A noite da última quinta-feira, 16, foi movimentada na I Bienal do Livro e a Universidade Federal de Juiz de Fora mais uma vez se fez presente. Professores de diversas áreas do conhecimento da UFJF participaram de mesas de debates que trataram de diversos temas ligados à literatura, desde a teoria literária, passando pela crônica, até chegar ao universo dos esportes.
Teoria literária e a formação de novos escritores
Abrindo a noite, o escritor e professor da Faculdade de Letras da UFJF Fernando Fiorese, ao lado do também escritor e professor do Instituto de Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Gustavo Bernardo e do jornalista Wendell Guiducci, compuseram a mesa-redonda “Teoria e Literatura”, idealizada pela Pró-reitoria de Cultura da UFJF. “A mim, enquanto prosador e poeta, interessa profundamente a voz do outro e que ela seja essencialmente diferente da minha. O que nós precisamos é de uma literatura que conjugue, de alguma forma, todas as vozes que se manifestam na sociedade brasileira. Quero ser capaz de acolher a todas essas vozes”, afirmou Fiorese, ao abrir a discussão.
O jornalista Wendell Guiducci, que também é doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da UFJF, ressaltou a importância dos estudos teóricos na formação de um bom escritor. “Essa relação entre teoria e literatura é muito antiga; grandes nomes da literatura internacional eram, primeiro, teóricos. Foi a partir do estudo da teoria que cheguei até as minhas histórias”.
Já Gustavo Bernardo preferiu destacar o papel lúdico e transcendental da literatura. “Na vida, no cotidiano – em sala de aula, por exemplo – é impossível ver o mundo com o olhar do outro. A única maneira de se pôr no lugar do outro é lendo um livro, pois nele você obrigatoriamente acompanha a narrativa do autor, que não é a sua”. Bernardo é autor de inúmeros romances e ensaios e recebeu o Prêmio Literário Biblioteca Nacional de 2015, pela obra “A Ficção de Deus”.
Escritores juiz-foranos apresentam as características da crônica
Buscando enriquecer as percepções do público sobre um gênero literário próximo do jornalismo, a mesa de debate “A Crônica” contou com as presenças do professor da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF Rodrigo Barbosa e das professoras e escritoras juiz-foranas Maria de Lourdes Abreu de Oliveira e Maria Elizabeth Sacchetto – que mediou o evento – ambas formadas na Faculdade de Letras da Universidade.
“A crônica sempre registra um tempo, seja este passado ou presente”, declarou Beth Saccheto, ao introduzir o tema. O público pôde acompanhar um bem pontuado relato sobre a história da crônica, na voz de Maria de Lourdes Abreu de Oliveira, que afirmou ser, este, “o gênero literário mais próximo do brasileiro”. A escritora é autora de uma vasta e diversificada obra e tem no currículo inúmeros contos, romances e novelas, além de trabalhos acadêmicos e premiações de destaque nacional, como o Prêmio Petrobras de Literatura e o Prêmio João de Barro de Literatura Infanto-juvenil.
Para Rodrigo Barbosa, o evento foi uma boa oportunidade para apresentar, ao público, um pouco mais sobre um gênero tão presente na história literária do Brasil.“A gente verifica um fenômeno muito curioso e muito característico da literatura brasileira, que é o fato de que quase todos os nossos grandes escritores, independentemente do gênero, passaram pela crônica: dramaturgos, como Nelson Rodrigues; poetas, como Carlos Drummond de Andrade; romancistas, como Clarice Lispector…O exercício da crônica foi uma experiência que, de certa maneira, atraiu quase todo escritor brasileiro”, afirmou.
Uma visão crítica sobre a literatura esportiva
Outra atração que chamou a atenção do público foi a mesa “Literatura e Esporte”, que discutiu o que vem sendo escrito sobre o tema no Brasil e no mundo. O bate-papo foi conduzido pelo diretor de Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra, que recebeu o jornalista da ESPN, Dudu Monsanto – egresso da Facom/UFJF – e o diretor da Faculdade de Educação Física (Faefid) da Universidade, Maurício Bara.
Ex-repórter de rádio e TV e com larga experiência no jornalismo esportivo, o professor Márcio Guerra ressaltou a importância dessas narrativas para a preservação da história e das lendas do esporte. “Um país, uma cidade ou qualquer lugar sem memória corre o sério risco de perder sua identidade. Desconhecer a vida dos clubes e dos atletas que marcaram nossa história é um erro gravíssimo”, colocou.
A opinião é compartilhada por Dudu Monsanto, que além de apresentador e narrador dos canais ESPN é autor do livro “1981 – O Ano Rubro-Negro” (Panda Books). De acordo com Monsanto, algumas dessas histórias deixam de ser transmitidas por fatores que extrapolam a vontade de quem as deseja contar. “Infelizmente, lançar um livro não é uma tarefa tão simples. Existe uma série de obstáculos burocráticos e financeiros que, muitas das vezes, impedem que uma boa história seja contada e, consequentemente, que as pessoas tenham acesso a ela. Por outro lado, hoje existem alternativas que podem fazer com que uma boa ideia se materialize. O financiamento coletivo é uma delas”.
Já o professor Maurício Bara destacou a importância de fazer com que os trabalhos acadêmicos voltados ao esporte ultrapassem os muros da universidade. “Muitos trabalhos feitos na academia não passam da banca examinadora. O conhecimento gerado por nós só faz sentido se tiver aplicação positiva dentro da atuação dos profissionais do ramo”, argumentou.
Animado com a plateia repleta de jovens estudantes, Dudu Monsanto fez questão de deixar o seu recado. “A vocês que gostam de comunicação e que pretendem escrever um livro, saibam que não vai ser fácil. Muitos ‘nãos’ irão aparecer e vão se multiplicar, mas um dia uma porta vai se abrir e essa é a única chance que vocês precisam”, finalizou.
Os debates da mesa foram transmitidos, ao vivo, pela Rádio Cead/UFJF, que está com uma programação especial, voltada para a cobertura da I Bienal do Livro.
Confira aqui a programação completa da I Bienal do Livro.