Investigar a repetência em uma escola pública do Amazonas e propor soluções para reduzir o fenômeno e suas consequências é o foco da dissertação “A distorção idade-série em uma escola estadual do município de Tabatinga-AM.” A pesquisa foi apresentada na última quinta-feira, 16, pelo mestrando Fábio Batista Martins, do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Avaliação da Educação Pública (PPGP), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O estudo foi realizado levando em conta a própria experiência do mestrando na escola, na área urbana de Tabatinga, Sudoeste Amazonense. Segundo Fábio Martins, o índice de distorção é maior no Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e no Ensino Médio, em comparação com o Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano). “Ficou em evidência que, nos anos iniciais, há uma participação maior da família e da escola em buscar melhorar, fazer com que o aluno não reprove. Já no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio, a gente percebe que a família é mais ausente, ela quase não participa’, afirma o acadêmico.

O principal efeito da distorção idade-série é a desmotivação nos estudos. De acordo com Fábio, “a tendência é eles se afastarem do estudo e, consequentemente, permanecerem em distorção. Com o tempo, podem até evadir da escola.” Na escola de Tabatinga, o uso de mídias, como a televisão e o computador, foi um caminho para captar o interesse dos alunos. As aulas inovadoras começam ao final da tarde e duram, em média, duas horas. “A escola insere os alunos nesse curso para que eles possam amenizar essa distorção. É uma aula diferenciada, em que o professor de mídias mostra os conteúdos de uma forma mais reduzida, para que esse aluno possa acompanhar”, explica o mestrando.

Educação é dever de toda a sociedade

Para o professor orientador da dissertação de mestrado, Marcelo Tadeu Baumann Burgos, a lógica da reprovação e da exclusão faz parte da cultura da escola brasileira. O professor afirma que “foi assim que ela (a escola) lidou com a chegada maciça das crianças e adolescentes pobres aos bancos escolares. Desde meados dos anos de 1990, no entanto, vem ganhando corpo a preocupação com o problema.”

Na visão do pesquisador, políticas públicas, como o Bolsa Família e o Saúde na Escola, são fundamentais, pois “atacam” as causas da distorção idade-série. “Uma outra escala de políticas tem a ver com a gestão escolar, e aqui o campo é muito aberto à imaginação e inovação. Neste caso, o mais importante é o reconhecimento de que a distorção idade-série é um problema e, mais que isso, uma forma grave de exclusão. A partir dessa percepção, fica mais fácil criar medidas, como a recuperação paralela, aulas de reforço, etc”, argumenta o orientador.

O professor destaca, ainda, que, além de dever do Estado e da família, a escolarização dos jovens deve ser uma obrigação da sociedade. “A Constituição de 1988 deixa isso muito claro. Com o Estatuto da Criança e do Adolescente, e com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação, criou-se um aparato jurídico e institucional suficiente para fazer valer esse compromisso da sociedade, ganhando corpo a ideia de rede de proteção de direitos da criança e do adolescente. No entanto, várias pesquisas têm demonstrado que essa rede não tem funcionado de modo eficiente na maior parte dos municípios brasileiros”, avalia Marcelo Baumann.

Contato:
Fábio Batista Martins (mestrando)
fabiom.mestrado@caed.ufjf.br

Prof. Dr. Marcelo Tadeu Baumann Burgos (orientador)
burgos@puc-rio.br

Banca Examinadora:
Marcelo Tadeu Baumann Burgos (orientador – PUC – Rio)
Roberto Perobelli de Oliveira (UFES)
Luciana da Silva de Oliveira (IF Sudeste MG)

Outras informações: (32) 4009 – 9319 – Programa de Pós-Graduação em Gestão e Avaliação da Educação Pública