A imagem que estampava os cartazes espalhados pela UFJF traduzia com clareza a ideia principal do Som Aberto: diversidade. As cores variadas pareciam refletir as diversas manifestações artísticas presentes na Praça Cívica. Quem foi ao evento no sábado, 25, certamente encontrou alguma atividade pela qual se interessasse. Fosse pela música – carro chefe do formato anterior do projeto, de 42 anos atrás -, circo, literatura, moda, gastronomia ou simplesmente pelo passeio ao Campus.
Com o tempo a favor, numa tarde ensolarada, pouco a pouco a praça foi sendo preenchida pelo público. Cerca de oito mil pessoas circularam pela Praça Cívica durante toda a festa. Mães, pais, filhos, avós e jovens – muitos com seus animais de estimação – marcaram presença ao longo das oito horas de evento (das 14h às 22h).
A discotecagem de Pedro Paiva atraía olhos e ouvidos de quem estava por chegar aos arredores da Reitoria. O DJ do grupo Vinil é Arte foi importante para o dinamismo do evento, que, por ter muitas atrações que se sucediam na praça e no palco, precisou de algo que mantivesse a atenção dos visitantes. Como esperado, a música brasileira foi presença quase total, por ser a marca registrada do DJ.
Outro personagem importante foi o apresentador Flávio Abreu, que conduziu o Som Aberto durante todo o dia, informando o público sobre as atrações e realizando brincadeiras com muita criatividade. “Foi ótimo fazer esta participação no Som Aberto. Além desta grande abertura para a diversidade, o evento proporcionou a abertura do espaço para os músicos universitários”.
Quem não estava a fim de dançar também tinha alternativas para se divertir. Diversos estandes foram montados em uma grande tenda no centro da Praça Cívica. Uma das participantes foi Renata Ferreira, do brechó vintage Garimpo Cabeça de Boi, que se mostrou bastante animada com a iniciativa. “A cidade precisa de mais eventos como este, que disseminam a diversidade cultural”. Outra participante foi a ilustradora Bruna Bridi, que não só vendia seus trabalhos como também marcava sessões para tatuagem a preços abaixo de mercado no estúdio em que trabalha, o Bioma. “A iniciativa foi ótima. Meu negócio é novo e esse tipo de visibilidade é muito importante para mim”.
A parte culinária esteve presente em peso. Para quem desejava uma refeição quente, os vários food trucks atenderam bem a todos, favorecendo também o público vegetariano/vegano. Giscar Elias, do Truck Sheik, ficou impressionado com o resultado. “Tivemos muitas filas e alguns pratos se esgotaram. As atrações foram ótimas, o tempo passou bem rápido para nós”. Além dos feitos na hora, produtos orgânicos e sem glúten também foram vendidos nos estandes.
As atrações começaram às 14h30, com a aula de yoga do grupo Shunyata – Terapias Naturais. Em seguida, foi hora de o público dirigir seus olhares para o grupo de capoeira do mestre Cuitê e seus alunos. Quem caminhou pela tenda, notou várias poesias impressas pregadas em uma espécie de varal. E foi exatamente ali que os autores Prisca Agustoni, André Monteiro e Otávio Campos interpretaram seus poemas.
A próxima atração era a oficina circense de Débora Lisboa, do Grupo Amplitud. As performances aconteciam entre os intervalos das bandas. O momento foi marcante para o público infantil, que pôde participar de brincadeiras valendo brindes.
Rock, blues e MPB
Finalmente, era a vez de a música tomar o palco da Concha Acústica. A primeira a tocar foi a banda de rock n’roll/rockabilly Capivaras de Netuno. Para uma plateia ainda tímida, os cinco integrantes apresentaram um repertório misto de autorais e versões de músicas de diferentes décadas, indo de Raul Seixas a Cachorro Grande. Após o show, o guitarrista Gustavo Ferreira se dizia contagiado com a apresentação. “Gratificante! Ver tanta gente curtindo o nosso som foi incrível, estamos gratos pela oportunidade”.
A noite caía e o power trio Cangaia Blues subia ao palco da Concha Acústica. Com uma plateia mais aglomerada, a banda apresentou versões de grandes músicas de blues. Em apenas pequenas breves paradas, o vocalista e guitarrista Raony Amorim, timidamente, agradecia ao público no final das execuções. Preferiu se expressar por meio de riffs e grandes solos de guitarra de Jimi Hendrix, B.B King e Stevie Ray Vaughan. Raony disse que tocar na Concha Acústica era um desejo pessoal. “Todo aluno da universidade sonha em se apresentar na Praça Cívica e, pra nós, foi uma grande experiência. O incentivo ao aluno, e principalmente, à cultura, é essencial”.
Por fim, banda especialmente convidada para essa retomada do Som Aberto e muito aguardada pelo público, A Pá ocupou o palco. Pioneiros da primeira edição do Som Aberto, em 1974, a banda foi reorganizada especialmente para esta edição e os músicos trouxeram um repertório de clássicos de artistas como Milton Nascimento e Lô Borges. Após tanto tempo de hiato, os músicos ainda pareciam entrosados e fizeram uma ótima apresentação diante de uma grande plateia. Um dos integrantes, Xico Teixeira conta que o Som Aberto foi um marco de liberdade de expressão da época. “Naquele tempo a repressão era muito forte, e o Som Aberto foi um modo de nos expressarmos. É ótimo ver que a energia daquela época ainda continua presente”.
Organizadora e responsável pela renovação do Som Aberto, a Pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, se mostrou muito feliz com o resultado. “O Som Aberto não é apenas um resgate, é a ampliação de um evento que anteriormente era voltado para a música, mas que agora pertence também a outras formas de arte”.
Presente à Praça Cívica, o reitor da UFJF, Marcus David, disse que o evento cumpriu bem o papel de abrir o espaço do Campus para atividades culturais para a comunidade. “Minha expectativa é de que o evento possa se consolidar com atração frequente na agenda da Universidade”.