O Serviço de Diagnóstico e Orientação a Pacientes com Desordens Temporomandibulares (Serviço ATM), completa 25 anos neste mês de abril. O projeto, desenvolvido pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), atende pacientes com desordens na mastigação de forma gratuita.
Desordens temporomandibulares ocorrem quando a articulação que liga a mandíbula ao crânio não funciona corretamente. Assim, o paciente passa a fazer um esforço mastigatório muito grande e força os músculos. Como consequência, vêm as dores na região da cabeça, ouvido e face.
Segundo o coordenador do Serviço ATM, Josemar Parreira Guimarães, o diagnóstico das desordens costuma ser demorado. “É o paciente que já foi várias vezes no otorrinolaringologista, no neurologista e não consegue descobrir a causa da dor que tem. É o paciente que trava a mandíbula de boca aberta, o ouvido estala muito e parece que tem areia dentro. Esses são os sintomas na maioria dos pacientes, embora existam muitos outros”, afirma.
Os assistidos pelo Serviço ATM contam com um atendimento interdisciplinar: Cirurgião dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e, inclusive, psicólogo. Como poucas faculdades de Odontologia no país contam com a disciplina, a UFJF é considerada um polo na área de ATM. Além disso, o Serviço Único de Saúde (SUS) não oferece um tratamento gratuito para as desordens e o atendimento na rede particular é oneroso.
De acordo com o coordenador do projeto, pessoas de 32 cidades dos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, são assistidas pelo Serviço ATM e há mais de trezentas na fila de espera. “Já fizemos atendimento com aproximadamente, oito mil pacientes. Como, em média, cada um é atendido dez vezes, foram cerca de 80 mil atendimentos”, avalia Josemar Guimarães.
Nesses 25 anos, o Serviço ATM tornou-se referência na área, sendo procurado por moradores de cidades vizinhas a Juiz de Fora e também do estado do Rio de Janeiro.
“Parece que eu criei um mundo de dor e vivo com ele”
Em um dia de atendimento do Serviço ATM, na Faculdade de Odontologia, há histórias diversas. O pedreiro Raimundo Domingos da Silva, 68, é de Juiz de Fora e sente dores há dois anos. Ele chegou ao serviço após passar por dentista e otorrinolaringologista. Para o paciente, a gratuidade do atendimento é bastante bem-vinda. “É muito interessante pra gente, muito bom. Eu já vou ter que pagar um tratamento particular, mas pelo menos, vai ficar bem mais em conta”, relata.
O caso da professora Lourdes Aparecida Marcate, 46, é mais prolongado. Lourdes já sente dores intensas no lado esquerdo da cabeça, há quase quatro anos, mais exatamente desde 12 de maio de 2013. As dores começaram de repente, após um movimento brusco.
“Eu sentava na cama à noite e quando o sono chegava, eu colocava o livro que estava lendo no chão. Uma noite, eu nunca mais voltei. Eu só senti o movimento da minha cama girando e gritei. As pessoas na minha casa ouviram e foram ver o que estava acontecendo. Eu relaxei, mas quando fui deitar de novo, me deu outra vertigem em uma proporção menor. Fui parar no hospital. Eu passei três noites sentada, eu não conseguia me deitar, porque o mundo girava”, conta.
Antes de chegar ao Serviço ATM, Lourdes Marcate já havia passado por vários médicos e exames: “É bem complicado. A sensação que eu tenho é que parece que eu criei um mundo de dor e vivo com ele. Porque eu não consigo uma resposta diante de tantos exames que eu fiz.”
A professora conheceu o Serviço ATM pela internet e destaca o acolhimento que recebe no local. “Eu tinha recém-chegado a Juiz de Fora e, no primeiro telefonema, até o número do ônibus que eu tinha que pegar o rapaz me ofereceu. Você (referindo-se ao coordenador do projeto) não deixar a gente sair daqui com dor é maravilhoso.”
Pesquisa e Extensão
O Serviço ATM também é um lugar de Pesquisa e Extensão para acadêmicos de Odontologia. Os alunos do curso podem permanecer no projeto por três períodos letivos. Ao fim de cada semestre, o estudante precisa entregar um artigo. E ao final dos três períodos, a pesquisa completa é publicada. “O Serviço já fez cerca de 150 publicações. O aluno já sai vislumbrando uma pós-graduação, a área acadêmica. Outra parte é o aprendizado que ele tem”, reforça o coordenador Josemar Guimarães.
A estudante Ludmila Emanuela Barbosa Ferreira, do décimo período, é uma das alunas que participam do Serviço ATM. Na avaliação de Ludmila, participar do projeto a torna uma profissional diferenciada no mercado. “A gente já tem um conhecimento em relação à disfunção temporomandibular que qualquer aluno da graduação não tem. Ganha a experiência de tratar esses pacientes, porque há uma demanda muito grande. E como são pacientes crônicos, eles chegam com patologias muito complexas”, afirma.
Além da prática, Ludmila destaca o contato com a área acadêmica vivenciado no Serviço ATM. Segundo a estudante, a experiência a torna mais preparada para a escrita de trabalhos acadêmicos, inclusive o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “No decorrer da faculdade, a gente já precisa ir buscando os artigos, fazendo aulas. Então para nós que queremos ingressar no mestrado, já temos uma bagagem muito maior em pesquisa e extensão.”
Para a odontóloga Glaucia Arleu da Silva, ter passado pelo Serviço ATM na época da graduação, foi um um divisor de águas fundamental para a sua trajetória profissional. Hoje, ela afirma receber pacientes com desordens temporomandibulares diariamente em seu consultório. “Com menos de um ano de formada, fui aprovada no Mestrado em Clínica Odontológica da UFJF, fui professora em curso de pós-graduação, publiquei junto com outros colegas o livro: ‘Atlas de diagnóstico por imaginologia das desordens temporomandibulares’, o que contribuiu ainda mais para minha formação”, avalia.
Os pacientes podem agendar consulta por meio do setor de acolhimento da Faculdade de Odontologia através do telefone (32) 2103-3855. O Serviço ATM funciona nas sextas-feiras, de 13h30 às 18h. Os atendimentos são realizados em uma sala próxima à portaria do prédio da faculdade.
Outras informações: (32) 2102-3851 – Faculdade de Odontologia