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Professora Nadja Paraense dos Santos apontou que as ciências e a arte são indissociáveis da cultura (foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”, já cantava João Gilberto, em meados de 1960. A essa máxima, não resistem nem mesmo os mais especializados cientistas. Foi partindo dessa lógica que a professora Nadja Paraense dos Santos (UFRJ) apresentou, nesta sexta feira, 9, a conferência “Ciência e Arte, isso dá samba!”, promovida pelo Programa de Pós-graduação em Química da UFJF.

Formada em engenharia química, Nadja iniciou sua carreira como professora do ensino básico no Rio de Janeiro, buscando ampliar suas competências como docente para esse público na licenciatura. Esse caminho lhe possibilitou a especialização em História das Ciências no Brasil. Apoiada em sua experiência nesse campo, a professora apontou, ao longo de sua fala, que as ciências e a arte são dois elementos indissociáveis da cultura, nascidos do mesmo impulso curioso e criativo que move a humanidade.

Se, conforme a palestrante, a ciência é resultado da intuição, enquanto a arte é produto da inspiração (ambas contando com uma boa colaboração do acaso), essas duas áreas do conhecimento, frequentemente e tão artificialmente distantes, se complementam a todo o tempo: “Ciência faz parte da cultura, não se pode fazer essa distinção. Quando falamos de ciência ou de arte, primeiramente temos que compreender quem se dedica a elas. Quem são essas pessoas, em qual meio elas circulam, qual a função delas ao transitar por esses meios, por esse tempo”, explicou Nadja.

Nos movimentos artísticos, a professora apontou exemplos em que a arte incorpora debates e avanços científicos em sua técnica e em suas temáticas (A Persistência da Memória, de Salvador Dali, e a relatividade de Einstein; ou o movimento pontilhista e o atomismo). Em contrapartida, a arte serve de divulgação e democratização dos conhecimentos científicos.

Além disso, tendo como exemplo o livro Decompondo o Arco-íris, do biólogo Richard Dawkins, a professora apontou que a compreensão científica dos fenômenos apenas contribui para ampliar e refinar a apreciação estética da vida. Citando o poeta Fernando Pessoa, que por um lado afirmava que “a ciência mostra como as coisas são. A arte, como as coisas são sentidas”, Nadja afirmou: “O binómio de Newton é tão belo quanto a Vênus de Milo. O que há é pouca gente para dar por isso”.

A professora Nadja defende que o caminho é formar cientistas com visão mais ampla dos fatos da vida e democratizar suas descobertas a partir de uma linguagem atraente ao público, seja esse a sociedade geral ou os alunos em uma sala de aula.