“Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós.” Foi com essa cantiga e com a leitura da letra de “Não Enche”, de Caetano Veloso, que os alunos da Faculdade de Letras (Fale) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) abriram a VI Jornada Literária, que teve início na terça-feira, dia 29. Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários e pela Fale, o evento acontece até a próxima sexta-feira, 2.
A conferência de abertura contou com a participação dos professores Alexandre Graça Faria e Ana Paula El-Jaick, trazendo debates acerca do tema “A pesquisa em estudos literários e a (i)legitimidade do poder”.
Por meio de um ensaio, Ana Paula apontou algumas mudanças no meio acadêmico brasileiro nos últimos anos, comparando o ensino que teve com o de seus atuais alunos. Segundo a professora, na sua época de faculdade, era considerado normal certo descuido em relação às universidades públicas, além de haver poucos professores efetivos. Um exemplo das mudanças foi quando em, 2012, começou a lecionar na UFJF. Havia um aumento na procura por professores na época, além de muitos estudantes estarem tendo oportunidade de fazer intercâmbio em outros países, o que ilustra o crescimento das universidades e desenvolvimento das pesquisas.
A pesquisadora também propôs reflexões a respeito da situação atual do país, demonstrando preocupação com o rumo que o Brasil e as universidades públicas podem tomar futuramente. “Me deixa ensaiar esse ensaio cíclico, alegre e triste, dedicado aos meus alunos que não vão me procurar antes de embarcar para Nova Zelândia, Portugal ou Espanha. Este ensaio dedicado aos alunos que terão uma graduação como a minha, e que vão naturalizar fronteiras para estudar”, declama Ana Paula. “Ensaio hoje com a alegria de saber que essa jornada apenas começa, e então os papéis serão trocados e estarei no lugar da escuta. Vocês praticarão os seus discursos. Desejo, assim, que nos próximos dias pratiquemos esse paradoxo foucaultiano, ter acesso a qualquer tipo de discurso, ainda que todo o sistema de educação seja uma maneira política de manter ou de modificar a compreensão dos discursos como saberes e poderes que eles trazem consigo”, completa.
Seguindo o mesmo viés, o professor Alexandre Faria apresentou duas canções: “Cordilheira”, de Paulo César Pinheiro e Sueli Costa, e “Base de Guantánamo”, de Caetano Veloso, além de imagens com a proposta de “apontar ‘nós na caretice’ e refletir sobre a pesquisa em literatura”. Para o pesquisador, “o século XX ainda não acabou”.
Faria também destacou o valor da Jornada Literária como um espaço de discussão não apenas da pesquisa em literatura, mas também para pensar no poder do Brasil atualmente, que, segundo o professor, “foi ilegitimamente construído”. “É importante demarcar esse lugar que estamos ocupando agora, que é um lugar muito específico, um lugar em que além da reflexão, além do pensamento, além do sentido, nós vamos ter que descobrir formas também de produzir presença”, realça.
Outras informações: (32) 2102-3150(Faculdade de Letras da UFJF)