A onda de conservadorismo e o aumento da polarização na atual crise política brasileira atraíram a atenção do professor da Tulane University (EUA), Mauro Porto, que foi convidado para apresentar sua pesquisa sobre o tema na aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (Ppgcom). O evento, intitulado “Mídia, Democracia e Polarização Política”, aconteceu nesta última quinta-feira, 9, no anfiteatro da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal Juiz de Fora (UFJF).
“Meu objetivo não é um exame da atual situação do país, mas sim propor uma análise política para compreender a natureza da crise da democracia representativa no Brasil, especialmente a relação entre os meios de comunicação e a polarização política”, apontou o professor Mauro Porto. Segundo ele, o início das tensões foi durante as manifestações de 2013, mas também é reflexo da reação da classe média tradicional em relação ao processo de inclusão realizado durante os dois governos do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Nova onda conservadora
Durante sua apresentação, Porto discutiu visões sobre o conceito de representação política e simbólica que, segundo ele, são sustentados pela mídia e alimentam a reação da classe média tradicional. “A forma como grupos sociais são representados simbolicamente determina, em parte, como o sistema responde às suas demandas, à sua presença”, elabora. De acordo com Porto, a mídia vem representando, ativamente, um papel na difusão de estigmas relacionados aos grupos sociais recentemente incluídos, considerados “a nova classe média”.
“Acontece uma frequente estereotipação negativa desses grupos, indicando uma demarcação clara de espaços sociais de acordo com o nível de renda, especialmente os historicamente ocupados por elites”, afirma Porto. Para ilustrar seu ponto de que este fenômeno é “observado principalmente em relação à população de negros e mulheres”, ele apresentou exemplos como uma capa da revista Veja (ilustrada ao lado) e a personagem Adelaide, do programa televiso Zorra Total — que foi, inclusive, alvo de denúncias de racismo junto à Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, órgão ligado à Presidência da República.
“Tanto o caráter reacionário da nova onda conservadora dos setores médios quanto o caráter excludente das mensagens midiáticas são relacionados”, conclui Porto. Para o professor, a forte polarização política que testemunhamos atualmente torna difícil o funcionamento efetivo de uma democracia representativa.
Para a Facom, o ano é “especial”
Ao introduzir o evento com o professor Mauro Porto, a coordenadora do Ppgcom, Gabriela Borges, agradeceu a presença do convidado e ressaltou que a aula inaugural daria abertura a um ano letivo “muito especial” para a Facom. “Em 2017, nosso programa de pós-graduação completa dez anos, e o curso de jornalismo, por sua vez, completa 60”, relembra. “Também é o primeiro ano do novo curso que a faculdade está oferecendo, de Rádio, TV e Internet, e, além disso, vai marcar a inauguração do novo prédio da Facom.”
Já o professor do Ppgcom, Paulo Roberto Leal, aproveitou a ocasião para parabenizar a nota máxima obtida pelos cursos de Jornalismo, tanto diurno quanto noturno, na avaliação do Enade. Ele concluiu sua fala descrevendo o privilégio de receber o professor Mauro Porto para a aula inaugural: “Para nós, é uma honra, pois se trata de uma das maiores referências na área de comunicação para política.”
Outras informações:
(32) 2102-3601 / 2102-3602 (Facom)