mestrado comunicação

Iara Bastos Campos defendeu a dissertação no dia 21 de fevereiro no PPGCOM (foto: Jade Uchoas/UFJF)

Vistos como “vozes autorizadas”, os psicanalistas são figuras recorrentes nas colunas dos principais jornais impressos do Brasil. Com o intuito de mapear a figura e os discursos deste profissional, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM),  da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Iara Bastos Campos, defendeu a dissertação “Discurso, intelectuais e poder: os psicanalistas e suas projeções, em colunas e entrevistas de jornais (1980-1998).”

O estudo analisou 474 textos de colunas assinadas por psicanalistas e entrevistas publicadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo. “O objetivo principal da pesquisa foi compreender como se dá a transformação da imagem pública de e sobre os psicanalistas, no período de 1980 a 1998, delimitado por dois momentos da história da psicanálise no Brasil que repercutiram na imprensa: a ‘crise’ institucional da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e a cisão das escolas filiadas à Associação Mundial de Psicanálise”, explica a acadêmica.

Iara ressalta que a psicanálise foi um método terapêutico criado por Sigmund Freud, porém, a imagem do profissional que utiliza esta técnica ainda é pouco compreendida. “Quanto às projeções imaginárias, as mais frequentes são as que colocam o psicanalista no lugar de ‘pensador’, caracterizando-o como intelectual mais do que como clínico ou especialista. De 1980 a 1998, houve um deslocamento da imagem do psicanalista, antes mais identificado ao discurso teórico-psicanalítico, para a do intelectual mais generalista, capaz de comentar temas como política e comportamento.”

Ainda de acordo com a mestranda, a pesquisa indicou uma variação, ao longo do período estudado, nas temáticas sobre as quais psicanalistas costumavam depor. “Os temas especializados tiveram mais espaço na primeira metade da década de 1980 e temas como arte e cultura, comportamento, sentimentos e desigualdades e direitos humanos predominaram no restante do período.”

A forma como estes profissionais são apresentados, nos dois veículos de comunicação, também foi analisada durante a pesquisa. No jornal Folha de S. Paulo, a imagem do psicanalista estava ligada ao saber psicanalítico e às articulações dele com demais saberes, filosófico ou religioso. Enquanto isso, no O Globo prevalecia a imagem de um psicanalista que fornece dicas de como solucionar determinado problema íntimo, por exemplo.

Para a mestranda, os resultados do trabalho não ficam restritos apenas aos psicanalistas em jornais e poderiam ser ampliados também a outras figuras associadas à intelectualidade – como historiadores, filósofos, sociólogos, cientistas políticos, por exemplo. “Assim como ocorre com os psicanalistas, a percepção que estes intelectuais têm de si, bem como a imagem que a sociedade tem a respeito deles, muito tem a ver com a projeção imaginária que a imprensa circula sobre esses sujeitos enquanto pensadores e (re)produtores de saberes legitimados.”

Para o professor orientador da pesquisa e integrante do Grupo Sensus – Comunicação e Saúde, Wedencley Alves Santana, o estudo ajuda a compreender a interação entre a mídia e personalidades intelectuais, como, por exemplo, psicanalistas, economistas e sociólogos. “Essa relação não é simplesmente de veículo e fonte. Há uma relação de imagens e projeções de imagens que, no fim das contas, fazem com que a população tenha um certo olhar sobre determinados especialistas. Estudos como o da Iara mostram como a sociedade entende essas áreas específicas e como valoriza certos campos intelectuais.”  

Contatos:
Iara Bastos Campos (mestranda)
bcampos.iara@gmail.com

Prof. Dr. Wedencley Alves Santana (orientador – UFJF)
wedencley@gmail.com

Banca Examinadora:
Wedencley Alves Santana (orientador – UFJF)
Teresa Cristina da Costa Neves (UFJF)
Paulo Roberto Gibaldi Vaz (UFRJ)

Outras informações: (32) 2102-3616 – Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM)