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Roberta Cristina de Oliveira Saçço ao lado dos professores da banca examinadora após a defesa na Faculdade de Letras (Foto: Arquivo pessoal)

A mestranda Roberta Cristina de Oliveira Saçço, do Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), defendeu, na última segunda-feira, 17, a dissertação “Narrativas da dor: entre o silêncio e a representação”.

O trabalho tem como objeto de estudo a obra literária de Bernardo Kuscinsk, além de depoimentos de sobreviventes da ditadura militar brasileira e explora a relação entre ficção e testemunhos orais. O objetivo da pesquisa é mostrar como a literatura elabora imagens da violência contra o corpo e contra o psiquismo e como as vítimas elaboram os traumas dessa época. Concomitantemente, foram analisados os testemunhos de mulheres que prestaram depoimento para a Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora, com o intuito de resgatar vozes silenciadas na militância feminina juiz-forana e compreender como esse período foi pensado pelas mulheres da cidade que resistiram ao regime.

Passei pela educação básica estudando apenas fatos. Foi a literatura que me fez enxergar o que de fato representou a ditadura e que me ajudou a ter uma visão mais crítica desse período. Posteriormente, com a ajuda incansável da minha orientadora – professora Enilce do Carmo Albergaria Rocha – pude ampliar minhas leituras e problematizar mais o assunto”, afirma Roberta.

Para a orientadora da pesquisa, Enilce do Carmo Albergaria Rocha, a ditadura brasileira ainda apresenta-se como um objeto de estudo obscuro nas universidades do país. “A importância dessa dissertação é que ela traz à tona essa memória histórica recente do Brasil que, infelizmente, não é pesquisada nas nossas universidades. Existe um complô, um silêncio, que precisa ser rasgado. É preciso que nos lembremos dessa memória e é impressionante que isso esteja acontecendo na academia brasileira. Por que o Brasil quer guardar esse silêncio trágico sobre a nossa história recente? Este é um questionamento que perpassa toda a nossa universidade. Que alunos e que profissionais estamos formando?”, provoca.

Roberta endossa as palavras de sua orientadora e afirma que a ditadura serve como instrumento de fundamentação para teorias que se esforcem em compreender a história política do Brasil. “O período em questão é muito importante para a compreensão das mazelas atuais do Brasil. A não passagem pelo testemunho mantém o Brasil congelado no tempo no que diz respeito ao enfrentamento político e jurídico, pois aqui não houve revisionismo, como aconteceu com nossos vizinhos argentinos, por exemplo. As vítimas foram deixadas à margem do processo e a ausência do testemunho pode ser uma das causas da repetição da cena política a qual estamos vivendo hoje”.

Além da professora Enilce, participaram da banca examinadora a professora Helena da Motta Sales (UFJF) – que co-orientou o trabalho e presidiu a Comissão Municipal da Verdade de Juiz de Fora -, o professor Alexandre Graça Faria (UFJF) e a professora Marília Salles Falci Medeiros (Universidade Federal Fluminense) – vítima da ditadura militar brasileira, que aceitou participar da banca -. Marília também prestou depoimento para a Comissão Municipal da Verdade.

“A presença de Marília Falci Medeiros na banca é um marco histórico na medida em que, a partir da instauração das comissões da verdade em todo país, foi dado lugar ao testemunho e iniciado o debate. A presença dela emocionou a todos e se configura o início de uma reparação simbólica”, finaliza a mestranda.

 

Contato

Roberta Cristina de Oliveira Saçço (mestranda)
robertasacco@bol.com.br

Enilce do Carmo Albergaria Rocha (orientadora)
enilcejf@terra.com.br

Outras informações: (32) 2102-3118 – Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários