Como o jornal O Globo, um dos maiores do país, abordou a temática do feminismo entre os anos de 1925 e 2016? A indagação norteou, nos últimos dois anos, as pesquisas da mestranda do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Michele Cristina Ramos Gomes.
A estudante, sob orientação da professora Ana Claudia Peters Salgado, defendeu a dissertação “Sororidade, substantivo feminino: reflexões linguísticas e sociais sobre abordagens do feminismo no jornal O Globo”, nesta segunda-feira, 20, no Centro de Pesquisas em Humanidades da UFJF.
A acadêmica explica que a palavra ‘sororidade’ tem origem em ‘soror’, do latim, que significa ‘irmã’, e é utilizada com frequência, por diversos grupos feministas, nas redes sociais. De acordo com ela, “o uso do termo ‘sororidade’ demonstra, para além das divergências dentro do movimento, em que circunstâncias o feminismo atua nos dias atuais, principalmente nas redes sociais: busca promover uma perspectiva de solidariedade entre as mulheres no sentido de unirem-se contra as diversas formas de abuso físico e psicológico que ainda ocorrem de forma intensa na sociedade. Ademais, é importante destacar que esta pesquisa objetivou, também, o empoderamento e a conscientização para a ação, ao demonstrar que as relações de poder se organizam como um campo de luta no qual a linguagem é aspecto essencial.”
Michele destaca que a reflexão sobre as notícias publicadas em O Globo abarcou um texto por década, sem considerar uma sessão específica do jornal. “Assim, a seção ‘O Globo Feminino’, criada em 1938, e o caderno ‘Ela’, que teve início em 1964, não foram considerados na análise. Isso porque o objetivo foi refletir sobre o feminismo em documentos destinados à leitura de qualquer público e não apenas em conteúdos voltados para as mulheres.”
Os resultados da pesquisa, segundo a mestranda, apontam que não ocorreram transformações muito significativas no modo de o jornal O Globo abordar o feminismo entre os anos de 1925 e 2016. “Em geral, o enfoque realizado pelo jornal atribui um ponto de vista negativo ao movimento e às mudanças no ‘papel social’ das mulheres. Além disso, em muitos textos encontrei um elogio à maternidade e sua associação ao determinismo biológico, como se a mulher nascesse para ser mãe. Conforme sabemos, isso vai de encontro ao pensamento disseminado pelo movimento feminista que, de modo geral, defende a ideia de que a identidade da mulher não é pré-determinada, mas sim construída no âmbito da cultura.”
Contato:
Michele Ramos (mestranda)
micheleramos.uf@gmail.com
Prof.ª Dr.ª Ana Claudia Peters Salgado (orientadora UFJF)
ana.peters@ufjf.edu.br
Outras informações: (32) 2102-3135 – Programa de Pós-Graduação em Linguística