O e-book “A presença do negro na arte brasileira”, da estudante de Design Gráfico e de Produtos do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Raízza Prudêncio, será lançado nesta quinta-feira (20), às 20h, na Rua Oswaldo Aranha, 212, Bairro São Mateus.
“O negro está presente na história da arte brasileira desde a Academia Imperial de Belas Artes. Nomes como Estevão Silva, Antônio Rafael Pinto Bandeira, Artur Timóteo da Costa, Firmino Monteiro são essenciais para começarmos a dar visibilidade a produção dos negros na Arte. Na modernidade, nós encontramos, nas obras de Lasar Segall e Cândido Portinari, representações da figura do negro, dando dignidade a esse corpo, e marcando sua presença no pensamento de brasilidade.
Desde o final dos anos 40, temos a presença da militância política e artística de Abdias do Nascimento, figura importantíssima para o desenvolvimento do pensamento negro no Brasil, que também possui uma produção plástica muito instigante. Destaco, ainda, os artistas Rosana Paulino, Renata Felinto, Sidney Amaral, Moisés Patrício, Sonia Gomes, Paulo Nazareth, que vêm conquistando seu espaço nas galerias e bienais de artes, abrindo espaço para outros jovens artistas negros”, ressalta a autora.
Raízza revela que a ideia de escrever sobre a temática do negro na arte brasileira surgiu quando ainda cursava o primeiro ciclo do Bacharelado em Artes e Design na UFJF.
“Sou graduada em Artes e Design, e estou finalizando o segundo ciclo de Design Gráfico e Design de Produto. Acredito que minha trajetória na UFJF seja marcada, desde o início, por uma contestação sobre a presença do negro nas diversas áreas artísticas. Do cinema às artes plásticas, a história ainda é centrada no pensamento do homem europeu, e isso fica mais evidente quando se é estudante de imagens. Nesse campo do conhecimento, percebemos a força do imaginário que distingue os indivíduos por cor, classe e sexualidade. Assim, durante minha trajetória acadêmica, e sabendo da minha responsabilidade enquanto intelectual, busquei projetos de pesquisa que dessem visibilidade a essa discussão, tanto na minha iniciação científica, em que estudei a obra de Martinho da Vila, como nos meus projetos artísticos.”
As inquietações, provenientes da constatação de que há nas disciplinas curriculares a predominância de algumas narrativas em detrimento de outras, também mobilizaram a estudante.
“Os alunos do Instituto de Artes e Design, independente de raça, começaram a questionar os conteúdos das disciplinas de História da Arte, que não perpassam por questões negras ou latino-americanas. Visamos ainda muito uma história centrada no continente europeu, o que não é um erro. Na minha concepção, o conhecimento é o mundo. A questão é a predominância de uma narrativa em detrimento de outra, que gera exclusão, segregação e dominação de apenas um discurso. Assim, no início do semestre realizei, durante a semana dos calouros, um curso sobre essa temática para os alunos, com o mesmo título do e-booK, no intuito de compartilhar um conhecimento que venho adquirindo, pelo prazer de conhecer a minha própria história.”
Raizza acrescenta que o e-book “O negro na arte brasileira” é um guia inicial para interessados na temática. “Essa pesquisa não tem intenção de demarcar todas os artistas negros existentes no Brasil. Funciona apenas como um guia inicial para pessoas interessadas nessa temática darem um pontapé para um iceberg, que é a história. A pesquisa foi se realizando, desde 2010. Ao longo desses anos, foi se consolidando meu anseio enquanto estudante e artista interessada em compreender as poéticas negras e me olhar no espelho. Quando frequentava as aulas de história da arte sentia muito incômodo, por não me olhar no espelho da vida, pois simplesmente eu sou negra, não existe mistério.”
O e-book “A história do negro na arte brasileira” será disponibilizado gratuitamente, pelas Edições Macondo.
Outras informações: raizzaartes@gmail.com