O uso em medicamentos da Cannabis sp, conhecida popularmente como maconha, ainda é um ponto forte de discussão para pesquisadores e profissionais da saúde que se interessam pela área. Com o objetivo de discutir as ações terapêuticas e questões legais relacionadas à utilização clínica das substâncias obtidas dessa planta, o Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizará, nesta sexta, 9 de setembro, o Fórum “Uso terapêutico dos canabinoides: aspectos moleculares, clínicos e judiciais”.
O caminho percorrido pelos pesquisadores ainda é longo, mas o canabidiol, uma das principais substâncias extraídas, tem apresentado possíveis indicações em tratamentos psicológicos, como os de psicose, ansiedade, transtornos de humor, síndrome de abstinência e insônia. Além disso, também há a possibilidade de ação em outros problemas, como será apresentado na palestra “Mecanismos envolvidos nos efeitos anti-estresse do Canabidiol”, pela professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Alline Campos.
Acredita-se também que os canabinoides podem vir a ter grande importância para a neurologia, principalmente na redução do número de convulsões. No Fórum, o assunto será tratado pelo neurologista e professor da UFJF, Marcos Moreira, que trará a palestra “Eficácia e segurança dos canabinoides nos distúrbios neurológicos”. Também foram encontrados efeitos positivos para pacientes submetidos a quimioterapia, como sensações de bem-estar, euforia, sedação ou sonolência, mesmo que alguns efeitos adversos (como alucinações, hipotensão arterial, paranoia e depressão) também possam se fazer presentes durante o tratamento.
Planta x substâncias derivadas
Muito se questiona sobre o modo como a planta Cannabis pode ser utilizada para fins medicinais em função de sua imagem negativa associada ao consumo de uma droga ilegal. De fato, a planta, ao ser consumida in natura como cigarro, possibilita o desencadeamento de problemas respiratórios e câncer de pulmão, uma vez que possui substâncias nocivas e mais tóxicas que as encontradas em um cigarro de tabaco – além de também haver a possibilidade de dependência psicológica por parte dos usuários. Mas alguns compostos encontrados nela, como o canabidiol, parecem desempenhar ações benéficas ao organismo.
Portanto, cabe aos profissionais da saúde e pesquisadores analisar constantemente a eficácia de cada substância utilizada e até que ponto as reações adversas desencadeadas por essas são inferiores aos efeitos positivos. O primeiro ponto deixado claro pela professora do Departamento de Farmacologia e organizadora do evento, Pâmela Souza, é o de que existe o mito popular de que os medicamentos causam apenas efeitos positivos no organismo. “O que se espera com o tratamento farmacológico, na verdade, são benefícios superiores a prejuízos”, comenta ela. Assim, a diferença está em enxergar a ação da planta em sua forma natural e a potencialidade de ação terapêutica dos seus compostos isolados, que podem agir de formas diferentes em cada uma das situações.
Nesse sentido, muitas dessas questões serão esclarecidas com a palestra “Canabinoide: vilões ou heróis?”, ministrada pelo professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Rafael Dutra, onde serão abordadas questões relacionadas à ação molecular dessas substâncias.
Legalização dos medicamentos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou, em 2015, o uso dos canabinoides para fins terapêuticos. Para a utilização das substâncias extraídas da Cannabis, existe uma série de critérios e procedimentos que devem ser seguidos, garantindo que o uso seja feito apenas por pacientes que necessitem daquele tratamento e tenham prescrição médica.
Para tratar do tema e esclarecer para os participantes algumas questões relacionadas a essa regulamentação, o Fórum também contará com a presença do procurador municipal de Juiz de Fora, Edgar Souza Ferreira, encerrando as atividades com a palestra “Aspectos judiciais do uso terapêutico do Canabidiol”.
Fórum
Essencialmente, o evento proporcionará debates e apresentará dados sobre as pesquisas desenvolvidas com pacientes e como esses medicamentos têm agido no organismo. “O objetivo das palestras é trabalhar desde as questões iniciais, sobre como esses derivados atuam no organismo, passando pela sua utilização clínica, até as questões legais, o que reflete na dificuldade da comercialização e da aquisição desses produtos pelo paciente”, explica a professora Pâmela.
O evento acontecerá no Anfiteatro A do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) com início às 14h. São 300 vagas abertas a todos os interessados. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por meio do preenchimento do formulário online até hoje, 8 de setembro. O Fórum confere certificado a todos os participantes.
Outras informações sobre a programação podem ser conferidas no site ou por meio do telefone 2102-3210 (Departamento de Farmacologia).