Fundador do Nupes, Alexander Moreira-Almeida, ao lado do convidado internacional para conferências na UFJF, o pesquisador alemão Harald Walach (Foto: Alexandre Dornelas)

Fundador do Nupes, Alexander Moreira-Almeida, ao lado do convidado internacional para conferências na UFJF, o pesquisador alemão Harald Walach (Foto: Alexandre Dornelas)

“Aquele que teve uma experiência tem conhecimento infalível” — foi com a frase do filósofo medieval João Escoto Erígena que o professor e psicólogo alemão Harald Walach iniciou sua conferência nesta última segunda-feira, dia 29. Diretor do Instituto de Estudos Transculturais em Saúde e professor de Metodologia de Pesquisa da Universidade Europeia Viadrina, localizada na Alemanha, Walach é o convidado internacional da programação do VII Ciclo de Conferências Internacionais em Ciência e Espiritualidade da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Este ano, o ciclo comemora os dez anos do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da UFJF, grupo de maior referência nacional na área de pesquisas sobre o tema. Em sua conferência de abertura, Walach discorreu sobre o tema “Espiritualidade: o tabu do século”, abordando aspectos históricos e científicos do porquê da área acerca de religiosidade ainda ser vista com olhos receosos pela ciência.

Paralelos entre experiências científicas e espirituais

Walach comparou o tratamento recebido pela religiosidade com a forma que a sexualidade era vista há décadas atrás. “Ambos aspectos são inerentes a nós, seres humanos. Ainda que tenham sido registradas ao longo da nossa história, em diferentes momentos culturais da humanidade, as experiências religiosas são associadas a conceitos como os de arcaico e obsoleto.”

Para explicar essas associações, o pesquisador relembra os adventos do Iluminismo,  movimento intelectual que trouxe a racionalidade e a ciência para o centro do pensamento filosófico durante o século 18, considerado, historicamente, como o “século das luzes”. “A concepção de erudição e pensamentos críticos batia de frente com as instituições religiosas da época, o que acabou associando o pensamento espiritual a dogmas religiosos e os rivalizou ao que foi estabelecido como fonte de conhecimento.”

“A espiritualidade é um tópico digno e viável de ser analisado cientificamente”, afirmou Walach (Foto: Alexandre Dornelas)

“A espiritualidade é um tópico digno e viável de ser analisado cientificamente”, afirmou Walach (Foto: Alexandre Dornelas)

Ao comparar descrições de revelações científicas e religiosas, no entanto, o pesquisador traça um paralelo. “Até o conceito de ‘iluminação’ é utilizado nos dois campos para relatar como algo ficou claro e inundou alguém de conhecimento, seja esta pessoa um cientista ou um religioso. O que descrevemos como ‘intuição’ também se assemelha. Como detetives, trabalhamos na verificação daquilo que somos capazes de sentir e perceber.” Porém, o processo de verificação é um obstáculo. “Ainda é preciso identificar os aspectos das revelações religiosas, o que é algo difícil, uma vez que são baseadas em experiências internas e pessoais, ao contrário das revelações científicas, cujo objeto pode ser demonstrado externamente.”

Soluções

Segundo Walach, para avançarmos na análise da espiritualidade humana, o dogma materialista precisa ser questionado, especialmente o que diz respeito à investigação teórica do ser como um ente consciente. “Precisamos de uma solução viável e não reducionista sobre a relação entre o corpo e a mente humana. Temos que trabalhar a questão da epistemologia das experiências internas, ou seja, precisamos documentar mais a respeito das mesmas, avaliá-las cognitivamente, para um estudo mais amplo e completo de seus impactos na espiritualidade, seus paradigmas e a relação com contextos históricos, sociais e culturais.”

Walach ainda chamou à atenção para perigos da exclusão e da associação dos tópicos espirituais como algo menor ou menos importante do que demais componentes da nossa sociedade, como o extremismo e o fanatismo religioso. “A espiritualidade é um tópico digno e viável de ser analisado cientificamente”, assegura o pesquisador. “É fonte de significados e valores em nossa sociedade, além de as experiências internas ainda poderem complementar a abordagem das ciências naturais a respeito das experiências externas em nosso mundo.”

Nupes: “Fruto da fé na ciência”

O professor da Faculdade de Medicina da UFJF e fundador do Nupes, Alexander Moreira-Almeida, abriu a conferência relembrando os dez anos do grupo e reafirmando o compromisso de trazer retorno e conhecimento à população, tanto a científica quanto toda a sociedade, e se configurar com produções científicas de renome nacional e internacional. “O Núcleo é fruto da fé. Da fé na Universidade, na ciência, nos pesquisadores e no vencimento de obstáculos. E é assim que vamos prosseguir.”

Outras informações:

Programação do VII Ciclo de Conferências Internacionais em Ciência e Espiritualidade

Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade em Saúde

(32) 2102-3848 (Programa de Pós-Graduação em Saúde – UFJF)

TV Nupes