e questionado os médicos sobre cada etapa, ele confessou à irmã: “Tenho a maior vontade de fazer Medicina”.
E ouviu: “Por que não faz?”. Era o estímulo que precisava.
“Por um lado pensava que estava velho para outra graduação, mas o que passei me dizia que devia sair da zona de conforto. Não fiquei mais deixando a vida acontecer.”
Dito e feito. Em 2013, João começou a conciliar o trabalho com o pré-vestibular – decidiu que faria Medicina. E passou em primeiro lugar para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Nunca imaginei que ficaria em primeiro. Acho que foi porque estava mais tranquilo. Ter passado pelo infarto me tornou uma pessoa mais leve, menos estressada”, avalia ele, que deverá se formar em 2020.
Visão crítica
O estudante diz que sua experiência como paciente também pesou na decisão de ser médico.
“Fui influenciado pelos bons e maus exemplos, dos médicos imprudentes que revelaram meu diagnóstico e fizeram ‘vista grossa’ (ao infarto) a profissionais impecáveis no tratamento”, afirma.
Hoje em dia, o universitário diz defender um exercício mais sensível e humano da profissão.
“Já chamei a atenção de professor que discute caso bem na frente do paciente. Sempre digo: ‘Vamos lá fora, para um canto’. Ainda há ainda muita negligência e frieza, de tratar o paciente como uma estatística, um boneco.”
Comum ou não?
O infarto é a principal causa de mortes no Brasil, com cerca de 100 mil óbitos por ano, segundo a base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em jovens, a incidência é mais comum do que se imagina, afirma Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (Hcor) de São Paulo.
Em 2014, segundo a base de dados do SUS, 2.546 pessoas de 20 a 39 anos morreram de infarto no Brasil – 2,9% do total de mortes por essa causa.
Como principais fatores de risco, independentemente da idade, o cardiologista do Hcor cita hipertensão, sedentarismo, histórico familiar, estresse, uso de drogas e tabagismo.
E, de fato, afirma Piegas, o infarto em jovens adultos tende a ser mais agressivo.
“Quanto mais vive, mais a pessoa desenvolve sua circulação lateral. Então se uma artéria de um idoso ‘entope’, o sangue tem outras vias por onde circular, e o infarto tende a ser mais ameno ou nem acontecer. Os jovens ainda não desenvolveram este tipo de circulação, por isso os infartos tendem a ser mais agressivos e, muitas vezes, fatais.”
Quando o foco são pessoas com menos de 40 anos, há diferenças de risco entre homens e mulheres, diz o especialista.
“A mulher tem a proteção hormonal do estrogênio, que confere certa proteção às coronárias, dificultando entupimentos. Depois da menopausa, as chances são praticamente iguais de se enquadrar em grupos de risco.”
Precisão e rapidez
Quanto mais cedo e mais preciso for o diagnóstico do infarto, maior a chance de sobrevida e recuperação, sobretudo em jovens.
No caso do analista ambiental Fabiano Augusto dos Santos, de 31 anos, que estava no trabalho quando uma dor forte no ombro se espalhou ao braço esquerdo, a atuação da equipe hospitalar foi fundamental.
“Uma checagem de pressão no ambulatório da empresa não deu nada. No táxi para casa, piorei tanto que pedi para ir ao pronto-socorro. Chegando lá nem ficava em pé. Logo um enfermeiro me socorreu e fiz exames que apontaram obstrução”, conta Fabiano, que tinha 28 anos na ocasião e vive em Botucatu (SP).
A estudante Olivia Lauar, de 34 anos, de Belo Horizonte (MG), teve que insistir até obter um diagnóstico correto – e o tratamento adequado.
Ela sofreu um infarto no ano passado, e procurou um hospital após sentir cansaço extremo e dores muito intensas no braço, cabeça, pescoço e peito.
“Já vinha sentindo tudo isso – e negligenciando – havia mais de um ano, mas naquele dia foi muito forte. No hospital, deram-me remédio para cefaleia. Voltei para casa e a dor ficou insuportável”, afirma.
“Joguei os sintomas no Google e vi que poderia estar infartando. Voltei ao hospital e disse que só sairia após todos os exames – e um eletrocardiograma indicou o infarto”, diz ela, que colocou um stent coronário e hoje toma cinco remédios para controle.
Mudança de hábitos
Para Suzanne Steinbaum, cardiologista da Associação Americana do Coração, a principal maneira de evitar um infarto, independentemente da idade, é mudando hábitos e estilo de vida.
“Em 80% de todos os casos, mesmo com histórico familiar, é possível evitá-lo com atividades físicas, mudanças na alimentação e controle do estresse. Fazendo isso, mesmo os fatores de risco são controláveis”, afirma.
No caso de Olivia Lauar, largar o cigarro imediatamente foi a mudança mais significativa.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria começado a fumar. Passei por uma fase muito ruim, depressiva, tranquei a faculdade, não saía de casa, tinha muito medo de infartar de novo. Hoje estou muito melhor”, diz.
Já Fabiano Augusto se transformou ao cuidar mais da saúde mental.
“Eu era muito estressado, impaciente e preocupado. Os médicos acreditam que isso tenha influenciado. Hoje faço terapia e levo uma vida bem mais leve.”
Além da futura nova profissão, João Paulo Mauler levou da experiência um novo olhar sobre a vida.
“Talvez em outra época não tivesse a serenidade de saber que a vida pode mudar do nada. Em um dia estava malhando, em outro infartei. Apesar de isso ter me dado mais urgência em realizar as coisas, também me deu maturidade, saber que uma prova ou um problema não são o fim do mundo. E acho essa leveza essencial a um médico.”
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Veículo: Portal Terra
Editoria: Brasil
Data: 24/04/2017
Título: ‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
Naquela manhã de sábado, em dezembro de 2012, João Paulo Mauler acordou com uma dor que nunca havia sentido. Relembrando o episódio que mudaria sua vida, ele leva as mãos ao centro do peito, como a “esmagar” algo.
“Era um aperto muito forte, uma dor que foi se agravando. No hospital, o médico do plantão queria me liberar, dizendo que era algo à toa, que ninguém na minha idade tinha ‘essas coisas'”, recorda o estudante de 36 anos, de Juiz de Fora (MG).
João só fez todos os exames porque a mãe insistiu com a equipe médica, citando o histórico de problemas cardíacos do pai do estudante.
“Saí do exame e soube o que acontecera comigo da pior forma possível. Estava no CTI e chegou um médico com uma turma de alunos de Medicina. Ele viu a papelada na minha cama, disse ‘esse aí infartou’ e saiu andando. Fiquei desesperado.”
Ou seja, João, à época com 30 anos, teve, sim, “essas coisas”: um infarto, mesmo sem se enquadrar em fatores de risco como tabagismo e pressão alta. Três artérias estavam entupidas.
Passado o susto do diagnóstico, o estudante fez uma cirurgia para desobstruir o coração e teve uma recuperação tranquila. Mas algo tinha mudado.
À época do infarto, João tinha diploma de Comunicação Social e atuava em um cargo administrativo numa fundação do Estado.
“Não estava infeliz, mas também não estava realizado. Não tinha coragem de abandonar o trabalho e nem sabia o que seguir. Mas fui sentindo um senso de urgência e de não esperar para realizar meus sonhos e objetivos.”
‘Por que não?’
Ao final do tratamento, após ter lido muito e questionado os médicos sobre cada etapa, ele confessou à irmã: “Tenho a maior vontade de fazer Medicina”.
E ouviu: “Por que não faz?”. Era o estímulo que precisava.
“Por um lado pensava que estava velho para outra graduação, mas o que passei me dizia que devia sair da zona de conforto. Não fiquei mais deixando a vida acontecer.”
Dito e feito. Em 2013, João começou a conciliar o trabalho com o pré-vestibular – decidiu que faria Medicina. E passou em primeiro lugar para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Nunca imaginei que ficaria em primeiro. Acho que foi porque estava mais tranquilo. Ter passado pelo infarto me tornou uma pessoa mais leve, menos estressada”, avalia ele, que deverá se formar em 2020.
Visão crítica
O estudante diz que sua experiência como paciente também pesou na decisão de ser médico.
“Fui influenciado pelos bons e maus exemplos, dos médicos imprudentes que revelaram meu diagnóstico e fizeram ‘vista grossa’ (ao infarto) a profissionais impecáveis no tratamento”, afirma.
Hoje em dia, o universitário diz defender um exercício mais sensível e humano da profissão.
“Já chamei a atenção de professor que discute caso bem na frente do paciente. Sempre digo: ‘Vamos lá fora, para um canto’. Ainda há ainda muita negligência e frieza, de tratar o paciente como uma estatística, um boneco.”
Comum ou não?
O infarto é a principal causa de mortes no Brasil, com cerca de 100 mil óbitos por ano, segundo a base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em jovens, a incidência é mais comum do que se imagina, afirma Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (Hcor) de São Paulo.
Em 2014, segundo a base de dados do SUS, 2.546 pessoas de 20 a 39 anos morreram de infarto no Brasil – 2,9% do total de mortes por essa causa.
Como principais fatores de risco, independentemente da idade, o cardiologista do Hcor cita hipertensão, sedentarismo, histórico familiar, estresse, uso de drogas e tabagismo.
E, de fato, afirma Piegas, o infarto em jovens adultos tende a ser mais agressivo.
“Quanto mais vive, mais a pessoa desenvolve sua circulação lateral. Então se uma artéria de um idoso ‘entope’, o sangue tem outras vias por onde circular, e o infarto tende a ser mais ameno ou nem acontecer. Os jovens ainda não desenvolveram este tipo de circulação, por isso os infartos tendem a ser mais agressivos e, muitas vezes, fatais.”
Quando o foco são pessoas com menos de 40 anos, há diferenças de risco entre homens e mulheres, diz o especialista.
“A mulher tem a proteção hormonal do estrogênio, que confere certa proteção às coronárias, dificultando entupimentos. Depois da menopausa, as chances são praticamente iguais de se enquadrar em grupos de risco.”
Precisão e rapidez
Quanto mais cedo e mais preciso for o diagnóstico do infarto, maior a chance de sobrevida e recuperação, sobretudo em jovens.
No caso do analista ambiental Fabiano Augusto dos Santos, de 31 anos, que estava no trabalho quando uma dor forte no ombro se espalhou ao braço esquerdo, a atuação da equipe hospitalar foi fundamental.
“Uma checagem de pressão no ambulatório da empresa não deu nada. No táxi para casa, piorei tanto que pedi para ir ao pronto-socorro. Chegando lá nem ficava em pé. Logo um enfermeiro me socorreu e fiz exames que apontaram obstrução”, conta Fabiano, que tinha 28 anos na ocasião e vive em Botucatu (SP).
A estudante Olivia Lauar, de 34 anos, de Belo Horizonte (MG), teve que insistir até obter um diagnóstico correto – e o tratamento adequado.
Ela sofreu um infarto no ano passado, e procurou um hospital após sentir cansaço extremo e dores muito intensas no braço, cabeça, pescoço e peito.
“Já vinha sentindo tudo isso – e negligenciando – havia mais de um ano, mas naquele dia foi muito forte. No hospital, deram-me remédio para cefaleia. Voltei para casa e a dor ficou insuportável”, afirma.
“Joguei os sintomas no Google e vi que poderia estar infartando. Voltei ao hospital e disse que só sairia após todos os exames – e um eletrocardiograma indicou o infarto”, diz ela, que colocou um stent coronário e hoje toma cinco remédios para controle.
Mudança de hábitos
Para Suzanne Steinbaum, cardiologista da Associação Americana do Coração, a principal maneira de evitar um infarto, independentemente da idade, é mudando hábitos e estilo de vida.
“Em 80% de todos os casos, mesmo com histórico familiar, é possível evitá-lo com atividades físicas, mudanças na alimentação e controle do estresse. Fazendo isso, mesmo os fatores de risco são controláveis”, afirma.
No caso de Olivia Lauar, largar o cigarro imediatamente foi a mudança mais significativa.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria começado a fumar. Passei por uma fase muito ruim, depressiva, tranquei a faculdade, não saía de casa, tinha muito medo de infartar de novo. Hoje estou muito melhor”, diz.
Já Fabiano Augusto se transformou ao cuidar mais da saúde mental.
“Eu era muito estressado, impaciente e preocupado. Os médicos acreditam que isso tenha influenciado. Hoje faço terapia e levo uma vida bem mais leve.”
Além da futura nova profissão, João Paulo Mauler levou da experiência um novo olhar sobre a vida.
“Talvez em outra época não tivesse a serenidade de saber que a vida pode mudar do nada. Em um dia estava malhando, em outro infartei. Apesar de isso ter me dado mais urgência em realizar as coisas, também me deu maturidade, saber que uma prova ou um problema não são o fim do mundo. E acho essa leveza essencial a um médico.”
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Veículo: Portal AZ
Editoria: Saúde
Data: 24/04/2017
Link: https://www.portalaz.com.br/noticia/saude/394545/infartei-aos-30-anos-e-larguei-tudo-para-ser-medico
Título: ‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
Naquela manhã de sábado, em dezembro de 2012, João Paulo Mauler acordou com uma dor que nunca havia sentido. Relembrando o episódio que mudaria sua vida, ele leva as mãos ao centro do peito, como a “esmagar” algo.
“Era um aperto muito forte, uma dor que foi se agravando. No hospital, o médico do plantão queria me liberar, dizendo que era algo à toa, que ninguém na minha idade tinha ‘essas coisas'”, recorda o estudante de 36 anos, de Juiz de Fora (MG).
João só fez todos os exames porque a mãe insistiu com a equipe médica, citando o histórico de problemas cardíacos do pai do estudante.
“Saí do exame e soube o que acontecera comigo da pior forma possível. Estava no CTI e chegou um médico com uma turma de alunos de Medicina. Ele viu a papelada na minha cama, disse ‘esse aí infartou’ e saiu andando. Fiquei desesperado.”
Ou seja, João, à época com 30 anos, teve, sim, “essas coisas”: um infarto, mesmo sem se enquadrar em fatores de risco como tabagismo e pressão alta. Três artérias estavam entupidas.
Passado o susto do diagnóstico, o estudante fez uma cirurgia para desobstruir o coração e teve uma recuperação tranquila. Mas algo tinha mudado.
À época do infarto, João tinha diploma de Comunicação Social e atuava em um cargo administrativo numa fundação do Estado.
“Não estava infeliz, mas também não estava realizado. Não tinha coragem de abandonar o trabalho e nem sabia o que seguir. Mas fui sentindo um senso de urgência e de não esperar para realizar meus sonhos e objetivos.”
‘Por que não?’
Ao final do tratamento, após ter lido muito e questionado os médicos sobre cada etapa, ele confessou à irmã: “Tenho a maior vontade de fazer Medicina”.
E ouviu: “Por que não faz?”. Era o estímulo que precisava.
“Por um lado pensava que estava velho para outra graduação, mas o que passei me dizia que devia sair da zona de conforto. Não fiquei mais deixando a vida acontecer.”
Dito e feito. Em 2013, João começou a conciliar o trabalho com o pré-vestibular – decidiu que faria Medicina. E passou em primeiro lugar para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Nunca imaginei que ficaria em primeiro. Acho que foi porque estava mais tranquilo. Ter passado pelo infarto me tornou uma pessoa mais leve, menos estressada”, avalia ele, que deverá se formar em 2020.
Visão crítica
O estudante diz que sua experiência como paciente também pesou na decisão de ser médico.
“Fui influenciado pelos bons e maus exemplos, dos médicos imprudentes que revelaram meu diagnóstico e fizeram ‘vista grossa’ (ao infarto) a profissionais impecáveis no tratamento”, afirma.
Hoje em dia, o universitário diz defender um exercício mais sensível e humano da profissão.
“Já chamei a atenção de professor que discute caso bem na frente do paciente. Sempre digo: ‘Vamos lá fora, para um canto’. Ainda há ainda muita negligência e frieza, de tratar o paciente como uma estatística, um boneco.”
Comum ou não?
O infarto é a principal causa de mortes no Brasil, com cerca de 100 mil óbitos por ano, segundo a base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em jovens, a incidência é mais comum do que se imagina, afirma Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (Hcor) de São Paulo.
Em 2014, segundo a base de dados do SUS, 2.546 pessoas de 20 a 39 anos morreram de infarto no Brasil – 2,9% do total de mortes por essa causa.
Como principais fatores de risco, independentemente da idade, o cardiologista do Hcor cita hipertensão, sedentarismo, histórico familiar, estresse, uso de drogas e tabagismo.
E, de fato, afirma Piegas, o infarto em jovens adultos tende a ser mais agressivo.
“Quanto mais vive, mais a pessoa desenvolve sua circulação lateral. Então se uma artéria de um idoso ‘entope’, o sangue tem outras vias por onde circular, e o infarto tende a ser mais ameno ou nem acontecer. Os jovens ainda não desenvolveram este tipo de circulação, por isso os infartos tendem a ser mais agressivos e, muitas vezes, fatais.”
Quando o foco são pessoas com menos de 40 anos, há diferenças de risco entre homens e mulheres, diz o especialista.
“A mulher tem a proteção hormonal do estrogênio, que confere certa proteção às coronárias, dificultando entupimentos. Depois da menopausa, as chances são praticamente iguais de se enquadrar em grupos de risco.”
Precisão e rapidez
Quanto mais cedo e mais preciso for o diagnóstico do infarto, maior a chance de sobrevida e recuperação, sobretudo em jovens.
No caso do analista ambiental Fabiano Augusto dos Santos, de 31 anos, que estava no trabalho quando uma dor forte no ombro se espalhou ao braço esquerdo, a atuação da equipe hospitalar foi fundamental.
“Uma checagem de pressão no ambulatório da empresa não deu nada. No táxi para casa, piorei tanto que pedi para ir ao pronto-socorro. Chegando lá nem ficava em pé. Logo um enfermeiro me socorreu e fiz exames que apontaram obstrução”, conta Fabiano, que tinha 28 anos na ocasião e vive em Botucatu (SP).
A estudante Olivia Lauar, de 34 anos, de Belo Horizonte (MG), teve que insistir até obter um diagnóstico correto – e o tratamento adequado.
Ela sofreu um infarto no ano passado, e procurou um hospital após sentir cansaço extremo e dores muito intensas no braço, cabeça, pescoço e peito.
“Já vinha sentindo tudo isso – e negligenciando – havia mais de um ano, mas naquele dia foi muito forte. No hospital, deram-me remédio para cefaleia. Voltei para casa e a dor ficou insuportável”, afirma.
“Joguei os sintomas no Google e vi que poderia estar infartando. Voltei ao hospital e disse que só sairia após todos os exames – e um eletrocardiograma indicou o infarto”, diz ela, que colocou um stent coronário e hoje toma cinco remédios para controle.
Mudança de hábitos
Para Suzanne Steinbaum, cardiologista da Associação Americana do Coração, a principal maneira de evitar um infarto, independentemente da idade, é mudando hábitos e estilo de vida.
“Em 80% de todos os casos, mesmo com histórico familiar, é possível evitá-lo com atividades físicas, mudanças na alimentação e controle do estresse. Fazendo isso, mesmo os fatores de risco são controláveis”, afirma.
No caso de Olivia Lauar, largar o cigarro imediatamente foi a mudança mais significativa.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria começado a fumar. Passei por uma fase muito ruim, depressiva, tranquei a faculdade, não saía de casa, tinha muito medo de infartar de novo. Hoje estou muito melhor”, diz.
Já Fabiano Augusto se transformou ao cuidar mais da saúde mental.
“Eu era muito estressado, impaciente e preocupado. Os médicos acreditam que isso tenha influenciado. Hoje faço terapia e levo uma vida bem mais leve.”
Além da futura nova profissão, João Paulo Mauler levou da experiência um novo olhar sobre a vida.
“Talvez em outra época não tivesse a serenidade de saber que a vida pode mudar do nada. Em um dia estava malhando, em outro infartei. Apesar de isso ter me dado mais urgência em realizar as coisas, também me deu maturidade, saber que uma prova ou um problema não são o fim do mundo. E acho essa leveza essencial a um médico.”
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Veículo: Digoreste Notícias
Editoria: Últimas Notícias
Data: 24/04/2017
Link: http://www.digorestenoticias.com.br/infartei-aos-30-anos-e-larguei-tudo-para-ser-medico/
Título: ‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
Naquela manhã de sábado, em dezembro de 2012, João Paulo Mauler acordou com uma dor que nunca havia sentido. Relembrando o episódio que mudaria sua vida, ele leva as mãos ao centro do peito, como a “esmagar” algo.
“Era um aperto muito forte, uma dor que foi se agravando. No hospital, o médico do plantão queria me liberar, dizendo que era algo à toa, que ninguém na minha idade tinha ‘essas coisas'”, recorda o estudante de 36 anos, de Juiz de Fora (MG).
João só fez todos os exames porque a mãe insistiu com a equipe médica, citando o histórico de problemas cardíacos do pai do estudante.
“Saí do exame e soube o que acontecera comigo da pior forma possível. Estava no CTI e chegou um médico com uma turma de alunos de Medicina. Ele viu a papelada na minha cama, disse ‘esse aí infartou’ e saiu andando. Fiquei desesperado.”
Ou seja, João, à época com 30 anos, teve, sim, “essas coisas”: um infarto, mesmo sem se enquadrar em fatores de risco como tabagismo e pressão alta. Três artérias estavam entupidas.
Passado o susto do diagnóstico, o estudante fez uma cirurgia para desobstruir o coração e teve uma recuperação tranquila. Mas algo tinha mudado.
À época do infarto, João tinha diploma de Comunicação Social e atuava em um cargo administrativo numa fundação do Estado.
“Não estava infeliz, mas também não estava realizado. Não tinha coragem de abandonar o trabalho e nem sabia o que seguir. Mas fui sentindo um senso de urgência e de não esperar para realizar meus sonhos e objetivos.”
‘Por que não?’
Ao final do tratamento, após ter lido muito e questionado os médicos sobre cada etapa, ele confessou à irmã: “Tenho a maior vontade de fazer Medicina”.
E ouviu: “Por que não faz?”. Era o estímulo que precisava.
“Por um lado pensava que estava velho para outra graduação, mas o que passei me dizia que devia sair da zona de conforto. Não fiquei mais deixando a vida acontecer.”
Dito e feito. Em 2013, João começou a conciliar o trabalho com o pré-vestibular – decidiu que faria Medicina. E passou em primeiro lugar para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Nunca imaginei que ficaria em primeiro. Acho que foi porque estava mais tranquilo. Ter passado pelo infarto me tornou uma pessoa mais leve, menos estressada”, avalia ele, que deverá se formar em 2020.
Visão crítica
O estudante diz que sua experiência como paciente também pesou na decisão de ser médico.
“Fui influenciado pelos bons e maus exemplos, dos médicos imprudentes que revelaram meu diagnóstico e fizeram ‘vista grossa’ (ao infarto) a profissionais impecáveis no tratamento”, afirma.
Hoje em dia, o universitário diz defender um exercício mais sensível e humano da profissão.
“Já chamei a atenção de professor que discute caso bem na frente do paciente. Sempre digo: ‘Vamos lá fora, para um canto’. Ainda há ainda muita negligência e frieza, de tratar o paciente como uma estatística, um boneco.”
Comum ou não?
O infarto é a principal causa de mortes no Brasil, com cerca de 100 mil óbitos por ano, segundo a base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em jovens, a incidência é mais comum do que se imagina, afirma Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (Hcor) de São Paulo.
Em 2014, segundo a base de dados do SUS, 2.546 pessoas de 20 a 39 anos morreram de infarto no Brasil – 2,9% do total de mortes por essa causa.
Como principais fatores de risco, independentemente da idade, o cardiologista do Hcor cita hipertensão, sedentarismo, histórico familiar, estresse, uso de drogas e tabagismo.
E, de fato, afirma Piegas, o infarto em jovens adultos tende a ser mais agressivo.
“Quanto mais vive, mais a pessoa desenvolve sua circulação lateral. Então se uma artéria de um idoso ‘entope’, o sangue tem outras vias por onde circular, e o infarto tende a ser mais ameno ou nem acontecer. Os jovens ainda não desenvolveram este tipo de circulação, por isso os infartos tendem a ser mais agressivos e, muitas vezes, fatais.”
Quando o foco são pessoas com menos de 40 anos, há diferenças de risco entre homens e mulheres, diz o especialista.
“A mulher tem a proteção hormonal do estrogênio, que confere certa proteção às coronárias, dificultando entupimentos. Depois da menopausa, as chances são praticamente iguais de se enquadrar em grupos de risco.”
Precisão e rapidez
Quanto mais cedo e mais preciso for o diagnóstico do infarto, maior a chance de sobrevida e recuperação, sobretudo em jovens.
No caso do analista ambiental Fabiano Augusto dos Santos, de 31 anos, que estava no trabalho quando uma dor forte no ombro se espalhou ao braço esquerdo, a atuação da equipe hospitalar foi fundamental.
“Uma checagem de pressão no ambulatório da empresa não deu nada. No táxi para casa, piorei tanto que pedi para ir ao pronto-socorro. Chegando lá nem ficava em pé. Logo um enfermeiro me socorreu e fiz exames que apontaram obstrução”, conta Fabiano, que tinha 28 anos na ocasião e vive em Botucatu (SP).
A estudante Olivia Lauar, de 34 anos, de Belo Horizonte (MG), teve que insistir até obter um diagnóstico correto – e o tratamento adequado.
Ela sofreu um infarto no ano passado, e procurou um hospital após sentir cansaço extremo e dores muito intensas no braço, cabeça, pescoço e peito.
“Já vinha sentindo tudo isso – e negligenciando – havia mais de um ano, mas naquele dia foi muito forte. No hospital, deram-me remédio para cefaleia. Voltei para casa e a dor ficou insuportável”, afirma.
“Joguei os sintomas no Google e vi que poderia estar infartando. Voltei ao hospital e disse que só sairia após todos os exames – e um eletrocardiograma indicou o infarto”, diz ela, que colocou um stent coronário e hoje toma cinco remédios para controle.
Mudança de hábitos
Para Suzanne Steinbaum, cardiologista da Associação Americana do Coração, a principal maneira de evitar um infarto, independentemente da idade, é mudando hábitos e estilo de vida.
“Em 80% de todos os casos, mesmo com histórico familiar, é possível evitá-lo com atividades físicas, mudanças na alimentação e controle do estresse. Fazendo isso, mesmo os fatores de risco são controláveis”, afirma.
No caso de Olivia Lauar, largar o cigarro imediatamente foi a mudança mais significativa.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria começado a fumar. Passei por uma fase muito ruim, depressiva, tranquei a faculdade, não saía de casa, tinha muito medo de infartar de novo. Hoje estou muito melhor”, diz.
Já Fabiano Augusto se transformou ao cuidar mais da saúde mental.
“Eu era muito estressado, impaciente e preocupado. Os médicos acreditam que isso tenha influenciado. Hoje faço terapia e levo uma vida bem mais leve.”
Além da futura nova profissão, João Paulo Mauler levou da experiência um novo olhar sobre a vida.
“Talvez em outra época não tivesse a serenidade de saber que a vida pode mudar do nada. Em um dia estava malhando, em outro infartei. Apesar de isso ter me dado mais urgência em realizar as coisas, também me deu maturidade, saber que uma prova ou um problema não são o fim do mundo. E acho essa leveza essencial a um médico.”
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Veículo: R7.com
Editoria: Saúde
Data: 24/04/2017
Link: http://noticias.r7.com/saude/infartei-aos-30-anos-e-larguei-tudo-para-ser-medico-24042017
Título: ‘Infartei aos 30 anos e larguei tudo para ser médico’
Naquela manhã de sábado, em dezembro de 2012, João Paulo Mauler acordou com uma dor que nunca havia sentido. Relembrando o episódio que mudaria sua vida, ele leva as mãos ao centro do peito, como a “esmagar” algo.
“Era um aperto muito forte, uma dor que foi se agravando. No hospital, o médico do plantão queria me liberar, dizendo que era algo à toa, que ninguém na minha idade tinha ‘essas coisas'”, recorda o estudante de 36 anos, de Juiz de Fora (MG).
João só fez todos os exames porque a mãe insistiu com a equipe médica, citando o histórico de problemas cardíacos do pai do estudante.
“Saí do exame e soube o que acontecera comigo da pior forma possível. Estava no CTI e chegou um médico com uma turma de alunos de Medicina. Ele viu a papelada na minha cama, disse ‘esse aí infartou’ e saiu andando. Fiquei desesperado.”
Ou seja, João, à época com 30 anos, teve, sim, “essas coisas”: um infarto, mesmo sem se enquadrar em fatores de risco como tabagismo e pressão alta. Três artérias estavam entupidas.
Passado o susto do diagnóstico, o estudante fez uma cirurgia para desobstruir o coração e teve uma recuperação tranquila. Mas algo tinha mudado.
À época do infarto, João tinha diploma de Comunicação Social e atuava em um cargo administrativo numa fundação do Estado.
“Não estava infeliz, mas também não estava realizado. Não tinha coragem de abandonar o trabalho e nem sabia o que seguir. Mas fui sentindo um senso de urgência e de não esperar para realizar meus sonhos e objetivos.”
‘Por que não?’
Ao final do tratamento, após ter lido muito e questionado os médicos sobre cada etapa, ele confessou à irmã: “Tenho a maior vontade de fazer Medicina”.
E ouviu: “Por que não faz?”. Era o estímulo que precisava.
“Por um lado pensava que estava velho para outra graduação, mas o que passei me dizia que devia sair da zona de conforto. Não fiquei mais deixando a vida acontecer.”
Dito e feito. Em 2013, João começou a conciliar o trabalho com o pré-vestibular – decidiu que faria Medicina. E passou em primeiro lugar para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Nunca imaginei que ficaria em primeiro. Acho que foi porque estava mais tranquilo. Ter passado pelo infarto me tornou uma pessoa mais leve, menos estressada”, avalia ele, que deverá se formar em 2020.
Visão crítica
O estudante diz que sua experiência como paciente também pesou na decisão de ser médico.
“Fui influenciado pelos bons e maus exemplos, dos médicos imprudentes que revelaram meu diagnóstico e fizeram ‘vista grossa’ (ao infarto) a profissionais impecáveis no tratamento”, afirma.
Hoje em dia, o universitário diz defender um exercício mais sensível e humano da profissão.
“Já chamei a atenção de professor que discute caso bem na frente do paciente. Sempre digo: ‘Vamos lá fora, para um canto’. Ainda há ainda muita negligência e frieza, de tratar o paciente como uma estatística, um boneco.”
Comum ou não?
O infarto é a principal causa de mortes no Brasil, com cerca de 100 mil óbitos por ano, segundo a base de dados do SUS (Sistema Único de Saúde).
Em jovens, a incidência é mais comum do que se imagina, afirma Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (Hcor) de São Paulo.
Em 2014, segundo a base de dados do SUS, 2.546 pessoas de 20 a 39 anos morreram de infarto no Brasil – 2,9% do total de mortes por essa causa.
Como principais fatores de risco, independentemente da idade, o cardiologista do Hcor cita hipertensão, sedentarismo, histórico familiar, estresse, uso de drogas e tabagismo.
E, de fato, afirma Piegas, o infarto em jovens adultos tende a ser mais agressivo.
“Quanto mais vive, mais a pessoa desenvolve sua circulação lateral. Então se uma artéria de um idoso ‘entope’, o sangue tem outras vias por onde circular, e o infarto tende a ser mais ameno ou nem acontecer. Os jovens ainda não desenvolveram este tipo de circulação, por isso os infartos tendem a ser mais agressivos e, muitas vezes, fatais.”
Quando o foco são pessoas com menos de 40 anos, há diferenças de risco entre homens e mulheres, diz o especialista.
“A mulher tem a proteção hormonal do estrogênio, que confere certa proteção às coronárias, dificultando entupimentos. Depois da menopausa, as chances são praticamente iguais de se enquadrar em grupos de risco.”
Precisão e rapidez
Quanto mais cedo e mais preciso for o diagnóstico do infarto, maior a chance de sobrevida e recuperação, sobretudo em jovens.
No caso do analista ambiental Fabiano Augusto dos Santos, de 31 anos, que estava no trabalho quando uma dor forte no ombro se espalhou ao braço esquerdo, a atuação da equipe hospitalar foi fundamental.
“Uma checagem de pressão no ambulatório da empresa não deu nada. No táxi para casa, piorei tanto que pedi para ir ao pronto-socorro. Chegando lá nem ficava em pé. Logo um enfermeiro me socorreu e fiz exames que apontaram obstrução”, conta Fabiano, que tinha 28 anos na ocasião e vive em Botucatu (SP).
A estudante Olivia Lauar, de 34 anos, de Belo Horizonte (MG), teve que insistir até obter um diagnóstico correto – e o tratamento adequado.
Ela sofreu um infarto no ano passado, e procurou um hospital após sentir cansaço extremo e dores muito intensas no braço, cabeça, pescoço e peito.
“Já vinha sentindo tudo isso – e negligenciando – havia mais de um ano, mas naquele dia foi muito forte. No hospital, deram-me remédio para cefaleia. Voltei para casa e a dor ficou insuportável”, afirma.
“Joguei os sintomas no Google e vi que poderia estar infartando. Voltei ao hospital e disse que só sairia após todos os exames – e um eletrocardiograma indicou o infarto”, diz ela, que colocou um stent coronário e hoje toma cinco remédios para controle.
Mudança de hábitos
Para Suzanne Steinbaum, cardiologista da Associação Americana do Coração, a principal maneira de evitar um infarto, independentemente da idade, é mudando hábitos e estilo de vida.
“Em 80% de todos os casos, mesmo com histórico familiar, é possível evitá-lo com atividades físicas, mudanças na alimentação e controle do estresse. Fazendo isso, mesmo os fatores de risco são controláveis”, afirma.
No caso de Olivia Lauar, largar o cigarro imediatamente foi a mudança mais significativa.
“Se pudesse voltar no tempo, nunca teria começado a fumar. Passei por uma fase muito ruim, depressiva, tranquei a faculdade, não saía de casa, tinha muito medo de infartar de novo. Hoje estou muito melhor”, diz.
Já Fabiano Augusto se transformou ao cuidar mais da saúde mental.
“Eu era muito estressado, impaciente e preocupado. Os médicos acreditam que isso tenha influenciado. Hoje faço terapia e levo uma vida bem mais leve.”
Além da futura nova profissão, João Paulo Mauler levou da experiência um novo olhar sobre a vida.
“Talvez em outra época não tivesse a serenidade de saber que a vida pode mudar do nada. Em um dia estava malhando, em outro infartei. Apesar de isso ter me dado mais urgência em realizar as coisas, também me deu maturidade, saber que uma prova ou um problema não são o fim do mundo. E acho essa leveza essencial a um médico.”
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 24/04/2017
Link: http://www.tribunademinas.com.br/parlamento-jovem-se-reune-para-discutir-propostas-regionais/
Título: Parlamento Jovem se reúne para discutir propostas regionais
Em um momento em que se discute projetos como o Escola Sem Partido e a Reforma do Ensino Médio, alunos de cinco escolas da cidade são chamados a discutir sobre o tema “Educação Política nas Escolas”, por meio do Parlamento Jovem. Ao todo, 75 participantes vão se encontrar no anfiteatro do Colégio dos Jesuítas nesta quarta-feira, a partir das 14h, para uma programação que inclui uma oficina de entrosamento entre os estudantes, seguida de uma palestra com a professora do Departamento de Ciências Sociais da UFJF Beatriz Bastos e com o professor Matheus Gomes, que é formado em ciências sociais e já atuou no Parlamento Jovem como monitor. Após a apresentação dos professores, está previsto um debate entre os estudantes, com o objetivo de estimulá-los na busca por propostas para a região e todo o estado.
“O Parlamento Jovem não é uma gincana, não é uma disputa entre jovens e nem entre municípios na etapa regional. É um processo de discussão e construção de propostas. Temos 65 municípios participantes em todo estado. Há uma gama grande e diversa de cidades e de alunos participantes, oriundos de cidades pequenas, médias e grandes. Com os diferentes pontos de vista que eles têm, conseguimos ter um processo muito rico”, comenta o sociólogo da Câmara de Juiz de Fora e coordenador do projeto na cidade, Sérgio Dutra. O grupo terá até a última semana de junho para elaborar um documento com as propostas para começar a etapa regional. O trabalho segue para a região, o Pólo Zona da Mata I, que inclui os municípios de Carandaí, Madre de Deus de Minas, Leopoldina, Santos Dumont, Rio Preto, Olaria (este município como observador, devendo começar as atividades na edição 2018) e Matias Barbosa, que este ano é a cidade coordenadora.
O encerramento da etapa regional está prevista para o final de agosto, e a participação no Estado acontece em setembro, quando um grupo de representantes é selecionado para defender as propostas compostas na região à plenária da assembleia, em Belo Horizonte. “O Parlamento Jovem está inserido na promoção do amadurecimento político desses jovens, dentro de uma perspectiva de educação para a cidadania, para a democracia. Desde o primeiro momento, eles aprendem conceitos sobre o que é política, cidadania, democracia e sobre as responsabilidades dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário”, explica Dutra. Ele acrescenta que o projeto permite que esses estudantes, com faixa etária entre 15 e 18 anos, possam opinar sobre questões de interesse nos três níveis, municipal, regional e estadual, com a possibilidade de transformar o conteúdo trabalhado em políticas públicas.
“As propostas discutidas na Câmara são encaminhadas para a Comissão de Participação Popular da Assembleia. Ela pode se tornar um programa, pode se inserir em um programa já existente, e até mesmo tramitar dentro da Assembleia como um projeto de iniciativa popular. O Parlamento Jovem abre um leque para a democracia participativa, porque dá voz aos jovens.” Além do Colégio dos Jesuítas, participam dessa edição os alunos dos colégios Apogeu, Vianna, Tiradentes da Polícia Militar e a Escola Estadual Professor José Freire.