A abertura do Seminário de Assistência Farmacêutica: a vivência do farmacêutico no cenário atual, ocorrida na noite desta quinta-feira, 24, no Anfiteatro da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), abordou o atual momento da política brasileira, as ameaças aos princípios outorgados na constituição do Sistema Único de Saúde (SUS) e os desafios da Farmácia frente a tal panorama.
O evento contou com a mesa-redonda Gestão assistência farmacêutica: contabilizando avanços, superando desafio para a construção de uma agenda futura, com o farmacêutico da Superintendência de Vigilância Sanitária de Minas Gerais, Rilke Novato Públio, o farmacêutico da Superintendência de Assistência Farmacêutica de Minas Gerais, Homero Cláudio Rocha, o farmacêutico representante do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, José Alves Torres Júnior, e teve a moderação da professora da Faculdade de Farmácia da UFJF, Rita de Cássia Padula Vieira.
Na visão de Rilki Novato Públio, o atual momento da política brasileira apresenta ameaças também à assistência farmacêutica de modo geral. “É um momento sabidamente adverso. Principalmente por conta das proposições já manifestadas por parte do Poder Executivo e do Ministro da Saúde que tem se posicionado claramente em defesa da privatização do sistema da saúde do país.” Foi lembrada ainda a conjuntura geopolítica vivida durante a criação do SUS, na qual predominava uma visão neoliberal, representada, por exemplo, pelo presidente republicano Ronald Reagan, e a primeira-ministra conservadora Margareth Thatcher, nos Estados Unidos e no Reino Unido respectivamente.
A mesa discutiu ainda as circunstâncias e os desafios encontrados pelo projeto desde a redemocratização do país, passando pela presença do sistema na constituição de 1988, e o que ocorreu com este desde em então, como a Lei de Patentes de 1996 e o crescimento dos investimentos em assistência farmacêutica nos últimos anos. Além das abordagens da relação do meio da Farmácia com as conjunturas políticas do país, outras questões importantes relativas ao meio foram abordadas. Dentre elas estão as perspectivas para os profissionais no mercado de trabalho público e privado assim como o contato ideal que os farmacêuticos devem ter com os pacientes.
Para a coordenadora geral do Diretório Acadêmico da Faculdade de Farmácia (DAFF), Talita Dias, o evento foi positivo. “O debate de hoje foi fundamental na nossa formação. Estar na presença de profissionais tão capacitados como o Rilke e o Homero foi muito agregador não só para nós, alunos, como também para os professores, e profissionais da área que estiveram presentes. Acho que não só contemplou as expectativas, como as superou.”
Na avaliação de Rilke Novato Públio, o evento também cumpriu com seu propósito. “Superou a expectativa. A proposta vem muito ao encontro de uma discussão que perpassa em nível nacional de fazer com que o farmacêutico tenha uma atenção para além do medicamento.” O seminário segue nesta sexta-feira, 25, e é uma parceria entre o Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais e o Diretório Acadêmico Lúcio Guedes Barra (DAFF) da Faculdade de Farmácia da UFJF. A programação completa se encontra aqui.
Uso irracional de medicamentos
Um dos principais assuntos abordados no evento foi o uso irracional de medicamentos. Durante a noite, profissionais tiveram a possibilidade de contar situações de medicação irresponsável e, até mesmo, sem fins medicinais. Para Rilke Novato Públio, trata-se de um problema gravíssimo em âmbito nacional: “Nós temos um quadro absurdo de que o medicamento é o agente que mais mata pessoas no Brasil, comparado com os outros agentes que causam intoxicação. Ele intoxica e mata mais do que agrotóxicos, produtos químicos e picadas de animais peçonhentos.”
Segundo Públio, o evento conseguiu contribuir nas discussões sobre o grave quadro de medicação irresponsável no país: “É de importância nacional fazer uma discussão para avançar e buscar soluções para esta tragédia nacional do uso irracional de medicamentos.” Durante o evento a importância da aproximação entre farmacêuticos e pacientes foi apontada como maneira de amenizar o problema. Além disso, discutiu-se o número reduzido de especialistas em Farmácia atuando na rede pública, o que contribui para a presença do quadro considerado absurdo.