A presença de atletas e comissões técnicas olímpicas de nove países no complexo esportivo da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da UFJF já deixa saudades, mas, acima de tudo, muitos legados. Nos pouco mais de 25 dias de permanência das equipes na Universidade, vários alunos se envolveram em projetos de voluntários que contribuíram na recepção e no acompanhamento dos visitantes, bem como na formação profissional.
Os voluntários colaboraram como attachés. Alguns atuaram junto às delegações como tradutores. Eles puderam aprimorar e praticar o inglês e puderam conhecer e aprender, de perto, muitos aspectos culturais e profissionais diferenciados, especialmente os relacionados ao dia a dia do esporte de alto rendimento.
Patrícia Martins, está cursando a Faculdade de Letras, e participou da equipe de attachés da China, uma das delegações com poucos integrantes que tinham fluência no inglês. Ela relembrou o primeiro dia de trabalho com os chineses: “na hora de ir embora, eu não sabia como dizer a eles que o ônibus estava vindo, em mandarim. Então, eu dei um sorriso e fiz um gesto com as mãos pedindo para que eles esperassem; muitos deles sorriram de volta e todos esperaram tranquilamente. Naquela hora, vi que existem muitas formas de se comunicar, além das palavras, como sorrisos, por exemplo.”
O estudante de Engenharia Ambiental, Micael Machado, também trabalhou com a delegação chinesa, porém, o mandarim não foi um desafio para ele. O acadêmico participou do programa de intercâmbio Ciência Sem Fronteiras e estudou mandarim em uma universidade na China durante um ano e, por mais seis meses, envolveu-se em um curso voltado para Engenharia Ambiental. “Foi uma experiência muito legal, porque como era o único que falava mandarim, me tornei uma referência. Eu chegava no hotel, ou na Faefid, e as pessoas diziam: aquele ali sabe falar com os chineses, chama ele”, contou o Micael, que também é casado com uma chinesa.
Um ponto que os attachés ressaltaram foi a simpatia dos atletas. Por questões culturais, alguns eram mais reservados, mas sempre educados e atenciosos. “A gente sempre coloca essas pessoas que conseguem chegar em patamares mais altos do esporte em pedestais. E, quando a gente tem esse contato, vê que não, eles são pessoas normais, são super acessíveis. E você bate um papo e, no dia seguinte, eles estão na televisão,” ressaltou o estudante de Ciências Biológicas, Francisco Pimentel, que auxiliou as equipes do Egito e do Canadá.
Alguns atletas, como o corredor canadense Oluwasegun Makinde, estavam aprendendo português com os attachés e outros sempre cumprimentavam e agradeciam no nosso idioma. “Eles estavam interessados em conhecer a nossa língua também. Perguntavam como nós falamos, como são nossos hábitos alimentares”, contou a attaché Luisa Amaral, que acompanhou a delegação canadense. Em retribuição, os alunos que conviviam com os visitantes se arriscavam nos idiomas deles.
Segundo a coordenadora do programa Idiomas Sem Fronteiras, Carolina Magaldi, que esteve à frente do trabalho dos attachés, foram selecionados 150 estudantes, falantes de inglês ou francês, por meio de edital da Diretoria de Relações Internacionais. Para a professora Carolina, o primeiro momento de contato com as delegações foi fundamental no processo de formação acadêmica, pessoal e profissional dos alunos. “Outro ponto que merece ser destacado, é o trabalho da coordenação responsável por cada delegação. Haviam sempre dois técnicos ou dois professores orientando e auxiliando todo o trabalho. Para o segundo momento, que é o de treinamento para as paralimpíadas, receberemos apenas a delegação do Canadá, e com essa experiência, não temos dúvidas do sucesso.”
A professora ressaltou que “os coordenadores organizaram a escala de acompanhamento aos treinos, as idas ao aeroporto e a solução de eventuais problemas”. A coordenadora lembrou, ainda, que “a resposta das delegações foi excepcional. As delegações da China, Canadá e Eslováquia convidaram coordenadores e attachés para jantares de agradecimento, um jornal eslovaco publicou uma reportagem sobre a UFJF e o trabalho dos attachés, e todos me deram retornos positivos da experiência.”
Além do trabalho direto com as delegações olímpicas, os attachés auxiliaram no atendimento à imprensa e atuaram na tradução consecutiva das palestras do congresso de Ciência do esporte da Faefid.
Alunos da Faefid ressaltam oportunidade de aprendizado
Os voluntários da Faefid aprenderam muito sobre a preparação de atletas de alto rendimento. Na teoria, tiveram a oportunidade de aprofundar os conhecimentos por meio também do Congresso de Ciência do Esporte, em que pesquisadores da UFJF e estudantes trocaram experiências com os profissionais das delegações. Na prática, os acadêmicos organizaram e ajudaram às delegações na preparação diária da infra-estrutura dos locais de treinamento, como por exemplo na regulagem de equipamentos.
Na opinião da aluna do 9º período, Roberta Belligoli, “ter contato com estes atletas de nível olímpico, é algo incomparável. É a oportunidade de ver de fato a prática de tudo que a gente aprende na faculdade. Conhecer atletas profissionais de perto, os técnicos e as táticas de treinamento, foi uma oportunidade única, não existe nada que possa substituir este momento.”
Já o aluno do 5º período, Lucas Faria, ressaltou que seu aprendizado foi duplo: “é um ensinamento que, com certeza, vou usar na minha vida profissional e pessoal. A forma como os treinadores preparam os atletas foi muito valiosa de aprender. E como os atletas controlavam a ansiedade, era impressionante.” A beleza da fauna e da flora na área da Faefid foi um dos pontos que também marcaram bastante a relação dos estrangeiros com o espaço de treinamento. Lucas lembrou quando os saguis, popularmente conhecidos como miquinhos, desceram até a pista de atletismo e os atletas começaram a brincar com eles: “os atletas fizeram uma festa”.
Intercâmbio cultural
Os alunos aproveitaram também para ensinar aos atletas o que eles sabiam. Em um dos momentos de descontração, voluntários mostraram alguns passos de samba aos chineses do salto com vara, que tentaram reproduzir. “Nós passamos o dia inteiro com eles, por três semanas, acabamos amigos,” explica Miraldina dos Santos, que está cursando Educação Física, através de uma parceria entre o governo de Angola, seu país natal, com o Brasil.
Fisioterapia, Jornalismo, Engenharia de Produção, Moda e Turismo foram outros cursos que tiveram o acesso às equipes olímpicas. Os estudantes envolvidos em projetos puderam aprender e ter novas experiências. Luciana Freiri está no 9º período de Fisioterapia e, como os demais colegas de curso envolvidos na iniciativa, observava atentamente o trabalho dos fisioterapeutas das delegações que, muitas vezes, acontecia nos locais dos treinos. Segundo ela, mais do que pelo aprendizado profissional, a experiência valeu porque “nunca tinha visto uma diversidade tão grande, tinha gente de todos os cantos do mundo, falando idiomas que eu nunca tinha ouvido, com feições físicas bem marcantes, próprias do lugar de onde elas vêm”.
Para a estudante de Jornalismo, Larissa Garcia, a oportunidade também foi positiva: “aprendi a lidar com os desafios de escrever pautas diárias, melhorar meu texto e, principalmente, ouvi boas histórias. Tive a chance de entrevistar atletas de alto nível, recebi orientações cuidadosas e desenvolvemos um bom trabalho em equipe”.