Os professores em início de carreira e que atuam nos anos iniciais da educação básica — 1º ao 5º ano do ensino fundamental — podem enfrentar inúmeras dificuldades na preparação de suas aulas e na transmissão de conteúdo. As ciências e a matemática, em especial, costumam ser os fantasmas daqueles que escolheram a pedagogia por falta de afinidade com as ciências exatas. Porém, o projeto de extensão “Práticas docentes em ciências e matemática de professores dos anos iniciais em início de carreira”, do Núcleo de Educação em Ciência, Matemática e Tecnologia (NEC), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tem a proposta de auxiliar na difícil missão de ensinar.
O objetivo do projeto é trabalhar questões relacionadas ao ensino das ciências — química, física — e da matemática nas classes do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, com professores com até cinco anos de experiência em sala de aula. “Diversos autores do campo da educação afirmam que os professores em início de carreira precisam passar por obstáculos difíceis de ser superados, o que pode levar ao abandono da carreira. Por outro lado, também é nessa fase que os professores aprendem muito sobre a profissão docente”, explica o coordenador do projeto, Reginaldo Fernando Carneiro.
Também integram a equipe do projeto as professoras Cristiane Carneiro Cunha Flôr e Graziela Piccoli Richetti (Faculdade de Educação),, Andreia Francisco Afonso (Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas) e os bolsistas Wagner da Cruz Seabra Neiras e Paulo Ricardo Ramos Pereira.
O projeto teve início em abril de 2015, com a liberação de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). Na primeira etapa, que durou um semestre letivo, a equipe teve oportunidade de conhecer os professores e mensurar seus conhecimentos sobre ciências e matemática. “Procuramos saber como eles se tornaram professores e conversar sobre suas experiências, analisando suas maiores dificuldades. Nessa etapa, pudemos levantar os temas, os conceitos e os conteúdos que seriam trabalhados dali para frente, sendo justamente aqueles mais difíceis para os professores.”
A partir deste levantamento, foram desenvolvidas oficinas, abordando as disciplinas com maior nível de dificuldade, que foram lecionadas de agosto de 2015 a dezembro de 2016. “Não apenas nós da equipe propusemos os conteúdos, mas também os próprios professores. Todos têm a palavra e podem colocar opiniões. Essa troca ajuda a compor o projeto de pesquisa, pois eles também produzem conhecimento em suas salas de aula, que pode ser trazido para a Universidade”, considera Carneiro.
Atualmente dez professores de escolas particulares, municipais e estaduais participam do projeto, que tem reuniões presenciais a cada 15 dias. Para deixar o grupo mais próximo, coeso e reduzir a distância ocasionada pela frequência quinzenal dos encontros, foi criado um grupo no Facebook para divulgar todo o material das oficinas, além de eventos, concursos e sites relacionados ao ensino das ciências e da matemática.
O projeto foi premiado na Mostra de Ações de Extensão da UFJF, realizada durante a Semana de Ciência, Tecnologia e Sociedade, ocorrida em outubro deste ano. “Muitas pesquisas mostram que alunos de pedagogia tentam fugir das ciências exatas e, ao chegar no curso superior, deparam-se com disciplinas de ciências. Só que, nem nos cursos específicos, a formação é completa e o profissional precisa estudar mais. No projeto e por meio das oficinas podemos oferecer o maior número de oportunidades de contato com estas matérias e mostrar aos professores onde encontrar o conteúdo a ser ensinado e formas diferentes de lecionar”, avalia Carneiro.
Oficina de tangran
Aluno do curso de Matemática do Instituto de Ciências Exatas, Paulo Ricardo Ramos Pereira é bolsista do projeto. Ele ministra a oficina de tangran, figura geométrica composta por outros elementos circunscritos, que auxilia no estudo de disciplinas de diversas áreas, como arte e geometria. Por meio da figura, Pereira desenvolve um quebra-cabeça matemático que auxilia no aprendizado de frações e de geometria, por exemplo. “Usando apenas o tangran, conseguimos potencializar a abstração na resolução dos exercícios, mostrando de forma prática o que significa a soma de frações, o mínimo múltiplo comum e questões desse tipo”, explica.
Pereira acredita que atividades de capacitação como essa são fundamentais na formação do professor. “Sabendo trabalhar conceitos matemáticos no início da carreira, o medo da matemática fica mais suave nos anos seguintes, e o professor fica mais confiante. Eles procuraram o projeto justo por terem dificuldade em lecionar ciências. Ao fazer as oficinas, os professores vão vendo como funciona a matemática, por exemplo, e percebendo que novos tipos de didática e de trabalho em sala de aula são tendências para estimular o aluno”, considera.
Resultados
O projeto de extensão têm gerado frutos. Um deles foi a criação do Encontro de Práticas em Ciências e Matemática nos Anos Iniciais (Cimai), cuja primeira edição ocorreu em junho passado, com a participação de 120 pessoas. Durante o evento, professores relataram os trabalhos que deram em sala de aula, após a participação no projeto, apresentando resultados e propondo novas oficinas. “Participaram professores e pedagogos de várias cidades da Zona da Mata e também dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo que mostraram situações típicas das classes nos anos iniciais”, lembra Carneiro. A segunda edição do Cimai está prevista para junho de 2017, com projeção de público de 150 pessoas.
As atividades do projeto de extensão voltam a ocorrer no início do semestre letivo. Professores que atuam nas classes iniciais e que tenham até cinco anos de carreira podem se inscrever, entrando em contato com o coordenador, pelo e-mail reginaldo.carneiro@ufjf.edu.br.