A recente crise política e as razões para a depor presidentes no Brasil foram temas da palestra “Por que depomos presidentes?”, ministrada pelo historiador e cientista político José Murilo de Carvalho. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e autor de livros como “Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que Não Foi” e “Cidadania no Brasil, o Longo Caminho”, Carvalho esteve na UFJF para participar da aula inaugural dos Programas de Pós-Graduação em História e em Ciências Sociais, no último dia 22.
Em sua exposição, Carvalho mostrou que a deposição de um presidente no Brasil é algo recorrente na História. De 1930 a 2016, apenas quatro presidentes eleitos completaram o mandato, considerando a reeleição como um único governo: Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951), Juscelino Kubitscheck (1956-1961), Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) e Luís Inácio Lula da Silva (2003 – 2011).
De 1930 a 2016, apenas quatro presidentes eleitos completaram o mandato
O palestrante, no entanto, afirmou que esse tipo de processo não é uma exclusividade brasileira. “Na América Latina, a partir de 1900, foram 90 presidentes depostos: 13 na Bolívia, 15 no Haiti, 7 na Argentina e no Peru. Na África, desde 1950, foram 144”.
A explicação para esse fenômeno, segundo Carvalho, seria a maior participação da população na política. No Brasil, até a década de 30, as manifestações ocorriam fora do sistema representativo, como revoltas, movimentos grevistas e messiânicos. Entretanto, a partir de 1945, com o amplo direito ao voto, houve uma maior participação dos cidadãos na política nacional, que clamavam por melhores condições de igualdade e liberdade.
Para efeitos de comparação, entre o início e fim do Regime Militar (1964 – 1984), 53 milhões de pessoas começaram a exercer o direito ao voto. Isso corresponde a toda população brasileira em 1950 e a 47% daquela registrada em 1985.
FHC e Lula, apesar das tentativas de impeachment, foram salvos pela base política
Os últimos processos de impeachment
Para Carvalho, a falta de apoio parlamentar foi fundamental para a deposição de Dilma Rousseff (2011 – 2016) e Fernando Collor de Mello. “FHC e Lula, apesar das tentativas de impeachment, foram salvos pela base política”, afirma.
Além disso, segundo o historiador, fatores como o desgaste do poder, a contaminação da esquerda pela corrupção, os erros de política econômica, e a descrença geral nos políticos e na representação anunciada desde 2013 acabaram influenciando para a deposição de Rousseff.
De acordo com palestrante, há pontos positivos e negativos no último processo de impeachment. “Como positivo aponto a saída de um presidente sem interferência militar, o fortalecimento do Ministério Público e do Judiciário, a democratização da Justiça e as tentativas de recuperação da economia. Como negativo, vejo a fragilidade do novo governo, a desmoralização da esquerda e mais rejeição à política e aos políticos”, conclui.
Expectativas para o país
Para os próximos anos, José Murilo de Carvalho prevê que o Brasil terá uma democracia fortalecida, mas seguirá enfrentando problemas de igualdade e instabilidade política. “Eu acho que teremos mais impeachments”, sugere. De acordo com historiador, é necessário que se corrija a desigualdade no país com mudanças na cobrança imposto de renda, escalas salariais e medidas de taxação de herança e grandes lucros.
Outras informações
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – (32) 2102-3113
Programa de Pós-Graduação em História – (32) 2102-3182