Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cultura

Data: 10/06/2016

Link: http://www.tribunademinas.com.br/valeu-a-pena/

Vale(u) a pena

Uma pena. As 20 mil penas, que levaram um ano e meio até serem instaladas no Calçadão, entre as 22h de quarta e as 4h da madrugada de quinta, não duraram sequer um dia. A previsão de Francisco Brandão, o artista visual que planejou e executou a intervenção, era de que as pequeninas peças de gesso ficassem até sábado, quando ele mesmo recolheria o material. Segundo Brandão, a Secretaria de Atividades Urbanas (SAU) determinou a retirada dos materiais e a limpeza imediata do local, por voltas das 16h, o que foi feito por ele e amigos, pás e sacos de lixo, momentos antes da abertura de sua primeira exposição individual, “Crisálidas”, no Centro Cultural Pró-Música.
Afirmando não ter recebido a petição do artista em tempo hábil, a SAU identificou conspurcação no ato, isto é, sujeira na via, além de impedimento locomotivo, solicitando, então, que o Demlurb limpasse toda a área, retirando todas as penas que não haviam sido recolhidas por Francisco. “A SAU reconhece como legítima qualquer manifestação cultural, todavia o exercício deste direito assegurado na Constituição Federal não é absoluto, pois deve estar em sintonia com o direito de outrem, também assegurado pela carta política”, declarou a secretaria, em nota.

“Disseram que se eu precisasse de autorização para fazer este trabalho, não conseguiria. Então, fica essa questão: se eu nunca conseguisse essa autorização, não iria fazer e, como eu fiz, acontece uma repressão. O trabalho era uma doação minha para a cidade”, lamentou o jovem ubaense, que comoveu Juiz de Fora ao ocupar um espaço sagrado da cidade com sua arte, que, ao mesmo tempo sensível, retratando um símbolo de pureza na leveza do branco, mostrou-se desconcertante, por “bloquear” um caminho tão usual.
Dos olhares assustados aos entusiasmados que (assim como ele) ousaram tocar e realocar os objetos (escreveram “justiça” e “esperança” com as peças), o Calçadão viveu, em algumas horas, a real experiência da intervenção urbana, que encontra o acolhimento e também a resistência. Encontra um carro-forte a esmagar pena por pena, como flagrou a Tribuna na tarde de quinta. Encontra os encantados, que há muito não tinham a oportunidade de encarar, que fosse por uma faixa, a Halfeld em sua extensão tão plástica e arquitetonicamente harmônica.
“Ex-votos”, título escolhido pelo artista para o trabalho, remete não apenas ao sacrifício próprio do artista, em fabricar, de maneira seriada, pequenos objetos que ganhariam a imprevisível rua, mas à renúncia de alterar o percurso no espaço público, de ativar a percepção estética quando o urbano impõe a indiferença. “O público está tendo uma boa recepção, e acho que o objetivo está sendo cumprido. As pessoas estão curiosas, algumas pegam as penas, outras ajeitam. Para cada um, a iniciativa terá um significado”, disse Francisco durante a manhã, ainda surpreso com a repercussão.
Passando no local para resolver problemas particulares, Rita Luzie Gonçalves Ribeiro, 53 anos, aprovou a intervenção. “Fiquei impressionada, é muito bonito. Não sabia do que se tratava, e agora que sei só posso dar os parabéns ao artista. Vou aproveitar que estou indo em direção à Rio Branco para ver tudo”, disse ela, que levou uma das penas para casa como recordação. Assim como Rita, a cidade também carregará na lembrança, ainda que o material não tenha restado, a audaciosa iniciativa. Histórica pela complexidade e pulsão, que transformou, mesmo que fugaz, a paisagem de um cartão-postal antes intocável.

______________________

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cidade

Data: 10/06/2016

Link: http://www.tribunademinas.com.br/mais-um-morador-de-rua-e-encontrado-morto-na-cidade/

Mais uma morte expõe fragilidade da população de rua

Mais uma pessoa em situação de rua foi encontrada morta em via pública em Juiz de Fora. O corpo de Carlos Roberto Amaro Irineu, de 31 anos, estava na praça localizada no cruzamento da Rua Américo Lobo com Avenida Brasil, no Bairro Santa Terezinha. Ele era um velho conhecido dos serviços oferecidos pela Prefeitura que envolvem o acolhimento institucional. Seu último contato com a Casa da Cidadania foi no dia 9 de maio, quando ele esteve na unidade para buscar seus documentos. O corpo foi encontrado sem sinais de violência na manhã de ontem. Ao lado do cadáver havia indícios de que uma fogueira teria sido acesa durante a madrugada, como é hábito da população em situação de rua. Além de usar o fogo para cozimento de alimentos, a intenção desse grupo é encontrar meios de se aquecer. Este é o segundo caso de morte nestas condições em menos de um mês. No dia 25 de maio, outro morador de rua, Aldmir Anselmo Alencar de Souza, 64, também foi encontrado morto por populares na região central. Como não há resultado do exame de necropsia de Aldmir, ainda é cedo para dizer que o frio provocou o falecimento dele e de Carlos Roberto, no entanto, em ambos os casos, a temperatura na cidade estava em torno de 11,7 graus. A diferença é que a sensação térmica na madrugada desta quinta-feira era de quatro graus, metade do registrado no dia 25 de maio, quando a sensação térmica foi de 8 graus. Para agravar o quadro, os dois eram usuários de álcool e tinham histórico de abuso de drogas.
Entre a população de rua, porém, a alegação é de que a friagem da madrugada contribuiu para o óbito do homem conhecido pelos colegas como Grande. “Gente, o Grande morreu, morreu de frio”, comunicava Laíse Diana Mendes em frente à Casa de Passagem da Mulher, um novo serviço de pernoite, que está sob a responsabilidade da Fundação Maria Mãe, mantenedora da Obra Pequeninos de Jesus, que conta com financiamento público.
O chefe do Departamento de Proteção Especial da Secretaria de Desenvolvimento Social, Lindomar José da Silva, lamentou o óbito, mas afirmou que Carlos Roberto tinha resistência em aderir aos serviços municipais, embora haja registros de que ele utilizou esses espaços em outros momentos. “A gente encara como lamentável a morte de qualquer ser humano, principalmente porque trabalhamos no acolhimento de pessoas. Isso nos incomoda, mas, por outro lado, esse é o nosso desafio. A gente oferece o serviço, mas não temos como obrigar as pessoas a aceitarem. Trabalhamos na perspectiva da cidadania. Nos dois casos, o que poderíamos fazer, nós fizemos. Essas pessoas têm algo em sua trajetória de vida que as faz demorar muito para fazer essa adesão e, às vezes, pode ser tarde demais. É algo que foge a toda lógica do cuidado na sociedade. Diante da resistência de alguns em aderir ao atendimento de saúde e aos serviços disponíveis, estamos dando ciência ao Ministério Público e fazendo esse movimento de informar, para que a gente tenha o respaldo desse controle.
Para Fabiana Rabelo, membro do Centro de Referência em Direitos Humanos, a Prefeitura não tem cumprido o seu papel nas políticas de promoção e proteção à população em situação de rua. “Infelizmente, Juiz de Fora contabiliza mais um óbito de um morador em situação de rua. Independentemente da causa, a situação deflagra uma falha das políticas públicas municipais em relação aos moradores em situação de rua. O Núcleo do Cidadão de Rua de Juiz de Fora (albergue) se encontra em precárias condições de atendimento. Além da redução do número de vagas no albergue, os moradores em situação de rua – que conseguem acessar o serviço – têm dormido no chão sobre colchões em péssimas condições de uso. Diante da gravidade da situação, fica evidenciado que o Poder Público precisa intervir imediatamente para que, minimamente, o albergue ofereça um dormitório que garanta a dignidade da pessoa humana”, afirma.
Atualmente, a média de ocupação do albergue gira entre 60% e 70%. A sobra de vagas é uma realidade preocupante, principalmente no inverno. Lindomar, porém, não atribui a oscilação a uma causa específica. Desde fevereiro, entretanto, a precária situação do albergue vem sendo denunciada, mas a resposta do Poder Público não tem sido rápida. No início do ano, o local que hoje oferece cem vagas para homens em situação de rua vem sofrendo com infestação de piolho humano. Na tentativa de eliminar o problema, a Prefeitura transferiu, temporariamente, os usuários para o Cesporte e realizou diversas dedetizações no espaço que não surtiram o efeito desejado. Neste momento, o Núcleo do Cidadão de Rua passa por reformas. “O albergue continua sem camas, porque, como elas eram de madeira, foi preciso desmontar. Também decidimos aprofundar as reformas. Além da pintura, tacos foram arrancados e todas as frestas impermeabilizadas. Os cem colchões novos já chegaram e estamos aguardando a confecção das camas complementares de ferro. Assim que elas chegarem, as reformas em curso serão concluídas”, afirmou Lindomar.

Casa de Passagem oferece pernoite para mulheres

A sociedade civil tem sido importante para garantir a oferta de serviços a indivíduos com vínculos familiares fragilizados que acabaram tendo a rua como endereço. Para a população em situação de rua, uma das principais referências tem sido o trabalho desenvolvido pela Fundação Maria Mãe, mantenedora da obra Pequeninos de Jesus, no Ladeira. A entidade sem fins lucrativos conta com R$ 8 mil mensais repassados pela Prefeitura e faz promoções sociais para conseguir servir diariamente café da manhã para 130 pessoas, além de oferta de banho, produtos de higiene pessoal, corte de cabelo, espaço para a limpeza de roupas e tratamento odontológico, esse último realizado em parceria com a UFJF. Os usuários também têm acesso a palestras com profissionais de saúde e participam da evangelização. No inverno, alimentos quentes são priorizados. Ao contrário do que acontece no albergue, não há problema de adesão da população de rua ao serviço oferecido pelos Pequeninos de Jesus.
Segundo a presidente da Fundação, Vanessa Farnezi, muitos usuários chegam da rua ou do albergue sentindo frio e solicitando agasalho. “É muito triste, nos dias de hoje, uma pessoa morrer sem apoio e solidariedade na rua. Me entristeço por este homem que morreu e por outros que possam vir a falecer se a gente não tiver um olhar de misericórdia. Nós tentamos humanizar ao máximo o atendimento que oferecemos a essas pessoas, as quais procuramos chamar pelo nome. Um dia, ao me despedir de um desses moradores, ele me disse: quando a senhora me chama pelo nome, eu até me sinto gente”, relata.
Exatamente para oferecer dignidade a esse grupo é que a fundação criou a Casa de Passagem da Mulher. Antes mulheres e homens pernoitavam no albergue. Desde março, o novo dormitório feminino, localizado na Rua Professor Oswaldo Veloso, no Centro, oferece jantar, camas individualizadas e refeitório com aspecto de lar. Curiosamente, não foi feita nenhuma divulgação oficial sobre o novo serviço pelo Poder Público, e as vagas ainda não foram totalmente preenchidas. A capacidade atual é para 20 mulheres, mas o projeto prevê até 50 lugares. Muitas
mulheres ainda resistem em dormir longe dos companheiros e, por causa disso, acabam se tornando vítimas permanentes de violações. “As mulheres em situação de rua sofrem de tudo um pouco: violência e preconceito. Esse lugar oferece para elas mais dignidade”, afirma o coordenador Luã Farnezi Santos.
Outro ponto de apoio é a Sopa dos Pobres, que atende 200 pessoas diariamente no horário do almoço. Por dia, a entidade filantrópica gasta, em média, dependendo do prato, 20kg de feijão e 15kg de macarrão, além de mais de 15kg de carne ou frango. Sem nenhuma espécie de convênio, a entidade sobrevive há 85 anos de doações da comunidade. “A gente não pode esperar outro óbito acontecer para agir. Precisamos pensar que o mundo dá muitas voltas e poderia ser qualquer um de nós a estar na rua ou um ente querido. Ninguém sabe o dia de amanhã”, alerta a secretária da entidade, Rosilaine Ribeiro Assunção.

______________________

Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cultura

Data: 10/06/2016

Link: http://www.tribunademinas.com.br/suica-radicada-no-brasil-lanca-livro-de-poesias-nesta-sexta-feira/

Suíça radicada no Brasil lança livro de poesias nesta sexta-feira

A casa. Os quartos atravessados pelo vento, a sala “com muito céu dentro”, um “perfume de laranjeira em flor” e uma poesia densa a tomar todos os cantos. “Essa casa é um relicário de vidro e verde.” A casa de Prisca Agustoni em “Hora zero” (Editora Patuá, 120 páginas) – livro que lança nesta sexta, às 20h, no Espaço Manufato, preserva a “paixão do humano que arde sem dor”. A casa, sagrada em seus guardados, recomeça do zero após ser maculada. Como o homem, se refaz, de tempos em tempos, de gestos em gestos, de assaltos a assaltos. Profanada, como defende o escritor Iacyr Anderson Freitas no prefácio, a tal casa se abre frágil. Um caixa-forte, uma casa, um forte.
“Tentei criar um discurso de uma casa virgem quando é ocupada e, depois, quando acontece algo, como uma mácula, faz com que seja observada com outros olhos”, pontua a poeta. “O processo de habitar um lugar é interessante de ser pensado em termos artísticos. Você tem que tornar um lugar seu, mas ele nunca será só seu. Primeiro porque tem outras pessoas morando contigo e porque terá tido outros donos e terá depois de sua morte. A casa vai continuar depois de mim. Interessa-me muito como nos vemos morando em certos lugares. Esse livro me abriu para essa perspectiva, para a consciência de ocuparmos um espaço.”
“Há muita solidão, muito silêncio numa casa. Há apego e desapego. A casa é algo muito material e afetivo. Ao longo do texto, ela se transformou em um ser vivo”, comenta Prisca, dando pistas de um lugar que pode estar em diferentes endereços. Ainda que um fato biográfico lhe tenha lançado à “Hora zero”, não se trata de memórias, mas de um tema, uma casa e seus muitos cômodos (cada capítulo representa um espaço). “(Voltar-se para a biografia) é uma das chaves de leitura mais evidente, mais natural para ler o texto de uma autora. Mas ninguém fica imaginando porque Kafka virou barata. É. Conheço meu processo de criação. Ele é muito mais cerebral do que emocional”, adianta.

Um lugar para começar do zero
“Esse livro, particularmente, tem um forte teor emocional em função de um fato que não está explícito. Há outras questões ali que também me trabalham, como a mudança, as caixas de mudança. É algo que não estou fazendo, mas está na minha projeção. Pessoas mudam, não de país, mas de casas. Conheço amigos que mudaram constantemente ao longo da vida. Acho um tema interessante para se trabalhar com arte. Se eu fosse fotógrafa ou pintora, também trabalharia com isso”, comenta. “Quando se muda de casa, há muitas coisas que mudam com você. Há coisas que estão ligadas com vivências, que não têm nenhuma importância, mas tiveram, há objetos que não se reencontra mais.”
Segundo Iacyr, os poemas partem de uma casa-templo, divina, e percorrem um caminho da casa-bunker, passando pela casa-abrigo, até chegar à casa-navio (num poema, a autora diz de um casa “amarrada ao cais”). “Muitos poemas deste ‘Hora zero’ estão voltados para um cotidiano repleto de vigilância e medo, bem como para a realidade de sentir-se intimamente em guerra dentro de um ambiente urbano capaz de absorver, com kafkiana naturalidade, todas as violências do dia a dia”, escreve no prefácio o patrocinense radicado em Juiz de Fora.
Para a trajetória de Prisca, o primeiro livro de poemas publicado por uma editora de grande visibilidade, a Patuá, representa, também, sua “hora zero” na literatura brasileira. “Li há muitos anos, para um curso de pósgraduação,
em que trabalho com literatura em tempos de exceção. Naquele ano abordei poetas que escreveram durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Li um livro que falava da hora zero, como se aquele fosse um momento em que se zera a história. Achei a expressão muito forte e muito interessante para um momento de virada”, conta.
“É difícil falar isto de um livro: sinto ele muito íntimo. Conseguiu ser um equilíbrio entre algo que é bastante de impulso e uma poesia mais aberta. Não gosto de falar de impulso, porque poesia de mulher costuma ser muito tratada assim. Poesia autobiográfica, que é, geralmente, o cantinho onde nós somos colocadas. Mas todo autor tem isso. Somos sujeitos intelectuais”, debate. “A intuição é fundamental, mas tem o trabalho posterior de vir burilando”, completa a professora efetiva da Faculdade de Letras da UFJF, que leciona língua e literatura italianas na graduação e, na pós-graduação, aborda poesia em tempos de exceção e literatura da diáspora, que são seus temas de pesquisa acadêmica.

‘É muito duro viver aqui’

Ao mesmo tempo que indica um novo caminho linguístico para Prisca Agustoni, com poemas menos enxutos, “Hora zero” lhe oferta uma inserção na cena, ao publicar pela Editora Patuá, sediada em São Paulo e reconhecida em importantes prêmios Brasil afora. Trata-se de um exercício de presença na vida literária de uma suíça que há 14 anos escolheu o país. Casada com o também professor e poeta Edimilson de Almeida Pereira desde 2000, Prisca, que teve seu primeiro contato com a literatura brasileira através dos textos dos poetas da geração D’Lira, de uma Juiz de Fora de 1970 e 1980, quer fortalecer o português como casa.
“Nos últimos anos, cuidei muito da minha vida literária de lá (da Suíça). Sempre fazendo coisas aqui, mas é difícil se voltar para três contextos. Escrevo em francês, italiano e português. Cuidei muito de procurar editoras lá. Agora, até para fazer justiça com minha história, estou fortemente empenhada em criar um sentido no Brasil. Não quero ser a escritora que passou biograficamente 20 anos no país e não deixou rastros literários. Esse livro é uma maneira de sentir o mundo que é ligado com aqui”, aponta ela, com diversos títulos de poesia e prosa publicados em italiano na
Suíça, e dois livros de poemas em francês, o último, de 2015, finalista num importante prêmio do país europeu.
Com uma bolsa de criação ofertada pelo governo suíço, para conclusão de uma obra até 2017, Prisca planeja, ainda, lançar outros livros em português, além de escrever, atualmente, um romance na língua que a acolheu. Ainda, tem traduzido, com grande frequência, poetas daqui para lá. “Especificamente mineiros. Recentemente, fiz uma antologia de dez poetas mineiros para Portugal. E faço o inverso, também, traduzindo poetas italianos para revistas daqui”, conta ela, que selecionou da obra do mineiro de Caxambu Eustáquio Gorgone de Oliveira um poema para lhe servir de epígrafe no novo título.
“Tenho uma queda pela obra do Eustáquio. Meu autor de cabeceira. É uma das grandes injustiças, por enquanto, da literatura brasileira. Da segunda metade do século XX, ou dos anos 1980 para cá, ele é o Drummond que não descobriram. Tenho, pela obra dele, uma admiração certeira”, elogia ela. “Quando preciso encontrar um texto bonito para me reconciliar na vida, vou na obra dele, ou na do Paul Celan”, completa a dona de uma voz mansa a harmonizar com o sorriso e a elegância singelos.
Autora de imagens potentes em seu “Hora zero” e de muitas metáforas enquanto fala, Prisca manuseia com destreza um português sensível, de um Brasil que lhe ofereceu paradoxos e que lhe impõe, dia a dia, “não se tornar indiferente, cínico ou uma pessoa dura”. “Aqui tomei mais consciência de várias questões que vão além de mim. Na Suíça não há esse estímulo constante de pensar o mundo fora de seu mundinho. Tem pessoas que tem essa consciência, mas ela não advém do convívio do dia a dia. Aqui é imprescindível, principalmente nos tempos atuais. No Brasil pode ter um aspecto ruim, à medida em que você toma noção das coisas mais duras da vida. Mas é bom passar pela vida e sentir que entendeu algo. O Brasil me deu muitas coisas boas, pessoalmente falando, mas também muitas feridas.”
Você se sente em casa aqui?, pergunto. Ela respira fundo. A casa fica em silêncio. Então, responde: “Não sei. Me sinto bem. À vontade. Não tenho medo de ir a lugar algum, não tenho receio de fazer nada. Mas, me sentir em casa, na minha casa, talvez. Aqui não me sinto em casa. Há um sentimento, que agora descubro melhor: como se fosse um elástico, que você puxa mas não arrebenta. Quando vou para a Suíça o elástico consegue afrouxar. Não sei se é isso sentir-se em casa, mas aqui me sinto sempre tensa. Não com relação à minha vida pessoal, mas é um país que não me permite afrouxar o elástico. É muito duro viver aqui.”

“HORA ZERO”
Lançamento de livro de Prisca Augustoni
Nesta sexta, às 20h
Espaço Manufato
(Rua Morais e Castro 307 – Altos dos Passos)

______________________

Veículo: G1

Editoria: Zona da Mata-MG

Data: 10/06/2016

Link: http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/integracao-noticia/videos/v/aprovados-pelo-sisu-para-o-segundo-semestre-na-ufjf-e-ufsj-devem-fazer-pre-matricula/5083946/

Aprovados pelo Sisu para o segundo semestre na UFJF e UFSJ devem fazer pré-matrícula

Os aprovados na primeira chamada do Sistema de Seleção Unificada, o Sisu, pras vagas do segundo semestre da UFJF devem fazer a pré-matricula on-line a partir de hoje. São mais de 1200 oportunidades.