Focado em estreitar a parceria entre instituições e expor exemplos de sucesso em projetos de desenvolvimento de pesquisa, o cientista belga Wim Degrave ministrou uma palestra nesta terça-feira, dia 14, na Faculdade de Odontologia da Universidae Federal de Juiz de Fora (UFJF). Doutor em Biologia Molecular pela Universidade de Ghent, na Bélgica, e atual assessor da vice-presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Degrave explicou passos importantes para uma boa estruturação de projetos de financiamento e infra-estrutura voltados para o avanço para a ciência, abordando desde o cuidado com o orçamento até a divulgação científica.
Intitulada “Inovação, parcerias e desenvolvimento tecnológico”, a palestra foi organizada pelos professores do Departamento de Clínica Odontológica da UFJF, Leandro Resende e Antônio Márcio do Carmo, e pela professora do Departamento de Patologia da Medicina, Letícia Moura, que foi orientada em seu doutorado por Degrave. “Há seis anos, sigo colocando que a prioridade é a inovação”, afirma o cientista. “Só assim podemos fazer acontecer não só o desenvolvimento científico, mas também o social.”
Biobanco de células-tronco
Ao longo da apresentação, organizadores e palestrantes também discutiram futuras parcerias científicas entre UFJF e Fiocruz. O objeto de colaboração colocado em pauta foi o desenvolvimento do primeiro biobanco de Minas Gerais a armazenar e pesquisar células tronco retiradas de polpas de dente, projeto desenvolvido pelos professores Resende e do Carmo, junto ao grupo de pesquisa “Biobanco Tecido Polpa Dental”. “É uma área interessante e promissora, uma vez que o uso de células-tronco vai revolucionar a medicina futuramente”, pondera Wim Degrave.
Trabalho em rede e com a indústria
Segundo Degrave, é preciso que cada vez mais pesquisadores compreendam a importância do trabalho em conjunto, não só com áreas de conhecimento diversas, mas também de instituições diferentes. “Nenhum grupo domina todo o processo para fazer um projeto de pesquisa ou o desenvolvimento de um produto mais complexo”, aponta. “Precisa existir complementaridade, uma sintonia. Trabalhando ao lado de mais profissionais, e sendo eles de outros lugares, mais ideias são expandidas, mais experiências são trocadas, até os ânimos aumentam.”
Outro ponto ressaltado é a inevitabilidade de uma convivência e colaboração mais profunda e melhor compreendida entre duas produções: a de ciência e a industrial. “Ainda existe uma aversão no meio acadêmico em relação à indústria, e vice e versa. A cooperação precisa acontecer. Estamos em uma evolução constante. Como costumamos falar na Bélgica, ainda estamos andando em sapatinhos de criança”, brinca. “É preciso que a pesquisa saia do meio científico e chegue com mais potencial à produção. Quantos doutores estão fora do meio acadêmico? A indústria ainda também não tem muito hábito de prospectar cooperação ou identificar e buscar pesquisadores. Mas vejo universidades fazendo progresso, investindo nisso, se profissionalizando. Os dois lados ainda precisam se esforçar, se entender. Existem muita oportunidades, e o brasileiro tem uma criatividade que só ajuda a melhor ainda mais as expectativas.”
Trajetória de sucesso
Wim Degrave demonstrou para os presentes na palestra os diagnósticos do Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para Saúde (PDTIS), colocado em prática entre 2002 e 2014 pela Fiocruz, com o intuito de difundir as razões para seus bons resultados, que gerou cerca de 170 patentes e envolveu o trabalho de mais de 600 cientistas. “A intenção é continuar desenvolvendo um conhecimento crítico e transversal para trazer ainda mais soluções para áreas como a da saúde”, conclui.