O neuropsicólogo, Warren Brown, abriu a mesa “A natureza das experiências espirituais” do II Simpósio Mente-Cérebro, na manhã deste sábado. O pesquisador abordou o tema: “A corporeidade da experiência humana”, explicando a complexidade do sistema nervoso e como a espiritualidade se relaciona com o mesmo.
Para estabelecer esta relação, Warren Brown assume a Teoria dos Complexos Dinâmicos. “O cérebro humano possui uma riqueza de interconectividade, com cerca de 100 bilhões de neurônios e 400 mil sinapses a cada minuto. Ele é um sistema complexo, e interage constantemente com o ambiente, e perturbações externas causam uma reorganização no cérebro.”
Segundo o pesquisador, é nesta interação ambiente/sistema nervoso, que a espiritualidade atua. “Experiências religiosas são fenômenos físicos, provocam os neurônios, ativam os sentidos da pessoa. A espiritualidade estimula o cérebro, e, muitas vezes, tem impacto positivo para este órgão tão importante do corpo humano”, disse Warren, que é professor de psicologia e diretor do Instituto de Pesquisa Lee Travis na Escola de Pós-Graduação em Psicologia Fuller Theological Seminary,
A dimensão histórico- cultural do problema
A segunda palestra a compôr a mesa foi “A natureza das experiências espirituais”, ministrada pelo professor Doutor Humberto Schubert Coelho. A metafísica foi o tema abordado pelo docente, “ela se desenvolve segundo crenças, comportamentos e padrões de cada época, e tem uma dimensão social, por mais abstrata que seja”. De acordo com ele, a ciência Moderna, ao se afastar da religião, também se afastou da metafísica. Como filósofo, o doutor Humberto Schubert, elencou outros pensadores clássicos que conciliavam sua espiritualidade com o conhecimento científico, “Pitágoras, Platão, Pasteur, Newton, Edison, são exemplos de cientistas que não perderam contato com as experiências religiosas, mesmo sendo homens da Ciência. A metafísica não deixa de estudar os elementos físicos, ela apenas vai além, investigando como eles afetam a alma”.
A genética da espiritualidade
O bioquímico e neurocientista britânico, Denis Alexander, encerrou a mesa com uma palestra sobre a relação entre genética e espiritualidade. Nos últimos anos, aproximadamente 20 estudos testaram se a religiosidade é herdada geneticamente pelo ser humano, porém, segundo ele, “os dados obtidos com estas pesquisas são muito controversos. Basicamente, porque os pesquisadores não chegam a um consenso sobre a definição de espiritualidade, e alguns analisam a frequência das práticas religiosas, enquanto outros, as sensações que elas provocam nos indivíduos”.
O pesquisador britânico apresentou os resultados de algumas dessas pesquisas, que apontavam que durante a adolescência a herdabilidade dos genes se manifestava praticamente em 0%, mas nos adultos se aproximava dos 60%. “Há uma pressão social nas crianças para seguirem a crença de seus pais, na adolescência eles param de frequentar as práticas espirituais, mas, na vida adulta, retomam por conta própria a religião”, explicou Denis Alexander. O bioquímico enfatizou que “nada sugere que a genética destrua nossa capacidade de fazer escolhas religiosas”.
O evento Mente-Cérebro acontece no Anfiteatro do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora, sendo uma parceria entre o Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da UFJF e o departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.