Com signos, arquétipos e cores que dialogam entre si, Leonino Leão vence o tempo e o espaço ao criar um universo particular, embora universal, palpável na mostra que o Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) inaugura nesta terça-feira, dia 2, com visitações até 7 de outubro na Galeria Convergência. As obras podem ser vistas às segundas-feiras, das 12h às 18h, e de terça a sextas-feira, das 9h às 18h, com entrada franca.
São 76 obras reunidas a partir de acervo da casa e de colecionadores para homenagear o artista que, em sua breve passagem por Juiz de Fora, marcou a produção cultural da cidade, rompendo seus limites com uma produção reverenciada no Brasil e em países como a Espanha, onde deixou os rastros de sua força telúrica, com dimensões quase ancestrais.
Exímio gravador, pintor e desenhista, além de professor do Departamento de Artes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) entre 1984 e 1987, Leonino Leão inspirou e influenciou inúmeros artistas, como Fernanda Cruzik, que, emocionada, fala do mestre como contínua inspiração em seu caminho profissional. Muito além dos ensinamentos técnicos, ela reconhece a pessoa especial que se transformou em amigo querido, de longas conversas, confidências, um contador de histórias sempre a brincar com os elementos tanto da palavra quanto da arte exercida em múltiplas técnicas e materiais.
Fonte inesgotável
“Lembro dos suvenires que nos trazia de suas viagens, pequenos presentes, para mim tão valiosos que acabei utilizando como elementos para a feitura de algumas obras, em exposições do passado e do presente, como a que estou realizando na Galeria do Leblon, no Rio de Janeiro”, conta Fernanda. Como ela, o jornalista e crítico de arte Walter Sebastião aplaude a iniciativa da Pró-reitoria de Cultura (Procult) em revisitar a criação de Leonino Leão, visto por ele como um rio que transborda de tempos em tempos, deixando sempre uma colheita de especial qualidade.
“Não se trata de um trabalho de brilho fácil, superficial, simples. Ao contrário, cada obra está carregada de informações artísticas valiosas, que merecem ser vistas, estudadas e apreciadas”, diz Walter Sebastião. Para ele, Leonino Leão é uma fonte inesgotável, que não pode ser esquecida, precisando ser revisitada. “Sua obra se situa acima dos modismos, permanecendo encantadora em sua geometria sensível, em seu construtivismo universal. São criações deliciosas, inteligentes, radicais no sentido de colocar os problemas da arte. É um trabalho belo e instigante, que continua provocando a abertura do olhar, o que é fundamental”, analisa.
Papel atemporal
Incentivadora das artes em Juiz de Fora, a médica Neysa Campos não era apenas admiradora de Leonino Leão, que a ajudou na fundação da Casa de Papel, um dos principais pontos de encontro para artistas nos anos 1980. Lá, abraçaram a ideia de ampliar o espaço para as obras em papel e proporcionar visibilidade a novos artistas. Juntos, fizeram a curadoria de inúmeras exposições no local. “Éramos, sobretudo, compadres, tínhamos uma convivência diária, intensa, e uma grande afinidade que vinha do interesse pela poesia, paixão que o levou a Murilo Mendes. Ele costumava dizer que gostaria de ser para a pintura o que Murilo Mendes era para a poesia.”
“Leonino Leão era não apenas um grande artista multifacetado, mas uma figura humana que faz falta no mundo de hoje”, diz Neysa, lembrando o quão oportuna é a iniciativa da UFJF de homenageá-lo. “É importante que essa divulgação continue, porque não houve a chance do devido reconhecimento no tempo em que esteve entre nós. E vou além, lançando a ideia de um livro que possa reproduzir as suas obras de forma mais democrática e pública”, diz, observando que se considera afortunada por ter presenciado muito da criação artística e ter tido a oportunidade de participar de sua vida pessoal. “Sinto como uma bênção.”
Braços abertos
Natural de Cachoeira de Minas, Leonino Leão nasceu em 1948, tendo cursado a Faculdade de Belas Artes de São Paulo, com extensão na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) entre 1971 e 1973, época em que frequentou o atelier de artistas como Álvaro Apocalypse e Yara Tupynambá para aprimorar seus estudos técnicos. Em 1984, chegou a Juiz de Fora para ingressar como professor no Departamento de Artes da UFJF.
Entre as mostras que realizou ao longo de sua trajetória estão individuais e coletivas em Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, São Paulo, São José dos Campos, Ouro Preto. Seu trânsito na Espanha se deu em exposições realizadas em Madri e Barcelona. Participou como fotógrafo de Murilo Mendes: O olho armado; Olhar de poeta e Tempo espanhol. O artista faleceu em Juiz de Fora, em 1989, deixando uma obra ampla em técnicas diversas.
O Mamm fica localizado na Rua Benjamin Constant 79, no Centro da cidade.
Outras informações: (32) 3229-9070 (Museu de Arte Murilo Mendes-UFJF)